4- My Moon.

Hiduna

Já é noite, a lua já brilha do lado de fora. Ainda estou escondida dentro da casa de Jimin e Jungkook, me preparando para o que está prestes a acontecer.

- Você não precisa ir, Hiduna - é Jimin quem diz, tentando me fazer mudar de ideia, porque ele sabe que eu vou.

- Mas eu preciso, Jimin, você sabe disso. É algo necessário - eu tento explicar, enquanto o seguro pelos ombros. Ele é mais alto que eu, mas mesmo assim ainda alcanço seus braços. - Você sabe que é necessário, e mesmo que eu não saiba o que vai acontecer, sei que vai acabar me ajudando em alguma coisa, e você também sabe disso. Não se preocupe, eu vou ficar bem.

- Sabe que vamos te ajudar até o final, não é? - ele parecia mais calmo, e parecia aceitar melhor.

- Sim, sei, e agradeço.

Depois de tudo que eu fiz, é meio estranho perceber que tenho tanto a ajuda deles. Não tenho muito contato com os outros garotos quanto eu queria ter, mas sei que vou acabar conquistando isso aos poucos... Bom, espero que eu consiga.

Por algum motivo, até então desconhecido, a porta principal começou a se abrir. Jimin me escondeu em um abraço de imediato, verificando se havida tampado meus olhos. Ele não parecia temeroso de algo acontecer, parecia ser mais a precaução de que eu não iria olhar para a lua antes da hora. Quando a porta se fechou mais uma vez, eu enfim pude ver o que tinha acontecido.

Como se os tivesse chamado por pensamento, todos os outros garotos estavam ali, assim como Hiellena. Isso me deixou confusa, porque eu não sabia que eles viriam, e não sabia que iriam querer me ajudar.

- Nós também estamos aqui por você, Hiduna - Taehyung disse, sorrindo, enquanto todos os outros concordavam com a cabeça. Ele se aproximou para me dar um abraço, algo que eu não esperava.

- Obrigada - eu agradeci, sorrindo tanto que desconfio nunca ter sorrido assim antes. Eu sentia meus olhos marejados, feliz por ter tanta ajuda, apesar de tudo.

Depois disso, Jimin começou a falar comigo de novo, mais uma vez tentando me fazer desistir de ir, e tendo uma negativa, ele apenas aceitou e me deixou andar em direção à porta.

Eu olhei para trás mais uma vez, passando meu olhar por todos, antes de demorar um pouco mais em Namjoon. Ele estava aqui desde que chegou, e confesso que, mesmo achando estranho, fiquei muito feliz com isso, internamente.

Eu saí, olhando para o chão, a princípio. Eu senti todos vindo atrás de mim, enquanto eu caminhava cada vez mais em direção à praia.

Ainda sem olhar para o céu, eu me virei, olhando cada um mais uma vez. Eu sentia a luz da lua parecer queimar em minha pele, e conseguia sentir a pressão daquele momento. Parecia que ela estava me chamando, é como se ela ansiasse pelo momento em que me teria em seu controle. Mas ela realmente estava falando comigo, realmente estava me chamando, dizendo que precisava de mim.

Eu fechei os olhos, baixando a cabeça e tampando meus ouvidos, tentando refrear o choro. Ouvir a lua dessa forma é horrível, porque eu sei que ela não é assim, mas nesses determinados momentos, ela parece realmente do mal.

- Eu não quero te ouvir assim - eu disse, inacreditavelmente ouvindo sua resposta.

- Você sabe que eu sou assim nessas épocas, querida. Eu preciso de você, quero ter controle sobre ti.

- Hiduna, eu sei que é ruim ouvi-la assim, mas você precisa se acalmar - eu ouvi Jimin dizer, enquanto eu caia de joelhos da praia.

- Você não a ouviu em outro momento, não sabe como ela não é assim, não sabe como ela é afetuosa - eu disse, me lamentando, o fazendo entender o que eu dizia. - Me dói ouvi-la assim, e agora parece que é pior que em qualquer outra maldição. Sua luz realmente queima em minha pele.

Eu já havia aberto os olhos, olhava para a areia da praia, sentindo o vento batendo em mim, trazendo o cheiro da maresia.

- Sinto ela tendo controle sobre mim mesmo sem ter olhado - eu disse, erguendo meus olhos para o de cabelos escuros.

- Hiduna, os seus olhos... - ele começou, boquiaberto. - Estão inconsistentes, parece não saberem se vão ficar na sua cor natural ou se vão ativar a visão noturna. É... Assustador.

Sabendo disso, eu percebi que não poderia escapar disso. Eu respirei fundo, juntando forças para me levantar. Já de pé, eu me virei de frente para a lua, com coragem suficiente para olhá-la. Eu não poderia desistir agora, eu precisava passar por isso.

No mesmo instante que a olhei, a senti tomando conta de mim. Foi como se estivesse entrando em cada poro meu, como se estivesse literalmente se apossando de mim. Tenho quase certeza de que dos outros não foi assim, e talvez não tenha sido sempre por minha causa.

Parando para prestar atenção, percebo o quanto tentei ajudar as diversas sereias e tritões que enfeiticei, tanto em questão do feitiço em si, quanto nessas fazes da lua.

Por algum motivo, senti meus poderes voltando, algo que não deveria estar acontecendo. Senti algo tão forte, que eu não conseguiria controlar. Não parecia meu poder em si, porque parecia ser bem maior, parecia ampliado.

- Ela devolveu meus poderes, e os ampliou - eu disse, em choque, me virando para todos ali presentes mais uma vez. Eles não conseguiram ouvir. Meus olhos estavam fixos em minhas mãos, que tremiam levemente.

- A partir de agora, por mim e durante o tempo em que eu estiver no céu essa noite, eu digo que você terá seus poderes de volta, ampliados de uma forma que será difícil controlá-los.

Ela disse o que eu já havia constatado. Nesse momento, eu não conseguia pensar em mais nada, não ouvia nada à minha volta. Não sabia o que fazer, e tinha medo de machucar alguém, qualquer pessoa, estando ali ou não.

- Por favor, não quero que se aproximem de mim - eu pedi, já sentindo meus poderes começarem a se desestabilizarem.

- O que ela fez com você? - inacreditavelmente, foi Namjoon quem perguntou.

- Eu não consigo controlar meus poderes - eu disse, sentindo o vento aumentar, ao mesmo tempo em que o mar começava a ficar mais agitado. - Eu nunca passei por isso, não sei o que fazer.

- Mas você está sem seus poderes - foi Jungkook quem disse, entendendo parcialmente o problema da situação.

- Eu sei... Ela me devolveu, de forma ampliada.

- Se está ampliado e você nunca passou por isso, além de não saber o que fazer... - Yoongi começou dizendo, pontuando tudo o que já sabemos.

- Pode ser perigoso para nós - Jin completou, parecendo temeroso.

Apesar de provavelmente estarem com medo, ninguém se moveu, não foram embora. Estão cumprindo o que haviam me prometido, estão aqui por mim.

- Por favor, não fiquem aqui, não quero machucar vocês - eu pedi, esperando que eles me escutassem, mas ainda sim, não se moveram.

- Não vamos deixar você - Taehyung disse, aparentemente falando por todos ali.

- Nos diga o que você acha que irá ajudar - Jimin disse, realmente tentando me ajudar.

- Eu não sei. Sei que tudo que a lua dá é para ajudar na maldição, de alguma forma. A lua ajudou Jimin com Jungkook, ajudou Politéia com seus medos e julgamentos, ajudou Taehyung também... E para mim... - não tive coragem de terminar o que iria dizer, porque eu sabia que precisava de Namjoon, e sabia que talvez ele não fosse querer me ajudar.

- Sua maldição é por minha causa? - como se tivesse lido meu pensamento, Namjoon perguntou. - Sim ou não? - reforçou, percebendo meu silêncio.

- Sim - eu respondi, mesmo que não quisesse dizer.

- Por quê? - tentando conseguir toda informação que podia, ele continuou perguntando, o que me fazia sentir sob pressão.

- Porque estou apaixonada por você! - eu revelei de uma vez, por algum impulso que não sei de onde surgiu. - Eu não tinha certeza disso no começo, ainda não tenho uma certeza concreta, mas eu acho que é realmente isso. A minha maldição é simplesmente para que eu tenha certeza, e depois... Não sei o que fazer - na verdade, eu sabia, mas ele não precisava saber dessa parte agora.

Ele estava em silêncio, me observando, enquanto eu também o observava. As coisas à nossa volta pareciam ter sumido, inclusive nossos amigos. Meus poderes pareciam ter se acalmado momentaneamente, enquanto nossos olhares estavam entrelaçados.

Talvez o que vá me ajudar seja realmente tê-lo por perto, e isso talvez não seja bom.

- Não sei o que eu poderia fazer para te ajudar - ele disse, dando leves passos para trás.

Talvez Namjoon estivesse com medo, mas eu não o julgaria, qualquer um estaria.

- Eu quero que vocês vão embora, preciso que façam isso. Eu não vou conseguir controlar por muito tempo, vai ser perigoso para vocês - eu pedi, já constatando que seria impossível receber a ajuda que realmente preciso. - Eu vou dar um jeito de me isolar em qualquer lugar. No oceano existem milhares de lugares no qual eu poderia ir.

- Mas durante a lua você não pode se transformar - Taehyung lembrou, o que me fez respirar pesadamente, tentando não me desesperar. Meus pulsos estavam cerrados, na tentativa de segurar meus poderes. Eu sentia meu corpo tremer.

Não sei o que fazer, a expansão dos meus poderes é tão forte que machuca, parece querer sair por qualquer poro existente.

Eu me abracei, sentindo o vento gelado ainda mais forte contra minha pele. Sem aguentar, me permiti cair de joelhos. Ao olhar para minhas mãos, eu pude ver minha pele brilhando, em um óbvio sinal do uso de meus poderes.

Fico imaginando minha imagem agora... Meus cabelos ruivos dançando no ar pelo vento, minha pele brilhando pelo uso dos poderes, meus olhos brilhando em verde pela visão noturna e também pelo feitiço. Deve ser assustador, mas também deve ser bonito.

- Eu vou ajudar você - eu ouvi, em um tom leve, que mal me fez acreditar no que eu estava ouvindo. - Vem, levante - ele disse, me estendendo uma mão para me ajudar.

- Sinto que vou explodir - eu disse, assim que levantei, ainda segurado sua mão. - E dói muito.

Eu sentia meu corpo doer, como se milhares de agulhas estivessem entrando e saindo de minha pele, minha respiração parecia falhar, e eu senti que não fosse conseguir dar um passo.

- Vão para casa, não se preocupem, eu cuido dela - Namjoon disse, se virando para olhar nossos amigos.

- Tem certeza que consegue sozinho? - Jimin perguntou, abraçado à Jungkook. Ele parecia verdadeiramente preocupado. Namjoon apenas acenou.

Não consegui acompanhar o desenvolvimento de toda a conversa deles, mas ao fim, estavam apenas Namjoon e eu ali.

- Olhe para mim - ele pediu, o que me fez obedecer. - Respire fundo, se concentre em meus olhos.

Eu fiz o que ele pedia, ainda sentindo meu corpo doer. Algumas lágrimas silenciosas escorriam por minhas bochechas, e não sei dizer qual a origem exata delas.

- Isso, continue assim - ele pediu, enquanto segurava minhas duas mãos. - Eu vou te levar para minha casa, você não vai ter acesso ao lado de fora lá. Acredito que você só vá desestabilizar o que estiver vendo, assim como o vento e o mar - ele me instruiu, e seu ponto de vista realmente fazia muito sentido. - Está mais tranquila? - ele perguntou, ao perceber que talvez eu não tremesse tanto quanto antes. Eu apenas assenti. - Então vamos.

Sendo assim, nós começamos a caminhar, perto um do outro a todo momento. Mesmo que não me olhasse ou falasse comigo, Namjoon não soltou minha mão por momento algum. Nós caminhamos por alguns minutos, tudo parecia tranquilo, e até então eu parecia conseguir controlar bem meus poderes.

Entretanto, por algum motivo, eu me desestabilizei por alguns segundos, o que me fez parar de caminhar, tentando controlar o que se descontrolou.

- Ei, se acalme, vai dar tudo certo - ele disse de imediato, segurando na lateral de meu rosto, aparentemente em um ato impulsivo. - Você consegue segurar isso - ele frisou mais uma vez, me fazendo realmente acreditar que conseguiria.

Esse momento com ele me parecia mágico, além da magia real. Ele está fazendo coisas que nunca imaginei que fossem acontecer.

Mesmo que eu saiba que, muito provavelmente, seja apenas por impulso, não consigo parar de pensar em como era bom sentir que ele estava cuidando de mim. Namjoon é uma boa pessoa, com certeza, e é por isso que eu nunca o julguei por não gostar de mim, depois de ver tudo o que eu já fiz. Por algum motivo, inconscientemente eu cultivava esperanças de que talvez fosse conseguir sua confiança. No entanto, era sempre bom manter os pés no chão.

Nós continuamos a caminhada, até enfim chegarmos à sua casa. Eu estava presa em pensamentos, fazendo o possível para me concentrar em apenas me controlar, e por isso, só percebi que havíamos chegado quando ele me disse.

- Eu sei que a situação é estranha, e por isso agradeço pela ajuda, de verdade - eu disse para Namjoon, quando nós entramos e ele enfim fechou a porta de casa, tirando a lua de meu campo de visão.

- Não precisa agradecer. Mesmo que eu não goste tanto de você, eu não seria ruim o suficiente para não te ajudar.

- Eu sei que você não gosta de mim por tudo que já me viu fazer, mas eu não sou tão má quanto parece - eu lhe garanti, e sei que ele percebeu em meu tom de voz, que lhe mostrava que eu estava sendo sincera.

- Eu ainda estou decidindo se isso é verdade - ele disse, e quase percebi um tom de brincadeira. Ou talvez eu apenas não soubesse identificar, porque logo em seguida ele deixou escapar uma risadinha. Não consegui segurar uma risada também. - Acha que consegue dormir?

- Não sei, acho que agora não - eu não sabia se conseguiria, muitas das vezes as pessoas que estão sob o efeito da lua não conseguem dormir tão cedo.

Ele parou por um instante, parecendo pensar em algo.

- Vamos continuar conversando, por enquanto - sendo assim, nós nos sentamos no sofá.

Mesmo que eu parecesse um pouco mais controlada, e mesmo que ele não demonstrasse estar tão preocupado com os poderes, eu tentava manter uma distância que me parecia segura de si, já que não queria machucá-lo. Eu ainda estava um tanto encolhida, com medo de meu próprio poder.

- Como podemos fazer para controlar seus poderes? - ele começou, com a pergunta na qual eu também precisava de uma resposta.

- Não sei, nunca passei por isso. Tenho poderes desde que nasci, minha mãe sempre me deixou usá-lo da forma que quisesse. Ela me ensinava muitos feitiços.

- Quando ela passou a ensinar a amaldiçoar sereias e tritões? - não consegui responder de imediato, a impressão era a que ele estava me julgando ou alguma coisa assim. Talvez ele tivesse percebido meu receio - É só uma pergunta, prometo que não vou julgar - ele frisou, tentando me deixar tranquila. Ainda demorei alguns segundos antes de responder.

- Comecei a aprender isso quando ela percebeu que não ficaria viva para amaldiçoar pelo resto da vida. Não sei o que aconteceu, mas ela morreu um tempo depois que eu já havia aprendido.

- Mas por que isso? Você não conseguiria não fazer isso?

- Não, porque o fato de termos poderes é a nossa maldição. Minha mãe não ligava muito para isso, ela gostava do que fazia, e por isso nunca tentou quebrar nossa maldição. Mas eu não gosto, e o fato de eu estar aqui é justamente para tentar quebra-la.

- Então é como se você precisasse? Como se não tivesse controle contra isso? - ele parecia interessado, e talvez lhe explicar tudo faça com que ele mude de ideia sobre me deixar ficar aqui.

- Eu posso deixar de fazer, mas isso me custaria muito de minha saúde. Eu tentei uma vez, e não gostei muito da sensação.

- O que acontece?

- No meu caso, que sou uma sereia, a cada um que eu recuso amaldiçoar, uma escama da minha cauda cai, e perder uma escama desse jeito é uma dor que eu não quero para ninguém - ele parecia entender o nível da dor, e se tiver entendido, vai entender o porquê de eu fazer o que faço. - E é por isso que eu me escondo no fundo do oceano. Eu amaldiçoo apenas quem vai até mim, como Taehyung e Jimin.

- Mas como funciona isso tudo?

- Eu preciso estar com pelo menos um sob meu feitiço. Se não estiver, mas eu não tiver encontrado ninguém, não tem problema, porque até então minha maldição entende como se eu não tivesse recursos. Mas se acontecer de, por exemplo, o tritão que estiver sob meu feitiço conseguir quebra-lo, e eu não amaldiçoar alguém que estivesse por perto no momento, minha maldição entende como se eu não quisesse. Então não sou eu que escolho, é do aleatório.

- Isso tudo é... Pesado demais.

- Você não sabe o quanto - eu não sabia mais o que dizer, já havia revelado o que pensei que nunca revelaria para ninguém.

Talvez a intenção dele fosse me distrair de meus poderes descontrolados, porque não sinto que está sendo tão difícil mais.

- Eu acho que estou conseguindo controlar um pouco mais agora - eu disse, olhando para minhas mãos.

- Primeiro, acho que sair do alcance da lua te ajuda, pensei isso lá na hora e por isso pensei em te trazer aqui. Segundo, conversar te distrai do sentimento e momento ruim, realmente te ajudaria a esquecer um pouco. E terceiro, talvez esteja mais leve porque você não viu o que está fazendo - ele estava com um tom descontraído, e não entendi seu último tópico, até olhar para trás, onde ele passou a olhar.

Não sei como, mas alguns objetos pequenos estavam flutuando, ao mesmo tempo em que parecia ter pontos de luz dourados flutuando por um canto da sala. Vendo aquilo, eu acabei ampliando tudo, o que fez com que a sala toda brilhasse.

Eu olhava boquiaberta para aquilo tudo, sem entender como estava fazendo isso sem nem pensar. Ao olhar para Namjoon, pude vê-lo com um sorriso simples, quase imperceptível, ao mesmo tempo em que olhava para mim.

- Você disse que sua mãe te deixava usar seus poderes da forma em que queria, e é isso que vamos fazer. Você já começou, vamos continuar fazendo isso - ele disse, e isso realmente fazia sentido.

- Você quer que eu use meus poderes na sua casa? - eu perguntei, mais para ter certeza, já que aquilo parecia loucura.

- Quero. E não tem problema, a gente arruma depois - ele realmente não parecia preocupado com aquilo. - Só não quebre nada, por favor.

- Bom, se eu quebrar, posso tentar arrumar com meu feitiço - eu disse, tendo um sorriso seu e uma confirmação, dizendo que estava tudo bem. Mas claro, eu iria cuidar para não quebrar.

Foi difícil saber o que fazer primeiro, mas tentei levantar e baixar alguns objetos leves, ao mesmo tempo em que tentava manter os pontos de luz, juntamente dos objetos que já estavam flutuando.

Eu estava indo bem, presumo eu. É engraçado chegar a essa altura e precisar reaprender a usar meus poderes.

Podendo viver a mesma maldição na qual lancei praticamente minha vida inteira, eu percebo que essa fase da lua realmente é importante, afinal, acabou me trazendo esse momento com Namjoon, e sei que trouxe coisas e momentos importantes para os outros também.

Por um momento, me passou pela cabeça criar um novo senário aqui dentro, e não sei dizer se daria certo. Minha intenção seria transformar a sala em algum outro lugar, como uma floresta, por exemplo. Porém, presumo que talvez não vá dar certo, já que ainda não sei controlar meus poderes muito bem. Eu sempre fui racional, então não é agora que vou fazer algo por impulso. Se tem algum perigo, eu simplesmente não faço.

Já era tarde da noite quando eu resolvi baixar tudo e começar a organizar. Eu já estava cansada, sentia o cansaço, e podia sentir o sono chegando. Namjoon estava sentado no sofá, de forma desleixada, claramente cansado de cuidar de mim. Afinal, quem não cansaria?

- Está cansada? - ele perguntou, ao perceber o que eu estava fazendo.

- Estou. Acho que vou voltar para a casa do Jimin, estou com sono - eu disse, quando enfim havia terminado de organizar os pequenos objetos. Estalei os dedos para apagar os pontos de luz.

A sala toda estava organizada, estava apagada, com exceção da luz própria. Eu, que havia ficado em pé para me concentrar no feitiço, me sentei no sofá, mantendo uma certa distância de Namjoon.

- Jimin já está dormindo, provavelmente. Fique aqui - ele disse, e mesmo que eu tivesse estranhado, não debati sobre isso, apenas aceitei e agradeci.

Em seguida, nós nos arrumamos para dormir. Namjoon disse que iria tomar um banho, coisa que eu sempre tive curiosidade em fazer.

Eu tomo banho todos os dias, claro, porém, preciso fazer isso em forma de sereia, o que acaba sendo bem complicado. Mas, já que estou sob o efeito da lua, eu consigo me molhar sem me transformar, e é nesse momento que vou aproveitar para tomar banho como uma pessoa normal.

Dessa forma, contei a Namjoon o que queria, e ele não demorou em me dar uma toalha e uma muda de roupas, que eram suas. Depois que ele havia tomado seu próprio banho, eu fui.

A princípio, enrolei um pouco para perceber o que fazer, principalmente porque nunca tinha feito isso dessa forma, mas com o passar do tempo consegui me normalizar.

A sensação é boa, devo confessar, principalmente por poder fazer isso em pé sem correr o risco de acabar caindo. Ao enfim terminar, me arrumei para dormir, saindo do banheiro e logo em seguida percorrendo o corredor que há ali. Pude ver Namjoon sentado no sofá, já que a porta do banheiro saía nesse corredor, que tinha mais duas portas junto, aos fundos da sala.

Ele parecia estar me esperando, mas seria estranho se estivesse, não consigo pensar em um motivo importante para estar. Nunca imaginei que ele seria tão atencioso comigo.

- Vou deixar você morar comigo até o fim de sua maldição - ele disse de uma vez, sem mesmo esperar eu chegar até onde ele estava.

Eu realmente estava andando até lá, porém, ao ouvir o que ele disse, parei no lugar.

- Essa noite me mostrou um lado seu que eu não conhecia, e ver a confiança de meus amigos ao insistirem em te ajudar, me fez perceber que talvez apenas eu te visse como uma pessoa ruim.

Senti meus olhos ficarem úmidos, porque estava feliz por enfim conseguir sua confiança. Eu voltei a caminhar, parando perto de si e me sentando ao seu lado.

- Obrigada, de verdade - eu agradeci, transparecendo toda a minha gratidão.

- Não precisa agradecer - ele disse, me olhando, o que pareceu que estava olhando no fundo da minha alma. - Eu quero saber tudo o que me envolve nessa maldição, e não quero que me esconda nada. Eu sei que você sabe o que precisa fazer, afinal, você jogou a maldição em si mesma — eu pensei por um momento, e realmente fazia sentido que ele soubesse. Talvez isso me ajudasse mais... Ou talvez não. Não consigo saber.

- Tudo bem, vou te contar. Mas amanhã, porque sei que está cansado, e confesso que também estou. Mas eu prometo que vou contar - eu disse, sabendo que agora não seria momento para falarmos disso. Vi quando ele aceitou o combinado.

Sendo assim, nós dois nos encaminhamos para nossos quartos. Ele havia arrumado o quarto de hóspedes para mim, e me disse que se precisasse de alguma coisa eu poderia chamar.

Quando ele fechou a porta, me deixando sozinha no quarto, eu deixei escapar um sorriso genuíno. Eu não conseguia acreditar que por algo tão ruim quanto o efeito da lua sobre mim, eu poderia ter algo tão bom.

Eu me deitei, ainda feliz e sorrindo pelos acontecimentos das últimas horas. Eu continuava repassando tudo mentalmente, várias vezes. Mal percebi quando caí no sono, sentindo o cheiro gostoso do lençol macio.

Eu estou com esperanças de que conseguirei passar por tudo isso, mesmo que esteja consciente de que talvez não consiga.

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