Capítulo 2

Estava chato ficar em casa para Wesley, não que ele tenha algo melhor para fazer ou outro lugar para ir, mas esse foi o primeiro final de semana com sua mãe adotiva e seu irmão de consideração. Os três – Paul, Emilly e Dylan, aparentemente se deram muito bem, o loiro não pareceu querer questionar muitas coisas, como por que Wesley vai dormir na cama maior? E por que ele tem que sempre jogar as suas coisas no lado de Dylan? Eram coisas que o irmão mais velho com certeza esperaria uma reclamação, porém não o teve.

Dylan nunca teve um irmão, bem quase um, mas não completamente. Ele mesmo chegou a admitir que não sabia como reagir em relação á Wesley, e seus ataques matinais, e Emilly claro, tentando reconfortar o filho, falou para ele tentar ver um lado bom em ter um novo irmão, mas ele mesmo já havia descoberto que Wesley não é um tipo de cara que se chama por atenção, ou que precisa que todos o olhem e se sintam bem com sua presença.

E era exatamente isso, que mais preocupava Dylan.

Wesley talvez, não seja tão ruim como pessoa quanto parece, entretanto, ele sempre demostra que não precisa de amigos ou pessoas para conversar. E isso, o faz ficar solitário e sem querer ver ninguém. Mas era obrigado ir para a escola, encarar Valerie falando das lideres de torcida, e dos meninos que sempre enchem o saco dela, e era obrigado a socializar por causa da aula de filosofia, sentar em grupo ou puxar conversa, nunca foi um dos seus fortes. E ele sempre arrumava um jeito de fugir dessa aula, matando-a e indo para casa.

Mas dessa vez, seu pai mudou de trabalho e volta antes de Wesley, o que fica difícil, porém, ele com certeza passaria a perna em Paul e voltaria a dormir. Entretanto, Emilly ainda não trabalha e fica em casa arrumando e cozinhando. Ela era difícil e  não se deixa intimidar, já tentou várias vezes conversar e entender Wesley, mas acabou desistindo.

Wesley se levantou de sua cama, infelizmente sua mente já havia se acostumado a acordar cedo em dias da semana e por isso, acordou sem precisar de um maldito despertador que o fazia ficar mal-humorado e com dor de cabeça.

Olhou para o lado de seu quarto e viu Dylan dormindo profundamente, com a cara enfiada no travesseiro, a primeira intuição dele era acordar seu irmãozinho, mas estava cansado demais para andar até sua cama, então, apenas colocou sua calça preta e sua jaqueta preta também e voltou a ser o 'emo solitário' que toda a escola estava esperando para ver se ele ia mudar de estilo. Aparentemente, não.

Desceu as escadas, e viu Paul rindo de umas das piadas de 'tiozão' de Emilly, o que fez ele quase se engasgar com o café e ao ver seu filho parado com a mochila nas costas encarando a ceninha dos dois, Paul disfarçou e continuou a contar sobre politica e economia.

- Não vai comer, querido? – Perguntou Emilly que apareceu rápido na sala, ao perceber que Wesley iria para escola, sem ter comido nada. E ele, claro, odiava essa preocupação.

- Não como de manhã. – Era verdade, ou meia verdade. Wesley não comia em sua casa, porém, comia todos os tipos de besteiras e doces, quando chegava à escola.

- E Dylan? Não vai com você? – Ele sentiu uma pontada de remorso, ao ver o olhar de Emilly sobre ele, mas esse sentimento sumiu quando ouviu algo cair no andar de cima.

- Está dormindo, eu acho. – Wesley coloca sua mão sobre a maçaneta.

- Ele vai se atrasar – Emilly já havia entendido que o garoto não gostava de se fazer de empregado acordando os outros e por isso, já subiu as escadas para ver seu filho.

- Pois é – O moreno percebeu que a coisa ia ficar preta para o seu lado, caso ele ficasse ali parado e esperasse Paul perceber o que estava acontecendo.

E, aliás, Dylan surtaria, pularia no pescoço do garoto, mesmo sendo uns centímetros menor, e mataria Wesley, bem, foi o que ele pensou.

E enquanto, ele andava calmamente entre as pessoas que faziam fila para comprar pão numa padaria famosa, Wesley não parava de pensar no havia feito, ficava pensando se o loiro não tinha algo importante para entregar ou alguma prova para fazer. Ficou pensando se pegou pesado demais, já que não era culpa de Dylan sua mãe ter casado com o pai de Wesley, não era culpa de ninguém, e isso não poderia ser desfeito. Já aconteceu, não dá para mudar, ou pular essa fase, era o que ele queria, pelo menos.

Passou pelo zelador que cuidava do portão da escola, e acenou para o homem, com a cabeça, apenas uma pequena zoação quando Dylan passasse ali atrasado.

Ao entrar na escola, Wesley já havia atraído alguns olhares, mesmo que involuntariamente. Algumas pessoas o olhavam e falavam ' Olha, ele é o novo irmão do Dylan' 'Os dois não se odiavam?' e algumas outras coisas que ele fazia questão de ignorar.

Wesley vai até o seu armário, e coloca todos os seus cadernos e livros dentro, ele não se importava mesmo com as aulas que teria. Os professores já haviam desistido de tentar ensinar algo para o garoto, ou chamar seu pai aqui, e ter uma daquelas conversas sérias que todo filho tem medo.

- Oi, Wesley! – Disse Valerie quando se aproximou dele, e deu uma leve batidinha no armário ao lado, para chamar sua atenção, ela sabe que o moreno é um pouco avoado e desatento.

- Oi. – E assim, terminou de arrumar sua mochila. Encarou o interior do seu armário, havia vários papéis escritos 'órfão', e um desenho no fundo, com letras garrafais 'BROKEN'. Quis chorar, mas isso passou quando Wesley olhou para o lado e viu o sorriso grandioso de Valerie. Ele sabia quem havia colocado todas aquelas coisas ali, ele olhou para trás e viu Ed, o encarando, e rindo com seus amigos idiotas.

- Onde está Dylan? – Perguntou a ruiva ao perceber que o irmão de seu amigo, não estava junto ao grupo.

- Em casa, eu acho. Ele perdeu o horário. – Wesley fechou seu armário, e prometeu para si mesmo que acabaria com Ed quando pudesse.

- E você não o acordou? – A garota realmente se preocupou com o garoto menor, e isso aumentou ainda mais, quando seus ouvidos ouviram o barulho agudo do sinal da escola, indicando que todos os alunos deveriam ir para suas respectivas salas.

- Tenho cara de despertador? – Outra pergunta retórica, mas dessa vez Wesley torceu para que não fosse respondida.

- Idiota – Foi a última coisa que Valerie disse para ele, antes de ir contra a correnteza de pessoas desesperadas, e ir ao encontro de Dylan, que se desculpava com os alunos que esbarrava, e ele ainda estava arrumando sua mochila, foi o suficiente para que várias coisas pequenas voassem pelo vão de sua bolsa. E a ruiva, se sentindo obrigada a ajuda-lo já o que ninguém, aparentemente, queria fazer, ajudou Dylan a catar todas as suas coisas caídas.

Dylan olhou para frente, e nesse momento, Wesley seguiu o caminho de Valerie com os olhos, e viu o olhar do loiro sobre ele. E aquilo de algum jeito mexeu com ele. Os olhos verdes e profundos do garoto demonstravam algo totalmente diferente do que Wesley esperava. O loiro sorria para o moreno à metros de distância e isso irritava Wesley. Dylan desviou o olhar, e agradeceu à ruiva, sorrindo. Não parecendo estar triste á um segundo atrás.

Wesley seguiu seu caminho para a sala de química, sabia que iria ficar com um ar pesado quando voltasse para a casa, e que teria que aguentar todo o percurso, ignorando o loiro, bem mais do que fazia. Eles eram obrigados a socializar entre si, para que seus pais não se preocupassem se teriam uma boa relação, eles mesmos concordaram com isso, iriam ser alguém totalmente diferentes na frente de seus pais, porém, na escola, em festas, ou até mesmo sozinhos em casa, seriam desconhecidos.

Wesley havia planejado isso. É só mais um jeito de mantê-lo longe, pensou o garoto ao terminar de conversar com Dylan sobre esse acordo. Ele se perguntou por que de não fazer o mesmo com Valerie, e mantê-la longe. Mas querendo ou não, ela era uma boa companhia, e Wesley tinha que admitir isso.

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