𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟐 • Chichê

POR MAIS SURPREENDENTE que fosse, eu gostava de caminhar pelos corredores cheios de alunos barulhentos e cheios de energia. Por mais que eu estivesse estudando ali há poucas semanas, eu havia adquirido o hábito de ir à cafeteria encontrar Sarah, aparentemente a única amiga que eu tinha ali, uma pessoa feliz, otimista e divertida. Como luz do sol em dias cinzentos pontuados pelas explosões de emoções dos Bartholy.

Na mansão, costumo de sentir solitária. Ter conhecido Sarah foi como uma bênção que sempre sabe como me animar. Entretanto, antes de encontrá-la, vejo Loan e Samantha na frente do prédio, discutindo como sempre.

— Você disse que viria comigo! — esbravejou ela.

— Eu nunca disse isso! — retrucou. — Está fazendo uma cena, Samantha.

Reviro os olhos, ignorando-os. Passo por eles, pensando em como eles não pareciam com um casal. O Loan é o cara popular da universidade, o colírio do time de futebol. Chichê. Por mais que só tenhamos trocados poucas palavras, foi o suficiente para eu descobrir o quanto ele gosta de bancar o playboy. Samantha é loira com curvas generosas, líder de torcida do time. Clichê número dois. Seu temperamento é maldoso, odeia quando as pessoas se aproximam dela quando está com Loan. Não entendo como ela consegue se sujeitar a ser tão estúpida.

Loan percebeu que eu os olhei de relance, rindo da cena. Ele parece envergonhado. Nervosamente, ele passou uma mão pelos cabelos. Sem mais palavras, ele saí e deixa Samantha sozinha, o que a faz correr atrás dele. Que dramático.

Na cafeteria, vejo Sarah sentada em uma mesa próxima a janela, tomando um refrigerante enquanto revisava algumas anotações das aulas. Sento-me na cadeira vazia a sua frente, suspirando.

— Você parece nervosa — comenta ela.

— Nervosa pelo drama da Samantha com o Loan — respondo. — Sinto como se ainda estivéssemos no ensino médio.

— Pobre Loan, uma vítima de seu sucesso — zomba, rindo.

— Ele pode até ser bonitinho, mas é só puro músculo e cérebro vazio.

— Bom, eu acho que você merece coisa melhor do que ele.

A piscadela de Sarah me faz rir, e é ao mesmo tempo que vejo Peter no fundo da cafeteria, sozinho como de costume. Meninas o observam de longe, mas ninguém se atreve a se aproximar. Peter parece não as perceber, ou talvez seja porque ele esta totalmente focado em um livro. Isso me faz lembrar do nosso confronto ontem. Agora sei que ele é capaz de encantar multidões com seus dedos habilidosos, mas prefiro manter esse segredo só para mim.

Em certo ponto, vejo os caras do time de futebol se aproximarem dele e começarem a tirar sarro. Eles sussurram, olhando para ele e rindo. Odeio esse tipo de comportamento. Peter não falou com eles, estava apenas lendo. Me pergunto o que passa nas mentes desses garotos que nunca crescem.

Vejo isso como uma oportunidade para levantar, vendo que a minha primeira aula do dia logo começaria e que era do outro lado da universidade. Sarah rapidamente levanta e tenta me acompanhar.

— Acham isso engraçado? — pergunto, cruzando os braços. — Você tem oito anos ou algo assim?

Eles imediatamente param. O Peter olha para mim por um momento, surpreso. Por que fiz isso? Não entendo, depois de ontem... Viro-me para Sarah, indicando para sairmos dali.

— O que foi aquilo? — pergunta ela.

— Não foi nada — afirmo.

Meu coração palpita dolorosamente. A aula para a qual estamos indo é um dos motivos pelos quais eu me mudei para Mystery Spell. Preciso entender o que está acontecendo comigo. Nunca pude falar isso para ninguém, ou eu seria internada em um hospital psiquiátrico. Desde pequena, eu vejo o que mais ninguém pode. Consigo ver um mundo paralelo ao nosso, que evolui com suas próprias regras. Preciso encontrar resposta... Por que eu recebi esse dom?

Já no corredor, sinto os olhares queimando nas minhas costas. Peter. Ele nos seguiu até o corredor? Sua opinião me interessa e me pergunto o que ele está pensando. Ele não desvia quando nossos olhos se encontram. Pela primeira vez, meu coração se aquece, e vejo um sorriso fino nos seus lábios perfeitos.











Dentro do anfiteatro, Sarah e eu estamos sentadas juntas. Já tive várias aulas com ele, e devo admitir o quão sexy ele é. A maioria da classe é composta por garotas que vêm exclusivamente para babar nele. Não são os seus olhos de âmbar estranhos que me atraem, mas sim o que ele tem para ensinar.

Quando ele entra, ouço sussurros arrebatados. Sebastian Jones tem cabelos pretos, muitas vezes desgrenhados, com alguns fios azuis, e ele expões uma aura selvagem — animalesca — que não passa despercebida.

Mesmo que ele seja bastante encantador, ele ainda é nosso professor. Não consigo me imaginar atravessando essa linha. Quando achei que todos já estivessem em seus lugares, as portas abrem novamente e vejo Peter sentar-se no fundo. Olho para ele, sem poder evitar, mas ele me ingnora. Entretanto, ele não ignora Sebastian, e a troca de olhares ferozes é igual. Me pergunto se eles se conhecem.

Rapidamente, ele retoma a escrever no quadro negro. Esta semanas estamos falando de vampiros, os mitos e lendas sobre eles. Eu amo esse assunto. Vampiros, seu poder de atração, seu lado misterioso... Tudo é fascinante. Retomo a copiar o que ele esta falando, que a data exata da aparição dos mitos dos vampiros, provavelmente na antiguidade, não é conhecida. Vampiros estiveram presentes na imaginação popular da Europa desde o século XII. Naquela época, eles eram mais como mortos-vivos do que sanguessugas.

Mas está acima de todas as doenças, como a raiva, por exemplo, dos assassinatos em série popularizando a lenda, tornando-a universal. Aparentemente, alguns assassinos em série naqueles dias bebiam o sangue de suas vítimas por nenhum motivo particular. Foi o que deu à luz a ideia de vampiros. Adoro esse tipo de história.

Então, ele explica que, mesmo que o mito varie de um país para outro, os vampiros têm vários pontos comuns. Sua necessidade de sangue para sobreviver, a longevidade e a falta de apetite por comida mortal. Estranhamente, esse pensamento me faz pensar nos irmãos Bartholy... A angústia envolve meu coração. Eu tenho vivido com eles por duas semanas e nunca os vi comer. A Lorie nunca come o que eu preparava e seus irmãos a desculpam, explicando que ela é muito exigente.

De primeira, não me surpreendeu. Essa situação estranha poderia passar despercebida na escola, mas não se vivemos com eles todos os dias. Sem poder me parar, encaro Peter. Ele é mais expressivo do que o habitual, franzindo o cenho. Ele não está feliz. Ao mesmo tempo, um brilho de tristeza cintila em seus olhos verdes. O que o deixou tão tenso?

Enquanto Sebastian explica que os vampiros são muitas vezes vistos como seres monstruosos, incapazes de conter seus impulsos, o Peter se levantou abruptamente. Ele apenas pegou as suas coisas e saiu da sala. Com a sua saída, nota que o Dr. Jones fez uma pausa para assistir Peter sair... Por que um sorriso malicioso correu em seus lábios?

Não sou a única a observar o que está acontecendo. Uma jovem, a quem não conheço, está olhando a porta que o Peter acabou de bater. Em seus olhos, posso ver que a reação dele a incomodou tanto quanto eu. Quem é ela? Ela tem uma visual extremamente peculiar. As mexas pretas longas se misturam com fios loiros platinados. Seus grandes olhos azuis também são bordados de ébano. Eu realmente não gosto do seu olhar. A aparência meio emo, maquiagem forte, tudo o que eu não gostava. Percebo que ela está me encarando, mas eu a ignoro. Nunca a vi aqui antes.

— Sarah — sussurro. — Quem é aquela ali? Loira emo.

— Nunca a vi antes — deu de ombros. — E ainda pensava que conhecesse todos aqui. Ela definitivamente é nova. Por quê?

— Por nada — respondi. — Não fui com a cara dela.

Sarah assente, entendo completamente o que eu falava. Volto a minha atenção para Sebastian, que explicava que, de acordo com as crenças mais comuns, os vampiros não têm medo de cruzes ou alho. Por outro lado, o sol que não os queima, pode diminuir seus poderes. Eles também precisam ser convidados para entrar na casa de alguém. Além disso, eles são mais fortes, mais qualificados e mais rápidos que os humanos.

Eles têm uma habilidade surpreendente para seduzir e cativar suas presas, para melhor possuí-las.Isso me assusta. Vampiros se alimentam de nosso sangue, eles são muito mais fortes do que nós. O que realmente não nos deixa a possibilidade de se defender contra eles.

Infelizmente, a aula chegou ao fim. Ainda estou cheia de perguntas. Sei por experiência de que a magia existe. Então os seres sobrenaturais também devem existir. Mas uma pergunta congelou meu sangue: e se eu moro como uma família de vampiros? Os Bartholy eram realmente quem afirmam ser?

Arrepios percorrem minhas coxas. Tenho a impressão de estar tremendo. A Sarah toca em meu braço, me chamando a atenção?

— Está tudo bem? — pergunta ela.

— Sim, claro — menti. — Só estou com frio.

— Mentira — afirmou, me encarando seriamente. — Acredita em vampiros?

— Acredito em coisas mágicas e paranormais, então vampiros, por que não?

Sarah fica pensativa.

— Acredito neles, sabe? E acho que devemos ser mais cautelosos com o que nos rodeia — disse ela. — As pessoas ficaram muito cínicas para perceber que estão ameaçadas.

Seu tom de voz me surpreende. Sarah nunca falou tão séria, e ainda estamos falando de vampiros.

— Acha que eles são fundamentalmente ruins? — pergunto.

— Bom, eles bebem sangue humano, certo?

Não respondo. Desde que a conheci, ela pareceu odiar os Bartholy por algum motivo desconhecido. Talvez ela pense que eles são vampiros... Possivelmente. Afinal, ela acabou de me dizer que acredita neles. Ela teria me dito isso por outro motivo? Nos vemos com frequência e começamos a confiar uma na outra. Se eu vivesse sob o mesmo teto que vampiros, ela certamente me avisaria. Talvez não, afinal.

— Não esqueça que este fim de semana tem a celebração de Halloween em Mystery Spell — lembrou ela, mudando de assunto. — As ruas e bares estão decorados, vai ser divertido!

Sorriu, animada. Halloween, em uma cidade tão misteriosa, é o mesmo que uma promessa de bons momentos de medo e risada.

— Vamos fazer uma caça aos monstros? — pergunto, divertida.

— Vamos nos divertir! — garantiu. — Eu participo desde que era pequena, e todos os anos eu fico maravilhada.

De qualquer forma, sair da mansão um pouco será bom para mim.


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00.04.22

𝐍𝐎𝐓𝐀𝐒 𝐅𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒:

Eu sinto muito pela demora em postar mais, mas acaba sendo bem demorado conseguir jogar por conta do número de energias diárias. Aos poucos eu estou conseguindo.

O que estão acabando até agora? Por favor, seus comentários são muito importantes para o desenvolvimento da história já que tem muitas coisas que eu acabo mudando.

Ainda estou trabalhando nisso, mas logo logo quero estipular um dia exato para as atualizações dos capítulos. Além disso, para quem já assistiu The Batman (2022) eu já adianto que tem obra nova chegando aqui...

VOTEM e COMENTEM
[ até o próximo capítulo ]

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