🚪CAPÍTULO VIII: INTUIÇÃO 🚪
"Gostaria que pudéssemos voltar no tempo, para os bons e velhos tempos
Quando nossa mamãe cantava para dormirmos, mas agora estamos estressados
Estamos estressados" — Stressed Out (Tweenty One Pilots).
— Como você não me ligou... — e deu de ombros — vim eu mesmo te ver — assim que as palavras saíram da boca de Min Yoongi, Jhope só conseguiu pensar em fazer somente uma coisa, algo que qualquer pessoa apavorada faria ao ver um fantasma, soltou um gritinho agudo de susto ao entender, enfim, que aquele astro do rock tinha tido um encontro às cegas com ele sem querer.
Levou as duas mãos em formato de concha até a boca, fez até o rockeiro levar um leve susto com a sua reação, Claire o olhou intrigada, já tinha visto o paciente chorar, andar para os lados, inquieto, irritado, mas assustado era a primeira vez.
A sua outra reação automática foi fazer o que qualquer pessoa assustada faria, pegou a maçaneta da porta e a fechou de supetão na cara dos dois visitantes que arregalaram os olhos, em seguida, Jhope saiu correndo até o banheiro do consultório e ali se trancou rapidamente.
Encarou o espelho e não se reconheceu, sentiu os braços e mãos começarem a tremer, tentou puxar o ar e falhou. Isso não pode estar acontecendo comigo, pensou, e ficou ofegante, encostando as costas na parede e escorregando até o chão com as duas mãos na cabeça, alisando os cabelos escuros com força e frenesi. Isso não pode estar acontecendo, isso não pode estar acontecendo, isso...
Claire, assim que viu o paciente sair em disparada para o banheiro, abriu de novo a porta, quase riu com a expressão pasma dos dois parados ali, segundos antes com a porta fechada bem na cara deles. Ela respirou fundo, virou para o lado e estendeu a mão indicando o caminho, os dois andaram devagar, Min Yoongi analisando o lugar parecia um... consultório. Jhope estaria visitando uma dentista? Não poderia ser, onde estaria o jaleco, as luvas e a touca?
— Sinto muito por isso... — a psicóloga comentou segurando o riso. O homem mais bem vestido, com roupas mais formais para a ocasião do que seria exigido, apenas virou os tornozelos e a encarou enquanto o menino... poderia chamá-lo assim? De boné, moletom e tentando esconder o rosto ficou ainda encarando o consultório — Jhope não reage bem com... imprevistos, surpresas, coisas do tipo.
— Deu para notar — Tae comentou e estendeu a mão — sou Taehyung — e apertou a mão dela, formal demais, Claire pensou — e este aqui é o — e virou o rosto para o amigo que ainda esquadrilha o lugar. Depois que leu a frase "as dores emocionais ficam mais fáceis quando compartilhadas" não demorou muito para supor que aquilo era um consultório psicológico e não somente uma casa.
— Min Yoongi — Claire disse antes de Tae, fazendo o rockeiro virar o rosto e encará-la — um rosto bastante conhecido para passar despercebido por somente um boné e um moletom grande — e sorriu para os dois, o cumprimento do artista foi um balançada de cabeça, o empresário respirou fundo e voltou-se para a psicóloga.
— Precisamos falar com Jhope.
— Bem, ele parece não querer falar com vocês — ela disse calma e deu de ombros, não forçaria o paciente a ficar ainda mais nervoso logo quando tinha finalmente acalmado ele, se Jhope queria fugir agora ao invés de encarar os fatos, a escolha era somente dele.
— Onde ele está? — Yoongi falou as primeiras palavras desde que colocou os pés para dentro do consultório/ casa de Claire. A negra cruzou os braços e fechou o rosto, Min relaxou os ombros — tudo bem, eu conheço ele e...
— Ele não está bem, teve um dia difícil, que tal vocês esperarem ele entrar em contato com vocês?
— Já esperamos — Tae comentou.
— Talvez um pouco mais.
— Quanto tempo ele precisa? — continuou o empresário.
— Não sei, mas devem saber que para ele mudanças e surpresas são coisas mais difíceis de lidar — o rockstar juntou as sobrancelhas, confuso.
— Como assim?
— Porque vocês não me passam um endereço e mais tarde, ou amanhã, ele vai falar com vocês? Aliás, é mais fácil para Jhope conversar com somente uma pessoa por vez, claro.
— Claro, por que? — Min Yoongi continuou fazendo perguntas que Claire facilmente ignorava, como se o descendente de asiático nem estivesse ali na sala e fosse somente um fantasma, um fantasma que assustou Jhope de uma forma que ela nunca viu antes, poderia ser porque ele era um astro do rock, mas a psicóloga suspeitava que havia algo a mais naquele susto e pânico.
— Vou passar o endereço do apartamento em que estamos, mas você e ele precisam prometer que não vão vazar isso para ninguém e...
— Por que falaríamos para alguém isso?
— Dinheiro? — Tae perguntou, ela ergueu as sobrancelhas e abriu os olhos.
— Com a minha casa e vida, posso te dar certeza de que não preciso disso, Jhope também não — encarou Min Yoongi que se aproximou das costas de Tae e apertou o ombro dele com uma das mãos.
— Às vezes ele é grosseiro, está estressado... — comentou, Tae respirou fundo tentando não pensar que o amigo falava dele como se nem ao menos estivesse ali, Claire ouviu o endereço dito por eles e o anotou nas notas do celular, sorriu para eles, ofereceu uma água, mas ambos recusaram e começaram a se retirar do consultório, ou seria da casa? Enfim, quando Tae passou pela porta se despedindo, Yoongi virou a cabeça sobre os ombros, sorriu e falou:
— Você é a psicóloga dele, né? — Claire continuou muda e segurando a maçaneta, a forma indiferente dela com ele o irritava de certa forma — ele falou de mim? — ela revirou os olhos, negou com a cabeça e começou a fechar a porta enquanto o rockstar a olhava com um tanto de tristeza no olhar.
— Deve saber que não devo quebrar a confidencialidade entre eu e meus pacientes, mas saiba que, se Jhope falou sobre você na terapia, algo pode estar o incomodando, as pessoas geralmente estão aqui para falar sobre algo que não querem falar, admitir ou... olhar — sorriu de lado e terminou de fechar a porta.
🎸🎸🎸
— Como tem tanta certeza que ele vai vir hoje? Ele ao menos mandou alguma mensagem? Uma ligação? Qualquer coisa?! — era a voz rouca de Tae soando pelo apartamento espelhado com todos os prédios e cidades de Toronto abaixo, como pontinhos em um céu escuro, iluminando as paredes de vidro do local.
Yoongi terminava de amassar as almofadas para ficarem mais confortáveis para encostar, para ele encostar, para Jhope encostar, para quem fosse aparecer encostar.
Não havia recebido mensagem alguma, ligação, nada, nem sinal de fumaça, ou alguma notificação de curtida dele no Instagram. Ele deveria saber sua rede social, mas não fez nada. Meu Deus, ele tinha a porcaria do número dele nas mãos. Porém, o rockstar mandou limpar todo o apartamento, lustrar o chão e agora apertava as almofadas como se alguém fosse aparecer.
— Não, mas... — disse se sentando no sofá — estou com um bom pressentimento — Tae revirou os olhos com essa resposta, andou a passos largos até a bancada de mármore preto que indicava a separação da sala da televisão com o cômodo do bar com as bebidas, pegou as chaves do carro que estavam ali em cima, voltou andando apressado até o artista que se espalhava no sofá escuro.
— Acho bom eu não estar saindo somente por conta de uma impressão.
— Mas é exatamente o que vai fazer — e ligou a televisão para ver basquete — estou sendo sincero, ele não entrou em contato comigo, mas vai aparecer aqui.
— Assim? Sem mais e nem menos?
— Sim, e ele parece lidar bem com uma pessoa por vez, então, tchau?
— Só não fode com o garoto, tá? — falou Tae deixando o peso do corpo todo em somente uma perna e balançando as chaves entre os dedos, Min Yoongi endireitou as costas para frente e apoiou os cotovelos nos joelhos.
— Em qual sentido? — disse entre risos baixos.
— Todos — Tae disse com firmeza e saiu andando pelo apartamento. Quando o roqueiro ouviu a porta se abrir e fechar em seguida, respirou fundo, encarou a tela com o jogo de basquete e ficou rezando em seu coração apertado que sua intuição não fosse coisa somente da sua cabeça.
🎸🎸🎸
— Você precisa! Precisa! Ir até ele! — a voz suave e melódica de Jimin soava pelos alto falantes do celular de Jhope no modo viva voz enquanto ele terminava de colocar as novas roupas de cama, limpas e cheirando a lavanda.
— Não preciso — comentou terminando de colocar o último canto do lençol.
— Você não pode simplesmente fingir que nada disso aconteceu! — a voz de protesto do primo quase chegou a irritá-lo.
— E o que você quer que eu faça? — levantou as costas e sentiu a lombar doer um tanto — apareça no endereço e converse com ele? Quase tive uma síncope quando ele apareceu do nada no consultório de Claire e... como ele achou o lugar? Isso está me dando nos nervos e ainda tem os livros que preciso terminar de revisar e...
— Pare de inventar desculpas! Corre até lá! Nem que seja somente para pegar um autógrafo para mim!
— Você só pensa nisso, né?
— Ele é a porra do maior rockstar do mundo agora! Milhares de pessoas dariam um rim para conseguir saber o endereço de onde ele está e você simplesmente o tem e não está fazendo nada! Claro que estou pensando no meu autógrafo, mas me usar para te impulsionar a fazer algo para você também é uma estratégia para que você pare de ser tão... tão...
— Inflexível?
— Teimoso, medroso, você está com medo do que? Mais fotos apareceram na internet?
— Também — e se sentou na cama sentindo o conforto e suavidade do tecido com a ponta dos dedos — mas tenho medo mais de outra coisa...
— O que? — Jimin perguntou, Jhope encarou as paredes cinzas de seu quarto e ficou imaginando como seria conversar cara a cara com um homem que conseguiu deixar ele confortável com poucas palavras, poucas interações e mesmo assim o fez falar tanto, ser ele mesmo, e ainda assim ele não sabia, não sabia quem Jhope realmente era.
— Que essa magia acabe...
— Que magia?
— Esse de não saber quem sou... eu?
— Jhope, está estampado na cara dele o segredo dele, ele não pode esconder de você, agora, saber quem você é... somente ele te conhecendo mesmo.
— E se conhecer? E se souber que não sou... neurotípico?
— E qual o problema dele saber?
— Os julgamentos virão e...
— Esqueça isso, você está ansioso, supondo coisas, é somente uma conversa que você e ele querem ter para saberem como melhorar a sua vida privada para que ela continue privada e ninguém saiba que é você nas fotos, ninguém vai ter conversas profundas, ele não vai descobrir tudo sobre você nessa conversa e...
— E se descobrir?
— Se descobrir, o cara além do cantor mais famoso do mundo, também é puta de um adivinha.
🎸🎸🎸
O placar não foi favorável para o seu time, o rockeiro continuava sentado e largado no sofá, vivendo mais uma noite como se fosse qualquer outra, ou, pelo menos, era isso que ele tentava fazer: seguir sua vida, sua noite, como todas as outras, mas essa era diferente, nesta esperava um milagre acontecer, um homem aparecer, tomar coragem e conversar cara a cara com ele; sem escuridão, sem segredos e fingimentos; suspirou ao olhar o relógio. já eram dez horas da noite.
Pegou o controle remoto da tevê e abaixou o volume, andou arrastado pela preguiça até o bar de mármore preto perto entre a cozinha e a sala de estar, abriu uma cerveja e bebericou o líquido como se fosse água, encarou a paisagem da cidade de Toronto e sentiu um aperto no coração que crescia à medida que as horas passavam. Tae tinha saído às sete horas, deveria perder as esperanças de vez, deveria sair, encher a cara em um bar como sempre e...
"Nunca te vi e só pela forma que você fala já imagino que deve ser muito bad boy mesmo... daqueles que toma tequila pura somente para ficar bêbado nas festas e beijar várias pessoas esquecendo de que o corpo é mortal", as palavras de Jhope invadiram sua mente, o rosto dele de assustado naquela porta era dono daquela voz suave, bela e instigante, ficou até impressionado em como ele parecia pequeno, magro, frágil e... a porta havia se fechado na cara dele.
Bebeu mais da cerveja e encarou o mármore preto, apoiou as mãos ali, inclinou a cabeça para frente pensando com os cabelos pretos e longos caindo em sua testa, sentindo a latinha molhada entre os dedos longos e finos, o suor dela escorrendo entre seus dedos, respirou fundo, aquele rosto, aquela reação, ele tinha medo dele? Jhope o evitou por medo? Aversão ou somente surpresa? Não conseguia decifrar as reações dele agora que elas tomaram uma forma física e não eram somente palavras na escuridão.
Tinha se vestido para ser visitado, mas usava o habitual, algo que usaria em uma balada ou na entrevista que teria no dia seguinte, a jaqueta preta escondendo boa parte de suas tatuagens pelos braços, uma camiseta preta lisa, calça jeans larga e escura, as botinas de sempre, tinha até passado perfume e lavado o cabelo, demorado mais do que o normal e se preocupado mais do que o comum já que Jhope poderia o ver de fato agora, e não com um boné e moletom qualquer.
Suspirou e levantou a cabeça devagar, olhando como o apartamento era enorme, luxuoso e ainda assim vazio, tinha Tae, mas o tinha como sempre teve, um funcionário, às vezes um amigo, era quase uma família de duas pessoas e, ao notar isso, balançou a cabeça tentando não pensar na própria família, mas a imagem do pai logo tomou sua cabeça, suas inúmeras discussões, a forma como reprovou desde o começo os sonhos do filho, a mãe quieta, o irmão mais novo o idolatrando por qualquer coisa e... o som do interfone rompeu seus pensamentos.
Correu até a parede mais próxima, segurou o interfone na orelha, sentiu o coração disparar e isso só foi piorando à medida que o porteiro do prédio comentava que uma pessoa, um homem, asiático, estava lá embaixo falando que tinha ido visitá-lo. O nome dele era Jhope e o cara do outro lado da linha nem tinha terminado de perguntar se poderia deixar ele subir quando Yoongi falou sentindo o coração na garganta:
— Sim, sim, deixe-o subir... — e quando desligou, encarou de novo o apartamento e pensou em mil e uma coisas que poderia ter feito para deixá-lo melhor, em outras roupas que poderia estar usando, em outro perfume, mas nada fez, ficou petrificado, parado e sem conseguir respirar enquanto encarava a maçaneta da porta que, uma hora ou outra, iria girar e fazer quem ele tanto esperava entrar naquele apartamento.
🎸🎸🎸
Primeiro achou um absurdo a câmera de reconhecimento facial no portão do prédio, depois achou ainda mais louco ter pisos que brilhavam, tanto pretos quanto brancos, enquanto andava até o elevador, depois ficou um tanto impressionado com o pequeno lago com carpas no hall e, por fim, ficou impressionado com o cheiro bom e doce que aquela caixa de metal tinha quando entrou e apertou o botão da cobertura.
Fechou a cara quando pensou que estaria no último andar, o prédio era enorme de fora, e ver os números de 1 a 30 ali estampados e brilhando com a luz azulada fez ele quase contar mentalmente os metros enquanto o elevador subia. Preto, cheio de camurça em volta, tentou evitar os pensamento sobre a sujeira e trabalho que daria aquilo, arrumou a roupa a alisando ainda mais, se sentindo muito deslocado ali, usava sua camiseta branca, não ousaria usar rosa de novo, e se alguém o visse entrando ali e ligasse alguns pontos? Não queria nem pensar.
Evitar pensar em qualquer coisa era algo que estava fazendo assim que tomou a decisão de ir encontrá-lo sem nem ao menos avisar, mas, em sua defesa, dizia para si mesmo que ele tinha feito algo bem parecido e que estava no direito de fazer também. Quanto mais tentava não pensar, mais sua cabeça focava em tudo ao seu redor, como tudo era grande, bonito, brilhante e...
Estava parando diante do apartamento 22B, não conseguia tocar a campainha, se sentia paralisado, como se, no momento que tocasse e a porta se abrisse, tudo mudasse, como se estivesse prestes de entrar em um momento diferente de sua vida, como se estivesse na travessia, em um ponto que tudo muda e ele tinha a escolha de ir adiante ou dar meia volta e ir embora. Ele poderia simplesmente ignorar tudo, sair dali e fingir que nada aconteceu.
As fotos e fofocas, com o tempo, ficariam no passado como tudo que acontece com celebridades e vai para a internet fica, seriam substituídas por outras coisas de outras pessoas e ele poderia viver sua vida normalmente, como se aquele garçom não tivesse o colocado na cabine errada na boate Love Is Blind. Ele poderia simplesmente fingir que nada tinha acontecido, seus livros ainda estariam lá para serem corrigidos, Jimin continuaria forçando ele a sair quando estivesse na cidade e Claire ainda o atenderia toda a semana ouvindo seus conflitos internos.
Nada demais aconteceria, nenhum rockstar ficaria na sua vida e faria ele se sentir confortável em tão pouco tempo, sua vida seguiria como um rio tranquilo na medida do possível, Jhope sabia que já enfrentava coisas demais na vida por conta de sua mente diferente, sabia que às vezes algo comum e corriqueiro era, para ele, um aflição complicada de lidar.
E, mesmo sabendo que sua vida já não era simples como da maioria das pessoas, ele esticou a mão e apertou a campainha, torcendo para que, além de complicações, aquela conversa com Min Yoongi o fizesse se sentir em paz depois de tantas horas torturantes que tinha já enfrentado naquele dia atípico assim como ele.
🎸🎸🎸
A porta se abriu devagar relevando os ombros largos, a jaqueta preta com algumas pontas de espinhos nos ombros, a camiseta de mesma cor e lisa por baixo, o jeans largo e escuro acentuando as pernas grossas, o cinturo brilhante com uma caveira no centro como uma fivela, as botinas preta e grandes, o colar, as pulseiras e os cabelos longos até os ombros, lisos e brilhantes e, por fim, aquele maldito e belo sorriso de orelha a orelha.
— Sabia que você ia aparecer — a voz rouca de Min Yoongi fez Jhope estremecer.
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