💰CAPÍTULO XI: CLIENTE INUSITADO💰
"Sim, o passado foi realmente o melhor
Mas o meu melhor é o que vem depois
Não estou brincando, não, com certeza
Rumo a esse dia
Até que eu fique sem fôlego
Você e eu, o melhor momento ainda está por vir
O momento ainda está por vir". — Yet To Come (BTS)
Min Yoongi leu a notícia, bufou e revirou os olhos, não era isso que ele tinha falado!
Comentou que estava fazendo novos amigos, e a jornalista distorceu para um "estar apaixonado", ele suspirou e ficou pensando se processaria o veículo ou não, mas a nota acabou fazendo suas músicas atingirem novos rankings em plataformas de músicas, então achou melhor deixar quieto.
Passou alguns dias e o rockstar sentia falta de Jhope mas descobriu que, de fato, o garoto não vai para lugar nenhum, além de não ter redes sociais, isso era um tanto perturbador; ele conseguiu subornar Mary Lee mais um tanto para que ela não atormentar o garoto e garantiu para ela que a jornalista tinha distorcido o que ele falou, mas não comentou que realmente algo naquele menino era incomum e mexia com ele.
Passou horas na frente do computador, pesquisando palavras como "distanciamento social e físico", mas entrou em um resultado que não gostou nem um pouco do que leu: sintomas de depressão. Apesar do comportamento ser um tanto incomum, Yoongi não achou que essa fosse a resposta verdadeira a respeito de Jhope, pensou que poderia perguntar, mas como se o garoto vivia fora de sua rota? Na verdade, ele vivia confinado em seu apartamento e não havia respondido mais nenhuma de suas mensagens.
Depois de ler vários artigos sobre pessoas que são "antissociais", começou a pensar sobre o fato de luzes e cores incomodarem Jhope, além de barulhos também, mas o termo "ataque epilético" o assustou quando pesquisou esses termos, por outro lado, seus olhos saltaram na tela quando uma das pesquisas tinha como título "sintomas da condição do espectro autista".
Isso fazia mais sentido para ele, mas não queria tomar aquilo ainda como verdade, poderia o Jhope ser do espectro e não ter comentado nada sobre? Era uma possibilidade, mas sabia que somente passando mais tempo com o garoto poderia ter mais pistas, então, uma ideia veio à sua cabeça e ele sorriu marotamente.
🎸🎸🎸
A notícia deixou Jhope extasiado, Yoongi só poderia estar brincando com ele e não facilitava nem um pouco as coisas, suspirou e foi correndo para a cafeteria, tentando não notar algumas pessoas que o olhavam estranho na rua, o vento gélido de Toronto batia em seu rosto, fazendo o moletom branco e confortável ser mais do que bem-vindo, ele respirou fundo enquanto andava apressado com as mãos no bolso do casaco e os pensamentos para aquele momento: dormir nos braços dele.
A cafeteria ajudou ele a pensar melhor, tomou o mesmo de sempre, a mesma torta de morango, mas, desta vez, não o pedaço pequeno e sim o grande, o sabor quebrava em sua boca, o amargo do café com o doce do glacê, ficou aliviado por alguns minutos ao chegar à conclusão de que aquela entrevista tinha sido uma piada de mal gosto ou somente uma jogada de mídia.
Afinal, pelo que Jhope leu, Min Yoongi estava de férias da turnê, não tinha nenhum álbum em andamento e, talvez, para conseguir se manter em alta, nada que uma boa fofoca vazando a respeito de seu estado civil de solteiro e sua sexualidade, o garoto na cafeteria passou as mãos pequenas pelos cabelos pensando que essa deveria ser a vida do rockstar: entre entrevistas, músicas e bebidas, ele passava o tempo livro alimentando fofocas e iludindo pessoas.
De noite, em seu apartamento, Jimin deu um berro com o autografo e ficou abraçando tanto o primo que Jhope até se arrependeu de ter pego e entregue aquele maldito pedaço de papel, se sentia sufocado com tanta aproximação, mesmo sendo seu amigo, e a ansiedade para se livrar dos braços do loiro era algo crescente em seu peito.
Uma semana se passou de forma tranquila para ele, enfim, sua vida tinha voltado ao normal, pelo que parecia, só que as demandas da editora estavam cada vez menores, o que o deixava um tanto nervoso, até porque ele não era rico como Yoongi, precisava de freelas para pagar o apartamento e o mercado, ainda bem que não gastava seu dinheiro saindo, mas era bom quando sobrava algo para comprar livros, um lazer que ele era obstinado em manter.
Em um dia de folga, desenhou a sala do apartamento de Yoon, a luz, os sofás, a forma como ele dormia, a expressão calma, tudo em grafite, o esboço ficou muito bonito e ele pensou até mesmo em não pintar, deixar tudo preto no branco, assim como aqueles sentimentos que cresciam dentro de si e ele negava a aceitar, pensando que não queria ser uma marionete nas artimanhas do rockstar de se manter em alta na mídia enquanto estava de férias.
Durante uma chamada de voz, em uma reunião da editora, em que seu colega de trabalho e também freelancer, Jason, um ruivo convencido e inconveniente que conseguiu monopolizar a conversa dando suas ideias para as próximas edições, Jhope suspirava com o microfone e câmera fechados, se fazia presente comentando no chat e já estava acostumado a ser ignorado por todos, mas no final da reunião, um de seus chefes falou algo que ele não esperava, além de estar se dirigindo a ele pela primeira vez em cinquenta minutos, as palavras não eram algo previsto:
— Jhope, preciso que você venha para uma reunião presencial comigo amanhã às duas horas da tarde, você está livre? — o garoto do outro lado da tela ergueu as sobrancelhas e sentiu seu coração acelerar, seria demitido, com certeza, o fato de ser uma diversidade dentro da empresa não o manteria mais ali.
— Sim — falou abrindo o microfone pela primeira vez.
— Perfeito, por hoje é só, mantenho vocês atualizados sobre os novos contratos e trabalhos por e-mail, até, pessoal — o chefe falou e todos os ícones começaram a sair da sala, Jhope ficou lá, sozinho.
Vendo sua foto na chamada em formato circular e se perguntando o que faria da vida sem esse emprego, como conseguiria se virar, será que Jimin conseguiria ajudá-lo financeiramente? Não queria recorrer aos pais, já tinha quase trinta anos, isso seria muita humilhação. Suspirou, saiu da chamada e desligou o notebook pensando se os livros que estava lendo iriam conseguir tirá-lo da realidade ansiosa que era obrigado a estar neste exato momento.
🎸🎸🎸
Após quase duas semanas do encontro do apartamento no rockstar, Jhope sentia algo no peito, mas nem se alguém lhe oferecesse mil dólares ele confessaria que era saudade, ignorar o que sente era um hábito adquirido desde a infância, como se validar o que rasga seu peito desse mais liberdade para que sentimentos tomassem não só o coração, mas a alma e o restante de seu corpo.
Corria entre as ruas movimentadas de Toronto segurando um Starbucks nas mãos, pela primeira vez em três dias tinha almoçado, mas a sonolência continuava, por isso ele decidiu tomar um café indo para a reunião presencial de tarde. Odiava sua insônia e os sonhos que tinha com Yoongi, às vezes ele comia uma pizza, às vezes dormia ao seu lado e outras cantava algo para ele de forma lenta e acústica, sem todo aquele barulho dos shows que Jhope viu em vídeos no Youtube.
Uma mania nova que criou foi esta: stalkear o cantor em todas as redes sociais, o Instagram muito monocromático e sem muitas fotos, o Twitter somente usado pela assessoria de imprensa para divulgar entrevistas, datas de shows e lançamentos de músicas, além das inúmeras propagandas de marcas super famosas em que somente um tweet com a palavra "adoro!" deveria dar uma comissão de milhares de dólares para o artista que tinha contrato com a Prada, Chanel e demais marcas.
O Youtube era bem mais movimentado, vídeos de shows com mais de trinta milhões de visualizações, os clipes, então, chegavam aos quarenta, eram números assustadores para Jhope, fazia seu coração acelerar só de imaginar quantas pessoas tinham visto e viam diariamente a imagem de Yoongi, ele, com certeza, nunca desejaria fazer parte de tanta atenção.
Mas, como o rockstar falou, a fofoca na internet sumiu em dias, além de que uma notícia do cantor em uma boate com um asiático tinha vazado dias atrás, fazendo a atenção de todos ser direcionada para aquele homem que poderia ser um ator contratado como Yoongi comentou; a notícia não despertou nenhum tipo de sentimento em Jhope, ele apenas ficou imaginando o que o cantor estaria fazendo com seu tempo livre agora que não tinha mais fofocas para alimentar.
Jhope entrou correndo com a mochila nas costas e o café na mão dentro do enorme prédio espelhado que a editora ocupava todo o terceiro andar, foi até o elevador e ficou esperando que aquela música de fundo e instrumental o acalmasse, já sabia que seria demitido, só desejava que a notícia fosse dada da melhor forma possível.
Quando entrou no andar, ficou maravilhado com aquilo, preferia sempre o home office, mas não havia lugar melhor para ele trabalhar do que uma editora, onde o silêncio é uma prioridade sem tamanhos e o barulho dos teclados sendo digitados deixava sua mente calma e seu coração acalentado.
Deu quatro passos admirando as janelas grandes e largas, as pessoas com seus óculos, livros e mesas cheias de papéis e telefones, o cheiro intenso de café e livros, a forma casual como comentavam entre si algo em sussurros singelos, Jhope sorriu e bebeu mais um gole do seu café que estava quase acabando, ia andar pelas diversas mesas aglutinadas entre si quando sentiu uma mão suave em seu ombro, virou o olhar e viu seu chefe.
Um homem alto de terno, careca, uma testa gigante e um sorriso de orelha a orelha encantador, parecia a figura paterna de um filme velho de comédia romântica, onde a mocinha encontrava o pai perfeito para seus filhos abandonados ao acaso com um pai biológico mil vezes mais bonito, mas potencialmente ausente.
— Olá, Jhope, que bom vê-lo — disse sorrindo e tirou a mão do ombro do garoto que sorriu, abriu a boca, mas foi interrompido — venha para meu escritório, precisamos conversar — ele disse ficando de lado e esperando o menino o seguir, Jhope andou ao lado dele até a sala nos fundos de um corredor bem iluminado e juntou as sobrancelhas com aquele "que bom vê-lo"... seria porque seria ótimo diminuir as despesas da editora? Será que estavam passando por cortes de gastos?
— Sabe como adoramos seu trabalho, é fundamental para a equipe — o careca comentou, deixando Jhope ainda mais ansioso, eles entraram no escritório que o garoto já estava familiarizado, janelas largas ocupando quase a parede toda, estantes de livros em todos os cantos e uma mesa grande com duas cadeiras de cada lago, almofadadas e pretas — sente-se, por favor — ele disse e Jhope se sentou, jogando o café no lixinho ao lado de suas pernas, o careca andou distraído até o outro lado e se sentou relaxado na poltrona, entregando um sorriso de orelha orelha para o revisor de texto à sua frente.
— Bom, sobre o que é o assunto que não poderia ser uma reunião por áudio? — Jhope perguntou, o homem à sua frente respirou fundo, juntou as duas mãos e apoiou os cotovelos na mesa de madeira escura, pronto, era agora, seria demitido, tudo antes foi uma forma de atenuar a notícia ruim e agora viria o que ele já sabia que era o certo: meses de incerteza financeira que o deixaria noites sem dormir e dias guiados por ataques de ansiedades sem nota prévia de aviso.
— Sei que prefere ficar de home office, mas a reunião requer algo presencial, mais pessoal, mais íntimo, é uma notícia bem... bombástica — para a minha conta bancária? Com certeza, Jhope pensou, ele abriu a boca para protestar, ou alegar que diminuiria a sua carga horária, pegaria menos textos ou até mesmo deixaria seu preço por hora menor, mas o careca falou mais rapido, tirando os cotovelos da mesa e se encostando graciosamente na cadeira — sabemos que você não está acostumado ao tipo de trabalho que vamos propor, mas o contratante exigiu que fosse feito por você, então, será um desafio mesmo.
Jhope arqueou as sobrancelhas e prendeu a respiração, trabalho novo? Diferente do que fazia? Ele já tinha feito traduções antes, mas o foco sempre foi revisão e aprovação de livros brutos para edição e revisão da editora, acompanhar o mercado editorial era algo que fazia com frequência para isso, além de estudar com frequência as normas da língua para nunca errar, mas não seria nada disso desta vez, pela forma que o chefe falou, ficou claro que era algo totalmente novo e isso deixou ele feliz por um lado, surpreso por outro e até mesmo nervoso.
— Trabalho novo? — perguntou surpreso.
— Oh, sim, estão querendo te contratar para ser o ghost writer de uma autobiografia — Jhope ficou boquiaberto, mas não respondeu nada — sei que você nunca fez isso antes, tentamos aconselhar o nosso novo cliente a outros profissionais que temos, mostramos portfólios, várias coisas, mas nada o convenceu, por algum motivo, ele te quer contratado exclusivamente para esse trabalho.
— Por que eu?
— Isso você pode perguntar para ele, a resposta que tivemos era que você era o melhor para isso, não entendi muito bem, mas aceitamos, agora cabe saber se você deseja aceitar o emprego, já adianto que nosso novo cliente é bastante... generoso, não quis fechar os nossos valores, ofereceu o triplo do valor, alegando que sua carga horária aumentaria um tanto e o trabalho se basearia, no começo, a entrevistas presenciais seguidas de escritas dos capítulos, ele não quer um livro muito grande, o projeto tem duração de quatro meses e você ganharia o quádruplo do que ganha agora.
— O quádruplo?! — Realmente uma notícia bombástica para sua conta bancária, Jhope falou em um tom até mais alto que o normal e sua voz falhou com a palavra, nunca tinha sonhado que em pouco tempo poderia ganhar tanto dinheiro assim em sua profissão.
— Sim, então imagina como vou exigir que você use seu perfeccionismo com precisão — e o careca sorriu ainda mais.
Jhope estreitou as sobrancelhas, algo estava errado, nenhuma notícia muito boa vinha em sua vida sem alguma coisa catastrófica no lugar, afinal, quem seria esse novo cliente? Seu coração começou a acelerar quando imaginou quem poderia ser, se ele tivesse que passar horas de seu dia conversando, entrevistando, um certo cantor, será que conseguiria prestar atenção em suas palavras ao invés de ficar devaneando com sua beleza?
— Quem é o cliente? — ele perguntou com medo da resposta.
O careca sorriu, abriu a boca, mas o barulho da porta rangendo as costas de Jhope chamou a atenção de seu chefe que virou o olhar para trás, o revisor de texto olhou sobre os ombros e viu a imagem de Taehyung bem ali com a cabeça entre a porta e a parede.
— Desculpe interromper, podemos começar a reunião logo? Meu cliente está ansioso por esperar.
— Claro, claro — o careca disse, Jhope virou com os olhos arregalados para seu chefe que se levantava e o guiava para fora do escritório — deve saber que Tae é produtor musical e agente de diversos artistas famosos da indústria da música — o coração de Jhope batia tão forte que ele se perguntou se seu chefe estava conseguindo ouvir enquanto eles andavam até a próxima sala de reunião.
— Mas você não vai acreditar em quem te escolheu para esse trabalho — falou com um sorriso presunçoso, o pior era que Jhope poderia até mesmo imaginar quem era, mas acreditar, de fato, nunca poderia.
O careca abriu a porta de vidro para Jhope entrar na nova sala depois que eles andaram cinco passos no corredor da editora, o careca chefe andou rapidamente para a sala com uma gigante mesa oval que poderia comportar dez pessoas e Jhope parou de andar, ficou estático na porta de vidro aberta e sentiu suas pernas ficarem bambas e suas mãos suarem.
Não é possível, ele pensou.
Sentado de costas na cadeira redonda, branca e almofada, olhando os prédios de Toronto, estava um homem com os cabelos pretos, brilhantes e sedoso caindo em seus ombro; Jhope pensou que nunca mais o veria pessoalmente em sua vida, prendeu a respiração desejando que, quando ele se virasse, fosse qualquer outra pessoa, mas assim que o artista posicionou com mais força o pé no chão e virou a cadeira para frente, notou que era o mesmo rosto angelical que o tinha feito dormir em seus braços.
Yoongi estava com uma jaqueta preta de couro com alguns espinhos pequenos e pratas nas ombreiras, luvas de couro e pretas que não cobriam seus dedos longos, uma camiseta cinza e lisa por baixo com um símbolo branco da Nike no lado direito do peito. Quando ele juntou as duas mãos perto do rosto e posicionou os cotovelos na mesa, com os ombros inclinados, Jhope sentiu cheiro de lavanda, um aperto no peito e um alívio ao mesmo tempo.
Não tinha jeito, precisava admitir para si mesmo: senti saudades dele, Jhope pensou.
🎸🎸🎸
Agradeço por ler até aqui!
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Se tiver algum erro de português, me perdoem, mas estou bem inspirada esses dias e conseguindo pensar bem sobre o desenvolvimento dessa fic e eu estou amando como ela é tão leve, suave e às vezes engraçada em comparação ao que eu escrevia antes. É um desafio fazer algo bem-humorado e tranquilo, mas espero estar conseguindo, é isso!
Comente, vote e converse comigo!
Até o próximo capítulo!
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