Capítulo 3
Wesley havia dormido as aulas inteiras, mas mesmo assim conseguiu ouvir as pessoas reclamando que ele nunca faz nada, porém, o professor apenas diz que é melhor do que estar conversando ou tumultuando sua aula. É claro que ele estava acostumado a ouvir isso, sempre. Principalmente, dos alunos que ficavam atrás dele ou até mesmo dos nerds que se sentiam injustiçados.
É incrível como você não repete de série, coisas assim.
Wesley também se surpreendia bastante, os professores só podiam gostar muito do garoto ou das suas antigas piadinhas sobre a barba do coordenador. Até isso ser considerado um bullying e o garoto parar com isso por causa da culpa. Desde quando ele havia virado um revolucionário? Não havia, apenas sabia muito bem como era passar isso e não ter ninguém. Ele sempre se perguntou se adultos tinham amigos. Mas não faltava muito tempo para descobrir, daqui á alguns meses, ele faria dezoito anos, e então poderá arruma um emprego, e parar de ser obrigado a aguentar as piadas de 'tiozão' de Emilly.
E eu sempre volto a falar dela, pensou o garoto. Que levantou sua cabeça ao ouvir o sinal avisando que o intervalo acabara de começar. Pegou o um dólar que tinha em seu bolso e saiu para comprar seu salgadinho que sempre comia ou roubar de Valerie.
Pegou o pacote que caiu na escotilha da máquina que a escola possuía e foi em direção á uma mesa afastada e vazia. As pessoas o olhavam, mas nem se importou. E apenas para se divertir, encarou feio Ed para lhe dar-lhe medo. Entretanto, pareceu não funcionar muito, já que o garoto sorriu macabramente.
Sentou-se e abriu o seu salgadinho. Pegando um tanto em sua mão, e enfiando instantaneamente em sua boca, sentindo o gosto salgado tomar seus lábios.
- Típico câncer empacotado. - Diz Valerie, que se aproximou de trás da mesa de Wesley. E ele até se surpreendeu, há um tempo, havia parado de fazer piadinhas com a palavra câncer após a garota perder sua mãe por causa da doença. Mas agora, é ela mesma quem faz esses tipos de coisas.
- Vai dizer que nunca comeu? - E Wesley pareceu não se importar se estava comendo um câncer, pois continuou pegando o salgadinho e enfiando em sua boca.
- Não mais. - A garota se senta á sua frente - Desde que isso matou a minha mãe.
Wesley parou. Desde o dia que Valerie apareceu na escola chorando dizendo que perdeu sua mãe, eles nunca mais tiveram essa conversa, de se abrir e tentar entender o porquê dele ser o único que compreende essa dor. Até então, a garota evitava esse diálogo, mas parece que quem estava adiando, era o próprio Wesley.
- E está tudo bem sobre isso? - Pergunta o moreno, franzindo o cenho. Valerie olha para ele, e balança a cabeça, não queria pensar nisso, pelo menos, não agora.
- Mais ou menos. - Ela olha para o lado encarando a situação que acontecia ao lado da porta de entrada no refeitório, Dylan e Ed discutindo. - Eu preciso ir depois passo na sua casa.
O garoto apenas concorda, e segue Valerie com o olhar, e vê Ed quase partindo para cima do loiro, que recua, e tenta se proteger com os braços. Wesley bufa, se sentindo entediado. Havia finalmente percebido qual era daquela escola, onde os diretores achavam melhor colocarem culpa nos alunos, do que resolver a si próprios, e isso o irritava muito. Quem faz a escola são os alunos, eles deveriam agradecer, pensou o garoto. Mas infelizmente não era assim que as coisas funcionavam, os diretores apenas esperavam que os alunos arrumassem brigas, e nem separavam eles, para ligar para os pais, e nem procurar saber o motivo que tudo aconteceu. Era isso que iria acontecer caso Ed resolvesse bater briga com Dylan.
Wesley ia pegar mais um salgadinho, mas percebe que havia acabado. Então, ficou bravo, e amassou com força o plástico. Olhou para o lado de novo, e viu Valerie se meter no meio dos dois garotos e faziam que aglomerasse milhares de intrusos ao redor deles. Porque se Valerie estava no meio, o negócio era sério. O moreno se levanta da mesa que estava sentado, e vai até onde Ed fazia sua ceninha da semana.
Segurou firme a embalagem amassada em seu punho, com uma mão empurrou as pessoas que atrapalhavam sua visão, com a outra mirou bem na cabeça de Ed, e jogou. Acertando em cheio.
Ed sentiu a leve pancada, e se virou, encarou algumas pessoas que apontavam para trás, e seguiu os dedos que levavam até Wesley. Que sorria sarcasticamente.
- Ponto pra mim. - Afirmou Wesley, se aproximando de Dylan, Valerie, e eventualmente de Ed.
- Não se mete, Style. - Avisou Ed.
- E se eu não quiser? - Wesley cruza os braços, mantendo a expressão serena. - O que você vai fazer?
- A conversa é entre mim, e o Dylan - Ele aponta para o loiro atrás de tudo.
- Conversa? Se isso é uma conversa, não sei o que eu estou fazendo, então - O moreno solta uma risada sarcástica.
- Wesley... - Sentiu seu braço ser tocado delicadamente, e viu os olhos preocupados de Valerie.
- Fica quieta, Valerie - Puxou seu braço, e se arrependeu de ter dito isso, não queria ser rude com ela. - Se Ed quiser bater no Dylan, vai ter que passar por cima de mim primeiro.
Não que Wesley queria proteger o loiro, até porque para ele seria hilário, mas queria mostrar para todos que família é família, e que ele não é flor que se cheire. Também tinha seu pai, que sempre dizia que ele deveria se importar mais com as pessoas e talvez fazendo isso, mostraria para Paul que ele consegue ser bem melhor do que as pessoas dizem que é.
- O que foi? Está protegendo seu irmãozinho agora? - Ed entrou em sua brincadeira. Era exatamente isso que Wesley queria, e conseguiu.
- Não. Estou aproveitando a chance de bater em você.
- Medroso - Diz Ed, com um largo sorriso no rosto.
Wesley sorriu macabramente, e olhou para trás do garoto, encarando Dylan. O moreno olha rapidamente para a porta, e o loiro logo entende, balançando a cabeça, e puxando Valerie para ir junto á ele. Eles poderiam não se falar á muito tempo, mas os dois ainda entendiam muito disso.
Foge. Senão, a coisa vai ficar feia para teu lado, avisou Wesley que pôde molhar sua língua enquanto preparava para fazer o discurso que mataria Ed de raiva.
- Medroso? - Wesley se aproximou - Eu? Não fui eu que fugi quando os jogadores resolveram furtar a estátua do jogo semana passada. Quem diria, né? Filho de treinador trai sua confiança e lhe traz decepção.
Ed sente seu sangue ferver, e pretendia partir para cima de Wesley, e assim fez. Mas acabou com quase a cara no chão, pois o moreno foi mais rápido, e desviou.
- SEU MENTIROSO! - Gritou Ed, todos que só olhavam, fizeram um som de torcida, eles mesmos sabiam que aquilo sobre a estátua era verdade.
Wesley virou sua cabeça para a direita, e se aproximou de Ed. Que levantou seu punho, e quase acertou o rosto do moreno. Mas foi impedido pela mão forte de Wesley.
- Tente não passar vergonha, Ed. - Disse ele, que apertou o punho do garoto á sua frente - E se tentar bater em Dylan de novo, não vou ser tão bonzinho assim.
Soltou o braço dele, e saiu do refeitório. Olhando para os lados para encontrar as duas pessoas perdidas em meio aos alunos desesperados. Mas encontrou apenas uma. Dylan, perto do banheiro feminino, mexendo em seu celular distraído, sem nem se importar se estava sendo xingado pelas garotas.
- Cadê Valerie? - Perguntou Wesley se encostando aos armários.
- No banheiro - Aponta Dylan, que desvia o olhar de seu celular para olhar o moreno - Por que fez aquilo?
- Se acha que foi por sua causa, está errado - Afirmou Wesley - Foi por que Valerie se meteu no meio.
- Qual é o teu problema, Wesley? - Se irritou Dylan, que bloqueou a tela do seu celular, e colocou no bolso - Eu sei que você não gosta de mim, mas isso não é motivo para me tratar mal desse jeito.
- Sério? - O moreno cruza os braços.
- Eu sei o que aconteceu alguns anos atrás. Sobre eu te deixar de lado para dar atenção á pessoas que só queria conversar comigo por causa da cola nas provas. Se você queria me dar uma lição, eu já entendi.
Wesley não estava pronto para ter essa conversa, mesmo que já tenha passado tanto tempo. Sentia-se mal toda a vez que ele pensava nisso, por ser trocado de novo, e olha que eles na época, apenas se conheciam.
- Eu sei que naquela época, você precisava de alguém mais do que nunca, e eu te deixei. Mas me desculpa se é isso que você quer ouvir.
- Está perdoado. - Wesley encarou o banheiro feminino, percebeu que com certeza Valerie demoraria, e saiu em direção á sua sala.
Não estava preparado ainda. Queria preparar um discurso, ou até mesmo palavrões que acompanhassem o conjunto de palavras inofensivas. E conseguir finalmente entender isso que para Wesley, ele sempre será a segunda opção de todos.
Foi até sua carteira, mas foi chamado pelo treinador. Que o levou até a quadra, onde não tinha ninguém. O treinador Bayers pediu para que Wesley se sentasse, e assim o garoto fez, se questionando do por que estar aqui, sendo que não era dia de treino, e ele não via os alunos correndo o lugar todo e sujando o chão com o suor.
- O que foi que eu fiz agora? - Wesley cruza os braços, e boceja.
- Está fora do time. - Disse por fim o treinador Bayers
- Tudo bem! - O moreno não queria dizer algo á mais que isso, pois seria desnecessário.
- Só isso? - Bayers levantou a sobrancelha esperando uma reação totalmente diferente.
- Não sei por que demorou tanto para me dizer isso - Wesley deu leves tapinhas nas pernas para tirar a poeira. - Fala sério, treinador! O time era legal quando eu tinha dez anos, você sabe muito bem que com esses jogadores a escola não vai para frente no campeonato. Para mim era apenas um hobbie, mas acho que você levou as coisas muito a sério.
- Então por que continuou no time esse tempo todo? - Cruzou os braços, o treinador.
- Garotas gostam de jogadores, né? - Sorriu o moreno. Que se levantou das escadas.
- E agora elas não gostam mais?
- Talvez... - Pensou por um instante Wesley, que se aproximou do cara grande á sua frente - Eu tenha mudado meu gosto.
Wesley apenas para tirar sarro do treinador, deu um tapinha no ombro dele, e saiu da quadra, não queria ir para sua sala, por isso apenas ficou zanzando pela escola tomando cuidado para não ser descoberto pela diretora.
Ficou pensando no que Dylan o havia dito, talvez o garoto realmente tenha se arrependido das escolhas que fez no passado, as escolhas que fizeram Wesley se tornar o que é hoje. Emo solitário, gótico, frio, e até mesmo órfão com problemas mentais. E por mais que ele tivesse dito que perdoava o loiro, sabia que não. Sabia que esse perdão iria acontecer um dia, mas iria demorar. Até se acostumar com a 'nova família', se é que ele pode chamar assim.
Sentia-se solitário, por mais que ele não se importasse realmente com o time, era uma boa companhia, o jeito que eles se tratavam como irmãos, e como levavam tudo na brincadeira, e por mais que perdessem, sempre estariam ali, um para outro. Porque é assim que um time deveria ser realmente. E, aliás, os jogadores eram uma boa influência masculina para o garoto, e isso o ajudava muito, já que seu único amigo é uma garota. Ruiva. Nerd. Não tão bonita. Dramática. E neurótica.
Minha vida só pode ser uma piada, pensou Wesley.
O sinal bateu, e Wesley foi até sua sala para pegar sua mochila, mas nem precisou pois Valerie estava o esperando com dois pesos nas costas, um lado parecia estar mais pesado que o outro, com certeza seria a mochila da ruiva, já que a única coisa que o moreno leva em sua bolsa, é sua blusa reserva, e um só caderno. Claro que isso não pesaria tanto.
- WESLEY! - Gritou a garota, que correu em direção ao garoto, mesmo com pesos nas costas.
- Calma, Valerie - Disse o moreno, que parou á frente da ruiva, e tampou seus ouvidos - Não precisa gritar, eu tô aqui.
- De nada. - Disse ela, mas o garoto pareceu não entender - Por te ajudar a cabular a última aula.
Valerie sorriu abertamente, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados. Wesley não a respondeu, apenas ficou a olhando, mesmo parecendo um pouco estranho, ele encarou a garota, e sentiu um pingo de felicidade, pela primeira vez no ano.
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