nossas meia-noites que se tornaram eternas

dedicada à gabe, que ama paris e taehyung de uma forma admirável, linda. o amor me inspira, e por isso ela me inspirou a escrever isso.

dedico essa one também a todas as taehyung utteds que lerem isso, em especial a aquelas que me acompanham (que são muitas!).

esse é o meu presente para vocês em forma de agradecimento. curto, doce e poético.

obrigada.

~ vick

Tenho certeza que conheci um anjo. Ou apenas um ser esculpido por alguma divindade que teve compaixão dos humanos e resolveu criar uma obra de arte única para podermos admirá-lo. Ele era extraordinário, vestia as cores do outono, mas trazia sempre as flores da primavera no peito. A voz melodiosa era tão doce quanto o chocolate ao leite dos seus olhos, que eram naturalmente afiados e tinham o poder de dilacerar meu coração. No entanto, ele nunca desejou partir meu coração, nunca tentou ser mais do que realmente era, ele era bom demais para isso.

Taehyung era delicado, desde o seu modo de se portar à mesa, até a maneira que segurava uma flor. Os dedos longos e finos sempre traziam uma câmera, com a qual ele eternizava momentos efémeros, mas que para ele eram únicos. Andava pelo Louvre como se ali fosse sua casa, se misturava entre as obras e transformava-se em bem mais que um curador do museu; Taehyung Kim era arte, em sua forma mais nua e pura. O sorriso retangular era o sol que iluminava as vidas dos parisienses, os abraços apertados eram a recarga que eu sempre precisava no final de um dia cansativo, e seus beijos... seus beijos eram o meu oásis particular.

A primeira vez que o vi ele estava parado em frente uma joalheria encarando o sol tímido que estava prestes a partir por trás dos prédios. Os olhos ficaram ainda mais claros e reluzentes sob a luz solar, e a pele morena tinha um aspecto de ouro puro quando banhadas pelo alaranjado que cercava tudo. A cidade estava monocromática em tons de sépia, mas Taehyung Kim brilhava como um globo espelhado naquela tarde. Sem me conter, me aproximei a passos lentos, temendo se tratar de uma miragem e ele desaparecer se eu pisasse em falso. Uma brisa açoitou os fios castanhos da sua franja, fazendo-os dançar calmamente em uma valsa que eu gostaria muito de convidá-lo a me acompanhar.

- A cidade fica tão linda nesse horário. - ele sussurrou ao notar minha presença, sem desviar os olhos da paisagem que tanto admirava. Encarei seu rosto de perfil, os lábios bem desenhados, a pinta que enfeitava um deles, seus olhos cortantes, sua pele lisa, seu nariz alongado, seu cabelo bagunçado. Ele era ainda mais bonito de perto.

- Fica sim. - murmurei de volta, mesmo sabendo que ele não esperava por uma resposta, e incerta se me referia a Paris ou ao próprio. Taehyung girou as orbes para me encarar e eu jurei que o chão tremeu sob meus pés nesse momento. Ele tinha um olhar curioso, piscava os olhos lentamente como uma criança, tendo os cílios longos se tocando várias vezes.

- Vem sempre aqui?

- Não. - admiti, e ele pôs as mãos nos bolsos do sobretudo terroso. - Mas acho que vou começar a passar por aqui mais vezes.

Ele sorriu de lado, me lançando um olhar que até hoje não consegui decifrar.

- É mesmo? E por que?

- Porque a vista é magnífica.

Taehyung sorriu largamente e ali eu soube que nunca mais seria a mesma. Não tendo aqueles olhos de meia lua sob mim e a visão dos seus dentes perfeitamente alinhados em um sorriso tão sincero que chegava a ser quase infantil. Ele era tão puro que me fascinava, tão meigo que me hipnotizava, tão sereno que foi quase instantâneo me apaixonar. Quando ele me convidou a visitar o Louvre casualmente, eu soube que nunca mais deixaria de ir naquele lugar e procurá-lo entre as obras de arte, ou imaginar ter visto seu rosto na multidão.

Acabei o encontrando entre os tons vibrantes de Van Gogh, ele tinha um sorriso gentil e roupas tão negras quanto o céu da meia noite em que nos beijamos pela primeira vez dentro do seu SUV. Foi necessário apenas algumas palavras para as visitas ao Louvre se tornarem um ritual de todas as quartas, que terminavam em seu apartamento, com direito a croissants e um vinho barato que tinha um gosto horrível, mas se tornava muito saboroso nos lábios dele.

Taehyung gosta de falar das coincidências que nos uniu, de como tudo aconteceu por acaso, naturalmente. Mas ele não sabe que eu previ tudo isso bem antes, ainda naquela tarde em frente a joalheria, quando ele me convidou para tomar um chá na esquina. Até mesmo enquanto ele falava que não apreciava cafeína, eu desejei que seu corpo fosse meu, que seus dedos percorressem cada extremidade da minha pele. Quando ele encostou os lábios na borda da xícara soube que um dia seriam os meus lábios entre os seus daquela forma. Eu calculei a rota que me levaria aos seus braços, refiz seus passos, fiz um pedido a uma estrela cadente e ensaiei na frente do espelho o que diria quando visse seu rosto. Eu usei as fórmulas mais complexas para tentar chegar a uma equação que se aproximasse da complexidade do existir de Taehyung, mas nada se comparou a explosão de sentimentos que foi quando cheguei ao final dela; em meio aos seus lençóis bagunçados, pernas entrelaçadas e corpos suados. Número nenhum jamais seria próximo a quantidade de estrelas que haviam dentro dos olhos dele quando ele me encarou no escuro daquele quarto após me mostrar o paraíso que seu corpo pode proporcionar.

Sentia que poderia criar um teorema, ou uma filosofia que carregasse as letras do seu nome apenas por diversão, mas nada nunca chegaria aos pés dele. Nenhuma das palavras rabiscadas no meu caderno foram o suficiente para descrevê-lo, ou ao menos tentar transpassar meus sentimentos, por isso desisti de planejar cada passo seguinte. Deixei que o vento nos levasse a partir dali, assim como carrega as folhas do outono para longe, que nos guiasse por um caminho que ainda não conhecíamos. Que as cores do Louvre possam pintar nossa história, e minhas palavras rasas solidifiquem esse sentimento que se resguarda em meu peito. Poderia ser que o vento nos soprasse em direções contrárias, que nos jogasse em um precipício ou nos levasse juntos ao altar.

Não importa, porque ainda estávamos na cidade do amor, e ele ainda era meu, mesmo depois de dois outonos desde que o vi parado em frente aquele prédio verde-abacate. Tudo o que importa são as nossas meia-noites que se tornaram eternas em um curto período de tempo. Nada mais me importa além dos seus beijos com gosto de vinho ruim, ou seus dedos macios contra a minha pele. Não importa se o dia for acabar amanhã, ou tudo desmoronar como um castelo de cartas. Se eu tenho Taehyung em meus braços já era o bastante.

- No que tanto pensa? - sua voz rouca ecoa pelo silêncio do quarto, provando que havia dormido enquanto eu divagava sobre nós.

Encarei-o, ele tem os olhos semicerrados, o cabelo desgrenhado e úmido colado na testa, lábios corados e uma marca avermelhada no ombro que eu fiz há alguns minutos. O tronco nu está reluzente, o ar condicionado parece insuficiente para refrescá-lo, pois ele chuta os lençóis revelando mais de sua nudez. Mas sua expressão é tão suave e inocente que me impede de ter qualquer tipo de pensamento nocivo. Por isso apenas sorrio docemente e penteio seus fios para trás, numa tentativa de ajudá-lo com o calor.

- Em como nós chegamos até aqui.

Ele solta um riso abafado, e se agarra em mim, mesmo com ambos os corpos pegando fogo.

- Pensando bem, eu também não faço ideia de como, já que você não desgrudava da minha boca.

- Como se você não estivesse fazendo o mesmo. - devolvi, e ele gargalha alto. - Mas não estou falando dessa forma. Me refiro a nós, isso... Como chegamos até aqui, Tae?

- Ah, mas, isso é simples.

- É mesmo?

- Uhum. Estamos aqui porque você arquitetou um plano infalível de me ter para si.

Dessa vez eu quem gargalho alto e ele se afasta um pouco, não suportando o calor de nossos corpos suados.

- E por que você acha isso?

- Porque você é uma gênia, amor. E gênios fazem coisas extraordinárias assim. - Taehyung me encara docemente antes de me beijar, e nada mais no mundo importa.

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