💬CAPÍTULO I: MÁ REPUTAÇÃO💬
"Eu não estou nem aí para a minha reputação
Eu nunca tive medo de qualquer divergência
E eu realmente não me importo se você acha que sou estranha
Eu não vou mudar" – Bad Reputation (Joan Jett).
Pensou naqueles belos lábios nos seus, o tremor invadiu cada pedaço de seu corpo enquanto ele encarava as luzes do elevador acender em cada andar. Primeiro o um, depois o dois, depois o três... com as paredes pretas, os espelhos refletiam as luzes brancas e as luzes claras de cada número; o cheiro de lavanda, misturado com o álcool forte em seu hálito, era tudo que sentia sem se sentir minimamente zonzo.
Fechou os olhos e olhou para cima, sentindo ainda o couro frio de seu casaco cobrir perfeitamente seus ombros largos, sentiu, ainda, seu coração acelerar com as lembranças... mas isso fazia tanto tempo, não sabia se alguma vez tinha sentido tanta paixão quanto naquele dia, antes de ser tão famoso, antes de uma maré de paparazzis invadir sua vida... antes de não ter um alter ego tão forte em tudo que fazia, via e sentia.
Abriu os olhos quando o elevador apitou, o corredor escuro foi ficando claro com os passos que dava, o sétimo andar era bem silencioso aquela hora da noite, mas sua cabeça estava repleta de perguntas sem respostas, receios que invadiam seu coração desde quando ganhou seu primeiro prêmio como músico. Será que algum dia sairia de casa sem se sentir observado? Será que um dia confiaria em alguém ao ponto de notar que aquela pessoa de fato o amava por ser quem era e não por quem ela gostaria que ele fosse?
Ele não era somente suas músicas, sua fama e seu dinheiro, apesar de quase todos a sua volta dizerem isso; ele não era somente o tanto de seguidores que tinha, muito menos as fotos nas capas de revistas e entrevistas para a televisão; não, seu verdadeiro eu permanecia bem escondido após as duas horas da manhã desta quinta-feira, somente quando ele subia aquele elevador e se permitia ser, por alguns segundo, inseguro e vulnerável em relação a sua vida como um todo.
Era comum para Min Yoongi ser adorado onde quer que fosse, mas havia um pequeno grande problema: nunca sabia em quem realmente confiar, nunca entendia se adoravam ele ou a ideia de quem ele era naquele mundo; era amor ao grande rockstar com seus grammys ou era pela sua personalidade forte e jeito extrovertido?
Ele nunca sabia a maldita resposta para isso.
Seu amigo, empresário e ajudante de produção musical, Kim Taehyung, sempre lhe dizia para não pensar muito sobre isso, mas, para o colega, que viva por trás das câmeras, comandando os bastidores dos shows e orientando a banda, era fácil falar; não era ele quem recebia tanta adoração sem nem saber o nome de cada pessoa que gritava "eu te amo" sem pensar duas vezes ao ver Yoongi na rua.
Sem mencionar o inevitável e persistente: "Yoongi, marry me?"* que aparecia em suas lives, comentários de fotos no Instagram, mensagens diretas no Twitter e em cartazes grandes durante os shows, fosse em turnês ou festivais. Odiava isso, como alguém poderia querer casar com ele se mal o conhecia? Por outro lado, seus fãs acreditavam saber certamente quem ele era.
Um jeito um tanto descolado e bad boy, usando sempre roupas pretas, cantando rock pop com uma bela voz, um jeito charmoso com sua língua toda vez que molhava os lábios quando sentia a boca seca; suas roupas chiques e de marca sempre que ia em um evento, acompanhado ou não. Para eles, ele era o homem perfeito, cheio de si, confiante e bonito, elegante e sorridente, mas poucos conhecem quem ele realmente era... poucos, também, gostavam do que viam.
Toda essa adoração enchia seu ego e, fazendo o que sempre queria, não se importava nem um pouco com sua reputação de bad boy, visto como um verdadeiro hetero top, admirado pela geração millenium e Z, com músicas virais no TikTok e lotando estádios de futebol em um piscar de olhos após liberar os ingressos no site.
O que não gostava era como, sempre, era reduzido aquilo; como se fosse somente a fama e dinheiro, como se a importância de si mesmo estivesse incrustada em coisas tão supérfluas que o permeia de ódio e aversão. Era visto como um rockstar com problemas com álcool ou um artista incompreendido e genial e, por isso, era amado. Somente por isso, e não por sua essência, aquela que escondia sempre que alguém novo se aproximava.
Suspirando, ele abriu a porta devagar do apartamento após passar a chave eletrônica, o cartão, pelo vão. Não, Tae nunca entenderia completamente seu lado, ele pensou ao passar para dentro do ambiente escuro e cheirando a perfume amadeirado e forte. Fechou a porta atrás de si e, em seguida, ouviu a tão conhecida voz ao fundo.
O rockstar tinha acabado de voltar, de madrugada, para o apartamento que dividia com o empresário e produtor musical, não gostava de passar muito tempo sozinho e, como ele tinha sido seu amigo até antes da fama, conseguia achar que ele gostava dele por quem era e não uma ideia que tinha criado do amigo.
— Onde passou a noite desta vez? — era a voz rouca e suave de Taehyung, sentado e jogado no grande sofá de luxo dentro da suíte principal daquele hotel no centro de Toronto; sem estar em turnê, Yoongi gostava de passar suas noites tentando ser um anônimo comum que com seus vinte e oito anos se comporta como um adolescente bebendo e se divertindo.
Porém, não era qualquer jovem que conseguia ingressos vips para qualquer balada que queria de forma gratuita e, ainda, recebia drinks de graça, somente pela sua presença; até aqueles alienígenas que nunca tinham ouvido falar em seu nome, logo percebiam que a presença dele indicava alguém com muita, mas muita, fama.
E isso chamava atenção o bastante para sempre ter uma companhia, por mais que fosse por puro interesse... todos têm seus interesses e eu posso ser, às vezes ou sempre, parte deles, pensou consigo. Todos ao seu redor queriam um por cento de sua fama, mas quase ninguém notava como isso lhe custava muitas, mas muitas, coisas em sua vida.
Liberdade, amor e privacidade.
— E isso importa? — Yoongi disse andando cambaleando para dentro do apartamento, um tanto bêbado ainda, tirando o casaco de couro sem jeito e jogando ele no chão sem cerimônia.
Em seguida, estirou-se no sofá e encarou a televisão grande de tela plana que passava mais um de seus shows durante a madrugada. Full HD, sentia-se em uma realidade paralela onde conseguia assistir a si mesmo, como se estivesse, devido ao tamanho da tela, dentro de seu próprio show.
— Só espero não acordar amanhã com mais um... escândalo, os seus assessores merecem um pouco de paz, sabe? — Tae comentou, Yoongi riu baixo e passou uma das mãos pelos longos, lisos e sedosos cabelos, ele respirou fundo e ficou pensando nas mulheres e homens que ficaram com ele naquela balada, será que algum deles trocaria as informações sobre as intimidades de um rockstar famoso por alguns bons trocados para os jornalistas no dia seguinte?
Só aguardando para saber, pensou Yoongi.
Mas aqueles lábios... gostaria de poder, um dia, saborear um beijo sem receio, sem entraves, como tinha feito tantas vezes na escola com meninos e meninas... que falta fazia a simplicidade daquele tempo em sua vida atribulada de agora.
— Não importa, no final das contas, não será sobre mim, será sobre quem eles acham que eu sou... — ele comentou, Tae o olhou de lado — e por que você ainda está acordado? — ele perguntou encarando o amigo que vestia uma bela blusa de cardigan vermelha e uma calça social preta.
Tae deu de ombros.
— Fiquei preocupado... — Min revirou os olhos e desviou o olhar — inclusive, tenho uma ideia para o seu... receio em conhecer novas pessoas...
— Inventou de fazer milagres? — Yoongi disse com sarcasmo — melhor começar transformando água em vinho para me ajudar a não ficar muito tempo sóbrio enquanto estou de — e fez aspas com as mãos ao dizer — férias.
— Um novo bar abriu esses dias e...
— Ah não, Taehyung, não vou inaugurar e nem fazer publicidade de nada até o próximo álbum...
— Eu sei e... como anda a produção dele? — Yoongi suspirou.
— Não quero falar sobre isso, estou há somente uma semana de férias, ok? — Tae levantou as mãos como se estivesse sendo assaltado e riu baixo.
Odiava aquela pressão de sempre mais, mais visualizações, mais likes, mais shows, mais músicas, mais álbuns... mais dinheiro; inspiração era o que não faltava, porém, naqueles dias, sentia-se um tanto vazio, como se algo dentro de seu peito o consumisse, a estagnação, e nenhuma ideia sutil apareceu desde então.
— Sim, senhor... sem pressão — e abaixou as mãos — enfim, não era para isso, pensei em darmos uma passadinha por lá... para ver como é, a proposta do bar é meio... diferente e até inovadora, eu gostei — Min olhou de canto de olho para o amigo de quarto e juntou as sobrancelhas.
— Só pode ser maluco... se eu vou em qualquer lugar sou reconhecido e...
— Exatamente, neste bar, você não será reconhecido e tenho um amigo de um amigo que jura nunca ter ouvido suas músicas... — Yoongi riu com escárnio, como se isso fosse possível, como se isso não fosse mais uma mentira como todas as outras somente para fãs conseguirem ter contato com ele.
— Jura? — falou com sarcasmo na voz grossa.
— De qualquer forma, isso não importa, não saberá que o encontro será com você... — e Tae desviou o olhar para a televisão, o rosto cansado, a respiração ficando cada vez mais lenta, Min Yoongi ainda não tinha entendido.
— Como assim?
— O bar é... todo escuro, feito somente para encontros, literalmente, às cegas — o rockstar levantou as sobrancelhas quando o produtor musical o encarou, sorrindo, e disse antes de respirar fundo, levantar e andar até o quarto — então, é meio impossível te reconhecerem se a pessoa diz nunca ter escutado uma única música sua...
— E esse amigo de um amigo é... gatinho? — Yoongi perguntou com o sorriso nos lábios enquanto Tae andava pela grande sala de estar e se direcionava para o corredor dos quartos, com as paredes de vidro desvendando todos os outros prédios e luzes às suas costas em tons de azul e branco, ele se apoiou no batente da porta, se virou devagar e deu de ombros.
— Não sei, nunca vi ele...
🎸🎸🎸
— Por favor, Hoseok, eu quase nunca venho te visitar! — Park Jimin exclamou, energético e insistente.
— Por isso mesmo, deveríamos ficar em casa e aproveitar — Jimin revirou os olhos com a resposta do primo, recostou na mesa da cafeteria que Jung Hoseok tinha trabalho anos atrás e ainda gostava de visitar pela familiaridade do lugar.
Era de manhã, os raios de sol entravam reconfortantes e amarelados pelas portas e janelas altas de vidro para dentro do espaço gourmet e vintage da cafeteria, repleta de vasos de plantas verdes e pequenos e ornamentos de madeira tanto nas mesas da recepção quanto nas paredes e nos lugares para os clientes sentarem.
O primo tinha chegado há dois dias e este tinha sido o único lugar que visitou em todos, a rigidez cognitiva de Hoseok não permitia muitas mudanças nos hábitos, como tinha trabalhado ali durante toda a faculdade e, ainda, tomando café bem naquela mesma mesa todos os anos, nunca mudou a rotina, mesmo depois que mudou de emprego.
Pedia sempre o mesmo café expresso forte com uma tortinha de morango pequena, às vezes, quando ousava, até escolhia uma coisa diferente como a tortinha de morango grande; sentava na mesma cadeira, direcionada para as janelas da rua movimentada de Toronto, no centro da grande cidade, onde as pessoas iam e vinham em suas rotinas atarefadas e casacos de pele com o vento frio.
Jhope olhava sempre para os mesmos lugares procurando a paz e tranquilidade de uma rotina determinada e delimitada de forma que sempre o deixava confortável e calmo, adorava o frio daquela manhã porque era idêntico ao dos outros dias, adorava como, de certa forma, via sempre os mesmo rostos pelas janelas delicadas por todos aqueles anos que estudou e agora trabalhava.
— E se formos em um lugar que você pode até mesmo fingir que é esta cafeteria? — Hoseok juntou as sobrancelhas ao encarar o primo que usava roupas coloridas e chamativas, um contraste com o constante cinza que coloria suas roupas lisas.
O mesmo jeans claro de sempre e o estilo do calçado all star que usava desde os quinze anos de idade; o mesmo modelo, a mesma cor preta clássica com a tira vermelha, amava ele e sempre comprava um igual quando o atual se desgastava com o tempo de uso. Era seu uniforme de todos os dias: camiseta cinza polo, jeans e all star.
— Você está sendo irônico? — Nunca entendia as ironias e isso o irritava profundamente.
— Não, Jhope, estou falando sério. Ouvi falar de um bar novo que abriu que... é todo no escuro...
— Isso só pode dar errado — Jimin suspirou.
— É meio que uma experiência, tem cadeiras, mesas, bebidas, mas a gente não consegue ver quem está do lado, meio que... serve para encontros às cegas, mas a gente pode ir junto e ver como funciona, achei a ideia legal e você não vai precisar se preocupar com a fobia social porque não vai conseguir ver ninguém.
— Mas vou escutar.
— Pode imaginar que é o mesmo som desta cafeteria — Jimin disse erguendo as mãos e voltando elas rapidamente para cima da mesa redonda para dois em que estavam sentado — vamos... por favor, tenho que encontrar alguns amigos da época da faculdade também e...
— Então é por isso, é para ver seus amigos, pode ir sem mim...
— Você nunca sai de casa — e Jhope bebericou seu café.
— E estou feliz com isso.
— Por favor, não quero sair sem você, vim te visitar e iria me sentir culpado, por favor, por favor...
— Tudo bem... — odiava brigas, intrigas, insistências e teimosias. Não era tão fácil de convencer, mas aquele era seu primo, que tinha ficado ao seu lado nos momentos mais solitários e difíceis, quem o entendia e o aceitava, desde criança, sendo quem ele era, sem reclamar, uma única vez, de seu cérebro neurodivergente.
— Isso! E Jungkook vai — disse Jimin bebendo seu chá mate, Jhope respirou fundo e revirou os olhos — não faça essa cara, você sabe muito bem que somos amigos de longa data e... algo a mais... totalmente casual. Claro.
— Eu sei, eu sei... ele só me irritava, parece uma criança que nunca cresce, síndrome de Peter Pan... mas vou, somente eu, você e ele, né? — Jimin concordou — posso imaginar que estamos os três tomando café, mas preciso sentir o cheiro de café.
— Eu o levo escondido.
— E precisamos ficar em uma mesa distante para eu não ouvir as pessoas bêbadas.
— A mais distante possível — falou sorridente.
— E se tiver música de fundo?
— Leve seus fones anti ruídos.
— E se... eu me perder para achar o banheiro?
— Tudo bem, a gente vai lá hoje mais cedo e você faz a sua inspeção do lugar sem estar escuro, vai reconhecer melhor de noite, estuda ele e podemos ir amanhã...
— Melhor...
— Nem acredito... ganhei cinquenta pratas!
— Como assim?
— Apostei com Jungkook que ia conseguir convencer você a ir...
— Fico feliz que ganhou... — e Jimin sorriu para o primo, logo pegando o celular para mandar mensagem avisando não somente sobre o quanto seu amigo lhe devida, mas, também, que deveria se preparar para uma longa e boa noite ao lado de seu amado e querido primo todo cheio de manias estranhas... o que Jungkook respondeu somente com: "socorro".
A má reputação também perseguiu a vida de Jhope, assim como a de Min Yoongi, só que de uma forma bastante contrastante; enquanto um era acusado de sempre "estragar" a animação e bebedeira da galera e voltar embora cedo o bastante para ler um livro e dormir antes da meia-noite, o outro era conhecido por ser inimigo do fim, pai da ressaca intensa no dia seguinte e dono e proprietário de todas as brincadeiras estranhas que faziam as pessoas beberem doses de tequila sem se lembrarem muito bem o porquê.
🎸🎸🎸
* "Yoongi, marry me?" é uma frase que aparece com frequência nas lives do BTS, mesmo quando o Yoongi não está presente nelas.
Obrigadão por ler até aqui!
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Até o próximo capítulo!
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