Você vai precisar de mim, Jungkook.
Boa leitura!♡
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Jungkook, ainda envolto pela gentileza de Hoseok e o cansaço acumulado do dia, finalmente se permitiu relaxar no colchão. Ele fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos sobre Taehyung e tudo o que aconteceu. O silêncio do quarto, somado à leve respiração de Hoseok, o envolveu, e lentamente, Jungkook foi caindo no sono.
No início, tudo estava escuro, uma paz inquieta, mas logo, uma luz suave começou a envolver o ambiente de seus sonhos. Um brilho celestial, reconfortante, como se estivesse sendo envolvido por um manto de tranquilidade. O lugar parecia o céu, com um horizonte infinito e claro, brilhante, banhado por uma luz dourada e quente que não machucava os olhos, mas trazia uma profunda sensação de alívio e paz.
Então, ele ouviu uma voz. Doce, calma, quase como um sussurro que o tocava de forma gentil e carinhosa.
— Jungkook...
A voz o chamou, suave como uma brisa, repetindo seu nome várias vezes. A cada vez que a ouvia, sentia um calor reconfortante se espalhar pelo corpo. Era como se aquelas palavras preenchessem todos os vazios dentro dele, apagando momentaneamente as angústias que o consumiam.
— Jungkook...
Ele olhou ao redor, procurando de onde a voz vinha. O cenário ao seu redor brilhava mais intensamente, quase ofuscante, mas não de uma maneira desconfortável. O brilho parecia um abraço invisível, prometendo segurança e alívio.
— Que Deus te abençoe... — a voz continuou, agora mais clara, porém com o mesmo tom angelical, como se viesse de todas as direções. — Não será sempre tão difícil assim.
Essas palavras ecoaram em sua mente, como se fossem uma promessa divina, uma esperança que há muito ele não sentia. O eco suave das palavras, "não será sempre assim", se repetia em sua cabeça, criando uma sensação de conforto profundo.
Enquanto se deixava levar por aquela atmosfera de paz, algo mudou. De repente, em meio à luz, ele a viu.
Rosé.
A menina da loja de conveniência. Ela estava ali, cercada pela mesma luz brilhante, sua expressão serena e tranquila. Vestia um simples vestido branco, seus cabelos longos balançando suavemente com a brisa, como se o vento não existisse, mas sim um movimento natural da cena ao seu redor. Ela o olhava com ternura, e embora não dissesse nada, seus olhos transmitiam uma compreensão profunda, como se soubesse de tudo o que ele sentia.
Jungkook ficou parado, hipnotizado pela presença dela. Havia algo quase etéreo na forma como ela estava ali, como se fosse parte daquele lugar, algo divino. A voz suave, que antes apenas ecoava ao seu redor, agora parecia vir dela.
— Não será sempre assim. — repetiu a voz, e ele sentiu uma pequena lágrima se formar em seu olho, sem entender o porquê. — Logo você entenderá o seu propósito.
O sonho parecia real, quase palpável, e por um breve momento, ele quis acreditar que aquela mensagem era verdade. Que talvez, apenas talvez, as coisas pudessem mudar para melhor.
A imagem de Rosé começou a se dissipar junto com o cenário, e Jungkook sentiu seu coração apertar levemente, enquanto tudo voltava lentamente à escuridão.
E então, ele acordou.
Quando Jungkook abriu os olhos, a luz suave da manhã já invadia o quarto de Hoseok através das cortinas. Ao contrário dos dias anteriores, onde acordar parecia uma tarefa árdua e cheia de peso, naquela manhã ele se sentia diferente. Uma leveza tomava conta de seu peito, algo que não sentia há muito tempo. O sonho da noite anterior ainda estava fresco em sua mente — a voz suave, o ambiente celestial, as palavras "não será sempre assim" —, e isso o encheu de uma sensação de esperança que não podia explicar.
Mas também estava curioso para saber o que seria esse tal propósito...
Ele sabia que era apenas um sonho, algo etéreo e incerto, mas decidiu que não importava se deveria confiar cegamente ou não. A positividade daquela manhã era como um bálsamo, e ele escolheu simplesmente se deixar levar por ela.
Após se levantar e arrumar a cama improvisada, desceu as escadas sentindo uma energia que há muito não experimentava. Era como se, por um momento, o fardo que carregava houvesse diminuído. O aroma de café fresco e comida caseira logo preencheu seus sentidos, e ao entrar na cozinha, foi recebido com sorrisos calorosos.
— Bom dia, Jungkook! — disse a mãe de Hoseok, abrindo os braços em um gesto acolhedor. — Espero que tenha dormido bem. Fizemos um bom café da manhã pra você.
Jungkook sorriu, sentindo-se parte daquela família por um momento. Era um calor que há tempos ele não sentia, e aquilo mexia com ele.
— Dormi muito bem, obrigado — respondeu ele, sentando-se à mesa, onde uma variedade de alimentos estava disposta: frutas frescas, pães, geleias e ovos.
O pai de Hoseok sentou-se em frente a ele, com um olhar curioso e paternal.
— E como vão os planos para a sua carreira? Hoseok nos disse que você concluiu a faculdade de advocacia muito cedo. Um prodígio! — ele disse.
Jungkook hesitou por um momento, lembrando-se da época em que sua vida parecia mais promissora, antes de tudo desmoronar com a morte de sua mãe e a degradação de seu pai.
— Sim... eu terminei bem mais cedo do que o normal — começou, tentando não deixar que a melancolia tomasse conta. — Mas não tive tempo de atuar ainda. A situação com a minha mãe aconteceu logo depois que me formei, e... bem, vocês sabem.
A expressão do casal ficou mais suave, compreensiva. Eles sabiam da dor que Jungkook carregava, e apenas o olhar deles o fazia sentir que, de alguma forma, tudo ficaria bem.
— Sabe, Jungkook — disse a mãe de Hoseok, colocando uma xícara de café à sua frente —, às vezes a vida dá essas reviravoltas quando menos esperamos. Mas o importante é que você é jovem, talentoso, e tem muito pela frente. Nós estamos muito felizes que você esteja aqui conosco, e você pode contar conosco sempre que precisar.
— Sim — acrescentou o pai. — E você ainda terá muitas oportunidades. Quando estiver pronto, o mundo vai estar esperando por você.
Jungkook sorriu, sentindo aquele conforto se expandir ainda mais. Mesmo em meio a todo o caos que sua vida havia se tornado, ali, naquela manhã, ele sentia algo que não sentia há muito tempo: esperança.
Enquanto saboreava o café da manhã, a mãe de Hoseok olhou para Jungkook com um sorriso suave e disse:
— Hoje é dia de culto na igreja. Seria uma honra se você viesse com a gente, Jungkook. Temos orado muito por você, e seria maravilhoso tê-lo conosco hoje.
Jungkook, que já estava se sentindo tão acolhido por eles, ficou pensativo por um instante. Eles estavam sendo incrivelmente gentis, e, considerando o sonho que tivera na noite anterior, por que não ceder? A voz angelical ainda ecoava em sua mente, trazendo um certo conforto. Talvez fosse hora de dar uma chance a algo novo, por mais distante que fosse de sua realidade habitual.
— Eu... acho que vou, sim. — Ele sorriu, aceitando o convite com uma tranquilidade que nem sabia que tinha.
— Que maravilha! — disse o pai de Hoseok, genuinamente feliz. — O culto será ainda de manhã, já que hoje é feriado, então é melhor você se arrumar. Não temos muito tempo.
Jungkook assentiu e decidiu que deveria tomar um banho antes de ir. Aquele sonho havia feito algo dentro dele se mexer, e se iria à igreja, queria estar pelo menos apresentável. Subiu até o banheiro e, antes mesmo que pudesse se despir completamente, uma figura familiar apareceu bem à sua frente. Jungkook deu um salto, incrédulo, e seu coração disparou.
Era Taehyung, com aquele olhar insolente de sempre.
— O que você está fazendo aqui?! — Jungkook exclamou, ainda em choque, tentando cobrir-se com a toalha.
Taehyung cruzou os braços, um sorriso arrogante estampado em seu rosto.
— Cedeu? Vai virar crente agora, Jungkook? — Ele zombou, o tom carregado de provocação. — Que mudança drástica...
Jungkook o encarou com raiva, mas não sabia exatamente o que responder. Ele estava tentando fazer algo bom, se reerguer, mas Taehyung parecia sempre aparecer para lembrá-lo de sua fraqueza, de suas dúvidas. Mesmo assim, não ia deixar aquele demônio o desestabilizar tão facilmente.
— O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta — retrucou Jungkook, sentindo o incômodo crescer dentro de si. — Agora, se você me der licença, eu tenho algo mais importante para fazer do que ouvir você falar qualquer baboseira que costuma sair da sua boca.
Taehyung levantou uma sobrancelha, divertido.
— Algo mais importante? Como rezar para um Deus que não te ajudou até agora? — Ele deu um passo à frente, aproximando-se de Jungkook. — Me pergunto quanto tempo você vai aguentar até perceber que toda essa fé que eles têm não vai salvar você.
Jungkook respirou fundo, tentando não se abalar com aquelas palavras.
Jungkook, segurando a toalha com firmeza e ainda tentando assimilar a situação surreal em que se encontrava, olhou diretamente nos olhos de Taehyung.
— E você? — começou, com a voz carregada de raiva e frustração. — Vai me ajudar? Ajudar não é oferecer algo esperando algo em troca, Taehyung. Você é um demônio, sujo, manipulador. Você não sabe de nada. E se você existe, então é claro que deve haver um Deus. Um Deus que, mesmo não tendo feito nada ainda, provavelmente tem planos maiores pra mim.
Taehyung abriu a boca para retrucar, mas Jungkook não deu espaço.
— Olha só, por mais que minha vida seja uma bagunça, eu ainda estou aqui, não estou? Ainda estou vivo. Talvez Ele me livre de coisas que eu nem consigo ver. E, mesmo com toda essa merda na minha vida, eu não vou reclamar de barriga cheia. Porque, no fundo, eu sei que tem algo maior em jogo.
O sorriso de Taehyung sumiu, substituído por uma expressão levemente desdenhosa, como se estivesse irritado, mas tentando não demonstrar. Ele bufou antes de responder, seus olhos faiscando.
— Planos maiores? Você realmente acredita nessa ilusão, Jungkook? — Taehyung deu um passo mais próximo, sua voz escurecendo. — O mundo está cheio de pessoas como você, que se agarram à esperança de que algo melhor virá. Mas olhe ao seu redor! Você foi espancado, humilhado, está sozinho, e ainda se agarra a essa ideia de que “tudo acontece por uma razão”?
Jungkook cerrou os punhos, mas se manteve firme.
— Talvez eu não tenha todas as respostas, Taehyung. Mas eu prefiro acreditar que existe algo maior do que simplesmente me entregar para você e sua podridão.
Taehyung gargalhou, mas era um riso sem humor, ácido.
— Você é tão previsível. Acredita mesmo que essa fé vai te salvar? E se esse Deus que você tanto idolatra não estiver nem aí para você? E se Ele estiver apenas... assistindo? — Taehyung inclinou-se mais perto, sua voz um sussurro venenoso. — Eu vi muitos como você. Esperam, rezam, e no final, acabam sozinhos, desiludidos. No fundo, você sabe que estou certo.
Jungkook não respondeu de imediato. Ele encarou Taehyung com firmeza, sentindo uma mistura de raiva e desprezo crescendo dentro de si. O demônio, por mais que jogasse palavras cortantes, não sabia o que era estar em sua pele. Ele não sabia o que era passar por aquilo tudo e ainda ter a coragem de acreditar que algo melhor poderia acontecer.
— Talvez eu esteja sozinho agora, e talvez você tenha visto outras pessoas desistirem. Mas você não me conhece, Taehyung. Você só vê o que quer ver. Eu não vou vender minha alma, nem desistir de mim. Não para você, não vou te dar essa vitória.
A frustração de Taehyung se tornava mais evidente a cada palavra. Ele cerrou os punhos, a mandíbula trincada, enquanto seus olhos faiscavam de irritação.
— Você realmente quer ser um mártir? — Ele disparou, sua voz agora mais áspera. — Se continuar com essa atitude, vai acabar como todos os outros: sozinho e desesperado, implorando pela ajuda que nunca vem. Não se engane, Jungkook. Quando chegar o momento crítico, você vai precisar de mim, pois EU sou real, e sou EU que te ajudo.
— Talvez — respondeu Jungkook, com um leve sorriso de desafio. — Mas eu prefiro que isso não aconteça.
Taehyung o encarou por alguns segundos, e a tensão entre os dois era palpável. Era claro que ele estava perdendo a paciência. Com um último olhar de desprezo, ele murmurou:
— Se é isso que você quer... tudo bem.
E então, em um piscar de olhos, Taehyung desapareceu. O ar ao redor de Jungkook pareceu aliviar, como se uma nuvem pesada tivesse sumido. Ele soltou um suspiro profundo, um misto de alívio e exaustão.
Sem mais interrupções, ele retomou o que estava fazendo, se despindo e entrando no chuveiro. A água quente escorrendo por sua pele parecia lavar mais do que apenas a sujeira do dia. Era como se estivesse limpando também um pouco da pressão que vinha sentindo ultimamente. Ele ainda estava incerto sobre muitas coisas, mas uma coisa era clara: não importava o que Taehyung dissesse, ele não iria ceder.
Durante o culto que se seguiu, ele se sentiu em paz, mas ainda carregava a frustração da briga com Taehyung. As palavras dos pastores ressoavam em sua mente, mas ele não conseguia se livrar da sensação de que algo estava errado, como se ainda estivesse no cenário da briga.
Após o culto, enquanto todos se dispersavam, Jungkook pediu um tempo sozinho. Ele se despediu de Hoseok, que, preocupado, apenas acenou com a cabeça, compreendendo a necessidade do amigo. Jungkook decidiu caminhar até um restaurante próximo, um local simples, mas acolhedor, onde a comida era caseira e o ambiente tranquilo.
Ao entrar, o cheiro de comida caseira o envolveu, e ele se sentiu um pouco mais relaxado. O lugar era modesto, com mesas de madeira e paredes decoradas com fotos antigas. Ele se sentou em uma mesa no canto, longe do barulho, e olhou o cardápio, tentando se distrair.
— Um prato de macarrão à bolonhesa, por favor — pediu ao garçom, tentando manter a mente longe dos problemas.
Enquanto esperava, Jungkook ficou perdido em seus pensamentos, refletindo sobre a situação em que se encontrava. Assim que a comida chegou, ele a devorou rapidamente, apreciando o sabor reconfortante. Quando terminou, levantou-se para ir ao caixa.
Ao tentar pagar a conta, seu coração começou a acelerar. Ele passou o cartão na máquina, mas a resposta foi uma recusa.
— Ah... — ele gaguejou, um rubor subindo ao seu rosto. — Deve ser um erro.
Tentou novamente, mas o resultado foi o mesmo. A atendente olhou para ele com uma expressão compreensiva, mas Jungkook se sentia cada vez mais envergonhado.
— Desculpe, isso não deveria estar acontecendo... — disse, tentando manter a compostura, mas a vergonha o envolvia como um cobertor pesado.
Na terceira tentativa, mais nervoso que antes, ele não teve como evitar o olhar desesperado que lançou para a atendente. O calor em seu rosto era quase insuportável, e ele se perguntava o que faria se não conseguisse pagar.
Justo quando estava prestes a dar as costas e deixar a conta para trás, um braço passou na frente dele. Jungkook ergueu os olhos e viu Taehyung, com aquele sorriso sarcástico que tanto o irritava.
— Deixe que eu pago. — Taehyung disse, deslizando seu cartão sobre o balcão.
— O que você está fazendo aqui? — Jungkook perguntou, confuso e um tanto irritado.
— Ah, só passando para ver se você já estava se decompondo. — Taehyung respondeu, com um tom brincalhão. — Parece que você ainda está inteiro, pelo menos.
Jungkook sentiu uma mistura de alívio e raiva. Ele não queria depender de Taehyung, mas, ao mesmo tempo, o gesto o fez perceber que o demônio, mesmo com seu jeito provocador, estava ali de uma forma que não esperava.
— Eu não precisava da sua ajuda. — respondeu, tentando manter a dignidade, mas a verdade é que sua vulnerabilidade era evidente.
— Sim, você precisava. — Taehyung contrabalançou, ainda com aquele sorriso, enquanto a atendente processava o pagamento.
Jungkook revirou os olhos, mas não pôde deixar de notar que, mesmo com todo aquele sarcasmo, havia algo diferente na forma como Taehyung estava lidando com ele. Era como se, de alguma forma, a parede entre eles estivesse começando a rachar.
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Espero que gostem! estou lançando esse capítulo em homenagem a JaneLopes049 que tanto está apoiando meu livrinho! agradeço de coração ❤️
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