E então? vai pular?

Boa leitura!♡
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— Você já pensou em vir comigo à igreja? — Hoseok perguntou, a voz suave e cheia de preocupação. — Eu sei que não gosta de falar muito sobre isso, mas... a depressão é uma batalha espiritual, Jungkook. Se você se apegar ao Senhor, Ele pode te curar.

Jungkook olhou para ele com um sorriso leve, apreciando o esforço do amigo. Hoseok sempre foi assim, otimista e fiel. O tipo de pessoa que enxerga a luz em qualquer escuridão, ele era a definição de bondade.

— Eu entendo que você acredita nisso, Hobi — disse Jungkook, a voz calma, quase resignada. — Mas eu não sei se é isso, sabe? Talvez não seja falta de Deus... talvez seja só... algo da vida, algo que preciso aprender a lidar, faz parte amigo. — Sorriu fraco.

Hoseok suspirou, um tanto frustrado, mas sem perder o tom sereno.

— Não estou dizendo que não seja algo sério, mas... você sabe que eu só quero te ver bem, né? Deus tem um propósito, mesmo nas lutas, ele pode te ajudar se você estiver próximo, ggukie.

Jungkook assentiu, seus olhos vagando pela sala. Ele respeitava Hoseok e sua fé, mas a religião nunca tinha mexido com ele da mesma forma.

— Eu sei. Mas, por enquanto, vou continuar lidando do meu jeito. Quem sabe um dia, né?

Hoseok sorriu, ainda que um pouco triste, mas decidiu deixar o assunto para outro momento.

— Tudo bem, mas lembre-se, para Deus nunca é tarde.

Ambos ficaram em silêncio enquanto assistiam tv na sala.
Mas Hoseok logo quebra o silêncio.

— Ok, mas falando em coisas da igreja —  Hoseok começou, inclinando-se um pouco mais perto, como se estivesse prestes a compartilhar um segredo. — Você não vai acreditar no que aconteceu no último culto.

Jungkook ergueu as sobrancelhas, interessado, mas com um leve sorriso no rosto.

— O que foi?

— Bem, estava lá quando a irmã Yoon, você sabe, a que sempre canta aquelas músicas poderosas... — Hoseok disse, fazendo uma pausa dramática. — Ela quase desmaiou no meio do louvor!

— Sério? O que aconteceu?

— Sim! Deixando claro que não faço fofoca, pois respeito a casa do Senhor — ele apressou-se a dizer, com um ar sério e um toque de humor —, mas a irmã estava tão emocionada que se esqueceu da letra da música. Aí, começou a improvisar com algumas palavras bem engraçadas!

Jungkook riu, imaginando a cena.

— O que ela disse?

— Algo sobre "anjos dançando no céu com donuts"! Foi hilário! Todo mundo ficou sem saber se ria ou se ajudava. No final, ela riu também e disse que a alegria do Senhor é a nossa força.

— Não acredito. - Jungkook comentou, sorrindo mais genuinamente agora. — Um verdadeiro culto de adoração aos donuts.

— Exatamente! E no fundo, é isso que eu amo — disse Hoseok, mais sério. — A gente pode encontrar alegria mesmo nas situações mais inesperadas.

Jungkook assentiu.

— E como andam as coisas em casa? — Hoseok perguntou, a preocupação tomando conta de seu rosto. Ele já sabia que a situação com o pai de Jungkook não era fácil.

Jungkook hesitou por um momento, os pensamentos pesados. Ele olhou para o chão, buscando as palavras.

— Não tão boas, para ser sincero - começou, a voz baixa. — Meu pai... ele voltou a beber, e a cada dia fica mais difícil.
A Lisa, cê sabe, não voltou pra casa desde quando a mamãe morreu... mas ela disse que daqui uma semana vai estar de volta.

Hoseok franziu a testa, preocupado.

— O que aconteceu? Ele te machucou de novo?

— Ontem à noite, ele estava realmente fora de controle. Eu... eu só tentei não fazer barulho, sabe? Mas ele ficou irritado com algo e, do nada, me tacou uma garrafa de vidro.

Hoseok arregalou os olhos, surpreso e horrorizado.

— Jungkook, poxa, isso é sério! Você se machucou?

Jungkook puxou a manga da camisa, revelando um corte na pele.

— Não é nada demais, só alguns arranhões... Mas a dor física nunca é a pior. Ele sempre desconta em mim, como se eu fosse a razão para tudo que dá errado na vida dele.

— Isso não está certo! Você não merece passar por isso — Hoseok disse, firme. — Você precisa de ajuda, alguém tem que te tirar dessa casa poxa!

Jungkook balançou a cabeça, sentindo a pressão nos olhos.

— Eu sei, mas... às vezes sinto que estou preso. Cê sabe, não tenho pra onde ir.

— Você não está sozinho, ggukie. Estou aqui para o que você precisar —Hoseok afirmou, colocando a mão no ombro do amigo. — Vamos encontrar uma forma de te ajudar a sair dessa, eu vou orar bastante para que Deus mostre o caminho.

Jungkook se sentia confortável ao lado de Hoseok. Apesar de seu amigo sempre falar sobre Deus e a igreja, ele era puro e sincero, e Jungkook sabia que podia contar com ele em qualquer situação. Hoseok nunca o julgava, apenas ouvia e tentava ajudar da melhor forma possível, e isso lhe dava um alívio que ele não encontrava em outro lugar.

Mas a noite já estava avançando, e Jungkook sabia que precisava ir embora. A última coisa que queria era dar mais uma razão para seu pai ficar irritado.

— Eu preciso ir, Hobi - disse, olhando para o relógio. — Se demorar muito, ele pode ficar bravo.

Hoseok assentiu, um pouco relutante.

— Tudo bem. Mas lembre-se, estou sempre aqui para você, ok?

— Obrigado, de verdade. Você é um ótimo amigo — Jungkook respondeu, forçando um sorriso antes de se levantar.

Os dois se despediram com um abraço, e Jungkook saiu da casa de Hoseok. O caminho para casa parecia interminável. Cada passo pesava como uma âncora em seus pés. Ele olhava para o chão, sentindo que o peso do mundo estava sobre seus ombros.

Ele sentia uma tristeza profunda, como se fosse o fim do mundo.

Enquanto caminhava, seus pensamentos se tornaram um sussurro.

— Se o fim estiver próximo, traga logo... — ele murmurou para Deus, uma súplica silenciosa, desejando que a dor se dissipasse, mesmo que isso significasse um encerramento definitivo.

Enquanto Jungkook caminhava, a lembrança de sua mãe invadiu sua mente. A dor da perda ainda era fresca, como se tivesse ocorrido ontem. Fazia apenas alguns meses que ela se fora, e desde então, tudo parecia desmoronar ao seu redor. Seu pai, antes amoroso, tornara-se um estranho, agressivo e cheio de raiva, sua irmã não conseguiu lidar com a morte da mãe e foi viajar para o sul na casa dos tios, deixado Jungkook sozinho com o pai. A casa que deveria ser um lar agora era um campo de batalha.

Jungkook parou por um momento, sentindo as lágrimas ameaçarem escapar. Ele se lembrava dos dias em que sua mãe o abraçava, quando tudo parecia mais leve e cheio de sentido. Agora, cada dia que passava parecia uma repetição da dor, como se o mundo estivesse preso em um ciclo de escuridão.

A vida sem ela era insuportável. O vazio se tornava maior a cada respiração, e ele se perguntava se algum dia encontraria um motivo para continuar. O que restava de seus sonhos? Onde estava a alegria?

Ele balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos sombrios.

— Eu preciso encontrar um trabalho — disse a si mesmo, como uma forma de se ancorar na realidade. A ideia de ter um propósito, algo em que se concentrar, parecia a única maneira de lidar com o caos ao seu redor.

E assim, com esse pequeno objetivo em mente, Jungkook continuou seu caminho, determinado a buscar algo que pudesse trazer de volta um pouco de sentido à sua vida.

Então, chegou em casa de fininho, tentando não fazer barulho. A casa estava toda bagunçada, refletindo a desordem emocional que reinava por ali. Ele parou por um instante na sala e viu seu pai dormindo na poltrona, algumas garrafas de cerveja caídas ao seu lado. O coração de Jungkook apertou. Ele não queria arriscar acordá-lo e provocar mais uma explosão de raiva.

Silenciosamente, ele se dirigiu à cozinha e pegou um salgadinho qualquer, optando por algo fácil que não fizesse barulho. A fome era real, mas a ideia de perturbar a paz frágil do momento era ainda mais angustiante.

Com o salgadinho nas mãos, Jungkook subiu as escadas, sentindo cada passo como se estivesse atravessando um campo minado. Ao chegar ao seu quarto, hesitou por um segundo, mas decidiu trancar a porta. Era uma forma de proteção.

Sentou-se na mesa de estudos e abriu seu notebook. A luz da tela iluminou seu rosto, trazendo um pouco de conforto. Começou a pesquisar por vagas de emprego, sussurrando para si mesmo algumas opções que encontrava.

— Supermercado, cafeteria... - ele murmurou, até que, finalmente, viu algo que chamou sua atenção: uma lojinha de conveniência. Parecia perfeita, especialmente porque era para o turno da noite.

Com um leve lampejo de esperança, ele enviou seu currículo rapidamente, desejando que essa pudesse ser a mudança que tanto precisava.

Jungkook estava imerso em seus pensamentos quando ouviu batidas na porta. A voz do pai ressoou do outro lado, autoritária.

— Jungkook! Abra a porta!

Ele hesitou, o medo apertando seu peito, mas acabou abrindo. O pai entrou, com um olhar que Jungkook não conseguia decifrar.

— Você estava onde? — ele perguntou, sem muita cerimônia. Jungkook percebeu que a expressão do pai estava mais relaxada do que o habitual.

— Eu... só estava no meu quarto — respondeu, tentando manter a calma. — Precisa de algo?

O homem olhou para ele, como se ponderasse a pergunta, e então fez outra.

— Vai na igreja com o Hoseok?

Jungkook ficou em silêncio por um momento, pensando.

— Estou ainda pensando.

O pai fez um movimento brusco, entrando mais no quarto e olhando ao redor.

— Está tudo bem? — ele perguntou, de um jeito que fez Jungkook estranhar. Seu pai raramente se importava.

—Estou bem. — Jungkook disse, confuso com a atenção.

O olhar do pai se fixou no notebook aberto na mesa.

— O que você estava vendo? — perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Só jogando alguns jogos — Jungkook respondeu, tentando soar casual.

A reação do pai foi instantânea. Seu rosto se fechou em descontentamento.

— Você devia procurar um emprego e parar de ser um parasita irresponsável!

Jungkook engoliu em seco, o coração acelerado pela reprimenda. Ele hesitou, mas decidiu ser honesto.

— Na verdade, eu estava vendo um lugar para trabalhar...

O olhar do pai mudou, mas a irritação não desapareceu completamente. Jungkook sentiu que precisava se defender, mas as palavras pareciam emaranhadas em sua garganta.

— Entendi.

O pai de Jungkook franziu o rosto, mudando de assunto rapidamente.

— Eu estou irritado porque o pai do Hoseok veio aqui outro dia, pregando sobre uso de álcool e temperamento. Como se soubesse da nossa vida! — Disse incrédulo.

Jungkook tentou não se mostrar surpreso, mas a tensão no ar aumentava.

— Escute aqui, não quero que você ande falando da nossa vida pessoal para qualquer pessoa, entendeu?

— Eu não estou falando nada! — Jungkook negou rapidamente, o medo percorrendo seu corpo.

O pai o olhou com desconfiança, como se não acreditasse.

— Não seja mais idiota do que já é! Se você ficar espalhando isso, pode ter certeza de que a coisa vai ficar ainda pior para você.

Jungkook sentiu um frio na barriga, a raiva e a frustração se misturando em sua mente.

— Eu prometo que não falo!

— Você tem que ser mais responsável, Jungkook. Isso não é brincadeira! - o pai disse, elevando a voz. — Às vezes, eu me pergunto se você tem alguma ideia do que está fazendo da sua vida.

Com isso, o homem se virou, saindo do quarto sem esperar uma resposta. Jungkook ficou parado, sentindo o peso das palavras do pai ecoando em sua mente, enquanto a porta se fechava atrás dele.

— Se eu pudesse, eu acabava com ela agora mesmo, pai. — Sussurrou.

Jungkook se deixou cair na cama, a tristeza o inundou. Ele afundou a cabeça no travesseiro, e as lágrimas começaram a escorrer de uma forma que ele não conseguia conter. O travesseiro absorveu seus soluços, e ele mal conseguia respirar, quase sufocado. A sensação de impotência o envolvia, e ele desejava que o mundo ao seu redor desaparecesse.

Após alguns minutos, a tempestade interna começou a acalmar.
Ele se recompôs, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Com um suspiro profundo, se levantou da cama, decidido a não ficar mais assim.
Assim como todas as promessas que ele fazia diariamente para si sobre não ficar mais triste.

Jungkook olhou para o relógio. Sabia que precisava esperar até a meia-noite, como fazia todos os dias, para garantir que seu pai estivesse realmente dormindo.

Assim que o relógio marcou a hora, ele saiu cautelosamente, subindo as escadas até o telhado. A brisa fresca da noite envolveu seu corpo, e ele se sentou na beirada, olhando as estrelas que brilhavam no céu. Cada ponto de luz parecia distante, assim como seus sonhos, se é que ainda tinha algum.

Ele se perdeu em pensamentos, questionando-se sobre o que havia feito para merecer tudo aquilo.

— O que eu fiz para acabar assim? — sussurrou para as estrelas, na esperança de que alguém, ou algo, pudesse lhe responder.

Enquanto Jungkook observava as estrelas, uma presença inesperada surgiu ao seu lado. Um rapaz de cabelo preto estava sentado na beirada do telhado, olhando para o chão com um sorriso enigmático.

-—Se está tão ruim, você já está aqui, né? — ele disse, com um tom sarcástico. — Na beirada do telhado... — Apontou pro chão. - Prazer, Taehyung.

Jungkook virou-se para ele, arqueando uma sobrancelha.

— Ah ótimo, agora também tenho alucinações suicidas? Que maravilha — respondeu, tentando rir, mas o som saiu mais nervoso do que gostaria.

Taehyung apenas sorriu, como se sua provocação tivesse funcionado.

— Olha, deve haver um motivo para tudo isso estar acontecendo. Você sabe que o problema é você, não sabe?

Jungkook franziu a testa, a irritação começando a surgir.

— Espera aí! O que você quer dizer com isso? — ele se defendeu. — Eu não escolhi ter um pai assim ou perder a minha mãe!

— Eu só estou dizendo que a sua maneira de ver as coisas pode estar te puxando para baixo — Taehyung insistiu, sem perder a confiança. — Pula.

Jungkook respirou fundo, tentando manter a calma.

— E você acha que eu deveria me culpar por isso? não é justo. —  ele retrucou, a frustração transparecendo em sua voz. — Pula você.

— haha, até parece, é você que tem uma vida de merda, não eu. — Taehyung respondeu, como se tivesse uma resposta para tudo.

Jungkook sentiu um nó se formar em seu estômago, e, por um momento, ficou em silêncio, pensando se realmente era tão simples assim.

— Era só isso que faltava mesmo... uma alucinação pra encher meu saco.

— Isso não é uma alucinação — Taehyung afirmou, com uma confiança que parecia inabalável.

Jungkook balançou a cabeça, incrédulo.

— Claro que é. Eu estou começando a ficar doidinho. — Começou a rir fraco.

Então, para provar seu ponto, Taehyung estendeu a mão e criou uma pequena chama, o fogo dançando entre seus dedos. Jungkook recuou, a expressão de espanto no rosto.

— Viu? Isso não é normal! — Taehyung disse, tentando convencer.

— Isso só prova que não é real! — Jungkook respondeu, a voz elevada. — Ninguém consegue fazer isso!

A expressão de Taehyung começou a mudar, uma leve irritação surgindo em seus olhos. Ele se aproximou, a intensidade do seu olhar crescente.

— Você deveria desistir da vida, Jungkook. — A voz dele agora tinha um tom sério. — Tudo é tão difícil, e tentar só vai te machucar mais. Vale a pena?

Jungkook sentiu um frio na espinha, suas emoções se agitando.

— Não é simples assim ! — ele retrucou, embora uma parte dele começasse a se questionar. — Eu tenho certeza que no final pode ter alguma esperança...

— Esperança? — Taehyung riu, mas não era uma risada divertida. — Você realmente acha que há algo melhor te esperando? Jura? Nem você acredita nisso.

Jungkook se sentiu sufocado, o peso das palavras de Taehyung pesando sobre ele. O telhado agora parecia um lugar pior que sua casa.

— Cadê as alucinações boas? — perguntou Jungkook, rindo, tentando aliviar a tensão.

Ele olhou para Taehyung com uma mistura de desafio e curiosidade.

—Se você fosse realmente real, diria coisas terríveis como se matar? Por que o mundo seria tão melhor se eu morresse hoje aqui nesse telhado?

Taehyung hesitou, a provocação de Jungkook o pegando de surpresa. As palavras pareceram pesadas, e ele ficou em silêncio, buscando uma resposta que não vinha.

— Eu... - Taehyung começou, mas não conseguiu completar a frase.

Então, após um breve momento, ele se recuperou e falou com uma sinceridade que deixou Jungkook intrigado.

— Eu tenho te observado há muito tempo, Jungkook. Sei que você sofre com seu pai.
Estou apenas tentando te dar um incentivo para que você não precise passar por isso.

A sinceridade de Taehyung era estranha e desconfortável, como se ele estivesse oferecendo um tipo bizarro e completamente oposto de um possível carinho.

— É uma maneira de me importar — ele acrescentou, como se quisesse justificar suas palavras sombrias.

Jungkook ficou em silêncio, a confusão tomando conta dele. A ideia de que alguém se importava, mesmo que de uma maneira tão distorcida, parecia tão distante, mas ao mesmo tempo, um pouco reconfortante, por mais difícil que isso pareça.

— E então? vai pular? — Perguntou Taehyung com um sorriso no rosto.

— Ah, vai tomar no cu.

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Oioi! espero que tenham gostado do capítulo ♡











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