Capítulo 30

23 de fevereiro de 2020.

Marina

Já no restaurante, enquanto fazemos nossos pedidos, sinto Murilo meio agitado a minha frente, como se estivesse prestes a fazer algo importante. Mais uma vez, sei que ele está nervoso porque sua pálpebra está tremendo e ele não para de balançar as pernas. Quando questiono ele sobre isso, ele levanta e diz que precisa ir ao banheiro, voltando em seguida com uma expressão mais relaxada. Comemos nossas refeições e conversamos sobre algumas amenidades, e aproveito para questionar sobre o paradeiro de Maya, já que nossa filha não estava em casa quando saímos, apesar de ser cedo.

- Ah, Maya está na casa dos meus pais, eles... eles pediram ajuda pra ela para aprender a mexer no celular novo que meu pai comprou - responde Murilo nervoso novamente. Achei estranho ela sair tão cedo pra isso, mas não questiono pra não deixar meu marido ainda mais nervoso com o que quer que seja.

Depois que os garçons recolhem nossos pratos, deixam uma garrafa de champanhe sem alcool e duas taças na mesa, e a princípio penso que é engano, já que não pedimos isso, mas Murilo os dispensa com um sorriso. Quando estou prestes a perguntar o motivo, ele se levanta e fica de joelhos ao meu lado, e percebo os olhares dos outros clientes em nós, já que o restaurante está cheio.

- Murilo, o que você está fazendo? - questiono.

- Marina, eu sei que nós nos amamos e que decidimos ficar juntos novamente, mas desde a perda do nosso filho, apesar de não nos divorciarmos, não usamos mais aliança - diz ele olhando fixamente pra mim, enquanto pega uma caixinha no bolso. - Como símbolo dessa nova fase, quero te dar esse solitário - e então ele abre a caixinha revelando um fabuloso solitário, que sempre foi meu sonho, enquanto as lágrimas de alegria enchem meus olhos - e também quero te perguntar: Você quer renovar seus votos comigo?

- Nada me faria mais feliz, meu marido - digo sem pestanejar, puxando ele para um beijo. As pessoas que presenciaram a cena aplaudem nosso ato de amor, e alguns até nos parabenizam. Ele coloca o objeto em meu dedo anelar esquerdo, e beija o local com reverência. Bebemos a champanhe comemorando, Murilo paga a conta e então deixamos o restaurante, ainda naquela atmosfera inebriante.

Já no carro, fico observando o lindo anel em meu dedo com um sorriso no rosto, pensando no quanto já fui surpreendida hoje.

- Obrigada por todas essas surpresas amor, eu adorei tudo o que aconteceu hoje - digo, observando que ele passa direto pela estrada que leva a nossa casa.

- Então prepare-se amor, porque a maior surpresa ainda está por vir - diz ele, me deixando nervosa mais uma vez.

- - - - - -

Estamos na frente da casa de seus pais, ainda dentro do carro, e não vejo ninguém vindo nos recepcionar, o que é estranho.

- Talvez você não tenha lembrado, mas nessa semana, dia 19, fizemos 15 anos de casados - diz Murilo. Eu realmente não havia lembrado disso, já que um dia antes Murilo tinha sido atacado por Rodrigo.

- Então - continua ele - decidi te pedir para renovar os votos comigo, o que você aceitou, certo?

Apenas anuo, ainda sem entender o que está acontecendo agora.

- Acontece que pedi para minha mãe e nossas irmãs organizarem uma cerimônia aqui, assim como foi a nossa festa de casamento há tantos anos atrás. Por isso, não surte por favor, mas você tem que subir agora e se preparar para o nosso "casamento".

Ah, meu Deus, não acredito que eles fizeram isso. Era esse então o motivo de tantos sorrisinhos e segredos ontem. Respiro fundo para evitar a onda de nervosismo que me consome, e resolvo fazer uma piadinha:

- E se eu tivesse dito que não, surtado e fugido do restaurante aos berros? - indago.

- Eu iria atrás de você e persuadiria a aceitar, nem que tivesse que usar outras armas - Murilo responde com aquele sorriso cafajeste que sempre me conquista. Acabo rindo da loucura que é toda essa situação.

Como eu poderia imaginar, quando eu acordei hoje, que meu dia seria especial desse jeito? Acordada com carícias, café na cama, visita ao nosso filho, o pedido dele e agora a própria renovação de votos? Murilo ainda consegue me deixar pasma, mesmo depois de tanto tempo. Vendo o sorriso no meu rosto, ele se aproxima e me beija com paixão, mas se afasta muito rápido quando começo a ficar mais atrevida.

- Melhor pararmos por aqui, senão vamos causar uma cena e depois dona Cassandra ainda vai querer o meu couro. Você tem que ir agora, estarei te esperando no altar - diz meu esposo me dando um último beijo.

Quando saio do carro, Murilo me chama e diz algo que me deixa ainda mais nervosa:

- Não se esqueça dos votos amor!

Entro pela porta da frente na casa onde um dia já morei, e sou tomada pelo caos de pessoas correndo com flores, ordens sendo ditas aos berros, uma confusão total, o que me deixa ainda mais ansiosa. Passando despercebida pelo tumulto, subo as escadas em direção aos quartos, e vejo minha mãe vindo ao meu encontro com o cabelo já arrumado em um bonito penteado, enquanto me puxa para seus braços:

- Ah, minha filha, que bom que você chegou, já estávamos preocupadas com a hora - ela diz me dando um sorriso. Reparo que suas feições parecem mais leves ultimamente, ela parece mais feliz do que jamais a vi, e fico feliz por isso.

Sem mais delongas, ela me puxa para um quarto onde estão as meninas responsáveis por armar toda essa surpresa pra mim, e todas elas já estão maquiadas e com penteados lindíssimos, e enquanto tomam champanhe e riem vendo meu estado. Maya está nesse momento saindo do banheiro, já com o vestido, e fico admirada com a mulher que ela está se tornando. Murilo terá muita dor de cabeça quando os garotos começarem a aparecer em nossa porta.

Cassandra, minha mãe Judith, Renata, Sabrina, Aimee e Maya são as responsáveis por tudo: pela decoração fantástica, pelo meu vestido, por contratar cabelereiros e maquiadores que nos deixaram ainda mais bonitas, por escolher o cardápio, a banda, por convidar todos os presentes, por tornar tudo isso realidade. Nem posso acreditar em quantas pessoas especiais temos em nossas vidas.

Pego um suco de maracujá que encontro em uma mesinha próxima a porta tentando me acalmar, mas antes que eu possa dar o primeiro gole, um cara tira a taça de minha mão, e analisa meu rosto sem nem se apresentar, me virando de um lado para o outro. Ele é moreno, tem o cabelo rosa e é muito estiloso.

- Vamos lá belezinha, temos pouco tempo pra te transformar em uma Deusa - diz ele me sentando em uma cadeira. É lá que eu fico pelo que parecem ser horas, sendo "transformada" enquanto tento pensar no que vou dizer em meus votos. Estou ferrada!

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