Na Penumbra.
A ar úmido é a única coisa que reconforta o horror no qual Teodoro sente em seu interior. E no seu interior, ele sofre mais. Tantas feridas abertas no seu eu, não tinha ninguém que podia o reconfortar, nem mesmo Ele.
Mas, como se não bastasse, olhos o perseguiam para todo o lado, infelizmente essa sensação não é tão exagerada. Realmente, olhos emergiam da escuridão e o encaravam o suficiente para deixar o coitado sem dormir.
Sua vida estava esfarelando como se fosse um castelo de areia sendo levado por um vento avassalador. Bom, o castelo podia não ser dos melhores, ele é um quarentão com uma mentalidade frágil que trabalha em um laboratório medíocre. Porém, mesmo com uma vida normal ele conseguiu a proeza de atrair atenção de olhos, que até então estavam ocultos na penumbra.
A respiração ofegante provocada por uma ansiedade dificultava sua corrida pelas ruas iluminadas da cidade, e ao subir uma ladeira se deparou com uma rua sem asfalto e esburacada, com o pior de tudo: uma imensidão que engolia toda a visão do que poderiam ser as casas abandonadas. Encarando a escuridão, seus lábios rachados umedecidos pela chuva torrencial tremiam de medo. Os olhos estavam ali, tudo aquilo que tangenciava a penumbra tinha os malditos glóbulos oculares emergindo e encarando Teodoro.
O bueiro, as frestas, e até mesmo a própria sombra não o deixavam em paz. Mas, ele precisava passar por essa rua, não tinha mais nenhuma que desemboca na sua casa. Precisava passar por aquilo, e sem pensar no que poderia ocorrer com seu corpo, Teodoro usou as forças das juntas das suas pernas como se não tivesse mais o seu amanhã. Os olhos tremiam cada vez que os pés se aprofundaram na Penumbra, as suas pupilas chegavam a quase criar própria vida. Seu grito ecoava, mas ninguém parecia reagir. Suas pernas quando tocavam a escuridão, por poucos instantes, tornavam-se um com a grande imensidão.
Chegando no fim daquela corrida, Teodoro se sentia extremamente cansado, uma distância de 12 metros pareceram mais de 45 quilômetros percorridos. Quando a primeira luz tocava sua face, ele diminuía sua velocidade gradualmente até ficar de baixo de um poste. Ele clamou pela fonte de luz, agradecendo por essa invenção da humanidade.
Chegando na sua casa, que era uma residência de 2 andares de uma cor azul marinho com alguns pontos já desgastados, a primeira coisa foi acender as luzes, e depois percorreu a sala de estar até a escada que dava acesso para o andar que se localizava seu quarto. Seus passos tinham uma cadência mais calma do que antes, com o barulho da chuva abafando o som que seus pés reproduziam. No seu quarto, com sua cama bagunçada e livros espalhados pelo cômodo todo, no geral os livros tinham o foco em Psicologia e casos inusitados sobre distúrbios psicológicos, parecia que ele estava tentando entender o que o atormentava, só que em um viés mais científico.
Teodoro olhava os conteúdos das páginas desesperadamente, ele tenta procurar algo entre os papéis, algo que seria crucial para seu diagnóstico, se ele realmente tivesse algum tipo de distúrbio. Quando sua mão parecia ter arrancado alguma folha presa no piso, ele dispersa a camada de papel sob os pés dele, assim talvez encontrando o que procurava: linhas vermelhas se tangenciando e se encontrando em uma esfera de forma oval com um inexplicável rosto desenhado em seu centro.
Aquele desenho não foi feito por Teodoro, não em sã consciência pelo menos. As janelas que ficavam no quarto deixavam a luz passar junto com as sombras de galhos, que em um apagão na própria casa, Teodoro vê as sombras dos galhos mudarem seu aspecto para garras arranhando o vidro. A Penumbra é o seu fim.
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