Eu me entrego.
Boa leitura! ✨
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Depois dessa mudança súbita de assunto por parte de Taehyung, Jungkook piscou algumas vezes, atordoado pela falta de resposta concreta. Ele sabia que Taehyung era imprevisível, mas não esperava essa saída, especialmente depois do que acabou de dizer. Um misto de frustração e alívio cresceu dentro dele. Talvez fosse melhor não ter uma resposta imediata para todas as perguntas que rondavam sua mente.
— Sério? — Jungkook perguntou, tentando não parecer desapontado. — É isso o que você quer fazer agora? Fumar?
Taehyung deu de ombros, como se a tensão de minutos atrás nunca tivesse existido, pegando um maço de cigarros no bolso e girando entre os dedos.
— Você não quer? eu não vejo outra coisa pra fazer. — Ele respondeu, já caminhando em direção à porta que dava para o lado de fora.
Jungkook soltou um suspiro cansado, percebendo que talvez fosse impossível obter qualquer resposta clara de Taehyung. Ele ainda sentia o toque delicado do outro em seu rosto, a maneira como os olhos dele se suavizaram momentaneamente, mas logo aquele lado cuidadoso parecia ter se dissipado. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam, pelo menos por agora.
— Tá bom. — Ele concordou, seguindo Taehyung para o lado de fora.
O ar noturno estava frio, e o céu escuro se estendia sobre eles. Taehyung acendeu o cigarro, o brilho laranja iluminando brevemente o rosto dele antes que ele soltasse uma longa tragada de fumaça no ar. Jungkook se encostou na parede, cruzando os braços novamente, ainda processando o que havia dito minutos atrás.
— Então... — Taehyung começou, sua voz calma, mas com uma ponta de curiosidade. — Você acha que eu quero transar com você? Eu podia estar falando de uma conversa durante a noite toda.
Jungkook ficou tenso ao ouvir a pergunta. Ele sabia que Taehyung nunca deixaria algo assim passar, mas o jeito despreocupado com que ele falou o irritou.
— Você não respondeu, então o que eu deveria pensar? — Jungkook retrucou, com uma mistura de nervosismo e irritação.
Taehyung deu mais uma tragada no cigarro e, em vez de responder diretamente, virou-se para Jungkook, deixando o cigarro entre os lábios enquanto analisava-o de cima a baixo. O silêncio entre os dois crescia, carregado.
— Talvez você devesse pensar menos... — Taehyung disse finalmente, jogando a bituca do cigarro no chão e pisando nela. — E apenas sentir mais as coisas, sei lá, deduzir, parar de ficar perguntando.
Jungkook estreitou os olhos, tentando entender o que Taehyung queria dizer com aquilo. Sentir o quê? O calor da proximidade deles, a confusão que o dominava ou a atração que tentava a todo custo negar?
— Você é impossível de se deduzir. — Ele disse, sem conseguir esconder a frustração.
Taehyung apenas riu de leve e deu um passo para mais perto, inclinando-se levemente em direção a Jungkook, deixando-o desconcertado mais uma vez.
— Talvez seja isso que te faça voltar sempre pra mim.
Jungkook riu soprado incrédulo com o que ouviu, decidiu mudar de assunto com a primeira coisa que lhe veio a cabeça.
— Acho que vou... vou na lojinha pegar algumas bebidas. — Jungkook gaguejou, se afastando e virando-se de costas para Taehyung, tentando controlar a ansiedade daquela conversa.
Taehyung sorriu, um sorriso afiado e ligeiramente sinistro, enquanto inclinava a cabeça, observando Jungkook com interesse.
— Quer que eu vá com você? — Taehyung perguntou, o tom de sua voz soando como uma oferta inofensiva, mas com uma leve malícia por trás, como se estivesse oferecendo ajuda.
— Não! Eu vou sozinho, não precisa se incomodar. — Jungkook respondeu rapidamente.
Sem esperar outra palavra, ele saiu, apressando os passos até chegar na lojinha de conveniência onde trabalhava.
As ruas eram silenciosas, e imagens de tudo que tinha acontecido começou a invadir sua mente.
Assim que entrou, o ar familiar e o som suave das portas automáticas o fizeram respirar um pouco mais aliviado. Namjoon, seu chefe, estava no balcão como sempre, um sorriso caloroso se formando em seus lábios quando viu Jungkook entrar.
— Ei, Jungkook! O que você faz aqui a essa hora? — Namjoon perguntou, sempre gentil, enquanto continuava organizando algumas mercadorias atrás do balcão.
— Vim pegar umas garrafas de soju, sabe como é, noite longa. — Jungkook respondeu, tentando esconder o nervosismo com um sorriso, enquanto pegava algumas garrafas na prateleira.
— Você vem trabalhar amanhã, né? — Namjoon perguntou casualmente, lançando um olhar rápido para Jungkook e para as bebidas.
— Sim, sim, estarei aqui. — Jungkook afirmou, tentando soar mais tranquilo enquanto colocava as garrafas no balcão.
A conversa continuou leve por mais alguns minutos até que a porta da loja se abriu, e a atmosfera mudou completamente. Uma mulher entrou, a mesma que havia avisado sobre a prateleira solta alguns dias antes. Ela caminhou até o caixa com uma expressão séria, quase sem emoção, e colocou uma barra de chocolate no balcão.
Namjoon olhou para ela, preocupado com sua expressão fria.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, tentando ser gentil.
— Sim. — Ela respondeu sem qualquer emoção, a voz quase monocórdia. Seus olhos então se voltaram diretamente para Jungkook, penetrantes e desconcertantes.
Jungkook sentiu um arrepio na espinha quando ela o encarou, como se estivesse olhando dentro de sua alma. Então, ela falou, a voz firme e sem hesitação:
— Você está se metendo em grandes problemas.
Jungkook piscou, confuso, e soltou uma risada nervosa.
— Desculpa, o que você disse?
A mulher pegou o chocolate, mas antes de sair, olhou mais uma vez nos olhos de Jungkook e, dessa vez, sua voz saiu como uma sentença inescapável:
— Ela vai morrer, e a culpa será sua.
E com isso, ela saiu pela porta da loja, deixando uma sensação gelada no ar.
Jungkook ficou paralisado por alguns segundos, a mente rodando para processar o que acabara de ouvir. Seu corpo se arrepiou inteiro, o coração batendo descompassado. Namjoon também parecia atordoado, olhando para a porta por onde a mulher tinha acabado de sair.
— Meu Deus... o que foi isso? — Namjoon murmurou, incrédulo, antes de voltar o olhar para Jungkook. — Não se preocupe, ela deve estar bêbada...
Mas Jungkook não conseguia ignorar. As palavras dela ecoavam em sua mente, como um aviso sombrio que ele não podia afastar.
"Ela vai morrer, e a culpa será sua."
Jungkook sentiu um peso crescer em seu peito. Quem era "ela"?
Jungkook pegou as garrafas de soju e tentou sorrir para Namjoon, mas era claro que sua mente estava a mil, as palavras da mulher ainda ecoando dentro dele. Ele colocou o dinheiro no balcão, tentando agir normalmente.
— Acho que vou voltar pra casa. — Ele disse, a voz um pouco tensa, mas forçando um tom amigável.
Namjoon, percebendo a preocupação nos olhos de Jungkook, sorriu gentilmente e deu um tapinha no ombro dele.
— Não se preocupa, Jungkook. As pessoas às vezes falam coisas estranhas... Não deixe isso te abalar, ok? Vai saber o que ela usou antes de vir aqui...
Jungkook assentiu, tentando parecer mais tranquilo, embora fosse óbvio que não estava. Ele pegou as garrafas e se despediu com um gesto rápido, saindo pela porta.
Do lado de fora, a rua parecia mais silenciosa do que o normal. Jungkook caminhava lentamente, cada passo pesado com os pensamentos que o atormentavam. A voz da mulher ecoava, as palavras ameaçadoras pairando sobre sua cabeça como uma nuvem sombria.
Enquanto ele caminhava, uma luz intensa de repente invadiu sua visão, fazendo-o parar abruptamente e erguer a mão para proteger os olhos. Quando a luz começou a suavizar, ele viu Rosé, sua presença angelical, serena e radiante.
— Jungkook. — A voz dela era suave, quase como uma melodia que trazia alívio imediato. — Você se esqueceu da nossa última conversa?
Jungkook balançou a cabeça lentamente, indicando que não.
Rosé sorriu docemente, mas havia algo diferente no ar, uma seriedade delicada.
— E sobre o passado de Taehyung, você já sabe, não sabe?
— Sei. — Ele respondeu, a voz baixa, o peso do que vinha a seguir já o pressionando.
— Então você sabe que, agora que ele confessou seu pecado indiretamente, ele deve pagar por isso. Deve ser libertado da dívida que carrega. — Rosé disse, suas palavras cheias de uma calmaria estranha.
Jungkook franziu o cenho, confuso.
— Mas ele já não está pagando? — Ele perguntou, com uma ponta de frustração na voz. — Ele virou um demônio.
Rosé balançou a cabeça suavemente, os olhos brilhando com uma sabedoria superior.
— Não. Isso não é uma punição dos céus. A verdadeira dívida ainda não foi paga. Taehyung precisa morrer. — Ela fez uma pausa, a suavidade de suas palavras contrastando com o conteúdo devastador. — E você deve morrer junto a ele.
Jungkook congelou, os olhos arregalados em choque.
— Como você pode me pedir isso? — Ele disse, a voz incrédula, quase sem ar. — Como você pode pedir que eu mate alguém? Você é... você deveria ser meu anjo da guarda.
Rosé suspirou, com uma leve tristeza no olhar.
— Jungkook, você nasceu com um propósito. O propósito de matar Taehyung. Se fizer isso, sua alma será salva para sempre. Ele, por outro lado, apenas deixará de existir na Terra. Será exilado, isolado em um lugar onde não poderá fazer mais mal.
Jungkook sentiu a raiva borbulhar dentro dele, a injustiça das palavras de Rosé atingindo-o como uma maré violenta.
— Você se diz meu anjo da guarda, mas nunca me ajudou! — Ele gritou, as emoções transbordando. — Taehyung... Taehyung sempre esteve ali para mim. Ele me ajudou mais do que você fez!
Rosé se surpreendeu com a grosseria de Jungkook, seu rosto mostrando um choque momentâneo, mas ela rapidamente se recompôs, a voz ficando mais fria.
— É, realmente... andar com demônios não está te fazendo bem. Você costumava ser tão bonzinho... tão puro, mas se você quer ouvir uma verdade lá vai! — Suspirou. — Taehyung te salva dos problemas que ELE te coloca.
— De qualquer forma ele me ajuda, e o que você está pedindo é um absurdo! — Jungkook rebateu, o coração acelerado. — Eu não posso... eu não vou fazer isso!
Rosé olhou para ele, seus olhos antes acolhedores agora parecendo mais distantes, como se estivesse prestes a revelar algo terrível.
— Você não precisa matá-lo. Apenas prenda-o em um pentagrama no chão. Nós, os anjos, faremos o resto. — A voz dela se tornou ameaçadora, fria como o gelo. — Se não fizer isso, todos ao seu redor morrerão. Hoseok, Lisa, Namjoon... todos eles.
O corpo de Jungkook tremeu, o pavor crescendo dentro dele. Mas antes que pudesse responder, Rosé deu o golpe final.
— Mas se fizer isso, Jungkook... você terá a chance de rever sua mãe. Para sempre.
A menção de sua mãe foi como uma facada em seu coração. Ele sentiu o mundo ao seu redor girar, e as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto antes que pudesse controlá-las. O peito apertado, o ar parecia faltar, e a única coisa que ele conseguia ver era o rosto de sua mãe, sua lembrança viva, a dor de perdê-la rasgando sua alma mais uma vez.
Rosé observou-o calmamente, como se estivesse esperando a escolha inevitável.
— Então, Jungkook... escolha. Taehyung... ou sua mãe.
Jungkook ficou em choque, o peso das palavras dela caindo sobre ele como uma avalanche. As lágrimas escorriam por seu rosto, enquanto ele tentava desesperadamente encontrar uma saída, algo que o tirasse daquela escolha terrível.
— Ele não precisa escolher. — A voz de Taehyung se fez presente, atraindo os olhares a ele. — Eu me entrego a você.
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Peço perdão pela demora! 😞 prometo atualizar com mais frequência.
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