8. Impulso
Capítulo 8 - Impulso
Toda vez que Jungkook fechava os olhos vinha o rosto de Jimin em sua mente, mais especificamente os lábios atraentes que havia descoberto serem macios e leves como uma pluma. Ou ao menos foi essa impressão que teve com o selinho que trocaram. E só de lembrar da sensação, queria mais. Ele precisava de mais. Como no momento não podia ter, sua mente fantasiava cenas e mais cenas de beijos, cada uma de um jeito diferente, porém variando nos dois ambientes que estavam mais cedo.
Se questionava qual estilo de beijo e pegada os dois teriam caso não tivessem sido interrompidos duas vezes: primeiro por Katy e depois por Namjoon. O alfa não tinha jeito de ser alguém paciente, pelo menos nas encenações ele não era. Então no seu camarim ele teria aprofundado o beijo? Enroscado suas línguas? Inclinado sobre o seu corpo? Apertaria primeiro sua cintura para expor seu desejo ou uma de suas coxas? Morderia seu lábio com força ou chuparia sua língua? Seria algo rápido e quente ou lento e envolvente? E se fosse naquela salinha? Jimin lhe agarraria pela cintura ou o puxaria pela nuca? Seria um ósculo faminto ou tranquilo? Seja como fosse, Jungkook ansiava por aquilo como nunca antes.
— Merda! — praguejou. — Desse jeito eu não vou conseguir dormir. Esquece isso, Jungkook! — choramingou, mais uma vez se virando na cama e buscando seu sono. Mas não adiantou.
Bufou, se sentando na cama, ligando o abajur e pegando o celular. E adivinha? Tinha uma mensagem do motivo de sua insônia.
Jimin:
|Meu doce?
|Já está dormindo?
Ficou nervoso, na verdade quase surtou ao ler "meu doce". No entanto, não demonstrou.
Jungkook:
|Ainda não, Jimin-ssi >.<
Jimin:
|Fofo
|Eu peguei meus dias de férias, tem certeza que você não quer vir comigo?
|Podemos nos conhecer melhor e se divertir
|Saio amanhã a noite
Fora que eu odeio ficar sozinho, pensou o alfa. Mas não diria. Não gostava de falar sobre isso. A não ser que estivesse bêbado, aí soltava uma coisa ou outra, o que raramente acontecia pois era forte para o álcool.
Jungkook:
|Eu fico feliz por ter lembrado de mim e querer minha companhia, muito mesmo
|Mas não vai dar
|Já disse que não seria legal faltar, ainda mais que talvez essas semanas serão de provas
|E, claro, meu irmão impediria :(
Jimin:
|Saiba que só não vou encher o saco do seu irmão para ele te deixar escolher ir ou ficar por conta da sua escola mas pode anotar que da próxima você vai
Jungkook:
|Eu vou sim :3
|Aliás, qual seu destino?
Jimin:
|Vou para a Itália
Jungkook:
|Uau *-*
|Tire bastante fotos e me mande!
Jimin:
|Claro, não posso deixar de alimentar meu namorado u.u
Jungkook:
|É estranho >.<
Jimin:
|O que?
Jungkook:
|A gente “namorando”
Jimin:
|Sim, mas até que é bom ter alguém para compartilhar momentos e, apesar de eu não ter tido muitos relacionamentos sérios, ainda posso te trazer algumas experiências
Jungkook:
|Eu quero que você me mostre como funcionam várias coisas
Não havia dito com segundas intenções, apenas foi sincero. Porém, Park não deixou a oportunidade escapar. Não depois de ter ficado na vontade por causa de mais cedo.
Jimin:
|(emojisafado)
|O que, por exemplo?
O garoto corou, mordendo o lábio, pensando no que poderia responder e algo lhe veio à mente, quer dizer, algo já estava em sua mente, talvez devesse usar, não é? Se sentiu tímido como de costume, no entanto, acreditou que não teria problema acabar entrando na onda de flerte até porque eles nem estavam se vendo, não precisava de vergonha. Fora que aquele era Park Jimin, o macho alfa que lhe encantou por ser tão intenso, honesto, e que ainda cuidava bem de si.
Jungkook:
|Como é beijar você
Se sentiu ansioso após clicar em enviar, o coração batia em um pique diferente aguardando a resposta que veio em poucos segundos.
Jimin:
|Me atenda
Nem teve a chance de hesitar pois a ligação se fez presente e por instinto a aceitou. Talvez, se não fosse pelo tal, teria pensado duas vezes e se impedido de atender. Depois tinha que agradecer ao seu lado impulsivo.
— Hey, Jungkook-ah. — a voz do outro lado estava rouca, arrastada, e, caramba, sexy demais. O ômega se sentiu arrepiado.
— Hey. — teve forças apenas para murmurar.
— Ainda quer saber como é me beijar?
— S-sim. — soprou, nervoso.
— Então feche os olhos e me imagine aí com você.
— Fácil. — afinal, estava fazendo isso a noite toda.
— Ah, é? — sorriu com malícia. — E onde eu estou?
— Na minha cama... Na minha frente. — continuou a murmurar, de olhos fechados, adentrando às fantasias em seu cérebro.
Jimin apreciou a voz dele, calma, melodiosa, baixinha. E não deixou de pensar: será que conseguiria fazer se tornar manhosa? Porque ele gostava de quando isso acontecia com outros e certamente gostaria bastante vindo do seu novo "brinquedinho".
— Consegue imaginar o meu olhar no seu? — perguntou, o dongsaeng resmungou uma confirmação.
É óbvio que conseguia. Havia visto inúmeras vezes nos vídeos. No entanto, sua memória retomou ao dia do carro, a primeira vez que Park esteve tão perto e bagunçou todos seus sentidos com aquele olhar sedutor. A primeira vez que sentiu vontade de beijar um alfa. Foi como mágica o jeito que ficou entregue, pena que algum idiota buzinou, os tirando daquela tensão assustadoramente deliciosa. Mas dessa vez ninguém iria interromper.
— Você parece um leão. Quer dizer, o jeito que você olha parece um leão observando sua presa. — muito intenso, suspirou ao pensar. A voz rouca riu prepotente.
— Eu sou. E você, meu doce, é a minha presa. — os pelinhos de Jungkook arrepiaram com a confirmação. — Eu estou pronto para atacar você.
— J-Jimin-ssi… — ofegou.
Em sua mente, ele estava pertinho do seu rosto, lhe induzindo a ficar preso na tensão que provou naquele dia. Tão perto, mas ainda tão longe. Mordeu o lábio novamente. Estava ficando embriagado. Perdido naquele mundinho de atração recém descoberto e muito envolvente.
— Pense em mim, olhando sua boca, me sentindo tentado, exatamente como hoje cedo. Mas dessa vez eu não perco tempo ficando só na vontade. Eu quero te beijar e vou te beijar. — ditou confiante.
— Eu quero que você me beije. — sussurrou, desejoso.
Queria muito. Ansiava por isso. Precisava disso como necessita de ar para sobreviver. E esse sentimento novo é tão estranho, tão bom, o faz flutuar em desejo e se perder nesse mar de tesão.
— Eu chocaria minha boca na sua boca, não demorando a tocar sua língua e minhas mãos apertariam suas coxas — ele estremeceu, arfando, pois a descrição de Jimin juntando com a sua imaginação fértil o fazia sentir o momento como se realmente estivesse acontecendo. — Onde as suas estariam, Jungkook-ah?
— A-apertando sua nuca. — disse ainda mais baixo, como se contasse um segredo. E talvez fosse. O segredo era seu magnetismo em Park Jimin. — Subindo os dedos… Adentrando seu cabelo… Sentindo a textura.
O moreno apertou o volante do carro. Essa carícia era um dos seus pontos fracos. Só de imaginar ficava arrepiado.
— Porra, não estava esperando que soubesse jogar esse jogo. Ah, eu me sentiria atiçado, Kook-ah. Aposto que inclinaria sobre você até te deixar prensado entre meu corpo e o colchão.
— Ainda me beijando? — sentia cada célula do seu corpo corresponder à fantasia, nublando seus sentidos, o fazendo se soltar mais do que cogitava ser possível.
— Ainda movendo minha língua na sua, bem sensualmente, acho que mais lento que o eu gostaria mas intenso, nos permitindo sentir todo sabor e cada sensação prazerosa. — sorriu devasso, também apreciando sua imaginação. — Você gosta?
— Sim. — soprou, quase sem voz.
— E se eu chupar?
— Jimin-ssi... — choramingou, manhoso, bêbado de desejo, sentindo uma agonia que nunca provou antes. Necessitava dele ainda mais! — Eu quero tanto te beijar assim, agora.
O mais velho sorriu largo, gostava de manha, achava excitante pra caralho, e ter Jungkook abusando disso, lhe pedindo um beijo desse jeitinho, ah, dava uma bela satisfação!
— Vem até o jardim.
— O que? — arregalou os olhos, a voz expressando surpresa.
— Jin me pediu para buscá-lo. Eu estava no carro na porta da sua casa. Mas agora estou indo para o jardim. Você não quer um beijo meu? Pois vem pegar. — ditou provocante e desligou, deixando o jovem em choque momentâneo.
Todavia, a euforia não demorou a tomar conta de Jeon e ele saltou da cama, saindo correndo do quarto, porém buscando ser o mais discreto possível para não atrair atenção de seu irmão que pelo visto estava no escritório com o namorado. Desceu a escada pulando de dois em dois degraus e passou pela cozinha, saindo pela porta, indo em direção aos fundos da casa onde ficava um lindo jardim.
Seu coração, que estava a mil pela adrenalina, acabou acelerando mais ao ver a figura de um e setenta e cinco, vestindo um conjunto de calça e blusa de moletom preto da fila, com o cabelo negro sendo chicoteado pelo vento da noite. Ele lhe encarou, com lábio preso entredentes e uma expressão divertida.
“Você não quer um beijo meu? Pois vem pegar”, foi isso que ele disse. E tal desafio junto da adrenalina correndo em suas veias fez Jungkook aproximar, envolvendo os braços ao redor do pescoço alheio e finalmente encostando seus lábios. Ah, como devia agradecer a mais um impulso!
Jimin ficou surpreso pois não esperava que o ômega fosse ter essa atitude visto que parecia tímido, porém, logo tratou de aproveitar a excitação do momento e envolveu a cintura dele, pedindo passagem com a língua, aos poucos explorando a boca de Jungkook, enroscando os músculos quentes e úmidos em um beijo de língua.
Foi ali que o jovem descobriu que aquilo era melhor do que qualquer imaginação. Indescritível o quão delicioso e excitante.
Beijá-lo fez Jeon terminar de ficar embriagado e liberar os feromônios sem perceber. Correspondia com toda a vontade que acumulou nos últimos tempos, o que intensificou as coisas. Park ficou tentado a liberar seus feromônios, mas se conteve pois acreditou ser demais para o ômega que estava, muito provavelmente, tendo um beijo de verdade pela primeira vez. Só não conteve a chupada na língua e aperto na cintura. Como aquela parte era sensível demais, o castanho gemeu. Esse som que deixou escapar o fez despertar. Foi caindo em si do que acontecia e a adrenalina, nunca provada em tamanha intensidade, fez seu corpo tremer.
Jimin selou os lábios agora vermelhinhos e inchados, mantendo os braços ao redor dele para segurá-lo, se afastando para olhá-lo.
— Você está tremendo.
— E-eu nunca fui tão impulsivo.
— Respira fundo. — ele passou a fazer, ainda trêmulo, com o coração acelerado. — Vem cá. Relaxa, Jungkookie. — o abraçou, acariciando o cabelo dele enquanto o mesmo deitava a testa em seu ombro e buscava acalmar seus nervos.
Funcionou.
Em pouco tempo estava ao seu normal, tranquilo e totalmente corado. Não soube nem dizer de onde tirou tanta coragem para encarar o hyung que sorriu para si com os lábios vermelhos iguais aos seus.
— Gostou de me beijar? — perguntou com sua típica expressão provocante.
Assentiu, abaixando a cabeça, sentindo toda a vergonha, que antes havia dissipado de seu corpo por conta da adrenalina, lhe atingir em cheio. Park ergueu seu rosto, acariciando a bochecha corada com o dedão.
— Eu quero te ouvir, meu doce.
Ah, esse maldito apelido ainda faria Jeon dar um ataque!
— Eu gostei pra caralho. — não era seu costume falar desse jeito só que não conseguiu pensar em outra forma de expressar o tanto havia gostado.
Jimin riu.
— Podemos repetir depois. Mas agora é melhor você entrar. Já, já, nossos irmãos descem e será difícil explicar porque não estou no carro. Mais difícil se continuarmos aqui fora, juntos com você cheirando tão forte. E creio que ainda não é o momento de sermos um casal na frente deles, certo?
— E-eu concordo. Vai ser melhor exibirmos quando você voltar. Que será…? — perguntou, ansioso para saber quando.
— Daqui quinze dias.
— Espero que se divirta. — sorriu meigo.
— Prometo que irei. — aproximou seus rostos. — Para o caso de eu não te ver amanhã. — colou seus lábios, o beijando calmo, terminando mais rápido do que o jovem gostaria. — Tenha uma boa noite, Jungkook-ah.
— Você também. — murmurou desconcertado, o vendo sair do jardim.
Retornou ao quarto, se jogando sobre o colchão e, olhando o teto, suspirou. Depois de toda essa euforia, agora sequer conseguia pregar os olhos, quem dirá dormir. Mas não podia reclamar, estava realizado, pois, finalmente, beijou Park Jimin.
🐺
Seis horas da manhã. Hoseok já estava de pé, usando sua típica roupa social com blazer, e organizando algumas coisas para levar ao banco onde começaria a trabalhar. Ao terminar, teve a sensação de estar esquecendo algo, por isso conferiu sua pasta, mas não havia nada faltando então deu de ombros e seguiu para a cozinha. Parou lá, pensando no que preparar, nisso seu celular tocou.
Era Yerim.
Oh, não. Havia esquecido de acordar Yoongi!
No dia anterior a mulher esteve ali para pegar algumas caixas pessoais que ficaram para trás e pediu para que Jung acordasse seu filho para evitar faltas na escola já que ele ignorava o despertador, no entanto, sequer lembrou.
— Bom dia, Hoseok!
— Bom dia, srt. Min! — disse, colocando a ligação no viva voz enquanto pegava os itens para fazer calda de frutas e panquecas.
— Senhorita. — deu uma risada, negando. — Não precisa de tanta gentileza. Já disse que pode me tratar de você e me chamar de Yerim.
— Como preferir, Yerim.
— Obrigada. Olha, eu jurei a mim que não ligaria mas não aguentei. Como está indo aí?
— Muito bem. Instalei boa parte das minhas coisas e um dia desses até dei conselhos para o seu filho. — comentou, virando a panqueca.
— Ele te pediu conselhos? — franziu o cenho, estranhando aquilo.
— Sim. Você parece surpresa.
— Não é do feitio dele fazer isso. Ele é arrisco, também cabeça dura e quase nunca me escuta.
— Tenho sorte então.
— Parece que sim. Fez o que eu te pedi?
— Ainda não. No momento estou fazendo o café, quando terminar irei acordá-lo. — garantiu.
— Quero ver se você terá sorte com isso. — riu. — Não querendo te desanimar, mas ele é difícil de convencer a levantar.
— Eu não desanimo fácil. — deu um sorriso largo, confiante, mesmo que ela não estivesse vendo.
— Que bom. Espero que tenha paciência também. Às vezes lidar com o Yoongi é trabalhoso.
Hoseok não achava. Pelo o que viu, o ômega só estava precisando ser direcionado ao seu melhor. Gostaria ajudá-lo, iria se esforçar para o fazer. Isso se ele quiser, claro.
— Não se preocupe, darei tudo para que sejamos amigos e para que ele ouça meus conselhos.
— Você é um amor, sabia?
— Eu tento. — riu.
— Bom, era só isso mesmo. Vou voltar ao trabalho. Dê um beijo ao Yonnie por mim. E impeça que ele perca o dia de trabalho como ontem. Tive que mentir ao meu amigo que ele estava com dor de barriga e por isso não pôde ir. Esse lerdo. Parece que precisa sempre de alguém lhe ordenando coisas.
— Pode confiar em mim, Yerim.
— Obrigada. Tchauzinho!
O ruivo suspirou ao ver que a ligação foi finalizada. Bem que dava para desconfiar de aluguel baixo, a casa grande e boa demais, em um ótimo bairro. Negou, rindo.
— Virei babá.
Só não saía de lá porque Yerim parecia uma mãe preocupada e empenhada em ver o filho crescer. Fora que temia deixar o local e alguém terrível ficar no seu lugar sendo "responsável" por Yoongi, podendo lhe fazer mal ou piorando a bagagem que ele carregava.
Bateu na porta do quarto do mesmo, porém, nenhuma resposta. Girou a maçaneta, por sorte estava aberta. O chamou, mas nada. Logo, caminhou até a cama, o encontrando encolhido nela, dormindo profunda e deliciosamente, com a carinha amassada igual a um bebê. Mas Jung sabia que ele não era. Menos ainda tinha a inocência de um.
— Yoonie~ — cantarolou no ouvido dele o apelido que Yerim usava — Yoonie, está na hora de levantar. — o chacoalhou levemente.
— Me deixa, mãe. — resmungou sonolento, afastando as mãos de si. O beta riu.
— Vamos, Yoonie. Você precisa ir pra escola. — tentou descobri-lo, porém ele puxou a coberta até tapar a cabeça. Hoseok então se levantou e a puxou com força, jogando para trás de si.
— Ah, não, mamãe. Só mais um pouquinho.
— Nem mais um segundo. E eu não sou a sua mãe. — puxou as pernas dele, as esticando no colchão.
Realmente, aquela voz grossa e melodiosa não pertencia a Yerim. Se sentou, forçando seus olhos a se abrirem e, assustado com a figura de um lupino, gritou.
— Ladrão! Saí! Saí! — começou a chutá-lo.
— Yoongi! — exclamou, buscando pela tomada e acendendo a luz. — Sou eu! Para de ser louco!
— Jung? — estava surpreso, mas logo lembrou do que ele disse e tratou de dizer — Eu não sou louco! Louco é você que invade o quarto dos outros no escuro!
— Eu vim te acordar de boa, você que ficou delirando. — cruzou os braços.
— Vai se foder! — gritou, já se sentindo uma pilha de nervos.
— Calma, não precisa explodir por isso. Contar até dez, lembra? — o ômega fechou os olhos e respirou fundo, testando para ver se dava certo, ansiando que desse. E funcionou. — Sua mãe me pediu para te lembrar que você tem um compromisso com a escola. Se arruma e vem comer.
— Tá. — resmungou, se levantando e rumando para o banheiro.
Após fazer tudo o que devia, trocou de roupa e pegou sua mochila, colocando sobre o sofá, seguindo para a cozinha onde se deparou com a mesa posta, cheia de panquecas, duas caldas diferentes que pareciam de morango e chocolate, suco e café. O que lhe intrigou foi que estava tudo fresquinho, sem cara de compras de padaria.
— Minha mãe mandou você ser um bom inquilino e, além de despertador, fazer café pra mim? — perguntou, sorrindo cínico e se sentando.
— Na verdade, não. Eu quis fazer.
O rapaz se sentiu um pouco estranho, afinal, ninguém nunca fez comida para si. Yerim sempre estava ocupada então costumava deixar um dinheiro extra embaixo do vaso que enfeitava a mesa para que comprasse algo. Comida feita por ela só em fins de semana ou datas importantes as quais não estava no turno do hospital.
— Obrigado. — murmurou, se servindo.
— De nada, Yoonie. — sorriu.
— Não me chame assim. — resmungando. — É um apelido que pertence apenas a minha mãe.
— Mas é tão fofo. — fez um bico de carinha pidona. — Deixa eu te chamar de Yoonie?
— Já disse que isso não te pertence. — colocou um pequeno pedaço de panqueca na boca para ver como estava e, caramba, estava deliciosa! — E nós nem somos íntimos para eu pensar no seu caso. Me passa a calda de morango.
— É de frutas vermelhas. — corrigiu.
— Pode ser. — após experimentar a massa com a calda, achou mil maravilhas. — Onde você comprou isso? — perguntou despejando boa quantidade em seu prato.
— Eu fiz. — respondeu, sorrindo orgulhoso de si, pois sabia que era um ótimo cozinheiro.
— Parabéns, está ótimo. — não conseguiu deixar de elogiar.
— Obrigado!
Em seguida, terminaram de comer em silêncio. O mais novo foi o primeiro a sair, negando a carona alheia pois tinha sua moto.
Ao chegar na escola, viu Taehyung descer do carro prata de sua mãe, todo lindo com suas roupas coloridas e com o cabelo azul vibrante. Sentiu seu mundo quase parar quando ele sorriu, vindo em sua direção e de quebra acertando seu coração.
— Bom dia, gato de botas. — passou o braço ao redor do pescoço dele, assim foram para dentro da instituição de ensino.
— Você vai mesmo continuar com esse apelido, seu porra?
— Claro que vou. E não seja tão agressivo com o amor da sua vida. — fez um bico como se estivesse chateado. No entanto, Min o conhecia bem para saber que ele estava só lhe provocando.
— Amor da minha vida o caralho.
— Não é isso que você diz a noite. — sorriu sarcástico.
— Me erra. — se soltou dele. Já na sala, sentou em cima da mesa de Jungkook que estava ali encarando o nada com olheiras e carinha de sono. — O que aconteceu, Kook? Está custando a manter os olhos abertos.
— O que o Namjoon fez? Eu vou mandar prender ele! — o beta já chegou com suas conclusões precipitadas.
— Não é nada com meu irmão. Eu só dormi pouco essa noite. Custei a pregar os olhos porque… Ah — cobriu o rosto com as mãos falando abafado por conta delas — Eu beijei o Jimin.
— O que? — exclamaram juntos, surpresos.
A surpresa se tornou curiosidade então pediram para Jungkook contar a história direito e ele o fez.
— Whoa! Eu estou chocado! — exclamou Yoongi.
— Foi um beijo em tanto, hein? Obrigado por ignorar a vergonha e narrar para nós. Eu me excitei só de ouvir. Suga hyung, topa ir para o banheiro? — provocou os dois amigos de uma vez só. Min lhe olhou de cara feia e o mais novo quase engasgou. — Mas falando sério, eu toparia essa viagem. O que são alguns pontos a menos perto de férias em outro país, sozinho com o crush que pode te dar beijos e muito mais?
— Eu concordo.
— Claro que para vocês é fácil, são dois safados que não ligam se repetirem de ano. — seus amigos fizeram expressões dramáticas como se dissessem "eu?" — Sabem que prezo pelas minhas notas. Não suportaria tirar zero, ainda mais em todas as matérias no meu último ano. Eu choraria para sempre, principalmente se bombasse!
Yoongi rolou os olhos.
— Mas é um nerd mesmo. — debochou.
— Melhor do que ser um repetente. — ergueu nariz.
— Ora, seu bebezão.
O sinal tocou, anunciando o início das aulas.
— Saí daqui, QI de 25.
O hyung abriu a boca para retrucar, mas Taehyung o puxou, guiando até a porta.
— Vocês tem que parar de ser infantis.
— Eu gosto de provocar o Kook. — deu de ombros. — Reparou que ele anda mais solto depois que o Jimin apareceu? Agora até conta os acontecimentos e nos zoa de volta com mais facilidade.
— Pois é, não sei que magia Jimin anda fazendo, mas que ele continue. Agora vá pra sua sala antes que te deixem de fora.
— Não é uma má ideia...
— Hyung! — repreendeu.
— Tá, já vou. Nos vemos no intervalo?
— Sim. Tente não morrer de saudade até lá. — piscou.
— Idiota. — riu, logo tratando de andar rápido para não perder sua aula.
O dia na escola passou rápido. No final dele Jungkook seguiu para a casa de Taehyung pois tinham um trabalho a terminar e Yoongi foi para sua própria casa assistir Hoseok tentar alguma aproximação.
Quando chegou sentiu um cheiro gostoso de jajangmyon. Ele queria o que? Lhe conquistar pela barriga?
— Você chegou. — sorriu ao ver o ômega. — Estou terminando o almoço. Vá lavar as mãos.
Ele assentiu e foi. Ao voltar estava tudo na mesa. Se serviu, sentou e provou, engolindo a comida junto de elogios porque o ex professor realmente cozinhava muito bem.
— Você não tinha que estar no trabalho, seja lá no que for?
— Eu estou trabalhando no banco. Meu horário é das sete ao meio dia. — deu de ombros.
— Uhm.
— Falando nisso, você começa às duas na cafeteria. — informou.
— Que saco. Eu nem lembrava disso.
— Era pra você ter começado ontem, né? Mas não foi. Caso falem algo, sua mãe mentiu uma dor de barriga.
— Não tinha um problema menos nojento? — fez careta.
— Acredito que você não está em posição de reclamar. — piscou, bebendo de sua coca. Min rolou os olhos.
— Você parece minha mãe.
— Isso é ruim? — ergueu a sobrancelha, levando o jajangmyon à boca.
— Eu não quero criar intimidade com você então, sim, é ruim.
— Ainda está implicado comigo?
— É mais forte que eu. — sorriu cínico.
— Se me der uma chance, verá que eu posso te surpreender. — tocou a mão dele por cima da mesa, lhe encarando com sinceridade nos olhos, o que o assustou.
Yoongi não estava acostumado com tanta expressividade em um olhar, nem que cuidassem de si. Hoseok estava lhe deixando estranho. Na sua mente, o melhor a se fazer era fugir - de novo -, portanto, levantou, recolhendo seus talheres e deixando na pia, dizendo que depois lavava. Correu para seu quarto e ficou enrolando até dar a hora de ir para a cafeteria do amigo de sua mãe.
O local era espaçoso, tinha uma fachada bonita e o interior aconchegante. Suspirou, buscando lá no fundo a sombra do ômega simpático e gentil que um dia foi, afinal, sabia que lidaria com clientes e não podia simplesmente continuar com a sua autodefesa agressiva e combo de respostas mal criadas.
— Boa tarde. — sorridente, cumprimentou a lupina do caixa que de imediato lhe deu atenção.
— Yoongi oppa? — ela ficou surpresa ao vê-lo tão meigo, usando azul bebê e não peças pretas. — Que bom te ver por aqui. — sorriu.
— Jiyeon. — que porra, pensou. — Não sabia que trabalhava aqui.
Ela era a linda alfa negra, de cabelo anelado, olhos felinos e corpo esbelto, a fã de Jungkook que lhe interessou por um tempinho, a qual Taehyung lhe incentivou a investir pois achava que eles combinavam. E, sim, saiu com ela. Foi uma noite divertida em uma balada qualquer. No entanto, eles não passaram de alguns beijos visto que ambos estavam afim de outras pessoas.
— Eu comecei a pouco tempo, depois de mudar de escola. — então era por isso que ela parou de correr atrás de seu amigo. — Meus pais não estão conseguindo pagar, estão passando por dificuldades financeiras, daí decidi trabalhar para ajudar e também continuar a ter meus mimos. E você? Nunca te vi por essa região.
— Ah, eu vim para começar a experiência. — coçou a nuca. — O senhor Dohwan está?
— Então é você o ômega fofo de quem ele falou. Não esperava por isso.
O alfa lhe conhecia desde criança, mas não é como se soubesse de sua adolescência fodida e jeito rebelde.
— Entre. — abriu a portinha para ele ir para o lado de dentro do balcão. — Ele está lá dentro. — apontou a porta aberta.
— Obrigado. — murmurou, se esforçando para continuar todo educadinho estilo Hoseok. Rolou os olhos ao tê-lo em sua mente.
Mesmo com a porta aberta, bateu nela.
— Pode entrar, Yoongi. — ouviu a voz dizer.
A sala era grande com uma decoração moderna, havia um sofá acolchoado no canto e duas cadeiras do mesmo material em frente a mesa do lupino alto, de cabelo castanho e aparência jovial mesmo estando na casa dos cinquenta anos.
— Boa tarde, senhor Dohwan! — se curvou.
— Boa tarde. — se levantou. — Deixe de formalidade e vem aqui me dar um abraço, garoto. — ele o fez. — Tem muito tempo que não te vejo. Você cresceu, mas não muito. — brincou. Min riu, esforçando para não parecer cínico. — Como vai?
— Bem, e você?
— Também estou bem. Sua mãe me contou que agora você quer ser um adulto responsável. Já preparou cafés alguma vez? — ele negou. — Conhece a diferença deles?
— Não.
— Então começaremos por somente servir, até você aprender a fazê-los para ajudar nossa chefe de cozinha. Vem comigo, vou te mostrar o ambiente e te contar o que você deve saber.
Foi assim que Yoongi passou a tarde: aprendendo o sistema da cafeteria, servindo clientes, ostentando o melhor sorriso que conseguia ter e secretamente os encantando, e aproximando de Jiyeon que gostava bastante de conversar.
Como sua jornada seria apenas meio período, igual a da moça, eles saíram de lá seis em ponto.
— O que achou do primeiro dia? — perguntou a alfa ao que iam para o estacionamento.
— Cansativo. — andar para lá e para cá deixou suas perninhas sedentárias doloridas e sorrir o tempo todo era um saco. Todavia, valeu a pena visto o tanto de lupinos e lupinas que saíram de lá satisfeitas.
— A primeira semana é. Quer dizer, até você se acostumar porque acho que depende de pessoa para pessoa. Eu fiquei exausta uma semana.
— Sei. — parou diante de sua moto. — Quer uma carona?
— Ah, eu não quero incomodar. Moro a duas ruas daqui. E você não tem um segundo capacete.
— Pode usar, eu vou sem. — ela hesitou. — Vamos, não sou gentil o tempo todo, aproveite.
— Tá bom.
Viu um lupino aparentemente conhecido passar em frente a residência da Jiyeon. Estacionou, podendo ver quem era. Ele lhe encarou, fez careta e desviou o olhar, continuando a seguir seu caminho como se Yoongi fosse um antigo colega de escola ao qual nunca gostou. Aquilo não devia doer, não é? Havia o tirado de sua vida a meses. Mas incomodou bastante pois, ora, o desgraçado era seu pai.
— Boa noite, oppa. — o entregou o capacete. — E obrigada pela carona. — deu um beijo na bochecha dele.
— Uhum. — murmurou, colocando o item de segurança. — Até depois.
Acelerou, chegando rápido em casa com mau humor por estar cansado e por quem viu no caminho, afinal, o maldito não devia ter continuado em outro país? Ao menos não lhe encheu o saco. Sua carranca ficou pior ao se deparar com a animação de Hoseok que estava, mais uma vez, cozinhando.
— Você vai mesmo fazer todas as minhas refeições? — escorou na bancada, cruzando os braços, incomodado com aquela atitude.
— Eu faço as minhas, não custa nada acrescentar um pouco a mais para você. — afirmou, entretido com o que fazia.
— Não precisa se incomodar. Sou acostumado a comprar tudo pronto.
— Sua mãe me disse que você precisa comer direito.
— Se ela está preocupada, posso pedir coisas mais saudáveis. Aliás, não preciso que você fique cuidando de mim.
Hoseok se virou para ele.
— Qual o problema de cuidar de você?
— Eu não gosto. — desviou o olhar.
— Mas eu gosto. Lembra do cuidado que eu tinha com a minha avó. E cozinhar para você não é incômodo. Sempre fui de fazer porções para duas pessoas. — disse do seu jeito agradável e gentil.
— Não faça essa comparação. Pelo brilho dos seus olhos, sua avó era muito importante para você. Eu não sou nada. Não mereço ser comparado a ela.
— Não fale assim. — tocou o queixo dele, fazendo ele lhe olhar. — O que te deixou abalado?
— Como sabe?
— Você está pessimista.
Ele suspirou.
— Eu vi meu pai. Ele também me viu, mas seguiu reto. Doí pois sei que não sou nada para ele, doí mais ao perceber que não sou nada pra ninguém. E me incômoda você agir como se importasse. Nós nem nos conhecemos. Minha mãe vai deixar você morar aqui de todo jeito, o intuito também é eu aprender a me virar, então você não tem que agir assim.
O beta queria tirar aquela sombra de agonia do olhar alheio, então selou os lábios alheios, funcionou visto que Yoongi arregalou os olhos em total surpresa.
— Hoseok-ssi?!
— Yerim, seus amigos e eu nos importamos com você.
Ainda de olhos esbugalhados, o menor expressou confusão.
— Você? Por que?
— Porque eu tenho um probleminha de me apegar rápido demais.
— Para de me confundir. — pediu.
— Não é minha intenção. Me desculpa. — se afastou. — Eu tenho a mania de ser intenso sem conhecer a pessoa direito e isso acaba assustando.
— Não vejo motivos para se desculpar.
— Mas você está incomodado.
— Não é por isso. Quer dizer, é. Ah, porra. Não sei, você me deixa confuso!
Jung riu do jeitinho dele, voltando a cozinhar.
— Ter o cuidado de alguém fora do meu ciclo de amizade, é estranho. Não te conhecer direito me deixa confuso sobre como eu devia me sentir e é por isso que fico incomodado. Não é por você ser você. Mas acaba sendo porque se você fosse outro alguém, certamente não teria tanta simpatia ou iria cismar de cuidar de mim e eu não ficaria confuso, entende?
— Sim.
— E eu fico fora de mim por você, além de bonito, ser sempre bom, alegre e gentil. Não dá para alguém ser perfeito. É por isso que não quero confiar em você porque quando sua máscara cair, eu vou ficar mal. — foi sincero.
— Eu não sou perfeito, Yoongi. Acabei de te dizer um defeito meu e com certeza há outros. Eu só passei por algumas situações que me fizeram buscar ficar mais autoconfiante e também empático com as pessoas.
— Poxa, queria ter esse defeito de ser tão empático que vê o lado bom dos outros, ajuda eles e se apega a isso.
— Pode não ser tão legal. Como disse, ser intenso logo de cara pode assustar e diante disso vem a rejeição o que acaba doendo. — suspirou. — Mas eu aprendi a lidar. Ou ao menos, eu tento. Minha avózinha dizia que o segredo de aprender, é tentar, então acho que estou no caminho certo.
— Você morava com ela?
— Sim, morávamos na Califórnia. — sorriu, lembrando dos bons tempos.
— E o que diabos você está fazendo aqui?
— Vovó May faleceu no final do ano passado. — pela segunda vez ele fez ômega arregalar os olhos. — Estava doente por conta de um câncer. Ele paralisou com os tratamentos, minha avó teve uma grande melhora, mas infelizmente essa doença é traiçoeira, trás uma melhora repentina e acaba com a pessoa tão rápido quanto.
— Sinto muito. — lamentou.
— Está tudo bem. Às vezes eu fico com muita saudade mas sei que ela está em um lugar melhor, sem mais sofrimentos. Bom, eu acabei vindo morar com a minha mãe depois disso, só que ela é uma megera interesseira. — Yoongi ficou boquiaberto. — Sério. Não sei porque esperava que ela estivesse diferente. Ela me abandonou com menos de um aninho para casar com um cara rico de Seul. Até que ele é legalzinho, não sei como a aguentou e vem aguentando.
— E o seu pai?
— Não cheguei a conviver com ele. Tudo o que sei é que preferiu adquirir outra família e hoje mora no Japão. — o rapaz estava em choque. Ao lembrar da ex namorada paranóica dele, disse:
— Nossa... Não esperava uma história tão para baixo vinda de você.
— Por que? — se virou para ele, com uma expressão divertida e curiosa.
— Porque você é todo felizão.
— Coisas ruins acontecem com todo mundo e não é porque aconteceram tragédias na minha vida que eu vou permanecer na lama. Com o tempo eu vi que todo mundo tem problemas, ainda mais com família. Mas, no fim, ficar mal ou se esforçar para seguir em diante e ser feliz é questão de escolha. Obviamente, não escolhemos parentes, nem quem parte dessa para melhor, só que temos o poder de transformar as dores em aprendizado e escolher ser melhor e dar o melhor. E eu escolhi. Optei por continuar, aprender a ser bom para mim mesmo e para os outros. Então, por mais que tive contratempos durante minha vida, posso dizer que sou realizado.
— Que inspirador… Você pode… Tipo, me ensinar?
— Te ensinar?
— Sim. Me ensina a parar de ser um caso perdido, a aprender com as coisas ruins e ser melhor? — estava cansado de não estar satisfeito em como as coisas andavam e ainda continuar quieto, sem agir.
— Você não é um caso perdido. Só precisa de um incentivo e eu posso tentar te auxiliar nisso, mas a luz que você precisa vem de dentro, só você é capaz de pensar positivo, de se quer bem, se amar, para no fim se realizar e também aprender a ser bom para os outros.
— Você é diferente do que pensei.
— A maioria das pessoas vêem só nossa casca e tiram conclusões, mas somos mais do que aparência. Caramba, isso aqui virou uma sessão de auto-ajuda. — riu. — Mas, é, eu surpreendo pois sou, sim, melhor do que possam imaginar.
— É convencido também.
— Faz parte. — deu de ombros, bem humorado.
E talvez Yoongi precisasse mesmo dar uma chance a Hoseok.
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