Taehyung?
Boa leitura!!
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O primeiro raio de sol penetrava timidamente pelas cortinas entreabertas, banhando o quarto em um brilho suave e dourado. Taehyung, deitado ao lado de Jungkook, já estava acordado há algum tempo, observando o humano dormir. Havia algo na calma daquele momento que contrastava com a turbulência que fervilhava dentro dele. Ele sabia que a paz não duraria.
Os problemas no inferno estavam se acumulando, e ele podia sentir. O peso das tensões entre os demônios, a inquietação que rastejava pelos corredores daquele lugar sem fim... Algo estava prestes a desmoronar.
Suspirando, Taehyung passou a mão pelos cabelos e olhou para o teto, perdido em pensamentos. Não podia adiar sua ida por muito mais tempo. A situação estava feia lá embaixo, e ele precisava dar as caras por lá.
Lentamente, ele se virou para Jungkook, ainda adormecido, com uma expressão tranquila que lhe escapava nos momentos em que estava acordado. Taehyung não queria deixá-lo sozinho, mas não tinha escolha.
— Jungkook — murmurou, a voz baixa e suave.
Sem resposta.
Ele se inclinou um pouco mais, tocando o ombro de Jungkook com leveza.
— Jungkook, acorde.
O rapaz se mexeu levemente, os olhos abrindo devagar, confusos com o brilho que invadia o quarto. Ele piscou, ainda sonolento, até focar em Taehyung.
— O que foi? — perguntou, a voz rouca de sono.
Taehyung hesitou por um segundo. Ele não gostava de demonstrar fraqueza ou preocupação, mas sabia que precisava ser direto.
— Eu tenho que ir ao inferno — disse, sem rodeios, enquanto observava a reação de Jungkook. — As coisas não estão boas lá e... eu preciso ir lá resolver o que andam falando de mim.
Jungkook se sentou lentamente, esfregando os olhos. O sono ainda nublava seus pensamentos, mas a palavra "inferno" o fez despertar de vez.
— Inferno? Agora? — perguntou, confuso.
Taehyung assentiu, o rosto sério.
— Vai ficar tudo bem, eu vou voltar logo, prometo. Você só precisa se cuidar enquanto eu estiver fora. Se precisar de mim, é só chamar meu nome. Não importa onde eu estiver, eu virei. — A última frase foi dita com uma intensidade que fez Jungkook engolir em seco.
— Taehyung... — Jungkook começou, mas não sabia o que dizer exatamente. Parte de si queria protestar, queria que ele ficasse, mas sabia que Taehyung não tinha escolha.
Taehyung deu um leve sorriso, algo raro de se ver.
— Eu volto logo, ok? Só... tome cuidado, se necessário dá uma volta, fica em um lugar com bastante gente.
Jungkook apenas assentiu, mesmo sem gostar da ideia. Ele confiava em Taehyung, mas a ideia de ficar sozinho o incomodava mais do que queria admitir.
Ele tinha se desacostumado com isso.
Com um último olhar, Taehyung se levantou da cama, afastando-se de Jungkook. O ar ao redor dele começou a mudar, as sombras no quarto se agitaram como se tivessem vida própria. Em um piscar de olhos, ele se foi, teletransportado para o inferno.
O calor era opressivo, o ar se contorcia com as ondas de fogo e enxofre. Taehyung estava de volta ao lugar que odiava, o inferno. Mesmo sendo um demônio, aquele local não conseguia ser agradável para ninguém.
Enquanto caminhava pelas trilhas tortuosas entre os gritos de almas condenadas, ele sentia os olhares sobre si. Demônios menores se afastavam com desprezo, mas outros, da mesma classe, encaravam com fúria reprimida, já outros, com admiração.
— Olá mestre... — Um demônio classe baixa se curvou a Taehyung.
Prosseguiu reto, sem dar atenção.
— Olha só quem voltou — uma voz áspera ecoou, e de um canto sombrio emergiu Hyunjin, um demônio de classe inferior, mas com um ódio visceral por Taehyung. — O mestiço da classe A.
Taehyung parou, não porque se sentia ameaçado, mas porque a fúria nos olhos de Hyunjin refletia algo que ele já esperava.
— Você nunca deveria ter sido um de nós — rosnou Jisoo, uma demônia que se aproximou com sua legião. — Humanos não pertencem ao topo, mas você querido, furou a fila, não foi? nós esperamos por isso a tanto tempo...
Taehyung não respondeu de imediato. Sabia que sua origem como humano sempre seria uma marca indelével entre os demônios, especialmente os de classes inferiores que invejavam seu poder. Ele tinha feito o pacto, sim, mas seu lugar no topo não era bem-visto por muitos.
— Que diferença faz? — Taehyung murmurou, seus olhos agora queimando em um tom carmesim. — Acha que vocês são mais merecedores? Estamos todos condenados aqui. — Sua voz era fria, tinha um sorriso canalha nos lábios, as mãos no bolso, completamente seguro que esses demônios não eram uma ameaça, mas carregava o peso de quem já havia aceitado sua maldição.
Hyunjin avançou, mas Jisoo o conteve, erguendo a mão.
— Você nunca será um de nós, Taehyung. Por mais poder que tenha, o sangue humano ainda corre em suas veias. Um mestiço de classe A... Não passa de uma aberração.
Taehyung encarou os dois por um longo momento antes de continuar andando, ignorando os olhares de ódio que se seguiam. Ele tinha uma missão ali, e nada daquilo importava agora.
Enquanto avançava, os portões da Fortaleza das Chamas Eternas se abriram diante dele. O lugar onde os verdadeiros demônios de classe A governavam, onde ele deveria se reportar. Mas nem ali ele estava seguro de ser bem-vindo.
Dentro da fortaleza, sombras se moviam silenciosamente. Alguns demônios se curvavam diante dele, não por respeito, mas por medo. Outros, mais poderosos, o observavam com desdém.
— Está se achando um de nós, Taehyung? — disse Yeji, uma das líderes demoníacas, com sua voz grave e carregada de poder. — Sempre me pergunto por que o deixamos chegar tão longe... — Disse com desdém. — Aiai, eu já sabia que isso ia acontecer... abrindo as asinhas pra um humano, haha...
Taehyung sorriu de lado, sabendo que aquela reunião não seria apenas uma visita comum. Cada movimento que ele fazia no inferno era vigiado, e seu poder sempre seria questionado, não importa o quanto ele provasse ser digno.
— E eu me pergunto o que vocês fariam sem mim. — Sua resposta foi acompanhada de um brilho nos olhos, enquanto sentia a fúria silenciosa ao redor.
A verdade é que, por mais que o odiassem, ele era essencial. E isso os corroía ainda mais.
O silêncio denso na Fortaleza das Chamas Eternas foi interrompido pelo som de passos pesados. A atmosfera, que já era sufocante, ficou ainda mais opressiva. Os olhos de todos os demônios na sala se voltaram para a enorme figura que emergia das sombras. Lúcifer, o mais poderoso de todos os demônios, caminhava até Taehyung com uma imponência que fazia as próprias chamas ao redor tremularem.
Seus olhos, de um brilho rubro que emanava pura maldade, encararam Yeji antes de qualquer palavra ser dita. O simples ato de olhar para ela já era uma sentença. Yeji, que segundos antes estava cheia de confiança, engoliu seco, o rosto empalidecendo sob a força da presença de Lúcifer.
— Vejo que minha decisão ainda é um ponto de discussão por aqui — Lúcifer murmurou, sua voz carregada de poder e desprezo.
Yeji tentou recuar, mas não conseguiu se mover. O medo a prendia no lugar.
— M-meu senhor... — tentou começar, a voz trêmula, mas foi brutalmente interrompida.
— Cale-se! — rugiu Lúcifer, o som de sua voz ressoando como um trovão pelo salão. As chamas ao redor se ergueram em resposta, e a sala inteira pareceu estremecer. — Se abrir a boca novamente para questionar minhas escolhas ou decisões, é melhor começar a se preparar para a eternidade na câmara de tortura. — Suas palavras foram ditas com uma frieza avassaladora, como se a ameaça já fosse uma promessa.
Yeji imediatamente se curvou, sem ousar pronunciar mais uma palavra. Seus olhos estavam fixos no chão, o corpo trêmulo. Todos os outros demônios na sala ficaram em absoluto silêncio, com medo de atrair a ira de Lúcifer.
Lúcifer, satisfeito com o silêncio que se seguiu, virou-se então para Taehyung. Seus olhos brilhavam com algo que poucos podiam interpretar, uma mistura de aprovação e... controle.
— Taehyung — disse ele, a voz agora baixa, mas ainda carregada de autoridade. — Estou contente em ver que você ainda sabe o seu lugar. Mas não se esqueça... foi por minha vontade que você está onde está.
Taehyung se manteve firme. Mesmo diante de Lúcifer, ele não fraquejava. Os dois se encararam por um longo momento, um vestígio de respeito mútuo flutuando no ar pesado.
— Eu nunca esqueço, senhor — respondeu Taehyung, a voz firme, mas cuidadosa.
Lúcifer assentiu lentamente, cruzando os braços enquanto olhava ao redor, certificando-se de que todos na sala entendessem claramente sua posição.
— Taehyung está aqui por um motivo. Eu o escolhi, e essa decisão não é algo que qualquer um de vocês tem o direito de questionar. Ele é um de nós. Quem duvidar disso, se atrever a abrir a boca novamente, enfrentará as consequências mais dolorosas que este inferno pode oferecer, eu garanto.
Com isso, Lúcifer lançou um último olhar gelado a Yeji, que permanecia imóvel, tremendo de medo, e então voltou a olhar para Taehyung, dando-lhe um sinal silencioso de que a conversa entre eles estava encerrada, por ora.
O silêncio na sala se prolongou após a saída brusca de Lúcifer. No entanto, ele não havia terminado o que tinha a dizer, deu meia volta e retornou para frente de Taehyung.
— Me pergunto... — começou Lúcifer, sua voz carregada de um tom intrigante e perigoso. — O que te mantém tão ligado a esse humano, Taehyung? — Suas palavras carregavam uma insinuação, como se estivesse testando a lealdade do demônio. — Jungkook, não é?
Taehyung permaneceu firme, mas pôde sentir o peso da pergunta. A verdade, por mais complicada que fosse, não poderia ser escondida de Lúcifer, que enxergava além do visível.
— Não se trata só de um humano, meu senhor — respondeu Taehyung, a voz séria, mas com um toque de frustração. — Há mais em jogo do que parece. Anjos estão envolvidos. Esta situação é maior do que eu esperava, e eu só quero acabar com isso de uma vez por todas. É por isso que estou aqui. Não vou deixar isso se prolongar mais.
Lúcifer ergueu uma sobrancelha, um sorriso cruel surgindo em seus lábios. Ele começou a caminhar lentamente ao redor de Taehyung, como um predador que circula sua presa, ainda saboreando cada palavra dita.
— Anjos? — repetiu, o tom quase de escárnio, mas com um claro interesse. — Então é isso... há anjos envolvidos. — Seus olhos brilharam com uma intensidade mortal. — Isso muda as coisas, Taehyung.
Ele parou de frente para o demônio, estudando seu rosto. Havia algo nos olhos de Lúcifer que beirava o orgulho, como se ele estivesse satisfeito com a direção que as coisas estavam tomando.
— Anjos são a melhor parte do jogo, você sabe disso, não sabe? — continuou Lúcifer, a voz agora baixa, mas carregada de expectativa. — Aqueles seres patéticos e arrogantes... Eles acham que podem se intrometer nos meus domínios sem consequências? Eu quero ver cada um deles morto.
Taehyung observava Lúcifer, sabendo que a conversa estava tomando um rumo perigoso. Ele não tinha escolha a não ser continuar.
— E eu também — respondeu Taehyung. — Essa história tem que terminar. Não tenho mais paciência para a interferência deles.
Lúcifer estreitou os olhos, um brilho predatório dançando em suas pupilas.
— É bom ouvir isso — murmurou Lúcifer, dando um passo à frente, invadindo o espaço pessoal de Taehyung. — É melhor que você tenha essa sede de sangue, Taehyung. Porque eu quero ver você esmagar aqueles anjos. Quero ver suas asas queimando no fogo eterno. — Ele se inclinou ligeiramente, quase como se falasse um segredo. — Prove que você merece estar ao meu lado. Prove que o pacto que fizemos foi a escolha certa.
Taehyung manteve a compostura, mesmo diante da proximidade e das palavras afiadamente perigosas de Lúcifer.
— Eu não vou decepcioná-lo — prometeu Taehyung, com firmeza.
Lúcifer se endireitou, satisfeito com a resposta, e deu um sorriso que era uma mistura de aprovação e ameaça.
— Eu espero que não, Taehyung. Ou será sua alma que vai queimar junto com a deles.
E com isso, Lúcifer se afastou, as sombras envolvendo seu corpo até que ele desaparecesse completamente, deixando para trás uma sala carregada de expectativa e tensão.
O silêncio reinava na sala enquanto Lúcifer desaparecia nas sombras. Taehyung permaneceu imóvel, sentindo o peso do olhar dos outros demônios sobre ele. Foi então que, em meio ao silêncio cortante, Yeji deu um passo à frente, mas não ousou levantar muito a voz. Ainda assim, seu tom estava carregado de desprezo e ódio contido.
— Você é o protegido dele — sibilou Yeji, sua voz baixa, quase como um veneno escorrendo de seus lábios. A repulsa em sua expressão era evidente, seus olhos estreitos queimando de ressentimento.
Ela não precisou de mais palavras para deixar claro o quanto desprezava Taehyung, não apenas pelo que ele era, mas pela posição que ocupava. Mesmo entre os demônios, a inveja e o ódio pulsavam, e para Yeji, Taehyung representava tudo o que ela não suportava — um "mestiço" que tinha a atenção e a proteção do próprio Lúcifer.
Taehyung lançou-lhe um olhar frio, mas escolheu o silêncio. Ele sabia que a fúria de Lúcifer ainda pairava no ar, e Yeji não era idiota a ponto de desafiá-lo abertamente mais uma vez. No entanto, o ódio dela era uma chama que não apagaria facilmente.
Taehyung caminhava pelas chamas e sombras do inferno, as chamas dançantes projetando sombras grotescas nas paredes. O ar era pesado e impregnado com o odor de fumaça e desespero. Ele sabia que precisava encontrar Yoongi, o único que poderia oferecer alguma clareza em meio ao caos que estava se formando em sua mente.
Ao atravessar um corredor estreito, ele avistou uma figura familiar. Yoongi estava de pé, amarrando algumas almas recém-chegadas com correntes de ferro com alfinetes em seu interior, que adentra na pele dos condenados.. O rosto de Yoongi era sereno, quase indiferente, enquanto ele trabalhava, sempre fez isso.
— Yoongi! — chamou Taehyung, aproximando-se rapidamente.
Yoongi ergueu o olhar, seus olhos escuros brilhando com uma mistura de interesse e desdém.
— Ah, Taehyung. O que faz aqui? — perguntou, enquanto terminava de prender mais uma alma.
— Quem são essas pessoas? — Taehyung indagou, olhando para as almas, que tremiam com medo, sem entender o que lhes aconteceria.
— Novas almas de pecadores — respondeu Yoongi com tranquilidade. — Eles fizeram suas escolhas, agora devem enfrentar as consequências, não é amigões? — Sorriu sarcástico olhando para os condenados.
Taehyung suspirou, um peso crescente em seu peito. Ele não estava ali para discutir a moralidade do inferno.
— Eu preciso falar com você sobre Lúcifer — disse Taehyung, a voz tensa. — Eu não sei o que fazer se ele decidir que precisa do garoto morto também. — A preocupação se tornou evidente em seu olhar. — E se os anjos estão tramando algo maior, algo que eu não consigo ver? já era se isso acontecer.
Yoongi parou por um momento, observando Taehyung com uma expressão que misturava empatia e crítica.
— Você é o protegido de Lúcifer, Taehyung. O que ele disser, você deve cumprir. Se precisar, encontre uma desculpa qualquer, todo mundo aqui sabe que ele confia em você. — aconselhou Yoongi, suas palavras cortantes como garras. — Isso é tudo o que você pode fazer para se manter vivo.
A incerteza tomou conta de Taehyung, e ele hesitou.
— Mas... e se eu não quiser mais ser protegido? Eu vi um ritual que pode me deixar indetectável para anjos e demônios...— A dúvida enchia seu coração, um abismo de arrependimento que não conseguia ignorar. — Eu não sabia que isso ia se tornar tão... complicado, agora eu tenho que proteger Jungkook.
Yoongi ergueu uma sobrancelha, o sarcasmo espreitando em sua voz.
— Bem, você fez sua escolha, não foi? Agora tem que viver com ela. Mas saiba que, no inferno, arrependimentos não significam nada. O que importa é sua sobrevivência e a capacidade de se adaptar. Lúcifer não se importa com os sentimentos dos fracos, ele te escuta por que é conveniente pra ele, mas Taehyung, ele pode te proteger de todos menos dele mesmo, não se engane.
Taehyung sentiu uma onda de frustração, mas também uma verdade amarga nas palavras de Yoongi. Ele se afastou levemente, olhando para as almas amarradas. O inferno não era apenas uma prisão física, mas também uma cela para a alma. E enquanto ele olhava para os rostos aterrorizados, Taehyung soube que tudo estava cada vez mais complicado.
— O que vou fazer? — sussurrou para si mesmo, perdido entre as chamas e as sombras que se arrastavam ao seu redor.
Enquanto Taehyung ponderava sobre suas decisões, um demônio de aspecto inferior correu em sua direção, ofegante e ansioso.
— Taehyung! — exclamou o servo, seus olhos arregalados. — Lúcifer quer falar com você! É melhor você se apressar!
Sem hesitar, Taehyung seguiu o servo, atravessando os corredores escuros e retorcidos do inferno. O demônio, apesar de sua posição subserviente, não podia conter sua admiração.
— Sabe, Taehyung, eu realmente admiro você — disse o servo, tentando recuperar o fôlego. — Mesmo com tudo que dizem sobre você, é inegável que você é poderoso e... bem, o escolhido de Lúcifer. Todos aqui sabem disso!
Taehyung deu de ombros, sem olhar para o servo, e respondeu de forma curta e grossa:
— Não me faça perder tempo ouvindo sua voz desprezível.
O servo parou de falar, percebendo que Taehyung não estava interessado em elogios. Continuaram a caminhar até que chegaram à câmara onde Lúcifer aguardava.
Lúcifer estava sentado em um trono de obsidiana, sua presença irradiando uma mistura de poder e carisma. Quando Taehyung entrou, ele levantou a cabeça, um sorriso enigmático se espalhando por seu rosto.
— Taehyung, meu querido — começou Lúcifer, sua voz suave como o veneno. — Precisamos conversar. Quero mais uma alma.
— Outra alma? — Taehyung questionou, sua desconfiança crescendo.
— Sim. Pensei que você poderia fazer um pacto com alguma moça. Aqui no inferno, não temos mais demônios bonitos, e estou precisando de uma garota nova para me distrair — Lúcifer disse com um brilho nos olhos, como se estivesse divertindo-se com a ideia. — O pacto deve ser selado com um beijo, é claro. E quem sabe você também possa se divertir um pouco com a garota, eu permito. — Piscou.
Taehyung franziu a testa, hesitando por um momento, mas logo se sentiu compelido a concordar. Não havia espaço para desobediência.
Taehyung sabia que todos os pactos que lúcifer exigia para seus prazeres eram obrigatórios o selo do beijo.
— Tudo bem — respondeu, sua voz distante, como se já estivesse pensando em outra coisa. — Eu farei.
Lúcifer sorriu, satisfeito com a resposta. Taehyung virou-se, deixando a sala do líder do inferno, sentindo o peso da decisão que tomaria pairar sobre ele, mesmo que não conseguisse se livrar da sensação de que estava perdendo cada vez mais sua própria humanidade.
Taehyung sentiu a familiaridade do ar fresco ao ser teletransportado de volta à Terra. A atmosfera pulsava com a energia vibrante das vidas humanas, e ele sorriu ao perceber que estava no centro de um movimentado parque. O sol lançava raios dourados através das árvores, iluminando o espaço repleto de risadas e sorrisos. Casais caminhavam de mãos dadas, crianças brincavam e aquele lugar parecia o céu se comparado ao inferno.
Ele começou a andar, os passos firmes, mas silenciosos, enquanto observava as pessoas ao seu redor. O aroma de pipoca e algodão doce flutuava no ar, mas seu foco estava em sua missão. Ele precisava encontrar a alma perfeita, a mais bonita que pudesse capturar o interesse de Lúcifer.
Então, seus olhos se prenderam a uma jovem sentada em um banco, cercada por flores silvestres. Ela tinha cabelos longos e ondulados, como um rio de ouro sob a luz do sol. Seu vestido leve, em um tom pastel, realçava suas curvas delicadas, enquanto um sorriso iluminava seu rosto, fazendo-a parecer quase etérea. Os olhos dela eram de um verde profundo, e Taehyung podia ver a alegria e a tristeza que coexistiam em sua alma.
Atraído, Taehyung se aproximou da garota, sua presença como um ímã irresistível. Quanto mais se aproximava, mais sentia as emoções dela, como se estivesse lendo um livro aberto. Soube dos momentos felizes que a moldaram e das dores que ainda a assombravam. Ele conhecia suas inseguranças, seus sonhos e as memórias que a deixavam acordada à noite. Uma sensação de poder o envolveu; ele sabia exatamente como manipulá-la.
— Oi — disse Taehyung, sua voz suave e cativante. — Posso me sentar aqui?
A garota levantou os olhos, e a conexão foi instantânea. Ele notou a maneira como ela se animou ao encará-lo, admirando sua beleza. Taehyung tinha um charme inegável, com seu cabelo escuro e levemente bagunçado e um olhar penetrante que parecia ler a alma dela.
— Claro! — respondeu ela, sua voz carregada de uma timidez encantadora. — Eu sou Sophia.
— Sophia. Um nome bonito para uma garota tão bonita — ele disse, um sorriso suave curvando seus lábios. — O que faz aqui?
Sophia sorriu de volta, seu coração batendo mais rápido. A maneira como ele falava a deixava intrigada, como se a conhecesse de alguma forma.
— Eu venho aqui para relaxar e pensar. A vida pode ser um pouco… confusa às vezes — confessou, olhando para o chão antes de levantar os olhos novamente, encontrando os de Taehyung.
— Eu entendo — ele respondeu, inclinando-se ligeiramente para mais perto, como se compartilhasse um segredo. — Às vezes, é preciso encontrar alguém que possa nos ajudar a ver as coisas de uma nova perspectiva, todo problema pode ser resolvido. — Taehyung sorriu suave, ele sabia fazer uma feição que qualquer um se derreteria, ele estava envenenando a mesma por uma simpatia forçada.
Sophia sentiu um frio na barriga, encantada pela maneira como ele a olhava. Mal sabia ela que Taehyung estava ali não apenas para conversar, mas para cumprir um desejo de seu mestre, e que a vida dela estava prestes a mudar de maneiras que ela nunca poderia imaginar.
Taehyung observou a expressão de Sophia enquanto ela parecia se abrir a ele. Ele sabia que tinha que ser cuidadoso, mas também que poderia puxar suas emoções para guiá-la à direção que desejava.
— Eu estive trabalhando muito essa semana, e você deve saber, trabalhar pode ser muito complicado, não é? — ele disse, inclinando-se levemente para frente. — Às vezes, parece que os chefes não entendem como devemos ser tratados.
Sophia hesitou, sentindo uma estranha conexão com aquele estranho. As palavras dele pareciam ressoar em seu íntimo, mas a dor da sua situação a impedia de se abrir completamente.
— É… — ela respondeu, olhando para o chão. — Eu, na verdade, tenho um chefe que não me deixa em paz. Ele sempre faz comentários e… — Ela respirou fundo, lutando contra a vontade de desabafar. — É desconfortável.
Taehyung sorriu, percebendo que estava indo na direção certa. Ele precisava que ela falasse mais, que liberasse suas emoções.
— Desconfortável como? — ele insistiu, sua voz suave e convidativa. — Você pode confiar em mim — Disse isso com sua mão indo ao queixo da garota cabisbaixa guiando seu olhar diretamente aos dele.
Sophia olhou em seus olhos e, por um momento, a conexão a fez sentir-se vulnerável. A ansiedade se acumulava em seu peito, e ela não queria mais guardar aquele segredo.
— Ele… Ele sempre flerta comigo, e eu só quero fazer meu trabalho. Tentei denunciá-lo, mas ele me ameaçou. Disse que eu perderia meu emprego se eu falasse algo — disse, sua voz tremendo. — Isso tornou tudo muito complicado, eu preciso do dinheiro, minha mãe está doente e eu não sei o que fazer...
Taehyung sentiu a onda de emoções dela e soube que estava perto de ganhar seu total envolvimento.
— Que desgraçado. — ele disse, sua voz firme. — Eu sinto muito, queria poder te ajudar de alguma forma..
Sophia assentiu, seus olhos brilhando com gratidão por alguém que realmente parecia se importar.
— Eu só queria que as coisas fossem diferentes. Às vezes, me pergunto se eu deveria deixar esse emprego — ela disse, um suspiro pesado saindo de seus lábios.
— Você não precisa ficar presa a isso. Imagine ter a liberdade de viver como deseja, sem preocupações com chefes abusivos — Taehyung continuou, sua mente fervilhando com a ideia de um pacto. — Eu posso oferecer algo incrível para você. Um novo começo. Um poder que lhe permitirá deixar essa vida para trás.
Sophia o encarou, uma mistura de curiosidade e desconfiança em seu olhar.
— Um novo começo? — ela repetiu, balançando a cabeça. — Você está falando como se fosse um maluco, haha o que você quer dizer com isso?
— Um pacto — ele disse, a palavra caindo como um sussurro entre eles. — Você poderia ter tudo o que deseja. Segurança, liberdade, poder. Só precisa aceitar e confiar em mim.
Sophia franziu a testa, sentindo-se ainda mais desconfortável.
— Olha moço, eu não te conheço, não leva mal viu? mas eu não quero me envolver com… coisas estranhas.
A frustração começou a tomar conta de Taehyung, mas ele rapidamente a disfarçou com um sorriso controlado.
— Você realmente deveria reconsiderar. Se não aceitar o pacto enquanto estou contente, posso garantir que as coisas ficarão piores para você.
Sophia sentiu um frio na barriga, a ameaça implícita nas palavras dele a fazendo hesitar.
— Eu… eu só quero que as coisas melhorem. Não sei o que fazer — disse, sua voz quase um sussurro.
— Então, me diga o que você realmente deseja — ele insistiu, seus olhos a fixando intensamente. — Você pode ter isso, mas se não aceitar, eu não posso garantir que a sua vida não se tornará um verdadeiro inferno.
A atmosfera entre eles se tornou pesada, e Sophia sentiu-se presa, um conflito entre a esperança e o medo se formando dentro dela. O que ele estava oferecendo era tentador, mas a maneira como ele falava a deixava inquieta.
— Eu não… — ela começou, mas as palavras falharam. O olhar penetrante de Taehyung a fazia se sentir vulnerável, e ela não tinha certeza se queria abrir aquela porta.
— Pense bem, Sophia — Taehyung disse, seu tom ameaçador e sedutor ao mesmo tempo. — Eu estou aqui agora. Você deve aproveitar a oportunidade enquanto pode.
Sophia engoliu em seco, seu coração disparando, enquanto a tensão crescia o silêncio se arrastava entre eles enquanto Taehyung aguardava a resposta de Sophia. A tensão estava palpável, e ele começou a sentir-se impaciente.
— Sabe, Sophia, você poderia muito bem estar condenando alguém a um ataque do coração se não aceitar — ele disse, uma leve ironia em sua voz.
Sophia soltou uma risada irônica, mas havia nervosismo em seu olhar.
— Isso não é possível, e eu acho que deveria ir embora, eu não deveria falar com estranhos... aparentemente é nisso que dá.
O sorriso dele se desfez, e um brilho perigoso apareceu em seus olhos. Irritado pela falta de seriedade dela, ele estalou os dedos. Imediatamente, um senhor idoso próximo caiu no chão, a mão no peito, sua face se contorcendo em dor.
— V-você fez? — Sophia sussurrou, o desespero começando a tomar conta dela enquanto a cena se desenrolava diante de seus olhos.
— Agora você tem sangue de um inocente nas suas mãos, Sophia. Como se sente? — Taehyung disse, sua voz fria e calculada. — Daqui uns minutos ele vai morrer..
Sophia estava em choque, os olhos arregalados enquanto as pessoas ao redor se reuniam, tentando ajudar o senhor caído.
— Isso foi só uma coincidência! — ela chorou, as lágrimas escorrendo pelo rosto. O caos ao seu redor a deixou completamente desnorteada.
Taehyung, frustrado, estalou os dedos mais duas vezes. Para seu deleite sombrio, uma moça e um rapaz próximos caíram no chão da mesma forma que o senhor, ambos se contorcendo de dor.
— Não! Não! — Sophia gritou, o desespero agora tomando conta dela. — O que está acontecendo? Por favor, pare!
— Está vendo? — Taehyung disse, sua voz imperturbável. — Se você não aceita a minha oferta, pode haver consequências ainda piores. Agora, diga que aceita, ou mais pessoas podem sofrer, eu mesmo posso fazer isso o dia todinho, mas ataques cardíacos? naah, não, vai ser beem pior. — Sorriu sarcástico.
Ela olhou ao redor, a multidão se aglomerando em torno das pessoas caídas, gritos de ajuda ecoando enquanto os paramédicos eram chamados. O pânico e a culpa a atingiram em cheio, e ela sentiu-se perdida.
— Okay Sophia, acho que você está confusa, vou te dar mais uma ajudinha... vou contar até três, e se você não aceitar, aquele prédio lá — Apontou para o outro lado do parque. — Vai despencar, e acredito que há muiitaaas famílias lá com a vida delas na sua mãozinha, Sophia....
— Tá bom! Está bom, por favor! — ela implorou, as palavras saindo apressadamente. — O que você deseja?
Taehyung a encarou, um sorriso triunfante surgindo em seu rosto.
— Eu a levarei comigo. E por causa de sua gracinha, não darei nenhum benefício a você — ele disse, sua voz suave, mas com um tom firme.
Sophia começou a chorar, as lágrimas escorrendo livremente agora. O peso da situação a esmagava, e ela se sentiu impotente.
— Mas... por que tudo isso? — ela perguntou, sua voz falhando.
— O pacto precisa ser selado com um beijo, então é melhor fazer isso logo antes que eu decida brincar com mais algumas vidas até te convencer de novo. — Taehyung respondeu, aproximando-se dela, sua presença quase hipnotizante.
Sophia olhou para ele, um misto de medo e desejo atravessando seu coração. A ideia de selar um pacto com um beijo parecia irreal, mas, ao mesmo tempo, havia algo sedutor na maneira como ele a olhava.
Taehyung inclinou-se mais perto, seus olhos fixos nos dela. O mundo ao redor deles desapareceu, e ela sentiu a conexão entre eles se intensificando. Ele se aproximou, e ela não conseguiu se afastar, atraída por um impulso inexplicável.
Quando seus lábios se encontraram, foi como se o tempo parasse. O beijo era intenso, carregado de uma eletricidade que percorreu todo o corpo de Sophia. Ele era possessivo e cheio de promessas não ditas, e, ao mesmo tempo, um misto de prazer e dor. Ela sentiu o mundo girar, a realidade distorcendo-se enquanto tudo o que conhecia se desvanecia.
Taehyung a puxou mais para perto, aprofundando o beijo, enquanto a pressão ao redor parecia se intensificar. No momento em que se separaram, Sophia estava sem fôlego, seus olhos arregalados, incapaz de compreender a magnitude do que acabara de fazer.
— Agora você está comigo — Taehyung sussurrou, um sorriso satisfeito se formando em seus lábios.
Ela estava perdida, sem saber o que realmente havia aceitado, mas o calor do beijo ainda queimava em seus lábios, e, por um momento, tudo o que ela queria era que as coisas fossem diferentes.
Uma voz cortou o ar, como um sussurro.
— Taehyung?
Ele se virou rapidamente, o coração disparado, e se deparou com Jungkook à sua frente, paralisado e com os olhos arregalados. O choque em seu rosto era evidente, e Taehyung percebeu que ele havia presenciado o beijo intenso entre ele e Sophia.
— Jungkook... — Taehyung começou a dizer, mas as palavras morreram em sua garganta quando Jungkook, sem dizer uma palavra, virou-se e começou a se afastar para longe, rapidamente.
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oiii, mil perdões a demora :P acabou sendo difícil atualizar mas juro que vamos voltar ao conograma de sempre 💋❤️
eita que cenão hein?
5K de palavras.
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