• CAPÍTULO 2 •
Ele não me questiona, apenas dá de ombros e aponta a direção que devemos ir para alugar um carro. Seguimos em silêncio até que mais uma vez começamos a discutir – não podemos pagar muito, mas os carros que ele tem interesse parecem não aguentar as 26 horas e quase 1700 milhas que separam Chicago de Banff, no Canadá.
Depois de muita discussão – e foi muita mesmo – nós decidimos por um veículo intermediário. Ok, estou sendo generosa, uma caminhonete velha e barulhenta, mas que ao menos o ar condicionado funciona e aparenta bom estado. Se aproxima das dez da noite quando finalmente partimos do aeroporto e nós não poderíamos ser mais burros – na verdade poderíamos, sabe como é, fomos enganados por um engravatado charmoso – por iniciar essa viagem durante a noite.
– Sua vez de dirigir – ele me cutuca sem gentileza nenhuma, me fazendo acordar assustada. Estamos parados no acostamento e ele já retira o cinto de segurança.
– Que horas são? – meus olhos ardem e eu nem me lembrava que estou nessa viagem com o desconhecido.
– Hora de assumir o volante – ele esboça um sorriso que me dá vontade de socar aqueles dentes alinhados – Desculpa, não podia perder a oportunidade. Quatro da manhã.
– Você é bem engraçadinho quando quer, não é mesmo, senhor Winston?! – abro a porta e dou a volta no carro até o lado do motorista.
– Senhor Winston faz com que eu me sinta um velho, senhora Melchior – ele estala a língua e pula para o banco do passageiro.
– Senhorita – friso – Mas que eu me lembre, não fomos apresentados de maneira mais informal, não é mesmo?
– Senhorita Melchior – ele corrige – Compramos passagens aéreas de um homem qualquer, iniciamos uma viagem de carro com quem não sabemos nem mesmo o nome... O que pode dar errado, não é mesmo? – ele sorri mais uma vez e estende a mão – Me chamo Darrel, mas pode me chamar de Darry.
– Prazer, Darrel – sorrio e ele me corrige ao dizer "Darry" mais uma vez – Me chamo Lilith, e pode me chamar de Lilith mesmo.
– Lilith... nunca vi um nome que combine tanto com a dona.
– Vou levar isso como um elogio – abaixo o freio de mão e volto para a estrada sem desviar o olhar para ele.
– Como quiser – ele dá de ombros e sorri – Não vá se perder, por favor. Vou tirar um cochilo.
Darrel dirigiu por seis horas sem parar enquanto eu dormia, eu estou dirigindo há duas horas e já preciso parar para fazer xixi e talvez tirar um cochilo. Ele está capotado do meu lado e não ter ninguém para conversar não colabora em nada com o meu cansaço. Meus olhos já estão pesando e a estrada livre não prende tanto a minha atenção como deveria. Graças a Deus a voz do GPS me faz despertar do transe que eu quase entrei.
"Recalculando rota"
Como assim, recalculando rota??? Eu segui esse mapa o tempo todo, não desviei os olhos... bom, desviei os olhos algumas vezes dele... mas não por tempo o suficiente para que me fizesse perder alguma entrada! Darrel acordou com a mesma voz e me olhou desconfiado, e mesmo eu esboçando meu melhor sorriso, não adianta muito.
– Lilith... – ele suspira fundo – Lilith, por favor, me diz que você não errou o caminho.
– Claro que não – até eu me convenceria disso ao me ouvir – O GPS está doido!
– Onde nós estamos? – seu olhar perdido de sono se mistura com a preocupação e eu nem sei o que dizer.
– No carro – dou de ombros esboçando um sorrisinho cínico e sinto seu olhar me fuzilar.
– Jura?! – eu sinto vontade de rir da cara que ele faz ao dizer isso, mas me contenho fortemente – Onde nós estamos, Lilith?
– Eu não sei – minha voz sai em um sussurro. Eu estou me odiando nesse momento, pois eu só tinha um dever. UM! E ainda assim me perdi.
– Ótimo – ele bufa e tira o cinto – Para o carro e vem pra cá, deixa que eu dirijo.
Eu faço o que ele pede e logo estou no banco do passageiro mais uma vez. É nítido o sono que ele sente, mas ele não confia em mim para nos guiar – e eu não o julgo, pois também não confiaria. Eu não consigo dormir, por mais que queira. Acho injusto com ele continuar dormindo quando ele sequer teve tempo para descansar de fato. Passo as horas observando a paisagem cheia de neve enquanto ouço a música country chiada que vem do rádio da caminhonete – a única estação que conseguimos sintonizar. Se aproxima das onze da manhã e o céu não está limpo, o que parece tornar a viagem ainda mais longa.
Reclamo algumas vezes que preciso comer e usar o banheiro até vencê-lo pelo cansaço. Paramos em um restaurante de beira de estrada e eu corro para esvaziar minha bexiga que estava pedindo socorro enquanto ele se ajeita em uma mesa bamba após pedir nosso almoço.
– Você mal está se aguentando de olhos abertos – quebro o silêncio enquanto comemos.
– Ainda não tive a oportunidade de dormir – ele dá de ombros e remexe seu copo de suco.
– Eu posso dirigir agora, se quiser.
– Pra se perder de novo? – ele me encara e eu preferia que não tivesse.
– Foi uma entrada errada, só uma. A culpa não é minha se essa rodovia não tem um retorno próximo.
– Uma entrada que aumentou uma hora da nossa viagem.
– Que seja – reviro os olhos e ele volta a encarar seu prato quase vazio – Se não quer dividir o volante o problema é seu. Fique com sono, então.
Termino meu almoço mais rápido do que gostaria e volto para o carro abraçada ao meu casaco, o deixando sozinho ali. Se meus pais não contassem tanto com a minha visita neste Natal, juro que teria entrado no primeiro ônibus que encontrasse e voltaria para Chicago, largaria esse idiota que se sente autossuficiente para trás com essa caminhonete horrível no meio da neve. Não demora para Darrel retornar ao seu posto de motorista com uma sacola de papel.
– Toma – ele me estende a sacola de qualquer jeito e eu me deparo com alguns salgadinhos e chocolates, além de latas de refrigerante – Me desculpa pela grosseria, é o cansaço.
– Obrigada – abro um pequeno sorriso – Tem certeza que não quer que eu dirija?
– Absoluta. Pode dormir, eu não vou parar nas próximas horas.
Eu poderia fingir que dormir não é uma ideia que me agrada e insistir em assumir o volante, mas me agrada até demais. Apenas assinto silenciosamente (e acho que ele nem viu meu breve acenar de cabeça) e me aconchego em meu casaco, tombando a cabeça no vidro.
Não sei por quanto tempo dormi, mas acordo sentindo meu corpo projetar desconfortavelmente para a frente. Mais uma vez estamos parados no acostamento e Darrel reclama algo sobre o motor estar superaquecendo. Ele desce abraçado a si mesmo e me impede de descer, abre o capô e xinga algo que não ouço aqui de dentro. Não demora para o ruivo carrancudo voltar para o banco do motorista.
– Deu algum problema no radiador, precisamos de um mecânico – seu tom é mais calmo do que eu imaginei.
– Podemos acionar o seguro da locadora, não?
– Nós não pagamos pelo seguro, lembra? – merda! É verdade. Ao menos foi uma decisão em comum acordo para poupar dinheiro, então dessa vez a culpa não é somente minha.
– O que faremos, então?
– Vou pesquisar o mecânico mais próximo enquanto o carro esfria.
Ficamos pelo menos vinte minutos parados na estrada enquanto Darrel tentava encontrar um mecânico que não ficasse tão longe, mas a internet do celular não estava colaborando. Quando finalmente conseguimos, ele ligou o carro e ambos rezamos para não superaquecer nas quinze milhas seguintes. Agora chegamos na oficina dessa cidade que nem sei qual é e o senhorzinho com as mãos sujas de graxa explica o que aconteceu.
– Aqui, vê? – ele aponta para o radiador – Tá rachado e não parece ser um rachado novo não. O fluído foi embora sem vocês perceberem.
– Maldita locadora – eu reclamo enquanto Darrel me ignora e volta a falar com o senhor.
– O senhor consegue arrumar?
– Até consigo, mas já tá anoitecendo, então só amanhã.
– AMANHÃ?! – nós exclamamos juntos.
– Senhor, amanhã já é dia 22, eu preciso chegar no Canadá até dia 24! – suplico com os olhos já cheios de lágrimas. Essa viagem se tornou um pesadelo.
– Nós precisamos – Darrel corrige.
– Sinto muito, mas hoje não dá mais, vocês até podem procurar outro mecânico, mas eu não arriscaria sair daqui com o carro assim, pode fundir o motor e vocês ficarem presos na neve.
– Tem algum hotel por aqui?
– Até tem, mas é longe demais pra ir a pé. Vocês podem dormir aqui na oficina, tenho alguns cobertores nos fundos, pra passar os dias frios como esse.
Ótimo. Perfeito. Incrível. O que mais pode dar errado nessa viagem?! É melhor eu não me perguntar, vai que o universo entende como um desafio. Darrel me encara com o olhar perdido, tão perdido quanto nós dois nesse momento. Olho para a porta aberta da oficina emoldurada com luzinhas de Natal e está nevando lá fora, então definitivamente não dá para ir a pé até um hotel.
O senhor nos explica onde estão os cobertores, onde apagar a luz e trancar a porta e segue até o aconchego de sua casa a um terreno de distância da oficina. Eu acompanho seus passos com o olhar enquanto Darrel ajeita a carroceria da caminhonete, que graças a Deus é coberta e está seca.
– Você poderia me ajudar...
– Claro.
Volto a mim e o vejo desprender um saco de dormir daquela mochila enorme. Não sei o que ele pretende fazer com aquilo, mas se for dormir ali, vai morrer de frio. A carroceria da caminhonete está forrada de cobertores e um de seus casacos está dobrado em formato de travesseiro.
– O que você está fazendo? – questiono apontando para o saco de dormir.
– Às vezes eu me questiono se suas perguntas são retóricas – ele ri – O que eu vou fazer com um saco de dormir, Lilith?
– Eu posso te falar um lugar perfeito pra guardar ele – reviro os olhos. Ele precisa ser sempre assim?!
– Ei, calma! Eu vou dormir nele, não é óbvio?
– Não! Por que arrumou a carroceria então?!
– Pra você – ele dá de ombros e eu fico sem reação – Achei que fosse óbvio também.
– Então você deixou todas as cobertas pra mim, improvisou um travesseiro e vai morrer de frio num saco de dormir?
– Eu não vou morrer de frio, ele é térmico. Fica tranquila, seu motorista estará vivo amanhã, pronto pra te levar até Calgary.
Não gostei da forma que ele falou, ele não é meu motorista, nós estamos nessa viagem juntos. Antes que eu pudesse responder, ele saiu com seu saco de dormir e me deixou aqui. Fico observando a neve cair por tempo o suficiente para sentir fome novamente, já deve ser quase dez da noite e nas últimas 24 horas tudo o que temos no estômago é o almoço de hoje. Pego a sacola comprada mais cedo e levo até a carroceria da caminhonete, mas não sem antes ir até o saco de dormir e cutucá-lo com o pé.
– Tá acordado? – pergunto baixinho.
– Tem outra opção? – ele responde ao abrir o zíper que o cobre quase até a cabeça.
– Você deve estar com fome, vem, vamos comer.
Darrel certamente está faminto, porque eu não preciso dizer duas vezes. Nos sentamos na beirada da carroceria e eu entrego um refrigerante para ele e abro o meu enquanto nos servimos do salgadinho. Nós observamos a neve que cai lá fora em silêncio, já que é estranho passar a noite com um total desconhecido.
– Quando você chegou no aeroporto ontem, você achou que existia alguma chance de conseguir a passagem? Não sei você, mas eu não acredito em milagres de Natal, e uma passagem em cima da hora definitivamente seria um – ele me pergunta sem desviar os olhos da neve.
– Não, mas eu precisava tentar. Quando o Henry surgiu com aquela passagem, eu não pensei duas vezes. Eu só precisava chegar lá, então paguei o que foi preciso sem nem duvidar. Mas e você?
– Eu imaginei que não conseguiria, mas quis arriscar a sorte também. Sabe, minhas viagens nunca são muito planejadas, conheço treze países e quase todos foram decididos de última hora e eu não tenho problema em adiar as datas e mudar o destino, só que essa... eu realmente quero estar lá nesse Natal.
– O que Calgary tem de tão especial no Natal? – o encaro pela primeira vez durante essa noite.
– Não é Calgary – ele sorri ao retribuir meu olhar – Estou indo para Banff. Minha mãe sempre disse que viu a aurora boreal quando esteve lá e que foi um momento mágico na sua vida, sonhava em ver de novo, mas não deu tempo. Ela também não teve nenhum registro porque o filme da câmera queimou e ela perdeu todas as fotos. Pesquisei e vi que elas aparecem mais de setembro a abril, e mesmo dezembro não sendo o melhor mês para vê-las, ela me contou que isso aconteceu no Natal de 1989, na madrugada do dia 24 para o dia 25, então eu quero que seja nessa data, mesmo que mais de trinta anos depois e mesmo que eu nem consiga ver. Pelo menos eu tentei, pela memória dela.
Darrel falou em alguns minutos mais do que nas últimas vinte e quatro horas e eu não sei como agir. Tenho vontade de abraçá-lo e dizer que ele é um ótimo filho mesmo sem saber nada da sua vida, mas não acho que seja um comportamento muito adequado no momento, então apenas retribuo seu sorriso.
– Mas e você? – ele volta a dizer – O que tem de tão especial no Natal de Calgary que te fez pagar mil dólares em uma passagem?
– Meu destino também é Banff. Fiquei seis anos sem falar com os meus pais por conta de uma briga boba, quando não quis me mudar pro Canadá com eles. Meu pai descobriu um câncer em outubro do ano passado e minha mãe quebrou nosso silêncio quando ligou pra me contar, afinal sou filha única, mas eu havia acabado de começar no meu emprego e não poderia me afastar. Ele fez a cirurgia e o tratamento e ao que tudo indica está curado, eu finalmente consegui férias e recebi o convite da minha mãe... e realmente quero passar meu Natal com eles, afinal eu não sei quando será o último.
– Posso te dar um conselho de quem não soube que era o último Natal? – ele apoia a mão sobre a minha ao perguntar, me fazendo sentir um frio na barriga – Aproveita. Passe todos os natais e feriados que puder. Viaje todas as 26 horas de carro, se não conseguir um voo. Mas aproveite enquanto pode.
Eu não sei o que acabou de acontecer. Eu não sei o que está causando esse frio na barriga. Era mais fácil quando a gente não conversava, porque agora parece que abrimos uma fresta nessa parede grossa que nos separa. Darrel percebe que ainda está com a mão apoiada na minha e se apressa em puxá-la, como se tivesse acabado de levar um choque. Sutileza definitivamente não é o seu forte.
Mesmo com nossas mãos separadas e nossos olhares focados lá fora, continuamos lado a lado e, por mais incrível que pareça, conversando. Ele me contou que a única família que tem é seu meio-irmão mais velho que vive no Colorado com o marido e os filhos e também que não conheceu o pai, pois ele era um viajante assim como sua mãe e ele é o resultado de uma viagem da mulher à Irlanda.
– Por isso você é ruivo – deduzo.
– Você sabe que o lugar onde fui concebido não altera o meu DNA, né? – ele ri – Minha mãe era ruiva. O meu pai eu não sei, tudo o que ela dizia era que ele era francês.
– Se eu fosse sua mãe, também cairia nas graças de um francês. Não resisto ao sotaque e ao idioma.
– Vous ne parlez pas français? – ele pergunta e nem me importa o que ele disse, a resposta é sim.
– Eu não faço ideia do que você disse, mas eu concordo – ele solta uma gargalhada com a minha resposta e, Deus, como foi gostoso de ouvir.
– Eu perguntei se você não fala francês – ele continua sorrindo, o que me faz sorrir também. Lilith, por Deus!
– Só sei dizer "voulez-vous coucher avec moi ce soir?", mas é por conta de uma música, nem sei o que significa.
– Lilith... – mais uma vez ele ri e eu sorrio junto dele, que droga – Você acabou de me perguntar se eu quero ir pra cama com você essa noite.
Se eu bem me lembro das aulas de artes, acho que meu rosto foi capaz de tonalizar todos os tons de cores quentes possíveis. Graças a Deus a iluminação dentro dessa oficina é ruim e as luzes da rua e de Natal não são capazes de iluminar essa cara idiota que eu estou. Lilith do céu, como você é capaz de me dizer isso! Alguém me tira de mim, por favor!
Darrel parece não se importar com a minha vergonha e nem mesmo com esse meu pedido inocente de para ir para a cama com ele, apenas continua conversando comigo como se nada tivesse acontecido – e convenhamos, não aconteceu, apenas a minha vergonha alheia. Não sei em qual momento nos deitamos na carroceria, mas realmente já estava desconfortável ficar sentada e o salgadinho já tinha acabado. Ele continua falando algo que juro que estava interessante, mas aos poucos sua voz vai ficando distante e sinto muito, mas meus olhos estão se fechando e eu não pretendo abri-los.
Um barulho na rua me faz acordar com o coração acelerado e as luzes de Natal penduradas na porta que esquecemos aberta iluminam o rosto adormecido ao meu lado, que tem a mão apoiada em meu braço. Darrel fica até simpático dormindo, a carranca dá lugar a uma feição serena. Seus cabelos parecem escuros nessa sombra e ele ficaria bonito mesmo se fosse moreno. Não, Lilith! Eu preciso dormir, a falta de sono está afetando minha percepção e o filtro que me impede de pensar nessas coisas.
Está bem difícil desviar meus olhos dele, então me obrigo a virar de costas. Assim que me mexo, meu braço sai debaixo de sua mão e ouço sua respiração despertar. Viro novamente para me desculpar por acordá-lo, mas seu olhar ainda está perdido, tentando entender onde está.
– Acho que caímos no sono – abro um sorriso sutil.
– Eu nem me lembro de ter dormido – ele sussurra e olha ao redor – Me desculpa por ter roubado seu lugar e seus cobertores.
– Tem cobertores o suficiente pra nós dois e você não roubou meu lugar, cabem duas pessoas nessa carroceria.
Darrel não fala mais nada, apenas fica me encarando. Não sei se o sono o fez travar, se ele dormiu de olhos abertos ou se ele é apenas sonâmbulo e eu estava falando sozinha, mas ele segue me olhando nos olhos, me deixando um tanto envergonhada.
– Darrel...?
– Darry – ele me corrige com sua voz sonolenta – Desculpe, me distraí.
– Qual distração você vai ter nessa oficina? – dou uma risada baixa.
– Seus olhos... Eles refletem as luzes de Natal.
Ok, eu não sei o que dizer. Eu não estava esperando por isso. O que eu faço? Fingir um desmaio não é uma opção. Espero que as luzes de Natal não destaquem meu nervosismo. Ele desvia o olhar assim que percebe o que disse em voz alta ou então ao perceber essa minha cara de pane no sistema. Acho que essa situação não poderia ser mais constrangedora.
– Desculpa – Darrel se agita ao meu lado e eu não quero que ele se sinta mal por eu não saber como agir.
– Pelo quê? É bom saber que teremos ao menos um pouco do Natal até chegar no nosso destino, mesmo que apenas nos meus olhos. Falta um pouco de decoração na nossa caminhonete, não acha?
Eu abro um sorriso desconcertado, fazendo Darrel sorrir também. Ele volta a olhar para os meus olhos e eu sinto um frio na barriga que só se intensifica quando suas íris descem para a minha boca. Oi Deus, sou eu de novo... sabe aquela parte de "não nos deixeis cair em tentação"?, então, é agora...
– Acho melhor eu fechar a porta e ir dormir, amanhã acordaremos cedo – Darrel diz ainda encarando meus lábios de uma forma próxima demais.
– Claro – sussurro de volta, ainda em choque com o que poderia ter acontecido.
Darrel tira suas cobertas e desce da carroceria, fazendo um frio repentino tomar o que antes estava tão quente. Meu olhar acompanha seus passos até as portas de madeira e de repente tudo fica escuro, sendo iluminado apenas por aquela corrente de luzes piscantes que agora sei que meus olhos refletem. Sua silhueta passa ao lado da caminhonete e ele me deseja boa noite antes de seguir até o saco de dormir, e só quando ouço o zíper se fechar que volto a me aconchegar naquele casaco improvisado como travesseiro. Fecho meus olhos na insistência para pegar no sono, mas o perfume masculino que exala desse tal travesseiro não parece que vai me deixar dormir tão cedo.
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