02. Irmãos que ocultam coisas

Capítulo 2 - Irmãos que ocultam coisas

Química. Por mais que fosse importante e interessante de se saber, a professora de Jungkook conseguia estragar tudo. Eles tinham um laboratório completo, sentavam de dupla para fazer experimentos mas nunca podiam, pois a alfa permanecia apenas nas teorias, optando por falar coisas e mais coisas que ninguém gravava na memória, para falar a verdade sequer entendia. 

Ao menos Jungkook tinha Taehyung em todas as aulas e ele era seu parceiro nesta - Yoongi era repetente então se encontrava na turma do segundo ano -. Apesar de que às vezes ter o beta era o mesmo que nada. Como agora. Ele está lendo escondido o último livro do Harry Potter. Lhe restava então ficar perdido em pensamentos. Estes voltaram a noite anterior.

Após Namjoon sair, ômega não teve coragem de ver mais daquele ou qualquer outro conteúdo no notebook, havia ficado assustado e confuso sobre seus sentimentos em relação às cenas deletadas ou o porquê do hyung ter aquelas coisas guardadas. Para se distrair disso, já que temia os motivos, foi rever Given, um de seus animes favoritos. Acabou ignorando suas lembranças até no prezado instante.

De repente, instintivamente, deu um pulo na cadeira ao sentir sua cintura ser apertada.

— Aí! — resmungou, fechando a cara. Odiava quando o amigo fazia isso.

— Está pensativo demais. Seu cérebro está trabalhando tanto que está chegando a minha bolha e invadindo meu espaço. — disse.

Era verdade, por mais que tentasse fingir que não, a noite passada estava o intrigando bastante. 

— Ontem eu estava usando o notebook do meu irmão para terminar o trabalho e achei umas coisas estranhas. — falou perto do ouvido dele para não chamar a atenção dos demais.

— Que tipo de coisas, Jungkook? Drogas? Assassinatos? Quer morar lá em casa? — perguntou eufórico. 

— Não. Não é nada disso, hyung! — se lembrou das cenas que viu, quase de imediato seu rosto começou a queimar. — Tinha uma pasta com uns vídeos... Sabe, a-adultos… Sem o filme completo… Não sei nem se isso é legalizado.

Ele gargalhou alto demais, conseguindo alguns olhares em volta. O castanho lhe deu um tapinha por isso. 

— É normal pagarmos pelo conteúdo completo e tirarmos só as partes interessantes para nosso uso pessoal. É proibido comercializar, mostrar para imaturados que consequentemente são menores de idade, mas fora isso não há uma lei que impeça de separarmos e salvarmos nossas partes favoritas. 

— "Cenas deletadas"? — mordeu o lábio inferior.

— O que?

— O nome da pasta era "cenas deletadas". — disse pausadamente esperando alguma reação dele.

— Você ainda é muito inocente. — balançou a cabeça. — Normalmente nós colocamos nomes aleatórios nesse tipo de pasta. Assim ninguém desconfia, a menos que abra.

— Tinha uns documentos também. Pensando bem, Namjoon me conta tudo, se fosse importante eu saberia. E sendo esse conteúdo, é claro que ele esconderia de mim. — era apenas uma paranóia, não devia se preocupar tanto. — Você está certo.

— Se eu não estivesse querendo dar todo o meu ser ao prof-crush, juro que tiraria sua pureza com o maior prazer. — brincou, beijando a bochecha dele de uma forma demorada, deixando a vergonha de Jeon aflorar. 

Com o fim de semana percebeu que por mais que fossem seus amigos e estivessem brincando, se sentia incomodado como se fossem estranhos. Além de que, carícias e comentários insinuantes lhe deixavam sem graça ao extremo, tudo porque sua timidez não colaborava nunca para deixá-lo relaxado. Se perguntava quando ela iria embora pois só lhe dava problemas e o fazia se sentir bobo perante aos outros. Já tinha dezoito anos e a maturação, deveria estar aprendendo a lidar com isso e demais coisas, não? Devia amadurecer. Mas não sabia como. Ou talvez não quisesse tanto. Nada parecia suficiente para fazê-lo sair de sua zona de conforto. 

O sinal soou, só aí notou que todos haviam saído da sala, menos ele que estava, mais uma vez, perdido em pensamentos. Tanto é que nem notou alguém aparecendo na porta nos minutos finais da aula e chamando por Kim Taehyung. Esse alguém era o professor Jung Hoseok. E o beta mais novo, assim que ouviu a voz do outro lhe chamar, sequer se preocupou em avisar o amigo aéreo, simplesmente pegou suas coisas e foi atrás dele o acompanhando até a sala dos professores.

— Sente-se, por favor. — pediu Jung, com sua voz simpática ainda que demonstrasse seriedade, indicando a cadeira frente a sua. 

— Claro. — segurou o sorriso ao se ver sozinho, frente a frente, com o dono de seus sonhos. Se perguntou se ele era tão educadinho e tão formal na hora do sexo também.

— Vou direto ao ponto. — apoiou os cotovelos na mesa, deixando seus braços firmes aparentes devido ao blazer e camisa social justa. — Suas notas caíram muito, assim como seu rendimento. Conversei com outros professores e eles disseram que você continua igual, o que me leva a crer que o problema é com a minha matéria. 

— Ah… 

De que ele estava falando mesmo? É que sua atenção estava sendo tomada pelos braços que desejava que lhe agarrassem. 

Aproveitou a oportunidade de estar mais perto do beta de cabelo vermelho e subiu os olhos, notando com calma o peitoral belo, a clavícula levemente exposta já que a peça de roupa não expunha muito, o pescoço longo que exibia uma pele livre de marcas - gostaria de mudar esse fato -, o maxilar charmoso, a boca desenhada e aparentemente suculenta, as bochechas fartas, o nariz bonito, os olhos castanhos penetrantes... Oh, esse lupino é tão atraente!

— Você sabe o que está te atrapalhando? — Kim teve vontade de dizer "você". — Está tendo dificuldade com a nossa grade de estudos ou é só falta de atenção? — na verdade é muita atenção. Muita atenção em Jung Hoseok. — Taehyung? 

— Uhm?

— Pense um pouquinho. Eu preciso de uma resposta para te ajudar. Não quero que repita de ano. — ele também não queria repetir, mas não teria tanto problema com isso se o ruivo continuasse sendo seu professor. 

— Estou sim. Digo, está sendo difícil acompanhar o ritmo. Não sou muito fã de matemática e a matéria é complexa. 

— Entendo. O Jungkook é seu amigo, não é? — o garoto assentiu. — É um dos melhores alunos da escola, ele manda bem em matemática, peça que ele te ajude. — aconselhou.

— Por que não pode ser você? — ousou a perguntar.

— Eu não costumo dar aulas extras.

— Por favor~ — sua voz saiu um tanto manhosa. — Com o Jungkook nós vamos ficar conversando e não vai adiantar em nada. Se você me ajudar, vou poder sugar os ensinamentos direto da fonte e irei aprender com mais facilidade! — o professor suspirou.

— Eu vou ver se a secretaria autoriza que eu te auxilie, mas não prometo nada. Agora vá que já irá bater o sinal.

— Fico grato! — sorriu largo. Aulas particulares com seu crush seria tipo um sonho se concluindo. — Até amanhã!

Jungkook continuava seu caminho de sempre, já que havia perdido o amigo de vista, quando na virada do último corredor trombou em alguém. Era An Hyuk, o popularzinho que sempre lhe perturbava na educação física e nos treinos de futebol. Os dois tinham um passado nada legal e se odiavam desde o oitavo ano. 

— Presta atenção, nerd do caralho. 

Jeon rolou os olhos e continuou andando, fazendo o que faz de melhor: ignorando. 

Logo um braço forte segurou sua cintura e puxou, chocando seus corpos desastradamente, lhe causando um forte susto. Mas era só Taehyung.

— Que susto! — exclamou, o empurrando. — Onde você estava?

— O professor Jung me chamou no fim da aula, você estava viajando tanto que não viu. Disse que eu estou fraco na matéria dele então eu pedi para que me ajudasse. 

— Jung Hoseok? — perguntou.

— Sim! — afirmou, animado. — Se o santo lobinho quiser, ao menos um beijo eu roubo dele!

— Não sei se isso é certo. Ele é nosso professor... Mas você já é adulto e sabe o que faz então boa sorte.

— Vou precisar, bebê. — disse rindo, bagunçando o cabelo do dongsaeng em forma de carinho.

🐺

Jimin chegou em sua casa após mais um dia de trabalho.

— Mãe? — chamou, trazendo consigo os sapatos que Chaeyeom achou bonito na TV para poder presenteá-la.

— Ela não está. Foi ao cabeleireiro e depois sair com uma amiga. — disse Seokjin, surgindo na sala após ouvir a voz do irmão mais velho.

— Ah, que bom que ela saiu para espairecer. E você? Por que está com essa carinha? Algum problema? 

— Nenhum. 

— Vamos, você sabe que pode confiar em mim. — entrelaçou seus dedos nos dele, trazendo para o sofá.

— Você já ficou com alguém, tipo... Sério? Um namoro ou... Quase namoro? 

— Depois que comecei a ser ator, não. 

Somente Jin sabia com o que ele trabalhava. Não que Jimin tivesse vergonha do que fazia nem nada, mas preferia se manter em silêncio para não gerar assuntos desnecessários na família. E não era como se fosse um Idol super famoso, era um ator adulto, tinha que ser discreto e quem o assistia também, até porque não era toda a população que já era maturada, podendo saber desse conteúdo. Os adultos que sabiam, que compravam, assistiam, curtiram seus filmes, admirando sua atuação e desempenho sexual, podiam até chegar em si para conversar mas com muita timidez e era raro darem em cima de si ou pedirem foto para exibir aos outros. 

— É complicado. Eu não sou de esconder as coisas e não é todo mundo que confia se envolver com um cara que vive sendo "falso" já que sempre está atuando, tendo uma vida romântica e transando com vários parceiros que, mesmo sendo em prol da ficção, sabemos ter contato real. Quem fica comigo geralmente não pensa que tenho sentimentos, me vê como um troféu, um objeto para usar e abusar na cama ou já vai querendo logo de cara, no primeiro encontro, que eu seja o príncipe encantado das telinhas sendo que não sou romântico se não houver amor ou sugere que se irmos adiante terei que parar de atuar. — riu sem humor. — Ninguém me envolve, atrás aquela chama apaixonante, me encanta o suficiente para querer algo sério. Eu estou bem tendo minhas transas pagas e por diversão, então eu evito relações longas. 

— Nossa, hyung. Eu sinto muito. 

— Não sinta. Isso não me afeta. Não mais. — sorriu, nada abalado. 

— Então você tem vinte e oito anos e nunca se apaixonou, nenhuma vez? Nem pela Esther?

— Ninguém fez meu coração bater mais forte e meu lobo uivar, não vou namorar só por esperarem isso de mim. A Esther… Ela é complicada. Nós ficamos só quando estamos sem contatinho disponível no momento. Mas qual o motivo da pergunta? Está interessado em alguém e quer saber como as coisas funcionam? Eu posso te mostrar direitinho. — deu um sorriso ladino, insinuante, todo brincalhão.

— Eca. — lhe jogou uma almofada que acertou em cheio o peitoral do alfa moreno de olhos azuis. — Só quero saber como você tem certeza se está querendo algo a mais com a pessoa e se aquilo é o certo, se caso acontecer comigo... Algum dia... — Jimin o olhava desconfiado. — E se a pessoa for mais velha? No meio de tudo, como eu sei que vale a pena?

— O que está me escondendo, Jinnie?

— Eu? Nada. Só quero saber. — sorriu amarelo. 

Não queria contar ao irmão. Isso porque Jimin não admitia, mas era ciumento. Foi ele quem ajudou a criar o mais novo depois da morte do pai, então se sentia no direito de, em determinados momentos, agir como um. Seokjin tinha medo de sua reação, portanto, guardava seu segredo.

— Está bem. Vou fingir que acredito. Momento conselho de irmão. Vai por mim: idade não importa desde que vocês sejam maiores de idade e maturados, sim? Ela não julga na maturidade de ninguém ou até mesmo na falta dela. E se você gosta da companhia, se sente bem ao lado da pessoa, a quer por perto a todo segundo e vê-la feliz é o que importa, você está caidinho. Se ela te faz bem, invista. Se te faz mal, esqueça. Porque só vale a pena se ela retribui, te dá carinho, atenção e é boa para você independente de qualquer coisa… — suspirou. Por mais que não se importasse, às vezes pensava que seria bom ter um amorzinho e ficar de chamego, principalmente quando estava carente. — É. Acho que é isso. Tem alguém especial que seja assim na sua vida?

— Talvez. Mas nada que você deva se preocupar! — acreditava que tinha que resolver suas pendências com seu ficante antes de o expor, então logo mudou de assunto. — Como foi o trabalho hoje? — óbvio que o ator percebeu a jogada do loirinho mas, dessa vez, deixou passar.

— Normal, gravei as últimas cenas clichês de encontros. O bom é que eu ganhei uma folga até grandinha pra descansar. — deitou a cabeça no colo do alfa mais novo, esticando o corpo no sofá.

— Terei você em casa para assistir filmes como nos velhos tempos? — exclamou, animado, tendo concordância. — Maravilha! 

— Mas não hoje, estou cansadão. 

— Sabe o que é isso? Você está velho. Cuidado com a velhice, meu amigo, ela pode atrapalhar suas transas... Principalmente as de renda. — sorriu maldoso.

— Vai se ferrar! — agora quem levou uma almofadada foi Jin que retribuiu e, assim, eles acabam começando uma guerrinha.

🐺

Já havia passado das oito horas da noite, Seokjin estava em seu quarto, estudando, como sempre fazia durante a semana pois naquele ano pretendia passar no vestibular de arquitetura. Porém, tinha algo lhe desconcentrando. Ou melhor, alguém.

Tudo começou a dois anos, quando, em um dia qualquer, Park Seokjin foi a uma festa com o irmão. Havia se arrumado completamente naquela noite para chamar atenção de um certo lupino. Seu crush desde a adolescência: Jeon Namjoon, o melhor amigo e chefe de seu irmão, CEO de uma grande empresa e, simplesmente, o alfa mais lindo e inteligente que já teve o prazer de conhecer. 

Os dois sempre tiveram contato por causa de Jimin e sempre dialogavam muito mas, diferente de si, Namjoon nunca mostrou maiores interesses. Talvez por enxergá-lo apenas como o irmãozinho de seu melhor amigo ou, quem sabe, tivesse preferência por outra classe, quem sabe machos ou fêmeas mais experientes já que ele era quinze anos mais novo.

Entretanto, naquela noite, ainda imaginando que não daria em nada, Jin caprichou. Não só no visual. Seus flertes e provocações passaram dos limites. A lerdeza que o Jeon tinha - ele sequer notava o interesse alheio até então - foi para o espaço e, assim, passou a retribuir.

No final daquela festa, Jimin saiu com Esther e Namjoon ficou encarregado de deixar Seokjin em casa. Não é preciso dizer que eles aproveitaram pra caralho, não é? Afinal, a casa dos Park era só deles naquele dia.

O tempo foi passando e os dois se encontraram outras vezes, fosse para trocarem carícias ou apenas jogar papo fora. Nisso, uma conexão surgiu entre eles, assim como uma forte paixão. 

Agora, esses encontros casuais já não satisfazem o alfa mais novo. Ele quer mais. Até porque aquele sentimento forte havia crescido e sabia que não só em si. Passou a cobrar um relacionamento sério, público. Estas cobranças começaram a irritar Namjoon pois ele odiava ser pressionado. As brigas começaram. Para fazer cessar, Jin estava o ignorando. 

Prometeu a si que não queria saber do CEO enquanto ele não lhe assumisse, mostrando que o levava a sério e não o via apenas como um brinquedo, uma diversão de noite. Em contrapartida, o castanho não saia de seu pé, lhe enchia de ligações e mensagens pedindo para que parasse com aquilo. Mas era teimoso e não facilitava. Na verdade, ambos eram. Só que a determinação do jovem estava mais aguçada. Apenas pararia com aquilo quando Nam cedesse. 
Sabendo dessa questão, cansado dessa situação, o Jeon ligou naquela noite e tinha em mente fazer quantas ligações fossem precisas para conversarem. E foi por estar distraído, somente por isso, que Park atendeu a vídeo chamada que apareceu de repente.

— Boa noite, príncipe. Estou com saudades. 

Ali estava ele, Jeon Namjoon, seu melhor sonho e também maior pesadelo, sentado no escritório de sua casa, todo lindo em uma camisa social com os primeiros botões abertos, a expressão relaxada e com um copo de whisky na mão. Sexy e poderoso. Isso era fato. 

— Não vai dizer que está com saudades também? Por que não atendeu minhas ligações? Jin, está me dando gelo neste momento?

— Só estou admirando sua beleza. — resmungou, ainda o observando.

— Então não somos um caso perdido?

— Sabe que não. — rolou os olhos. — Você sabe o porquê de tudo isso. Também sabe o que fazer a respeito.

— Poxa, quanta insegurança. Você já me tem, não é o suficiente? Para que um pedaço de pr-

— Não é só um pedaço de prata, tem um amplo significado! — se irritou. Era sempre a mesma coisa, ele nunca entendia. — Você é tão cabeça dura. Qualquer um sonha em ter um romance, um namoro sério com direito aos clichês da vida, por que não entende?

— Eu-

— Nem começa. Chega de desculpas. Cansei delas! Você acha que não sei que quer se manter assim só para poder sair com outras pessoas também? Por que não admite logo que sou só um caso divertido só para algumas noites?

— O quê? Não! Claro que não! Não me venha com desconfianças, Seokjin. — falou sério, abandonando o copo em cima da mesinha do computador.

— Quem me garante que não é por esse motivo que você não quer assumir para todos que temos algo? Ou você tem problemas em mostrar para os outros que gosta de alfas? — ergueu a sobrancelha.

— Quem garante que um pedaço de prata vai me segurar? Quer dizer, não importa se tem aliança, todos sabendo ou não, se a pessoa for infiel, não dá para impedir. Não que eu seja e...

— Para, para, para! Não quero mais te ouvir, nem mesmo discutir sobre isso. — passou a mão no rosto, se sentindo cansado e um tanto frustrado. — Só me responde uma coisa... Você não me quer como namorado?

— Eu amo você. Só não quero fazer algo forçado, quero que seja natural. E também não quero que nossos irmãos não se assustem, mas você não para de me pressionar. Eu detesto essa sensação de ser obrigado a fazer algo. — suspirou.

— Eu estou esperando por isso há dois anos. Não acha que é tempo suficiente para você ter pensando sobre, sem que eu precise ter falado? Você não sabe o quanto é horrível ver seus amigos namorando, os casais na rua trocando carinho, ficando juntos no fim de semana e saber que não pode fazer nada disso porque tem um caso escondido. Era divertido no início, esse lance de "proibido é mais gostoso", mas agora não é mais. Eu só queria que todos soubessem que tenho um namorado, que ele é incrível e que nos amamos. A gente mal se vê e quando se vê é noite, madrugada, por termos algo secreto. Isso é ridículo!

— Sendo sincero, fora esperarem de mim que eu seja "tradicional" e apareça com ômega, a nossa diferença de idade me deixa acuado. Você tem vinte e um e eu trinta e seis. Você entende, príncipe? Eu meio que... Fico envergonhado. — coçou a nuca. — Não quero que olhem com negatividade para nós. Nem que te tratem como um troféu comprado pelo meu dinheiro ou algo assim. Fora o detalhe que vai acabar sendo um choque para nossos irmãos. Acho que mais para Jimin que para o Jungkook. Por isso, eu queria dar andamento nas coisas com mais calma. 

— Não seja bobo. Deixe que falem. Somos nós que vivemos nosso relacionamento e estamos juntos de consciência limpa. Nossa idade não influencia em nada pois somos dois adultos maturados que se amam e sabem o que estão fazendo. E sobre o Jimin, acredito que vai ficar um pouquinho chateado no início, mas com o tempo aprende a lidar. Ele é obrigado a aprender porque não pretendo te deixar. Pelo contrário. Quero que assumamos um ao outro. Chega de continuar escondido com medo dos pensamentos e reações dos outros. Eu não quero mais isso. Ou a gente namora ou foda-se também. — disse duro.

— Foda-se? Que foda-se, Seokjin. Eu aceito namorar publicamente. Estava de plano a ceder desde que te liguei. Não vai ter foda-se nenhum. Se você quer, a gente namora. Se desejar, vou agora comprar nossas alianças de compromisso. Eu só quero você ao meu lado e quero você feliz! — o loirinho paralisou por um instante.

— Sim… Quer dizer, isso é sério? — mordeu o lábio, se contendo para não gritar de alegria pela sua vitória naquele jogo entre dois alfas grandes e birrentos.

— Muito. Não aguento mais essa distância, nem te ver magoado. — confessou. Jin não aguentou segurar, sorriu amplo, no fundo sem acreditar que tinha mesmo ganho aquela guerrinha. Ia, finalmente, namorar com o lupino que mais gostou em toda sua vida! — Agora me deixa te ver.

— Está me vendo.

— Não. Eu quero te ver agora.

— Mamãe não está, o Chim saiu, você pode vir aqui... — soou insinuante.

— Sem brigas? — quis estar certo disso, afinal, estava cansado de ir atrás dele todas as noites e voltar com o rabinho entre as pernas já que se mantinha firme com suas ideias naquele desentendimento.

— Sem brigas — garantiu.

— Perfeito. Só vou avisar a Sun que irei sair para ela poder cuidar do Kook. — sorriu, suas covinhas apareceram. Estava empolgado, louco para rever o mais novo e também dar uns beijos em sua boca linda.

— Anda rápido. Estou com saudades. — sua expressão se tornou carente, manhosa.

— Finalmente admitiu.

— Finalmente me aceitou. — debochou. — Só vem logo. — acabou rindo da pressa, da forma atrapalhada que o mais velho saiu de cena.

Aproveitaram bem a noite e, no dia seguinte, foram atrás dos anéis representativos, além de combinaram um jantar onde Jin apresentaria seu namorado à família. 

O alfa estaria mentindo caso dissesse que não estava nervoso. Tinha seus motivos, afinal, ninguém sabia que ele estava em um relacionamento; ninguém sabia que ele estava em um relacionamento com um homem; que esse homem era o melhor amigo de seu irmão; para completar era mais velho e CEO de uma empresa de filmes adultos.

Suspirou pela milésima vez, torcendo para que tudo desse certo. Sete horas em ponto estava na sala com sua mãe e irmão, aguardando ansiosamente pela chegada do outro.

— Eu sabia que você gostava de alguém e estava me escondendo! — afirmou Jimin ao que a ômega saiu do cômodo, indo conferir a comida novamente e ver o andamento da sobremesa.

— Não te contei porque ele e eu estávamos brigados mas tudo se resolveu. Obrigado por esperar meu tempo e pelo conselho também. — sorriu.

— Tranquilo, Jinnie.

Alguns minutinhos depois a campainha soou chamando a atenção de todos. Seokjin foi correndo abrir a porta e sorriu largo ao ver a figura lupina parada ali. Namjoon vestia uma roupa mais despojada, não estava com seu terno costumeiro, no entanto, continuava lindo como sempre.

— Boa noite, príncipe. — murmurou, lhe dando um selinho.

— Boa noite. Entra.

Jimin, ao ver o amigo, sorriu. Em sua mente pensou que ele veio tratar de alguma coisa consigo já que era seu melhor amigo e chefe.

— Chegou em uma boa hora, Nam hyung. Estamos reunidos para finalmente conhecer quem conquistou meu irmãozinho.

— Gostaria de ficar para o jantar? — perguntou Chaeyeom, doce e animada. 

Os dois namorados se entreolham como se perguntassem quem contaria. Então o Jeon segurou a mão do loirinho e com um enorme sorriso, pronunciou:

— Claro que ficarei, afinal, o jantar é para mim. 

Os Park expressaram total surpresa, com direito a boca aberta e tudo.

— Oh, isso é sério? — perguntou a fêmea, um tanto perdida por não esperar tal coisa.

Jimin estava de cenho franzido, olhando de um para o outro, não acreditando naquilo. Era uma pegadinha, não é? Só podia ser. Porque seu irmão e seu amigo juntos, pelas suas costas, seria sacanagem demais.

— Me desculpem por não contar antes, nós nos acertamos a pouco tempo. Estamos oficialmente juntos agora. Namjoon é o meu namorado. — disse o mais novo, orgulhoso.

O moreno de olhos azuis se sentiu nervoso no mesmo instante. Sabia que o irmão estava escondendo uma paixão mas não imaginava ser justo pelo seu melhor amigo. Por que ele lhe ocultou isso? E por que Namjoon nunca lhe disse nada sobre estar afim de Seokjin? Por que eles esconderam tudo sendo que sempre houve confiança ali? Ah, mas aquilo foi muito vacilo. Diante das circunstâncias, Jimin não engoliria aquele relacionamento fácil. Não quando diziam que confiavam em si, mas o privaram de saber das coisas. Estas que em sua visão eram importantes pois, ora, era seu irmão e melhor amigo trocando salivas!

— Certo. Por mim tudo bem. — disse Chae. — Namjoon é praticamente da família, conheço ele o suficiente para saber que é um bom alfa. Mas se o fizer sofrer, terá que se ver comigo, uhm? 

Namjoon sorriu, abraçando o namorado.

— Nunca teria coragem de fazer isso. Jin está em boas mãos. — a ômega baixinha de cabelo preto sorriu amplamente.

Para ela, não era problema algum Jin gostar de um macho alfa, nem ele ser um cara mais velho, o que importava era o amor deles. E, claro, o castanho ganhou uns pontinhos a mais por Chae lhe conhecer desde mais novo. Já Jimin não estava gostando nada da ideia. Afinal, como não viu isso acontecer? Pelo jeito tudo estava embaixo de seu nariz a muito tempo, apenas não desconfiou. Porra. Eles lhe enganaram direitinho!

Não disse nada e durante o jantar ficou quieto, ouvindo histórias bobas, risadas e apenas pensando porque Namjoon, sendo o cara todo poderoso que era, que podia ter quem quisesse, quis logo seu irmão. Não que Jin fosse pouco para ele, pelo contrário, era demais. Também pensava o contrário, seu irmão com seu jeito doce e positivo conquistava qualquer um, tinha todos aos seus pés, então por que escolher justo seu melhor amigo? 

Em sua mente, aqueles dois não se encaixavam como casal. Era estranho vê-los juntos. Estranho saber que se gostavam. Até porque nunca na sua vida cogitou essa hipótese. Fora que, em sua visão, era triste perceber que nenhum dos dois, a quem amava bastante, confiavam em si o suficiente para ao menos contar que estava afim de alguém. Ou ao menos dizer, "Olha, seu irmão é tão interessante!", "Ah, seu amigo é lindo!", para que desconfiasse desde o início que ali poderia nascer algo. 

Não sentia que era apenas ciúmes bobo. Eles se aproximaram, se envolveram, fizeram tudo em suas costas, por isso estava tão chateado. Estava se sentindo traído, deixando de lado, como se fosse insignificante. 

Ao fim do jantar mentiu uma dor de cabeça e subiu para o quarto. Não ia, de forma alguma, dizer que estava satisfeito ou feliz com aquilo. A forma como as coisas aconteceram o deixou magoado e o fato de não saber desde o início o deixou possesso.

Não era alguém importante para aqueles dois lhe deixarem saber de seus sentimentos? Era alguém tão insignificante que podia descobrir as coisas só no final, quando estavam assumindo para todo mundo? E pensar que no instante que conhecesse alguém, correria para eles. Negou com a cabeça. Agora não contaria nada de sua vida para aqueles dois e ainda pensaria numa forma de deixá-los tão putos como havia ficado. Porque Park Jimin podia ter vinte e oito anos e saber de muita coisa da vida, mas ser cem por cento maduro não era.

🐺

Nos próximos sete dias, os ignorou com a desculpa que precisava assimilar as coisas, porém, a verdade era que ainda estava irritado. Nesse tempo, os namorados estavam sentindo a falta dele, de sua amizade e brincadeiras, mas nada podiam fazer. 

Falando no casal, pouco distante da empresa onde o ator estava, Seokjin entrava no carro de Namjoon.

— Preciso buscar o Kook na escola e depois passar na empresa. Se importa, príncipe? 

— Claro que não.

— Só peço que não conte ao meu irmão sobre meu trabalho. Ele ainda não sabe de nada.

— Jungkook já maturou, por que não é sincero com ele? — o questionou. 

— Jungkook ainda é inocente, ingênuo como uma criança. Ele não precisa saber das coisas deste mundo. Muito menos que eu faço parte dele.

— Se você diz. — deu de ombros.

O garoto saiu da escola reclamando sozinho que o irmão atrasou, todavia, ao ver o motivo acabou sorrindo. 
Nam havia lhe apresentado Jin na semana passada, no dia seguinte do jantar na casa dos Park. Ele gostava muito do novo cunhado. Não que seu irmão tenha lhe apresentado outros antes, mas podia dizer com todas as letras que o loirinho era seu preferido.

Jungkook os cumprimentou animado e adentrou o carro, sentando no banco de trás respondendo educadamente as perguntas sobre como havia sido seu dia de aula.

— Ontem vocês saíram juntos, não foi? — tinha visto o irmão todo arrumado em roupas casuais, pronto para sair, por isso concluiu tal coisa. 

— Sim. — disse Namjoon, dando partida.

— Onde vocês foram? 

— Fomos jantar juntos. — Jin sorriu, deixando quieto o que veio a sua mente: a "sobremesa" foi deliciosa.

— Oh, como eu imaginei.

— Você é muito esperto, uhm? — falou o hyung. — Tome cuidado com essa esperteza toda.

Kook conteve a vontade de questionar se ele estava escondendo algo por isso estava com medo, no entanto, optou por ignorar já que certamente era uma paranóia de sua mente. Uma impressão que ficou desde que descobriu aqueles vídeos.

Os observou conversar e rir entre si, pensando no quanto eles estavam felizes. Era tão claro o quanto se gostavam. Será que um dia poderia ter essa conexão com alguém? Se continuasse sendo esse bebezão tímido, acreditava que não. Ninguém se atrairia por uma pessoa tão... Acanhada. E se o fizesse, Jungkook não saberia lidar. Mas não conhecia outra forma de ser, o diferente lhe amedrontava, então acabava cedendo e continuando na sua zona de conforto mesmo que ela estivesse começando a desagradar.

O alfa castanho não demorou a estacionar em frente a empresa, subir pelo elevador e checar se estava tudo em ordem. Também teve que passar o novo roteiro ao amigo que ainda estava emburrado consigo.

— Park, vejo que está tudo sob controle por aqui. — o moreno assentiu. — Aqui o roteiro do próximo filme. Veja se está de acordo com suas cenas. Esperamos que ele dê certo pois será uma grande produção.

— Obrigado por me entregar com bastante antecedência. — disse sem humor algum.

— Acho que essa foi a frase mais longa direcionada a mim nessa semana. — brincou.

— Hyung… — suspirou. — Olha, não foi fácil dar gelo em vocês, mas eu precisava de um tempo para digerir tudo isso. Já pensou, seu irmão que você trata como seu filho chegar e dizer que finalmente está namorando, você ficar feliz mas ao mesmo tempo com um pé atrás por medo dele sofrer no futuro, e no fim descobrir que ele está com seu melhor amigo? E nenhum dos dois teve a decência de contar antes? Isso foi muita mancada. Teve sorte de eu não ter xingado vocês pela falta de consideração.

— Também não é para tanto.

— Não? E se fosse o seu Jungkook? Se eu te falasse que estou namorando ele, assim, do nada? — perguntou sabendo que ele era superprotetor com o irmão, bem mais que si.

— Está... Você está afim do Kook? — perguntou, indignado. — Ele é só uma criança!

— Claro que não. Isso foi uma suposição. Nem próximo dele eu sou.

— Entendi. Entendi bem o seu lado. Me desculpe por isso. — coçou a nuca constrangido.

— Tem que se desculpar mesmo por ter me escondido que saía irmão e que depois entrou em um romance com ele, não há dois dias mas a dois anos, debaixo do meu nariz. — afirmou, magoado.

— Saiba que amo o Jin e o que temos é para valer.

— É bom que isso seja verdade. E fica esperto que agora você é meu cunhado e qualquer coisa posso acabar você. — o CEO riu, bagunçando o cabelo do amigo.

— Você não acabaria com seu chefinho. — fez uma expressão convencida.

— Quer apostar? — ergueu a sobrancelha. O Park ficava assustador com a expressão severa.

— Não. Realmente, passo. Você sabe ser muito mau quando quer.

— Certo. Agora, se me der licença, eu tenho uma cena a refazer já que a da semana passada foi considerada leve demais considerando o enredo do último filme que fizemos e eu estou com pilha total para concluí-la ao lado daquela ruivinha que... Wou! — deu um sorriso sacana.

— Fica a vontade que eu estou indo embora.

Voltou para o carro, deixando os papéis da cópia do roteiro no banco de trás junto de outras coisas suas. Sentou no banco do motorista e ligou o carro, retomando a direção, alguns metros depois foi obrigado a frear bruscamente, fazendo várias pastas e objetos serem arremessados ao chão. Jungkook fez o possível para não bater a cabeça no encosto da frente, sorte que estava de cinto.

— Olha por onde anda, porra! — Namjoon praticamente cuspiu as palavras enquanto o lupino reclamava algo ainda atravessando a rua. — Todo mundo está bem?

— Eu estou. — disse Jin. — Jungkook? — ambos o olharam simultaneamente, o analisando de cima a baixo.

— Uhum. Está tudo certo. — respondeu, ouvindo seu irmão reclamar do cara que simplesmente surgiu do nada achando uma boa passar na frente de um carro em movimento. 

Abaixou, capturando os documentos e papéis que haviam se espalhado pelo carro. O primeiro que estava em suas mãos continha coisas familiares… Your Entertainment… No canto da folha o símbolo… Algo despertou em sua mente. Lembrou do dia em que ficou parado na frente da empresa. E das introduções dos vídeos de "cenas deletadas"... Era mesmo nome. O mesmo símbolo. 

— Porra! — soltou, sorte que foi baixo então não atraiu a atenção dos outros. 

Tinha um roteiro ali no meio dos papéis, também contratos que diziam sobre alguns filmes e os atores envolvidos na produção. Ao passar os olhos nas folhas foi percebendo vários detalhes que até então não havia associado.

— Não pode ser. — murmurou.

Namjoon não fazia esse tipo de coisa. Não filmes com conteúdo não só romântico mas explícito, iguais aos de seu notebook e aos que seus amigos viviam lhe mandando. 

Ficou inerte, com os pensamentos a mil. Estava paralisado. Não conseguia acreditar. Ele e o irmão não tinham segredos um com o outro então aquilo não podia fazer parte da vida dele. Se fizesse, se a empresa fosse realmente dele, saberia, pois Namjoon lhe contava tudo, certo? Era o que pensava até perceber que não. O hyung lhe ocultava coisas.

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