💜CAPÍTULO VI: MELHOR AMIGO💜
"O rosto dela é um mapa do mundo
É um mapa do mundo
Você pode ver que ela é uma linda garota
Ela é uma linda garota
E tudo ao redor dela é uma piscina de luz prateada
As pessoas que a cercam sentem o benefício disso
Isso acalma
Ela te mantém preso na palma da sua mão" — Suddenly I See (KT Tunstall).
Sempre que encontrava uma situação social complicada e se via perdido nela, seguia os conselhos de sua psicóloga: primeiro ponto, aquilo poderia ser algum tipo de piada com ele mesmo? Jhope aprendeu que, muitas vezes, os conhecidos não davam risadas do que falavam para ele e sim do que diziam sobre ele.
Não conseguia entender quando zoavam com sua cara, parecia até ingênuo demais, mas isso não era ingenuidade, não era nem mesmo uma opção, ele simplesmente não entendia. Mas Jimin nunca tinha feito isso e até tinha salvado Hoseok de situações estranhas em que estavam dando risada dele.
Então, não era uma piada sobre ele, poderia ser somente uma piada? Tinha algum contexto anterior para isso? Na terapia, aprendeu que piadas em contextos sociais vinham sempre com um contexto anterior... mas em qual contexto aquilo tinha vindo? Com somente um bom dia, então, provavelmente não era uma piada...
Precisou se certificar, a voz do primo soou muito melodiosa.
— Isso é uma piada?
— Que? Não, Jhope, você literalmente...
— Você usa literalmente de formas erradas...
— Não me interrompa porque, desta vez, está certa... até perguntei pro Jungkook...
— Ele também não é uma boa referência para isso...
— Jhope! — Jimin quase gritou e sua voz falhou no final — pode me deixar falar? Meu deus... você literalmente, repito, literalmente foi visto saindo da porra do banheiro da Love Is Blind com o rockstar Min Yoongi, quando ia me contar isso?
— O que? Isso... o que? — falou perplexo e piscou os olhos duas vezes — você está... sendo irônico?
— Não! Claro que não! Achei que era seu melhor amigo! Como escondeu isso de mim?
— Único amigo — Jhope o corrigiu, conseguiu até ver Jimin revirar os olhos somente pelo bufar que ouviu em seguida de seu comentário.
— E, por isso também, melhor amigo, ele não tem que ser o melhor de todos e sim o melhor que você tem e...
— Mas você é o único que eu tenho, então...
— Sou, sim, seu melhor amigo...
— Só por que é o único?!
— Me explique pelo amor de Deus por que estamos discutindo se sou ou não seu melhor amigo quando você está em todos os sites de fofocas porque foi visto literalmente, sim, literalmente, com a porra do cantor da minha banda favorita?!
— Porque nós dois somos loucos, idiotas e teimosos? Deve ser de família, deve vir do sangue e...
— Jhope, não é para você responder isso! — falou em um tom irritado e segurando o riso.
— Mas você me perguntou! — falou nervoso sentindo sua mão suar ao segurar o celular.
— Isso é uma piada?
— Eu não sei fazer piada, Jimin.
— Mas às vezes faz sem notar...
— Você me perguntou, literalmente, olha aí um bom uso da palavra literalmente.
— Chega de falar literalmente. Meu cérebro está começando a perder o sentido dessa palavra.
— Como perdeu se nunca teve?
— Jhope! Você está, sim, tirando um sarro comigo agora. Enfim, vai aí mais uma pergunta então: quando ia me falar que viu e falou com a porra do Min Yoongi? E não me venha com nada sobre autismo, me esconder isso é simples e pura traição da mais alta na escala de amizades.
— Não existe escala de amizades...
— Óbvio que sim, acabei de inventar uma, e você caiu muito na minha porque contar que você pegou um rockstar famoso para um caralho é a sua obrigação social, repito, obrigação social comigo sendo que eu sou seu melhor amigo, então, me responde: por que não me contou?
— Contar o que? Eu não vi ele ontem... você está sendo sarcástico? — e juntou as sobrancelhas em dúvida.
— Que?! Não! É sério!
— Isso é uma pegadinha?
— Você se lembra de ontem, né?
— Eu... isso não pode ser real...
— Abre o link que vou te enviar e olha as fotos que tiraram.
Um tanto nervoso, sentindo seu corpo disparar em adrenalina, tirou o celular da orelha e, sem desligar a ligação, abriu o link que seu primo enviou e...
— Ah! — soltou um grito e largou o celular no mesmo instante sobre a mesa de madeira com ornamentos. A capinha de proteção cumpriu sua função pela primeira vez desde que foi comprada: quatro anos atrás.
🎸🎸🎸
Enquanto uns enfrentavam alfinetes no cérebro e no coração, outros ainda dormiam e iam acordar em seguida com seus assessores de imprensa furiosos e com Tae questionando tudo que poderia... já, outros, estavam vivendo o que gostavam de chamar de "averiguando os fatos".
Mary Lee era a típica menina de classe média sustentada pelos pais que morava onde queria, ia quando queria para onde queria e, óbvio, passava boa parte de seu tempo ocioso fazendo o que toda pessoa que não precisa trabalhar ou se preocupar com os estudos faz: cuida, e muito, da vida dos outros.
Sua obsessão particular dos últimos três anos tinha nome, sobrenome, alguns endereços, até o momento cinco números de celulares diferentes e, claro, jaquetas de couro maravilhosas e uma voz tão gostosa de se ouvir que fazia a garota prender a respiração por paixão ou simplesmente loucura.
Seu hino era a frase: Yoongi, marry me? Seu status social no facebook era em um relacionamento sério com meu cantor favorito e na sua bio do Instagram ousava colocar o famoso emoji de aliança e o arroba da última pessoa no mundo que a veria como uma opção de companheira para qualquer coisa.
Fosse casamento, namoro, amizade ou até mesmo par na roda gigante, Min Yoongi nunca optaria por estar com ela, mas a mente de uma fã muito abusada é sempre um parque de diversões em que ela faz o papel de palhaça, atrapalha a atração principal do evento e ainda tem a audácia de dizer que os ingressos estavam muito caros para pouca diversão.
Por isso, assim que acordou e viu as fotos que tirou e vendeu para os jornais na madrugada, logo saiu em disparada procurando qual era o cardigã, qual a marca, quais lojas vendem essa marca e modelo em Toronto e que fosse até que perto da Love Is Blind.
Não demorou muito para encontrar cinco lojas e passou toda a sua manhã preciosa indo em cada uma e perguntando sobre um comprador em especial. A maioria dos vendedores diziam o mesmo de sempre: muitas pessoas compraram roupas aqui, como vou lembrar se um descendente de asiático apareceu aqui? Estamos no Canadá!
Irritada, subornou todos os gerentes para ter acesso às câmeras de segurança do último mês, até mesmo comprou horas dos funcionários para olharem as variadas horas de vídeos que tinha para ver... até que encontrou o que procurava: o asiático com roupas rosas, a data e horário da compra.
Em menos de cinco horas da manhã de um sábado, Mary Alicia Lee conseguiu, após pegarem no sistema da terceira loja que visitou a nota fiscal, o nome, sobrenome e até mesmo telefone de contato do homem que tinha saído do banheiro com o amor da sua vida.
O que Min Yoongi não conseguiu em uma noite conversando, o telefone, a doida e sua fã "número um" com uma medida de restrição de quinhentos metros conseguiu com várias horas de vídeo e mais algumas notas altas de dólares dadas para funcionários das lojas.
Ligou, ninguém atendeu, ligou de novo, caia automático na caixa postal, deveria estar ocupado, talvez em uma ligação... saiu da loja determinada a chegar em casa e procurar o nome do sujeito em todas as redes sociais possíveis.
Com seu cabelo loiro platinado em babyliss, suas unhas postiças, os cílios com alongamento e a maquiagem escura ainda da noite anterior (como se alguém tivesse visto algo naquela escuridão toda da Love Is Blind), ela seguiu até seu apartamento segurando seu celular no peito como se fosse seu bem mais precioso.
Afinal, conseguir estar perto de uma pessoa que tinha estado tão perto e íntima de seu ídolo era algo tão animador e incrível quanto conseguir, na noite passada, uma guitarra e ingressos de graça! Sua vida estava tão emocionante, tudo poderia melhorar...
🎸🎸🎸
Após seu grito estridente que fez todas as pessoas ao redor do café olharem estranho para ele, um funcionário começou a ir até a sua mesa, mas Jhope o logo o dispensou com um aceno de mão.
Sentiu seus pulmões tentarem puxar o ar, mas não conseguia, olhou ao redor e, se ao sair de casa achou que estava sendo observado, notou que, agora, de fato estava sendo, sem sombra de dúvidas.
Poderia ser somente por conta do grito após ver a foto do seu cardigã em vários sites de fofoca insinuando um caso com o rockstar ou poderia ser porque ele estava usando essa mesma vestimenta hoje e...
Eles teriam visto aquelas imagens? Estariam relacionando tudo agora enquanto o olhavam com curiosidade e sem desviar o olhar um minuto sequer? Estariam eles agora tirando fotos dele enquanto olham o celular e o encaram? Estariam... rindo dele? Pareciam sorrir e...
Respirou fundo e, em um único frenesi e rapidez, começou a guardar suas coisas quase derramando o restante do café que tinha tomado quase inteiro no almoço, saiu apressado do lugar, levando o celular de volta para o ouvido.
E se fossem jornalistas? E se tirassem fotos dele agora? E se ele aparecesse em uma revista? Em mais um site de fofoca? Ele não se considerava um rostinho tão lindo quanto Min Yoongi para posar em fotos... ele não poderia lidar com a atenção de tantas pessoas e... ele não gosta disso, ele tem pavor disso e...
— Alô?! Jhope?! Alô?! Você ainda está aí?
— Que porra está acontecendo, Jimin?! — perguntou assim que sentiu o vento frio e gélido da manhã de Toronto tomar sua face na calçada e sair um tanto atrapalhado e ainda terminando de guardar seu notebook e o fechando ao mesmo tempo.
— Eu que te pergunto que porra é essa, Jhope! — terminou de guardar tudo segurando o celular com o ombro e a orelha.
— Eu não me encontrei com ele ontem! Deve ser alguém muito parecido comigo, algum engano e...
— Ata, sim, claro, porque há muitos homens por aí que usam não só um cardigã rosa como também uma blusa salmão e a porcaria de um all star rosa também com um jeans claro! — Jhope parou de andar e olhou ao redor para as pessoas.
Ninguém estava usando rosa na calçada...
— Há mesmo tantos homens assim? — e ouviu o primo bufar.
— Desculpa, fui irônico... — Jhope segurou a raiva e voltou a andar quase tropeçando nos próprios pés de nervoso.
— Puta que pariu, Jimin, eu...
— Desculpa! Mas é você! E a teoria do Jungkook é que...
— Está agora com Jungkook? — e segurou o celular com a mão, ia atravessar a rua, mas um grande ônibus passou na sua frente segundos antes, quase o atropelando, o coração foi até a boca do estômago com o susto e sentiu o pulsar martelar com rapidez no peito magro.
Ficou até vermelho quando viu o rosto pela terceira vez naquela manhã, desta vez, estampado em uma propaganda de jóias em um enorme cartaz colado em toda a lateral do ônibus público.
Minha nossa Senhora das Coincidências, parece que esse homem pegou essa manhã toda para aparecer feito uma assombração ou fantasma para mim, que isso? Algum tipo de pegadinha de televisão? Será que ainda fazem pegadinhas para a televisão?
— Diferente de você, ele dormiu comigo ontem... — Jhope revirou os olhos e tentou de novo atravessar a rua ao ouvir Jimin, desta vez, se lembrando de olhar para os dois lados.
— Nada novo...
— Enfim, a teoria dele é que você simplesmente não sabe que se encontrou com Min Yoongi, mas se encontrou, só não notou até agora porque... bem, estava tudo escuro, e a interação com uma pessoa nova você ficou assustado e quis ir embora assim que chegamos... já a minha teoria.
— Qual é... — e ouviu um carro passar as suas costas assim que chegou do outro lado, uma música alta soava dos alto falantes, um rock com direito a guitarra, bateria e até mesmo teclado, Jhope olhou para trás sob os ombros ao reconhecer a voz de ontem, a voz que conversou na cabine, a voz do banheiro e...
Não pode ser, não, não, não, não pode ser.
— Você está fazendo uma pegadinha no seu primo que ama a banda Just Yours e vai me dar adiantado de aniversário um encontro com o Min Yoongi... eu prefiro acreditar na minha teoria, claro, ela é bem mais provável e...
— Nunca pensei que iria falar isso, mas o Jungkook deve estar certo...
— O que?! E o meu encontro com a minha banda favorita?!
— Ontem... eu me encontrei com alguém na cabine por engano e... ele disse — Jhope andou apressado até seu prédio e notou que, não somente as pessoas o olhavam, mas uma sensação de estar sendo perseguido por alguém tomou conta de seu coração, sua nuca parecia até esquentar, olhou várias vezes para trás, mas não viu ninguém o seguindo... não diretamente...
— Jhope?
— Acho que alguém está me seguindo... — ouviu Jimin bufar.
— Está entrando em paranóia de novo?
— Eu sou autista!
— E desde quando mania de perseguição é característica de autismo? Nunca foi, você sempre tem essa paranoia quando fica nervoso, desde criança você tem isso, foi logo depois que começou a sonhar com uma perseguição em um pesadelo, se lembra? É sempre assim, quando fica nervoso, as coisas saem de controle, ou tem um ataque de pânico, ou acha que está sendo perseguido e... você não está.
— E se eu estiver?
— Jhope... o que ele disse?
— Disse que o nome dele era Min Yoongi... igual ao do cantor.
— Você quer mais provas? As fotos, você nelas, o nome dele e... Meu Deus, eu não vou receber uma surpresa com a minha banda favorita, não é?
— Preciso desligar.
— O que? Justo agora? Você está paranóico e...
— Alguém está me seguindo...
— Jhope... — e desligou na cara do primo.
🎸 🎸 🎸
Obrigadão por ler até aqui!
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Até o próximo capítulo!
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