Então ele é real?

Boa leitura!♡
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— Ah, vai tomar no cu. — Jungkook soltou um riso amargo, quase como se estivesse zombando de si mesmo. — Que maravilha… — murmurou, olhando para o céu. — Primeiro o louco do meu pai, agora alucinações suicidas? O que será o próximo? Deixa eu advinhar... uma carta de agradecimento do universo?

Taehyung permaneceu em silêncio por um momento, observando Jungkook com interesse crescente. Sua presença, até então carregada de provocações, assumia um tom mais denso, quase como se ele estivesse absorvendo a dor do outro para se alimentar dela.

— Você tem um jeito peculiar de lidar com tudo isso. — A voz de Taehyung cortou o ar, baixa e quase sedutora. — Não desiste, mesmo quando está tão perto do limite. Isso é impressionante, sabia? Eu de você — Apontou para si mesmo fazendo uma pausa dramática e logo sorrindo. — Tentava dar um jeito nisso aí, irmão.

Jungkook virou a cabeça para ele, com um olhar de cansaço e desdém.

— Eu só... não tenho pra onde ir. Não significa que eu esteja aguentando bem. — Ele riu de novo, mas dessa vez havia algo mais sombrio em seu riso. — Não estou sendo forte, só estou aqui... por estar, saca?

Taehyung arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado.

— Então, você já se rendeu, é isso? Só está passando os dias até que tudo acabe?

Jungkook deu de ombros, seus olhos voltando para o céu estrelado.

— E se eu estiver? O que isso muda?

A provocação nos lábios de Taehyung deu lugar a uma expressão quase suave, como se estivesse vendo algo em Jungkook que o fascinava. Ele se aproximou, sentando-se mais perto, seus olhos escuros não desviando de Jungkook.

— Muda muita coisa. — Taehyung inclinou a cabeça, como se estivesse tentando entender melhor o que se passava dentro dele. — A maioria das pessoas... — Ele fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Elas se quebram, deixam a dor consumir tudo. Você não. Está aqui, zombando da sua própria tristeza, como se ainda estivesse lutando contra ela. Você ainda quer... algo, mesmo que não saiba o que é.

Jungkook olhou para ele, desconfiado.

— Por que você se importa? — perguntou, o sarcasmo ainda presente, mas com uma pitada de curiosidade genuína. — Não é como se você soubesse o que estou passando.

Taehyung sorriu, mas seus olhos permaneceram frios, quase cruéis.

— Não. Eu não sei. Mas eu vejo — Ele admitiu, inclinando-se um pouco mais. — E eu posso ver... a fraqueza em pessoas como você. E isso me fascina. Porque, no fundo, você ainda quer algo... ainda tem algo a perder. E eu me pergunto quanto tempo vai demorar até você perceber que lutar é inútil.

Jungkook sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo em Taehyung que era ao mesmo tempo repulsivo e atraente, como uma força que puxava seu lado mais sombrio para fora. Mas ele não cedeu.

— Se você está esperando que eu me quebre, vai ter que esperar sentado. — disse Jungkook, firmando sua voz. — Não sou do tipo que desiste, não importa o quanto isso doa... eu não vou deixar você ou qualquer outra pessoa tirar o pouco que ainda me resta, eu decido quando vai acabar, e não é agora, irmão.

Taehyung riu baixinho, sua risada soando como um eco de algo muito mais antigo e perverso do que ele parecia ser.

— É isso que torna tudo mais interessante. — murmurou, seus olhos brilhando com uma intensidade quase predatória. — A luta. O desespero. Você ainda tem muito a aprender, Jungkook. E eu vou gostar de estar bem pertinho de você, para perceber o quão frágil tudo isso realmente é para você.

Jungkook o encarou por mais um momento, sentindo a presença de Taehyung como uma sombra constante ao seu lado, uma ameaça silenciosa. Mas, ao invés de recuar, ele apenas ergueu o queixo, mostrando que, mesmo machucado, ainda aguentava mais.

— Não vou te dar esse prazer. — disse ele com firmeza.

Taehyung sorriu de novo, mas dessa vez não havia apenas malícia ali. Havia curiosidade, quase como se ele estivesse começando a admirar a força de Jungkook.

— Veremos. — Taehyung sussurrou, levantando-se do telhado com a graça de alguém que sempre teve controle sobre as situações. — Eu ainda vou te mostrar que o caos é uma força muito mais tentadora do que você imagina.

E com isso, ele se foi, deixando Jungkook sozinho no telhado, encarando as estrelas com o peso das palavras de Taehyung ainda pairando sobre ele.

— Alucinação de merda.

Depois que Taehyung se foi, Jungkook ficou alguns minutos no telhado, tentando entender o que acabara de acontecer. Ele respirou fundo, sentindo o ar fresco da noite, mas o peso em seus ombros permanecia. Decidiu que era melhor tentar dormir, mesmo sabendo que o sono provavelmente não seria tranquilo.

Ao entrar no quarto, fechou a janela com cuidado, olhando mais uma vez para o céu antes de se jogar na cama. Enrolou-se nos cobertores, esperando que o cansaço físico fosse suficiente para apagar seus pensamentos por algumas horas.

No dia seguinte.

Jungkook acordou com a luz do sol entrando pela fresta da cortina. Ele piscou algumas vezes, ainda meio atordoado, e estendeu a mão para pegar o celular. Havia uma notificação de e-mail. Ele esfregou os olhos, sentindo o corpo pesado, mas abriu a mensagem.

"Parabéns! Sua candidatura foi selecionada para uma entrevista na nossa loja de conveniência. Por favor, compareça às 10h de hoje. Estamos ansiosos para conhecê-lo!"

Era a loja de conveniência onde ele havia enviado o currículo na noite anterior. Jungkook piscou, tentando processar a rapidez da resposta. Olhou o horário. Já passava das 8h.

— Merda! — murmurou, pulando da cama.

Ele correu para o banheiro, lavando o rosto rapidamente e tomando um banho curto. Quando saiu, vestiu uma roupa simples, mas limpa: uma camiseta preta e jeans. Arrumou o cabelo de qualquer jeito no espelho, sentindo a tensão subir. Sua cabeça ainda doía da noite anterior, mas ele ignorou.

Ao descer as escadas, percebeu que a casa estava vazia. O pai devia ter saído para o trabalho, o que era um alívio. Aproveitou para tomar o café da manhã tranquilamente. Abriu uma caixa de cereal, derramou no prato, e começou a comer enquanto olhava distraído para o relógio na parede. Tinha tempo, mas não muito.

Depois de terminar o cereal, Jungkook pegou a carteira, o celular e as chaves. Trancou a porta e saiu de casa, caminhando até a loja de conveniência que ficava a algumas quadras de distância. O ar da manhã estava fresco, o que ajudou a clarear sua mente. Ao chegar na loja, parou em frente à porta de vidro automática. Respirou fundo antes de entrar.

Assim que passou pela porta, o som de um sino anunciou sua chegada. A loja era pequena, mas organizada, com prateleiras cheias de lanches, bebidas e produtos variados. Atrás do balcão, um homem alto, de óculos e com um sorriso gentil, o observava.

— Jungkook, certo? — disse o homem, estendendo a mão. — Sou Namjoon, o dono da loja. Prazer em conhecê-lo.

Jungkook apertou a mão dele, sentindo um pouco de nervosismo.

— Prazer. Obrigado por me chamar para a entrevista.

Namjoon sorriu, indicando uma pequena mesa perto da janela.

— Vamos sentar? Eu gostaria de conversar um pouco antes de começarmos. Quero entender melhor sobre você.

Os dois se sentaram, e Namjoon pegou uma prancheta, mas parecia mais relaxado do que formal. Ele colocou os óculos sobre a cabeça e cruzou as mãos sobre a mesa.

— Então, Jungkook, você se candidatou ao turno da noite. Pode me contar um pouco mais sobre por que escolheu essa vaga?

Jungkook respirou fundo, tentando manter a calma.

— Eu... bom, preciso de um emprego, e o turno da noite me parecia perfeito. Tenho alguns compromissos durante o dia, e também prefiro a tranquilidade da noite, acho que consigo me concentrar melhor.

Namjoon assentiu, parecendo genuinamente interessado.

— Entendo. Trabalhar à noite pode ser desafiador às vezes. Pode ficar meio solitário, e você vai lidar com clientes mais imprevisíveis. Isso te preocupa?

Jungkook pensou por um momento, mas balançou a cabeça.

— Não. Na verdade, acho que prefiro isso. Preciso de um lugar onde possa me concentrar, sem muita distração. Além disso, não me importo de lidar com clientes, mesmo que sejam mais... difíceis.

Namjoon sorriu de leve, parecendo aprovar a resposta.

— Bom, aqui as coisas costumam ser tranquilas, mas vez ou outra aparece alguém complicado, sabe? Nada que a gente não resolva com paciência. — Ele fez uma pausa, olhando para Jungkook com atenção. — Me conta, Jungkook. Tem algo que você realmente espera desse trabalho? Algo além do salário?

A pergunta pegou Jungkook de surpresa. Ele pensou por alguns segundos, sem saber exatamente o que responder.

— Eu... só preciso de algo estável. Algo que me dê uma rotina, um motivo para sair de casa e me manter ocupado. — Jungkook olhou para Namjoon, percebendo que, talvez, estivesse sendo sincero demais. — E, claro, o salário é importante também.

Namjoon riu suavemente, balançando a cabeça.

— Honestidade é bom. Eu gosto disso. — Ele ajustou os óculos, olhando para algumas anotações na prancheta. — Eu acho que você se daria bem aqui. Temos uma equipe pequena, mas é um ambiente tranquilo. E, pelo que vejo, você parece alguém que se adapta fácil.

Jungkook se sentiu um pouco mais relaxado com o tom acolhedor de Namjoon.

— Estou disposto a aprender e dar o meu melhor. Só preciso de uma chance.

Namjoon fechou a prancheta e estendeu a mão novamente.

— Acho que essa chance é sua, Jungkook. Podemos começar com um período de experiência, e se tudo correr bem, a vaga é sua.

Jungkook apertou a mão de Namjoon, aliviado e um pouco surpreso com a rapidez das coisas.

— Obrigado... de verdade. Eu não vou decepcionar.

Namjoon sorriu mais uma vez, com um olhar amistoso.

— Tenho certeza de que não. Vamos começar hoje à noite, então. Apareça aqui às 19h e eu te mostro tudo.

Jungkook assentiu, levantando-se da mesa com um novo ânimo. Ele se despediu de Namjoon e saiu da loja, sentindo um leve peso sair de seus ombros. Talvez, só talvez, as coisas estivessem começando a mudar.

Jungkook saiu da loja com a mente um pouco mais leve, sentindo o frescor do ar bater contra o rosto. Ele caminhava pela calçada, ainda digerindo a entrevista, quando uma sensação estranha tomou conta dele. Algo fez sua pele se arrepiar, como se estivesse sendo observado.

Ao levantar o olhar, ele congelou. Do outro lado da rua, em meio ao movimento das pessoas e dos carros, Taehyung estava ali, parado, o encarando com aquele mesmo olhar intenso e enigmático da noite anterior. Jungkook piscou, incrédulo. "Como ele...?"

Seus pés começaram a se mover sem que ele sequer percebesse. Era como se algo dentro de si o puxasse na direção de Taehyung, um impulso incontrolável. Ele deu alguns passos à frente, sentindo o coração acelerar, enquanto os olhos de Taehyung pareciam penetrar sua alma. Estava hipnotizado.

— Taehyung...— sussurrou para si mesmo, a voz engasgada.

Jungkook já estava no meio da rua quando escutou as buzinas ensurdecedoras. O som o fez despertar do transe por um breve segundo, mas não o suficiente para entender o que estava acontecendo.

"Sai da rua, idiota!" gritou alguém.

De repente, um carro surgiu em alta velocidade, buzinando furiosamente. Jungkook olhou para o lado e sentiu o pânico atravessar seu corpo. Seus pés se cravaram no asfalto, como se estivesse preso no chão, incapaz de se mover.

O carro estava a poucos metros dele, e, por um instante, tudo pareceu desacelerar. Ele sentiu o vento do veículo quase o atingir, mas no último segundo, seus reflexos finalmente o salvaram. Jungkook saltou para trás, caindo sobre a calçada, ofegante e com o coração disparado.

As buzinas continuaram por alguns instantes, mas Jungkook apenas ficou ali, sentado no chão, tentando recuperar o fôlego. Ele olhou ao redor, procurando por Taehyung, mas... ele havia sumido. Como se nunca estivesse ali.

— Que... que merda foi essa? — murmurou, ainda atordoado, o coração pulsando no peito com força.

Ele se levantou devagar, esfregando as mãos nos joelhos, como se isso pudesse afastar o desconforto de quase ter sido atropelado. A mente de Jungkook rodava, tentando compreender o que havia acabado de acontecer. "Será que eu o imaginei? Será que Taehyung estava realmente ali?"

Incrédulo e perturbado, Jungkook olhou mais uma vez para o outro lado da rua, onde Taehyung deveria estar, mas tudo o que ele encontrou foi um fluxo comum de pessoas, sem sinal algum dele. As palavras de Taehyung da noite anterior ecoaram em sua mente.

"Você já está aqui, né? Na beirada..."

Jungkook balançou a cabeça, tentando afastar aquele pensamento. Respirou fundo e começou a caminhar de volta para casa, ainda incrédulo com sua própria reação.

"Eu realmente quase fui atropelado por seguir... uma alucinação?"

Mesmo com o susto, algo sobre Taehyung parecia continuar puxando Jungkook para um lugar que ele não conseguia entender.

Enquanto Jungkook caminhava de volta para casa, o telefone em seu bolso vibrou, interrompendo seus pensamentos. Ele pegou o celular e viu o nome de Hoseok na tela.

— Alô? — disse ele, a voz ainda um pouco trêmula depois do incidente.

— Jungkook! Eu preciso te ver — a voz de Hoseok soava animada, mas havia uma certa urgência ali. — Tem uma cafeteria aqui perto de onde você está. Pode me encontrar lá? Preciso conversar com você.

Jungkook hesitou por um segundo, ainda atordoado, mas respondeu:

— Claro, Hobi. Eu vou pra lá agora.

Ele se dirigiu para a cafeteria que Hoseok mencionara, enfiando as mãos nos bolsos e tentando acalmar o coração ainda acelerado. Porém, no meio do caminho, aquela sensação voltou. O mesmo arrepio na nuca. Quando ele olhou para o lado, lá estava Taehyung, caminhando ao seu lado com a maior naturalidade do mundo.

Jungkook apertou o passo, tentando ignorá-lo. "Não, de novo não."

— Onde você vai? — perguntou Taehyung com um tom provocativo, mantendo o ritmo ao lado de Jungkook. — E por que está me ignorando?

Jungkook não olhou para ele, mantendo o olhar fixo no chão à frente.

— Não vou cair nessa de novo — murmurou entre dentes. — Da última vez que te segui, quase fui atropelado.

Taehyung soltou uma risada baixa, como se estivesse se divertindo com a situação.

— Quase foi atropelado porque é distraído. Não foi minha culpa.

Jungkook balançou a cabeça, se esforçando para não responder. "Não posso ficar falando com ele... é só uma alucinação. Se alguém me ver, vai achar que estou louco."

Taehyung continuou insistindo, sua voz ecoando na cabeça de Jungkook:

— Você realmente acha que sou só uma alucinação? Olha pra mim, Jungkook. Sou tão real quanto você.

Jungkook apertou os punhos dentro dos bolsos e sussurrou, baixo o suficiente para que ninguém ao redor pudesse ouvir:

— Se você fosse real, as pessoas ao redor também te veriam. Não posso ficar falando sozinho no meio da rua. Já acham que sou esquisito o suficiente sem precisar de mais isso.

— Mas eu sou real, Jungkook — a voz de Taehyung era suave, quase sedutora. — Por que você não me dá uma chance de provar?

Jungkook soltou um suspiro exasperado, acelerando o passo. Ele não podia se deixar levar novamente. "Preciso ignorá-lo. Preciso... é só a minha cabeça aparentemente tentando me matar."

Quando finalmente chegou à cafeteria, Jungkook parou na porta, olhando ao redor para ver se encontrava Hoseok. Foi nesse momento que ele ouviu uma voz atrás de si.

— Jungkook, veio acompanhado? — perguntou Hoseok, com o cenho franzido porém com o mesmo sorriso amigável de sempre.

Jungkook se virou bruscamente, o coração quase parando por um segundo. Hoseok estava parado logo atrás dele, olhando diretamente para Taehyung. O ar ao redor pareceu ficar mais pesado, e uma sensação de pânico atravessou o corpo de Jungkook.

— Quem... quem é ele? — Hoseok insistiu, com uma expressão confusa.

Jungkook olhou incrédulo para Taehyung, que agora sorria de forma quase arrogante. Ele abriu a boca para falar, mas não conseguia processar o que estava acontecendo.

"Então... ele é real?"

Jungkook piscou, ainda atordoado, e olhou de volta para Hoseok, a voz falhando por um segundo.

— Eu... eu não sei.

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Espero que gostem♡

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