Capítulo 3

20 de setembro de 2019.

Marina

Desde que Murilo saiu da sala levando aquele homem, aguardo ansiosamente pelo seu retorno. Renata se recusa a me dizer o que aconteceu comigo enquanto ele não voltar, e sei que tem algo estranho nessa história. Ela me conta amenidades sobre o clima, e sobre a vida de uma senhora com quem conversou no corredor, mas não consigo prestar atenção. Vejo de reflexo o brilho de uma aliança quando Renata movimenta a mão esquerda, e fico sem entender, já que ela não tem nem namorado. Sou impedida de questionar isso para a minha cunhada quando ouço a porta do quarto sendo aberta.

Quando Murilo finalmente volta com o médico, minha mãe entra junto. Ela me olha com certa apreensão, esperando minha reação, e quando a chamo ela me abraça forte e chora.

- Ai mãe, vai com calma...

- Desculpa minha filha – Diz ela me acariciando – É que pensei que nunca mais te teria em meus braços.

- Estou aqui, meio quebrada, porém viva. Só quero saber como vim parar aqui, alguém pode me falar, por favor?

Murilo se aproxima, senta ao meu lado na cama e segura minha mão boa. Observo que estão todos na expectativa.

- Você sofreu um acidente de carro, Marina. Parece que a pista estava molhada, e você perdeu o controle do veículo, que rodou e acabou capotando – diz ele.

Fico sem entender o porquê de tanto mistério e tanta preocupação, e então uma hipótese apavorante me domina:

- Tinha mais alguém no carro comigo? Era a Maya? Como ela está? – Sinto lágrimas em meus olhos, mas nem me importo em limpá-las. Murilo fica pálido quando pergunto se havia alguém comigo, como se essa possibilidade também o apavorasse. Mas ele se recompõe rapidamente.

- Maya está ótima, não tinha ninguém com você quando isso aconteceu. Porém, parece que você ficou com um tipo de sequela devido ao acidente.

- Como assim, sequela? Vou perder algum movimento? – Pergunto. Então o médico de quem não gostei se aproxima e me explica:

- Não Marina, aparentemente sua capacidade motora não foi afetada, mas só teremos certeza após a cicatrização de seu braço e perna. A sequela da qual Murilo falou envolve sua memória. Ao te questionar antes sobre sua idade e a idade de sua filha, você me disse que tem vinte e nove anos e ela oito, certo?

- Isso mesmo doutor, foi o que eu disse.

- Traumas na cabeça como o seu podem gerar uma série de lesões, sendo elas permanentes ou não. O que aconteceu no seu caso é que você perdeu a memória recente, e voltou ao ponto em que suas lembranças não foram afetadas.

- E quanto tempo de memórias eu perdi? – Não deve ser tão ruim esquecer-se de um ou dois anos, penso.

Todos suspiram pensando na melhor forma de jogar a bomba sobre mim. Murilo é quem quebra o silêncio:

- Maya tem dezesseis anos agora.

Não, não, não. Isso quer dizer que perdi oito anos? Não pode ser. Eu tenho uma filha adolescente, e nem me lembro de ter visto ela crescer? Sabe-se lá do que mais eu esqueci? De repente tudo ao meu redor começa a girar e ficar escuro, então eu desmaio.

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