Pov. Hook

Saí da cozinha indo até meu dormitório, por sorte Morgie não tava lá. Minha roupa tava toda suja de farinha e tinha um pouco de cobertura rosa em mim, na cozinha eu apenas limpei boa parte do meu rosto que também tinha farinha.

Ainda não acredito que aquela princesinha me obrigou a limpar a cozinha. Que humilhação pra mim!

Mas no final, eu realmente me diverti com a Bridget. Só de pensar nela, meu coração acelera. Aquela sensação estranha voltou quando nossos olhares se cruzaram depois da nossa guerra de farinha.

De algum jeito, aquela princesinha tá fazendo eu mudar muito. Nem as maldades de antes estão me alegrando. Mas eu tenho que me lembrar de que tudo isso é apenas um plano da Uliana. Tenho que fazer ela se apaixonar por mim.

Por que eu concordei com isso mesmo?

***

Depois da aula da professora Abigail, eu e meu grupo fomos até o pátio pra poder jogar. Enquanto jogávamos e ríamos, Uliana me cutucou no braço.

- Que foi? - olhei pra ela com raiva por ter tirado meu foco do jogo.

- Olha ali, a sua princesinha - franzi a testa confuso. Olhei na mesma direção que Uliana e vi Bridget andando com um caderno na mão.

- Tá, e (i)? - disse voltando a olhar Uliana.

- Como "e (i)"? Essa é sua hora pra se aproximar dela de vez, siga ela e veja o que ela vai fazer! - ordenou seria.

- Você tá ficando insuportável, Uliana!

- Vai logo, garoto! - a mesma me empurrou pra fora do banco que eu estava sentado.

Isso já tá ficando ridículo. O que levou Uliana a fazer essa vingança sendo que foi ela quem causou o desastre?

Segui Bridget até um lago que ficava próximo da escola. Fui o mais sorrateiro possível, me escondi atrás de uma árvore quando vi ela se sentando em um banco de concreto de frente pro lago.

Não sei nem porquê eu tava fazendo isso. Acho que é porque a Bridget tá mexendo muito comigo ultimamente.

Ainda escondido atrás da árvore, vejo Bridget abrindo o tal caderno, que agora olhando melhor, tá mais parecendo um álbum de fotos. Escuto um som de choro vindo da princesa à minha frente enquanto olhava pro caderno em seu colo.

Seu choro se tornou um pouco mais alto, até que sinto uma respiração perto do meu pescoço.

- Own, ela tá chorando - me virei, vendo Uliana junto com os outros vilões mais atrás - Coitadinha da princesinha! - disse em um tom de falsa pena.

- O que estão fazendo aqui?

- A gente quis ver o show de você tentando dar em cima da Bridget, mas ver ela chorando assim é muito melhor! - a irmã mais nova da Úrsula riu.

- Querem ver o show? Então vejam! - disse bravo.

Saí dali pisando firme indo em direção a Bridget. Me aproximei dela, porém não me sentei no banco. Ela ainda estava chorando.

- Bridget? - perguntei calmo.

- Hook? Oi - ela limpou as lágrimas virando o rosto pro lado.

- Posso me sentar?

- Pode, claro! - disse sorrindo minimamente.

Me sentei do lado dela ficando de costas prós vilões, pude ver o rosto dela levemente inchado, mesmo com ela tentando esconder. Olhei pro caderno em seu colo e realmente era um álbum de fotos.

- Você... Tá bem? - perguntei tentando iniciar um assunto.

- Hum - confirmou assentindo.

- Que álbum legal - disse olhando pro álbum vermelho.

- É o meu álbum de fotos. Tá cheio de fotos minhas, dos meus pais, da minha avó... - ela disse com voz chorosa olhando pro álbum.

- E você tá com saudades deles! - afirmei e ela concordou olhando pra baixo.

- Eu tive muitas lembranças boas de lá. O País das Maravilhas, meus pais, meu antigo quarto... Enfim, tudo. Sinto falta de casa.

- Mas você pode visitar eles quando chegar as férias de verão. Não é o fim do mundo.

- Não vou poder - fungou - A Ella me chamou pra passar as férias em uma casa de idosos pra ajudá-los onde a tia dela trabalhava. Eu resolvi aceitar.

- Você vai passar as férias em casa de idosos?!

- Eu gosto de ajudar as pessoas.

- Mas você gosta mais de ajudar os outros ou da sua família?! - ela ficou em silêncio - Bridget, a família é muito mais importante do que qualquer outra coisa do mundo. Você não pode fazer a vontade dos outros só por gostar de ajudar, pensa um pouco na sua família e na saudade que iram sentir de você. Se eu tivesse no seu lugar, escolheria minha família sem dúvida. As férias de verão é o único momento do ano que podemos voltar pra casa e ficar com nossa família, e você tá querendo ajudar idosos do que ficar ao lado deles? - disse desacreditado.

Não sei o que aconteceu comigo pra estar falando tudo isso, eu nem tinha família de verdade, minha família era praticamente meus amigos vilões.

- Eu sei, mas é que eu já me comprometi a ajudar a Ella. Não posso desmarcar agora.

- Conversa com ela, tenho certeza que ela vai entender. Mas tudo bem, é você quem sabe, eu já dei a minha opinião - a garota baixou o olhar - Às vezes a sua bondade me dá raiva. Você é bondosa com todo mundo, menos com você mesma. Por que não se dá a chance de ser feliz ao lado da sua família?

- Eu só gosto de ver todo mundo feliz... - disse voltando a me olhar com seus olhos vermelhos por conta do choro.

- Para de pensar tanto nos outros e pensa em você, na sua felicidade. Volta pra casa, reencontra seus pais e fica com eles, isso não te deixaria feliz? - ela assentiu - Então pronto! Seja feliz com quem você ama.

- Não sei se consigo dizer não pra Ella. Ela ficou tão animada quando soube que eu ia...

- Se ela for sua amiga de verdade, ela vai entender que a sua família tá em primeiro lugar. Não tem lugar melhor do que um abraço de sua família, e isso é um conselho vindo de uma pessoa que não tem uma... - dei um sorriso triste - Alguém como eu que cresceu sem uma família de verdade... - falei olhando pro lado - Que não sabe o que ter amigos de verdade... Que é uma pessoa completamente sozinha. E se eu sou um vilão... É pra tentar esconder minha fraqueza dos outros...

Era tudo verdade. Todas as férias de verão, eu passava aqui na escola, não tinha pra onde ir, eu não tinha família. Tive pais que nem conheci, estudar aqui na Academia Merlin foi pura sorte.

Acho que no fundo eu tava precisando também tirar tudo isso de mim.

- Você deve tá me achando um marica por ter desabafado tudo isso, né? - ri sem humor e olhei pro chão.

- Desabafar não faz de você um marica... Te faz um ser humano - deixei de encarar o chão e voltei a olhar pra ela - E você tem sim uma família, Hook... Nós somos sua família - ela sorriu.

Do nada, Bridget me abraça. Nisso, meu corpo amolece, meus pensamentos ficam embaralhados e eu fico confuso, porém retribuo o abraço envolvendo sua cintura. Fecho meus olhos escondendo meu rosto no pescoço dela, sentindo o maravilhoso perfume dela. Aquilo era bem confortável. Era o meu primeiro abraço e aquilo era maravilhoso.

Quando nos afastamos, meus olhos se prenderam nos olhos castanhos de Bridget. Aquele sentimento estranho invadiu corpo de novo. Meu coração acelerou, minha respiração se tornou ofegante, me sinto diferente. Minha mão deslizou um pouco pro lado, tocando em cima da mão dela que estava apoiada no banco.

Meus olhos intercalaram entre os olhos dela e sua boca rosada. Bridget parecia estar fazendo o mesmo comigo. Eu tava hipnotizado em seu rosto.

Ela era tão linda...

Nunca quis tanto algo antes, como queria acabar com aquela distância e juntar nossos lábios.

- Hook... - a voz dela saiu falhada.

- Bridget...

Eu não tava mais aguentando. Quando me aproximei mais dela, já encostando nossas testas, escutamos uma voz fazendo eu me afastar de pressa.

- Bridget! - olhei pros lados meio nervoso - Até que enfim te encontrei. Eu te procurei por toda a parte - era Ella - O que tá fazendo aqui, Hook?

- Eu... Tava aqui de passagem e vi a Bridget com um caderno. Eu pensei que era a lição dela pra eu poder roubar, mas também eu não tenho que dar satisfação à uma plebéia imunda! - disse me levantando.

Andei até a árvore que eu tava escondido antes e pulei de susto quando vi os vilões ali escondidos. Eu nem lembrei deles.

- Vocês ainda tão aqui? Eu nem me lembrei de vocês.

- É, nós percebemos que você não se lembrou. Ficou tão focado na chata de Bridget, tanto que quase beijou ela! - ironizou Uliana.

- Não chama ela assim!

- Ui, tá defendendo ela agora, gancho?! - a vilã zombou - O plano era pra você fazer ela se apaixonar por você, e não que você se apaixonasse por ela!

- Eu não tô apaixonado, nunca vou estar. Como você mesma diz, o amor é inútil - repeti a frase que ela tanto falava.

- Acho bom mesmo, se não eu vou arruinar a sua vida e a daquela princesinha fresca! - seu tom de voz era sério e um tanto assustador - Vamos embora!

Antes de eu ir também, dei uma última olhada em Bridget que conversava com Ella.

Será que eu tô gostando dela?

Continua...