Capítulo 27

Eles tinham um plano. Era simples, porém, funcional. Bem, isso não deixava Wesley mais tranquilo, ele nunca havia repassado tantas informações na sua cabeça quanto ele fizera naquele dia, que estava sendo muito mais longo do que imaginara. Era esse é dia em que ele iria fazer seu pai pagar pelo que ele fez e era esse dia que perderia seu grande amor. Pelo menos era o que pensava. Talvez Emilly resolvesse que , embora toda a merda, eles ainda poderiam viver na mesma cidade. E no fundo, ambos – Wesley e Dylan – torciam para que não. Os dois haviam sacrificado seu relacionamento para aquilo e simplesmente não sabiam o que fazer ou dizer um para o outro. Desculpas não funcionariam ali, não houve traição ou algum motivo concreto que os fizera terminar, muito pelo contrário. Era um misto de paranoias e acontecimentos que os levou até essa decisão.

Decisão de Wesley.

Pois na visão de Dylan, os dois esperariam ver o que acontece quando se joga a merda no ventilador, mas o moreno adiantou as coisas, causada pela culpa e pressão, e os deixou desamparados.

Wesley se perdia nos próprios pensamentos deitado em seu colchão no chão da sala e Dylan podia se esticar pela primeira vez em dois meses em sua cama, mas isso não o deixava feliz. Com o fato de que ao esticar o braço não encontraria uma cintura ou braços fortes ao redor de seu corpo.

Wesley virava para um lado e depois para o outro em busca da posição perfeita para que pudesse pegar no sono sem acordar com dores. Ele sentia um imenso vazio, um vazio que não se tinha uma razão para estar ali bem naquela madrugada longa. Perguntou-se se Dylan estava dormindo. Até pensou em ir a seu quarto vê-lo dormir, já que provavelmente não teria mais oportunidade para aquilo.

Então o fez. Fez o mínimo de esforço para levantar e conseguiu. Sentiu seus pés se contraírem ao sentir o chão frio que sua casa havia. Buscou seu celular para poder usar a lanterna e clarear seu caminho até as escadas. Wesley conseguiu não tropeçar em nada e não quebrar alguns vasos de Emilly, o que era impressionante.

Viu o semblante das escadas e sorriu. Mas seu sorriso se desfez ao ver uma figura perto das escadas com uma sombra escura e com o rosto iluminado pela luz da lua. Sentiu suas mãos tremerem, mas não iria deixar seu celular cair já que havia sido caro. Sua boca se abriu e se fechou diversas vezes.

- Que porra eu fumei ontem? – Ele se questiona.

- Oi, querido – Diz sua mãe sorrindo, como se tudo estivesse normal.

- Mãe?





- Por que você tá aqui, mãe? – Questiona Wesley, ao percebeu que estava sentado em uma mesa junto com sua falecida mãe, que tomava uma xícara de café bem quente, do jeito que ela gostava.

- Porque mais? Para te ver – Ela sorria enquanto deixava sua xícara de café em cima da mesa – Eu senti que você precisava de mim e eu vim – Ela olha ao redor da casa como se pudesse vê-la inteira, porém, escuridão não deixava. – Estava com tantas saudades daqui. Me traz boas memorias.

- Mãe – Wesley chama sua atenção – Como você está aqui?

- Você precisa de um conselho, não é? Me conte seus segredos e eu irei dizer á você.

Ela parecia bem real para o garoto, mesmo que esteja fugindo do assunto abordado por seu filho, que ainda se questionava se ninguém havia colocado nenhuma droga em alguma bebida sua.

- Não preciso de conselho nenhum. Você está errada. – Wesley revira os olhos.

- Claro que precisa, se não, eu não estaria aqui. Pode me contar.

- Do que você está falando? Eu não tenho nada para falar com você! – O garoto suspira, dando um soco leve na mesa, fazendo o café dançar dentro da xícara de sua mãe – Além de errada, você está morta.

Sua mãe suspira e pisca várias vezes. Coloca sua mão na testa, mostrando claramente sua indignação com o filho.

- Vou te perdoar dessa vez – Diz ela, apontando para ele á sua frente – E me fale logo. Meu tempo é curto hoje. Tenho que ir fazer as unhas – Ela olha as próprias unhas e faz uma careta.

Wesley cansado de discutir com sua mãe morta – Por favor, essa frase não saiu de minha cabeça – decidiu conta-la, mesmo que qualquer coisa, apenas queria acabar com aquele efeito. Suspirou, levantou da cadeira onde estava sentado e se sentou na pia de mármore. Queria uma certa distancia daquele fantasma ou qualquer coisa que fosse.

- Ok – Disse ele, deixando um peso enorme escapulir de seus ombros – Foi o papai que matou você em um acidente. E ele está traindo a Emilly. Vou contar para ela sobre a traição e pra policia sobre o acidente. Eu tenho uma testemunha.

- Certo – Sua mãe toma mais um gole de café e parece fazer uma análise sobre o que foi dito – E do que você tem tanto medo?

- É que tem um certo garoto de olhos verdes junto com essa historia toda.

- Entendi – Ela balança a cabeça freneticamente – E você tá com medo de fazer a coisa certa e perder ele?

- Eu sei que eu vou perder ele, de qualquer jeito. Quando Emilly ouvir a palavra traição, vai pegar as coisas dela, o filho e vazar dali. – Wesley fecha os olhos com força – Eu faria isso.

-E você está hesitando?

- Eu não sei, mãe – Ele levanta as sobrancelhas ainda de olhos fechados – Ás vezes eu me pergunto se é realmente isso que eu quero. Tipo, o papai seguiu a vida dele e faz tanto tempo. Eu deveria mesmo jogar tudo isso fora por causa de algo que ninguém lembra mais?

Wesley abre seus olhos e vê sua mãe sorrindo. O café havia acabado e só haviam sobrado eles.

- Querido – Ela diz – ás vezes é bem difícil escolher. Mas sempre temos que fazer a coisa certa, custe quem custar.

- Mãe, o que você faria se estivesse na minha pele?

- Se eu estivesse na sua pele eu... – Ela dá uma pausa – cortaria o cabelo – Ela sorri e solta uma risada nasal.

- Eu tô falando sério – Wesley queria sorrir com a piada, mas estava desesperado demais em descobrir respostas.

- Eu sei, querido. Me desculpa – Sua mãe pede desculpa mesmo rindo um pouco e tenta manter a feição séria – Eu iria fazer a minha própria opção. Eu iria juntar os fatores e iria fazer uma escolha onde todos sairiam beneficiados, ou pelo menos, a maioria.

- E se não existir? Essa terceira opção?

- Wesley – Sua mãe o chama pelo nome pela primeira vez, fazendo-o se arrepiar – Sempre há uma terceira opção. Escondia entre os becos do desespero, entre as rochas do nosso próprio abismo, dentre as escolhas erradas e certas. Sempre há.

- Mas...

- Encontre sua terceira opção, filho – Ela o interrompe – Tenho certeza que você encontrará.

Sua mãe se levanta e sorri, como se estivesse se despedindo. Olha para a xícara de café.

- Fui muito bom te ver, mas agora eu tenho que ir – Ela dá alguns passos para trás, quase desaparecendo na escuridão. Nesse momento Wesley já não conseguia mais falar por mais que se esforçasse – E você tem que falar com certo alguém de olhos verdes.

A presença de sua mãe some e Wesley fica ali parado tentando entender o que havia conhecido. Sente seu corpo se mexer de forma rude, mas não entende de onde está vindo. Uma luz muito forte entra pelas janelas e em uma tentativa falha de cobrir os olhos, o garoto percebe que tudo isso não passava de um sonho. E teve total certeza ao ver um rosto familiar e o lugar também.

Ele ainda estava na escola, dormindo sobre sua carteira. A sala estava vazia exceto por alguém que o acordara. Tyler. Que empurrava seus ombros, cutucava sua cabeça e tentava o fazer cócegas até Wesley abrir os olhos.

- Cara, que caralho você tomou ontem? – Disse o outro garoto – Tô aqui tentando faz meia hora.

- Meia hora? – Wesley diz, bocejando e esfregando os olhos.

- Na verdade, só três minutos.

- Onde estão os outros? – Pergunta Wesley.

- No refeitório. É melhor você ir, senão não conseguir comer.

- E por que você está aqui?

- Eu dormi também – Responde Tyler logo antes de sair da sala e deixar Wesley sozinho.

Ainda pensando em tudo que sua mãe o dissera em seu sonho, o garoto questiona sua sanidade. Sabia que tinha sonhos com sua mãe desde pequeno, mas sempre culpou o luto e o fato de não ter mais nenhuma foto dela. Daquela vez era diferente. Além de ele conseguir falar, ele fez café para ela e o lugar era o mais normal possível, sua casa.

O garoto nunca teve sonhos com sua casa, já que era o lugar que mais odiava em sua vida.

Ele seguiu o corredor até chegar no refeitório e ver uma das cenas mais incríveis de sua vida. Era Dylan, não apenas ele, era Valerie também. Tudo estaria normal se não fosse por um riso brotando rapidamente nos lábios do loiro. Em nenhum momento isso acontecia, ninguém ria das piadas de Valerie. Eram muito ruins. E até a garoto parecia estar impressionada com aquela cena. Arqueou as sobrancelhas e fez a expressão mais surpresa possível.

Acho que quem deve estar louco aqui é Dylan.

Foi ai que Wesley entendeu o que sua mãe quis dizer, foi com a cara de surpresa da ruiva e da risada de criança de Dylan que o fez entender o que era sua terceira opção. Na verdade, essa terceira opção não estava em lugar nenhum, nem em sua casa, nem nos seus pertences ou na situação que se colocara. Ela estava dentro de si mesmo. Ele teria que cria-la e colocar em prática.

Um sorriso de alivio apareceu em Wesley, que voltou ao mundo normal quando alguém esbarrou nele e o xingou. Ele foi em direção à mesa em que seus amigos estavam e quando chegou lá, ainda com aquele sorriso no rosto, recebeu olhares curiosos, como se ele não os tivesse ignorado á alguns dias.

- Eu tenho um novo plano – Diz Wesley.

- Do que você tá falando? – Pergunta Dylan, uma pontada de felicidade aparece em seu peito ao ver o moreno em sua frente e olhando em seus olhos.

- De mandar meu pai para a prisão – Wesley responde se sentando no banco – A gente não conta que ele traiu a Emilly, pela menos, ainda não. Então, quando ele for preso, ela ainda é casada com ele e vai ter que testemunhar, desse jeito ela não vai embora e você fica comigo – Os olhos de Dylan pareciam brilhar e um sorriso aparece em ambos os dois.

- Mas e se não funcionar? – Pergunta Valerie.

Wesley olha para os olhos da ruiva e morde o lábio inferior. Apenas de pensar nisso o deixava triste e irritado.

- Tem que funcionar. Eu não posso perder você – Wesley diz em direção à Dylan – Acho que não posso perder mais ninguém.

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