👠CAPÍTULO III: CINDERELA👠
"Onde você pensa que está indo, amor?
Ei, acabei de te conhecer
E isto é loucura
Mas aqui está meu número
Então me ligue, talvez" — Call Me Maybe (Carly Rae Jepsen).
Yoongi andou entre vultos e luzes piscando no teto do bar do encontro às cegas, saiu em disparada com o cardigã rosa nas mãos, sentindo como era macio e até pequeno demais em suas mãos com os dedos calejados devido os treinos com a guitarra, o violão e o baixo – sabia também tocar bateria, piano, mas não tanto quanto os três primeiros.
Uma maré de corpos invisíveis com aquela escuridão sem fim, ouviu ele dizer que iria para o banheiro, mas suspeitava que poderia estar indo embora também, a única coisa que restava era tentar seguir até o banheiro e rezar para encontrá-lo lá... como se pudesse identificá-lo olhando... seria impossível, mas teria que tentar.
Ele não poderia simplesmente sumir assim e Tae disse que não era o garoto que planejou para Min encontrar, tudo isso estava muito estranho, poderia ser um fã fingindo não conhecê-lo... mas a forma tão natural que reagiu... não poderia ser, era alguém que de fato não sabia quem ele era, sabia quem era o rockstar, tinham estudado juntos... como tudo isso poderia ser possível?
Esses pensamentos serpenteava a mente turbulenta e confusa do cantor enquanto ele esbarrava na multidão e empurrava as pessoas murmurando um "desculpe" aqui e acolá na tentativa de sua voz passar despercebida, colocou uma das mãos no ombro de alguém e pediu licença com a voz em um tom mais alto do que gostaria, só que estava tão perto da placa do banheiro masculino, ela brilhava e ele jurou ver um vulto com uma camiseta de cor salmão entrar rapidamente ali.
Seu coração acelerou, mas quando ia dar mais um passo após empurrar o ombro, sentiu uma mão segurar seu pulso com força, parando ele de andar.
Respirou fundo, será que alguém tinha reconhecido ele ou confundindo com alguém da pista de dança que estava ali no meio bagunçado e perigoso de corpos se batendo uns contra os outros? Tentou se soltar até ouvir a voz esganiçada que, vira e mexe, chegava em seus ouvidos em algum momento do mês.
Oh maldita... pensou, me achou até aqui?! Que má sorte do caralho...
— Yoongi?! — ela gritou.
Óbvio que reconheceria o tecido do casaco de couro, claro que talvez tivesse notado o seu perfume, mas o que delatou o rockstar foi sua voz um pouco mais elevada no "com licença?".
O que poderia passar despercebido por qualquer outro fã, menos por ela, Mary Lee era a perita, pós-graduada, stalker e obcecada número um de Min Yoongi, o rockstar mais famoso do mundo.
E, óbvio, ela o reconheceu mesmo em uma penumbra escura como o inferno. Seguia ele em todas as cidades com a fortuna do pai como mesada e, sabe lá como, descobriu que ele tinha voltado para Toronto, sua terra natal.
Jogou com rapidez a roupa rosa sobre seus ombros e então se dirigiu até ela rapidamente. Ele levou ela até uma parede de tanto que a arrastou segurando um braço com uma mão e tapando a boca dela com a outra:
— Mary Lee! Fica quieta! — sussurrou ainda segurando a boca dela, a garota de cabelos longos, loiros e olhos ocidentais começou a rir sem parar, chamando um pouco de atenção.
Graças a Deus estavam em uma escuridão, Min Yoongi pensou, não teria que ver pessoas o encarando e muito menos aquele rosto familiar que deixava ele arrepiado de medo de tanta perseguição que sofreu.
— O que você quer para ficar quieta, esquecer que me viu e não comentar com ninguém, ninguém — e aproximou o rosto dela — que me viu aqui? — soltou devagar a boca dela com medo de outro grito, mas somente pequenos risos saiu dali.
— Quero sua guitarra nova — ela disse com a voz melosa, Yoon revirou os olhos, colocou as mãos na cintura e suspirou falando:
— Tá bom.
— E um ingresso grátis para o primeiro show da próxima turnê.
— Tá bom! Parou de extorquir?
— Sim... — e silêncio entre eles — promete?
— Sim, agora, tchau, Mary Lee — ele disse andando e ela gritou ao fundo:
— Tchau, meu amor e... você se esqueceu da medida de restrição, né? — ela riu com a risada se afastando cada vez mais.
Min parou de andar ainda de costas para ela; óbvio que a garota não poderia contar a ninguém que o viu, se não, poderia ser presa devido à ordem de restrição de quinhentos metros que a justiça colocou para ficar longe do cantor.
Mas, no desespero, ele nem lembrou disso. Era só uma guitarra, tudo bem, agora precisava achar o dono do maldito cardiã rosa que pegou dos ombros... fechou os olhos se arrependendo de ter prometido também o ingresso, a maldita iria conseguir, de novo, entrar no camarim de alguma forma... mesmo com a ordem...
Entrou no banheiro com o letreiro masculino brilhando em azul acima de sua cabeça, a luz brancoa o cegou em um primeiro momento e viu, na hora, seu reflexo perfeito diante do espelho enorme e da pia de mármore branco.
Respirou fundo e andou pelos mictórios... ninguém, graças a Deus e... olhou as cabines, inclinou o corpo para ver por baixo e surgiu dois pés somente na terceira cabine.
All star... rosa. Min Yoongi sorriu, andou devagar até a cabine dois, se fechou ali dentro e pigarreou, o que fez Jhope levar um leve susto pelo barulho que ouviu dele batendo na porta que estava com as duas mãos e cabeça encostados.
— Jhope? — ergueu mais a voz, o garoto do lado sentiu o coração disparar... era ele, ele tinha vindo até o banheiro e... por que? Tinha ido atrás dele para o quê? Ele era somente um menino estranho e... — descobri que você não era meu encontro às cegas — o garoto fechou os olhos com força ao ouvir aquilo — e, sinceramente, não ligo para isso... é você aí, né?
Hoseok confirmou com a cabeça para segundos depois se tocar que Yoongi não conseguiria vê-lo. Meus Deus, como posso ser tão lerdo assim? Sou autista, eu não deveria ser um gênio ao invés de um obcecado por cores quentes principalmente o rosa? E foi pensando nisso que se tocou que estava sem o seu cardigã rosa.
— Jhope?
— S-s-sim... sou eu — falou por fim.
— Preciso que você saia da cabine para... eu te contar a minha verdade.
— Não consigo sair da cabine...
— Por que? — merda, como explicaria isso?
Deixou seus fones também na merda da cabine e, quando andou até o banheiro, teve uma crise ferrada e ficou tremendo sentado ali, até que poucos minutos antes de Min entrar, ele tinha conseguido ficar de pé e se encostado com as mãos e cabeça na porta.
— A música me... assusta — não era mentira — me incomoda e... estou sem meus fones — Yoongi juntou as sobrancelhas na outra cabine.
— Fones?
— Anti-som e ruído.
— Estava usando na cabine?
— Sim... e-e-eu preciso deles para sair daqui.
— Tudo bem, posso pegar eles.
— Não! — cada reação mais desesperada que a anterior.
— O que posso fazer então? Ficar aqui na cabine?
— S-s-sim... preciso de companhia, e-e-eu... — e tomou fôlego — estou surtando — e Yoongi se deu conta de que o amigo... poderia chamá-lo de amigo? Parecia realmente em pânico, parecia tremer a cada palavra e engolir um seco ou respirar fundo.
— Está tendo um ataque de pânico por causa da... música? — Yoon perguntou.
Jhope encostou a cabeça de novo na porta e sentiu o suor escorrer por seu corpo. Sim, era quase isso, era mais o medo desordenado pela bagunça, pela falta de sincronia e como tudo parecia muito alarmante... mas, sim, envolvia a música de alguma forma. Ele concordou com a cabeça de novo e revirou os olhos:
— Sim... — até quando iria concordar com a cabeça e se esquecer que ele não poderia vê-lo?
— Bom... tentou respirar? Claro que tentou... bom, posso tentar te contar algo engraçado ou... sei lá, o que se faz quando alguém está assim?
— Só cala a boca — e tremeu mais, o silêncio de Yoongi foi ensurdecedor — m-m-me desculpa — Yoon riu.
— É a primeira vez que alguém manda eu calar a boca e eu obedeço.
— Parece que não está obedecendo...
— Mas eu fiquei quieto esses... minutos?
— Cinco segundos.
— Você contou?
— Claro que contei, foi tão constrangedor e me senti muito culpado — Yoon negou com a cabeça.
— Você é muito bonzinho, está tendo um ataque e eu estou sendo um inconveniente e mesmo assim se sente culpado?
— Não foi inconveniente.
— Fui o que, então?
— Chato — Yoon riu baixo.
— Também, sou um chato só se você for o mandão... — Jhope revirou os olhos e já não sentia tanta tremedeira assim.
— Eu nunca fui bom em mandar em nada...
— Parece que seu ataque de pânico despertou seu super poder de mandar...
— Do que adianta mandar se ninguém me obedece?
— Eu obedeci!
— Cinco segundos!
— Melhor do que dois... que foi o máximo que fiquei quieto quando meus pais pediram, por exemplo, estaria a fim de ensiná-lo como me adestrar? — Jhope respirou fundo e desencostou da parede.
— Você precisa de adestramento? Tipo como um... cachorro? — ele perguntou se sentando no vaso e sentindo a respiração se acalmar cada vez mais. Yoon deu de ombros e encarou a porta cinza de sua cabine.
— Um tanto, mas não muito, isso tiraria minha fama de bad boy — Jhope sorriu de lado.
— Nunca te vi e só pela forma que você fala já imagino que deve ser muito bad boy mesmo... daqueles que toma tequila pura somente para ficar bêbado nas festas e beijar várias pessoas esquecendo de que o corpo é mortal — Jhope arregalou os olhos quando terminou as frases.
Era como se tivesse dado permissão total para que seus pensamentos deslizassem para fora de sua boca sem nenhum tipo de filtro social ou pudor, era como se permitisse ser ele mesmo sem rodeios ou barreiras sociais; fechou os olhos de novo com medo da reprimenda que o garoto na cabine ao lado daria, mas, ao ouvir aquele som, foi abrindo os olhinhos bem devagar... risada? Min Yoongi estava rindo?
— Acertou na mosca, mandão... você... está melhor? — e Hoseok estava muito melhor.
— S-s-sim...
— Saí da cabine então...
— Não...
— Por que?
— Sai do banheiro primeiro...
— Não quer que eu te veja?
— Vai acabar com o encanto... — argumentou Jhope.
— Pelo menos me dá seu telefone — e Jhope soltou uma risada baixa.
— Não...
— Está me dispensando?
— Eu não era seu encontro às cegas...
— Não me importo....
— Não vou dar meu telefone — Yoongi revirou os olhos e Jhope ouviu a porta da cabine se abrir ao seu lado, ainda bem que a sua estava trancada, ele olhou para baixo e viu as botas pretas que o garoto usava em contraste com seu all star rosa.
— Vai fazer eu procurar por você em todo reino usando esse — e ergueu o cardigã rosa no alto — sapatinho de cristal, cinderela? — Jhope revirou os olhos e pegou o cardigã — devolvido, então, em troca... me dá o seu número?
— Não... — Yoon bufou.
— Tá bom...
— Não está acostumado a ouvir não, né? — Min Yoongi riu com isso e andou de um lado para o outro mexendo nos cabelos.
— Não estou... — Jhope sorriu de lado segurando seu cardigã.
Queria muito vê-lo, descobrir seu rosto, passar mais tempo com aquela pessoa que era tão fácil ser ele mesmo sem rodeios ou medos... mas, como em um conto de fadas, a meia-noite chegaria e Min Yoongi não iria gostar tanto dele assim depois que... descobrisse...
— Me dá seu telefone — Hoseok disse, Yoongi ergueu a cabeça e encarou a porta.
Isso ele não esperava, se ele desse o número... então, poderia correr o risco de outro celular vazar, mas se até mesmo Mary Lee não tinha descoberto até agora... seria possível Jhope ser um fã disfarçado? Impossível, já teria se atirado em seu pescoço nessa altura do campeonato.
— Só se me prometer que não vai passar para ninguém...
— E por que eu passaria seu telefone para alguém? — Jhope disse juntando as sobrancelhas. E Yoongi conseguiu contornar bem a situação.
— Bom... vai ver que você notou minhas habilidades para lidar com pessoas com ataques de pânico e decide fazer uma caridade distribuindo meu número para todos que conhece... — Hoseok revirou os olhos.
— Não vou passar para ninguém... — Yoongi tirou uma caneta do bolso.
— Passa sua mão por baixo da cabine...
— Por...
— Só passa... — ele agachou, tremeu um tanto, sentiu os dedos pesados e grossos, calejados até, segurarem seus dedos e virar sua palma para cima, sentiu a caneta ali sendo deslizada e um arrepio percorreu seu corpo — pronto, tem meu número, sei que tudo isso é uma loucura, mas...
E Jhope esperou... esperou... e quando achou que nenhum restante de frase iria vir, ouviu a outra porta do banheiro se abrir:
— Sei lá, me liga, talvez.
🎸🎸🎸
Obrigadão por ler até aqui!
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Até o próximo capítulo!
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