𝘁𝗿𝗮𝗰𝗸 #𝟯 - 𝑎𝑢𝑡𝑜́𝑝𝑠𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑢𝑚 𝑐𝑎𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
Havia uma espessa névoa circulando a casa da família Black naquela noite fria, era fim de novembro e as temperaturas caíam lentamente na velha Londres, algumas chuvas breves, mas o que mais nevoava as redondezas era com certeza os graus diminuindo, a neve não demoraria para tomar o chão, alguns lugares, mais apressados, já tinham desde o primeiro dia daquele mês alguns enfeites natalinos, acabou o Halloween, começa a temporada de Natal, é o que dizem.
A felicidade, no entanto, não parecia atingir todos eles, vestidos quase sempre de cores soturnas, como se fosse uma representação óbvia de seu nome ou para quem queira interpretar melhor, como eram misteriosos e impenetráveis, uma dinastia forte demais para ser corrompida, era o que alguns poderiam alegar. Uma família que outrora fora grande na capital da Inglaterra, agora contava apenas com cinco membros e um - praticamente - agregado, além de uma horda de empregados que pareciam estar ali apenas para preencher um vazio.
Na foto de família sob a lareira havia Orion Black, ao centro, sentado com expressão vazia e olhando para frente, ao seu lado estava Walburga, sua esposa há quarenta anos, um casamento sólido, aquela marca não fora comemorada, pois sempre se esperava que um casamento naquela família durasse, era sua obrigação. Ao lado de Walburga estava o filho mais novo do casal, Regulus, com um pequeno sorriso, quase se escondendo atrás da mãe, como uma criança travessa, seria possível se ela estivesse em pé como ele. Do lado de Orion, com a mão em seu ombro, estava o filho mais velho deles, Sirius, a expressão era séria, parecia tentar imitar a imponência do pai, como alguém que carregaria seu legado. Por último, amuada entre Sirius e Regulus estava Elouise, outrora Doregan, agora Black, esposa de Sirius a cinco anos.
Olhando a fotografia de longe parecia imponente e perigosa, algo que as pessoas almejavam ser, quando tudo estava escuro e só a luz do fogo da lareira a iluminava ficava mais perigoso ainda de se encarar, mas a pessoa que olhava agora não sentia esse medo. Remus sempre esteve lá, desde que se lembra, conheceu Sirius nos primeiros anos da escola, foram juntos para a faculdade anos depois, amigos inseparáveis, mesmo quando os outros seguiram caminhos diferentes, Remus permaneceu lá.
James se casou e foi embora para a Escócia com Lily, Pedro não dava muitas notícias depois da faculdade, ele era jornalista, correspondente internacional, vivia se mudando, todos foram embora, outros colegas também, Remus via Alice e Frank Longbottom às vezes, mas nenhum deles era como Sirius. Uma vez o Black disse: Todos podem ir embora, mas você sempre fica velho amigo, Remus apenas suspirou, era verdade, como a vida se desenhava, ele era suficiente para permanecer ao lado de Sirius, mas não para estar naquela foto. Seus olhos estavam em Elouise Doregan, quem eles conheceram na faculdade, quem ele apresentou a Sirius, era padrinho de casamento deles, Remus havia a introduzido àquela família e ela se encaixou bem, ele pensava.
O tempo que Remus passava contemplando a imagem se perdia em sua mente, tinha ido jantar com eles, com uma quarta feira comum, tinha até o próprio quarto na casa, não que achasse que fosse bem vindo por alguém além de Sirius ali e as vezes por Elouise, dependendo do humor dela, só estava tomando um pouco de whisky para ir dormir, os outros pareciam já ter se recolhido, ele não sabia, nunca perguntava ou bisbilhotava demais. O silêncio foi rompido por um grito, não um grito qualquer, um bem alto e longo, pelo tom de voz não parecia Walburga, que falava quase sussurrando, nem Elouise, a qual não erguia a voz por quase nada, falava normal.
No começo Lupin achou que fosse Regulus pregando uma peça em alguma serviçal, mas alguém desceu correndo pelas escadas, pálida, os empregados já apareciam aos poucos, rodeando o local, nesse momento Remus notou que algo tinha acontecido, largando seu whisky sob o beiral da lareira e subindo apressado pelas escadas. O corredor dos quartos era longo, mas só a luz de um dos quartos estava acessa, ali seu coração estremeceu. Encontrou Regulus com a mão na cabeça, andando de um lado para outro, antes de chegar a porta do quarto viu Orion sério, olhando para dentro, só foi ver Walburga de relance quando chegou a porta do quarto e contemplou a cena que fez seu coração parar por dois segundos.
Walburga estava em pé perto da cama, todos olhavam para dentro do banheiro, com a porta aberta, em prantos no chão encontrou Elouise, chamando por Sirius, mas quando Remus se aproximou ele viu que não havia outra coisa a não ser aceitar, Sirius estava morto. Havia espuma na sua boca, seus olhos estavam amarelos e as veias saltavam no pescoço, ele tinha sido envenenado, isso era óbvio. O silêncio se formava mais pesado a cada segundo, era como se todos tentassem parar o tempo e voltar para um momento em que Sirius estivesse vivo, mas não era possível, até o choro de Elouise ficou silencioso, enquanto ela tremia abraçada ao corpo do marido, o barulho só retornou quando Regulus apareceu correndo a porta, ofegante.
── Eu liguei para polícia, eles vão chegar logo. ── O mais jovem fazia pausas para tomar fôlego. ── O serviçal que fez isso não vai sair impune.
── Você o que? ── A voz de Walburga o censurou.
── Idiota! ── Orion balbuciou dando as costas ao filho. ── Você tem noção do que você fez?
── É só a polícia, eles vão achar o culpado. ── Remus falou tirando os olhos finalmente de Sirius. ── Vou ligar para o serviço funerário também, eu sei qual é.
Orion tinha razão em temer a polícia, a família Black era tão antiga quanto recheada de segredos que poderia explodir, mas no meio do desespero o jovem Regulus só queria que seu irmão fosse tirado da banheira e aquela tensão no ar fosse resolvida. Os primeiros a chegarem foram os paramédicos, que uma das empregada chamou, não muito depois a polícia e por último a funerária que Remus tinha cuidado para ser a mesma que Sirius queria que fosse, ele era bem metódico com esses assuntos.
Todos os empregados foram reunidos no salão de jantar, onde alguns policiais conversavam com eles, o investigador principal Frederick Vondervoort - no entanto - alocou os Blacks na sala da lareira, junto de Remus, ele queria falar pessoalmente com cada um deles. Orion insistiu, não havia mandato, nenhum deles precisava falar, mas Frederick era uma raposa astuta, ele apenas sorriu de canto e fez valer sua posição na polícia de Londres, todos eles tinham presenciado um crime, todos eles eram suspeitos, só deveriam escolher quem falaria primeiro. Orion, claramente planejava como acabar com a carreira daquele detetive, mas no momento só teve que se contentar em ser o primeiro.
Eles foram para uma sala separada, uma sala de chá onde Frederick sentou em uma poltrona, depositando sob uma mesinha um gravador a altura dos olhos de Orion, ele saberia que estava sendo gravado, então o patriarca se sentou na outra cadeira a sua frente, com o corpo um pouco cansado, naquela noite ele nem teria algum tipo de discussão com Walburga, os negócios estavam tão nebulosos que ele acreditava que só dormiria.
── Estamos aqui com Orion Black, pai da vítima, Sirius Black. ── Frederick informou ao gravador. ── Sr. Black, qual foi a última vez que falou com seu filho, antes de hoje?
── Nós conversamos ontem de manhã após café ... ── Orion iniciou.
Na sua cabeça formava-se a memória daquela manhã tempestuosa, um café da manhã com olhares desagradáveis, Sirius tinha se metido demais na empresa da família, tomado as rédeas com os acionistas e se tornado mais influente que o pai, quase o substituindo, o único problema é que Orion não aceitava isso, não quando ainda estava vivo, então chamou o filho mais velho para uma conversa a sós no seu escritório, Sirius sabia que era problema, mas mesmo assim foi.
── Você não pode fazer isso. ── Orion insistiu assim que viu Sirius fechar a porta. ── Vai acabar com os nossos negócios com os franceses.
── Se o governo souber o que está dentro daqueles contêiners nós e os franceses estamos muito fudidos. ── Sirius quase berrou de volta. ── Onde você estava com a cabeça quando se meteu com essa gente.
── Vai ser só dessa vez, por favor. ── Orion insistiu, ele nunca falava por favor. ── Eles vão matar a gente se isso não se concretizar.
── Com licença ... ── A voz doce e feminina de Elouise apareceu a porta antes de Sirius falar algo, trazia uma bandeja em mãos. ── Um chá para acalmar os ânimos, que tal?
Orion parava e pensava naquela cena, como tudo se desenhava entre ele e Sirius de uma forma cansativa nos últimos tempos, ele e o filho só vinham se afastando, sua última lembrança daquela manhã da briga com o primogênito fora de ambos tomando o chá que Elouise trouxe em um vergonhoso silêncio e Sirius agradecer a esposa com um beijo na testa antes de sair do campo de visão de ambos. Frederick chamou Orion duas vezes antes dele voltar a focar em si.
── Sim? ── O patriarca piscou e voltou a olhar o investigador. ── O que perguntou?
── Se vocês tiveram alguma briga ou algo do tipo. ── Frederick repetiu.
── Não, foi só uma divergência nos negócios. ── Orion desviou o olhar pra outro ponto. ── Mas ele vinha tendo algumas brigas com o meu filho mais novo, Regulus, por causa de dinheiro, não sei muito bem, eles sempre mantinham as coisas deles longe de mim e da minha esposa.
── Certo ... ── Frederick olhou o gravador. ── É só isso por hora Sr. Black, pode pedir ao seu filho Regulus para vir aqui.
Frederick olhava para o gravador, sentia uma dor nas costas, já estava de plantão a um tempo quando recebeu aquela ligação, seu supervisor avisou que seria sigiloso, a mídia ainda não sabia da morte de Sirius e se isso vazasse todas as pessoas seriam punidas de uma maneira, empregados, legistas, funerária, policiais, principalmente ele, era correr contra o tempo. Ele olhou em direção a porta quando escutou um barulho, era Regulus.
O investigador só apontou a mesma poltrona que Orion ocupou tempos antes, dizendo a Regulus silenciosamente para se sentar, o mais jovem relaxou e ocupou o lugar ainda quente pelo corpo do pai, no rosto ele usava um óculos escuro, não havia necessidade, estava noite, mas Frederick identificou como algo para esconder os olhos vermelhos por causa do choro insessante pela morte do irmão mais velho, o outro homem nada falou sobre isso.
── Estamos com Regulus Black, irmão mais novo da vítima. ── A voz de Fred ecoou. ── Nos conte Regulus, como era sua relação com o seu irmão?
── O que você pode esperar da relação de dois irmãos. ── Regulus deu de ombros. ── Tínhamos nossos momentos, mas ainda éramos unidos, precisávamos ser com os pais que temos.
── Seu pai disse que vocês tinham brigado recentemente, que você pediu dinheiro a ele. ── Fred então cruzou os braços. ── Me conte sobre isso.
A mente de Regulus vagueou pela situação citada, mentalmente xingou Orion, conhecia bem o pai, ele rifaria um filho se isso significasse sair da reta, sabia que Walburga também ficaria ao lado de seu marido, sem Sirius em casa ele se encontrava completamente sozinho, sem ninguém que pudesse ampará-lo como seu irmão mais velho ampararia. A última briga deles, no almoço no início daquela semana, no escritório da Companhia Black de Transportes, foi onde as coisas tinham declinado de vez.
── É temporário ok? Eu vou recuperar isso. ── O mais jovem insistia com o irmão. ── São só cinquenta mil libras.
── Só? ── Sirius deu uma risada seca, incrédulo com o irmão. ── Eu cansei de te ajudar, você m'e deve quase um milhão de libras e nem se eu descontasse do seu salário nessa empresa você conseguiria pagar.
── Eles estão atrás de mim mano, por favor. ── Regulus segurou o irmão pelos ombros. ── Se eu não pagar, eles vão acabar comigo.
── Regulus ... ── A fala de Sirius foi interrompida pelo bip do seu relógio e depois seu telefone tocou, era Elouise. ── Não, já decidi e preciso ir.
── Qual é Sirius! Essa é a última vez. ── Regulus gritou quando o irmão se afastou. ── Se algo acontecer comigo é culpa sua.
── Que pena irmão, preciso ir. ── Ele pegou algumas pastas na mesa. ── A minha esposa está me esperando.
Os olhos de Regulus piscaram algumas vezes ainda pensava na pergunta do investigador, da mesma forma que sentia as costas doendo, não vinha dormindo bem ou sequer dormindo em muitas vezes. O silêncio de Regulus incomodava Frederick, mas não havia muito o que ser feito em relação a isso, ele olhou o gravador e esperou, o Black abriu a boca umas duas ou três vezes, até soltar o ar pelas narinas, impaciente.
── Eu perdi uma grana, Sirius tinha me ajudado com o vício em jogos. ── Ele riu, nervoso. ── Brigamos porque ele não queria me ajudar de novo, me arrependo de não ter terminado em bons termos antes dele partir.
── Então vocês eram próximos. ── Frederick ponderou. ── Sabe de alguém que seu irmão possa ter conflitos?
── Possivelmente vários, ele era um homem de negócios e fazia as coisas direito. ── Regulus deu de ombros, se encolhendo na poltrona, ele precisava jogar, tirar o seu da reta. ── Não sei nomes, mas o Remus com certeza sabe, eles são muito próximos, tem assuntos entre eles que aposto que nem meus pais sabiam, eu não sabia. Se tem alguém, o Remus vai saber.
── Certo. ── Fred se inclinou, parando o gravador. ── Chame ele por favor.
Remus queria ter ido com o corpo de Sirius, seus olhos estavam vermelhos, como quem - assim como Regulus - tinha chorado horas a fio, sem entender muito bem como as coisas chegaram a aquele jeito, como o seu amigo Sirius tinha partido. Ele encarava a fotografia da família, havia sido impedido de sair, ele e todos os outros familiares, o investigador queria falar com todos, quando Regulus desceu só chamou o nome de Lupin, apontando para cima. Remus subiu lento, parecia uma distância longa demais, quando sentou-se na frente de Frederick não fazia questão de esconder a dor que sentia.
── Estamos aqui com Remus Lupin, amigo pessoal da vítima. ── Frederick cortou o silêncio entre eles. ── Sr. Lupin, como descreveria a relação do falecido com a família?
── O Sirius sempre foi muito apegado a eles, teve várias oportunidades de se afastar da família, mas não o fez. ── Remus lentamente escorregou na poltrona. ── Ele tentava manter tudo unido, fechando os buracos que as brigas causavam, mas depois que racha, nunca volta a ser que é.
── Que tipo de brigas? ── O investigador quis saber.
── Sobre o rumo da empresa, eles discordavam frequentemente, teve um declínio das ações pelo que e soube e o Sirius passou a ser mais ativo na empresa. ── Remus não entendia o que aquilo iria ajudar no caso. ── Ele queria fazer as coisas certas.
── E como era a relação de vocês dois? ── Frederick o pressionou. ── Pelo que soube vocês eram muito próximos, a anos, me contaram até que vocês tinham segredos só entre vocês.
A mente de Remus ia longe, mas as suas mãos batiam umas contra as outras, ele pensava na sua relação com Sirius, quando o conheceu na academia com os outros e como depois da escola eles permaneceram perto, mesmo que os amigos tivessem se afastado, ele pode ir para mais longe, mas ainda ficava ali, indo em direção ao Black sempre que ele pedia, estando a sua disposição, seu mais velho e fiel amigo. A mente ia em uma das últimas vezes que estiveram juntos, só os dois, mas de fato a última em que eles se sentiram em paz lado a lado, aquela família o consumia aos poucos.
── Não sei por mais quanto tempo eu vou aguentar isso. ── Sirius se espalhava pela cama, virando de lado. ── Aquela casa, a empresa, tudo.
── Você não precisa, pode ir embora se quiser. ── Remus se virou para ele, também na cama, estavam em um motel barato, nos arredores de Londres. ── Largar tudo, seus pais, o Regulus, a empresa, a Elouise, tudo.
── Não, não posso deixar a Elo. ── Sirius olhou o teto, com um suspiro cansado. ── Ela não sobreviveria sozinha naquela casa e também é complicado, mesmo sem ela na ecuação, ainda é minha família.
── Você a ama? ── Remus o questionou sem rodeios. ── Ama a Elouise de verdade?
── Não, amar não, demorei para ver isso. ── Sirius se sentou, vendo a bagunça que tinham feito. ── Mas eu gosto muito dela, devo muito da minha vida a ela, a você também.
── Cla... ── A voz de Remus foi cortada pelo toque do celular de Sirius sob a penteadeira. ── Falando nela...
── Oi querida. ── Sirius sorri melancólico atendendo o telefone. ── Precisa de algo?
── Você precisa vir embora, o seu irmão apareceu com outro olho roxo. ── A voz dela ecoou do outro lado. ── Dá um oi para o Remus por mim, ele vem jantar?
── Claro, já estou indo. ── Ele virou o corpo para Lupin. ── Ela quer saber se você vai jantar.
── Não, tenho turno duplo hoje no laboratório. ── Remus se levantou pegando a roupa espalhada pelo chão.
── Ele não vai, mas eu já estou indo, Elo. ── Sirius se despediu, desligando a chamada.
Remus balançou a cabeça negativamente, Sirius ainda levou quase vinte minutos para ir embora, momento que aproveitaram de calmaria juntos, alguns beijos, promessas que Remus sabia que ele não podia corresponder, mas não havia o que ser feito. Seus olhos piscaram e ele encarou Frederick, o que poderia dizer sobre sua relação com o amigo de longa data? Ele repensava, tinha coisas do passado que morreriam ali, no passado.
── Claro que tínhamos, ele não confiava neles. O pai comanda a empresa muito mal, o irmão é um viciado em jogos que só arruma problema e a mãe só faz um inferno na vida de casal dele e da Elouise. ── Ele ponderou com a cabeça, lembrando das conversas dos três sobre sobre isso. ── Eu apresentei ela pra ele na faculdade, achei que fosse a garota ideal, que conseguiria ser a rocha para sobreviver a essa família, ela tem sido, mas só piorou depois que vieram morar aqui, a Walburga definitivamente não é uma sogra fácil.
── De que tipo? ── O outro rebateu.
── Nada está bom para ela. ── Remus não mentia, nada nunca estava bom para Walburga. ── Foi sobre a saúde frágil dela que eles vieram morar aqui, ela melhorou, mas eles nunca foram embora.
── Certo... ── Frederick pausou o gravador de novo, alinhando as costas. ── Chame a Walburga por favor.
Ela parecia uma pedra, surgiu silenciosa a porta, Remus tinha acabado de se levantar e abrir para o corredor, lá estava Walburga esperando sua vez, como se soubesse que cedo ou tarde fosse convidada a se juntar a ele, Frederick, para dar explicações sobre coisas que ela tinha feito, como se fosse a carrasca do próprio filho, aquilo poderia ser cruel para qualquer mãe, mas ela tinha sido lapidada desde a infância, para se casar com Orion, para ser obscura.
── Estamos aqui com Walburga Black, mãe do falecido. ── Frederick deu o play, ao vê-la se sentar. ── Sra. Black, o que achava do casamento do seu filho com a Srta. Elouise?
── Ela não era adequada para ele. ── Walburga não fez cerco, apenas soltou, como ar tóxico, entre os lábios. ── Desde sempre foi uma alpinista social que o Remus trouxe a nossa família, ela e a família dela ficaram muito ricos por se associarem aos Black e é isso que ela sempre quis.
── Porque a senhora fingiu estar doente? ── Frederick encostou as costas na poltrona. ── Achou que poderia acabar com o casamento deles se seu filho estivesse por perto?
── O que isso tem a ver com a morte dele? ── Ela se levantou, mas ele a censurou com o olhar e Walburga voltou a se sentar.
── Responda. ── Frederick nem se mexia. ── Está sendo gravado.
── Eu não queria acabar com o casamento deles, não conseguiria. ── A mulher estava claramente desconfortável.
── Então nunca falou ou deu a entender ao seu filho que queria que ele se separasse da esposa? ── Fred olhou de relance o gravador.
Walburga relaxou na poltrona pela primeira vez, as últimas horas tinham colocado sob ela um peso muito grande, por mais que aquela família vivesse em pé de guerra, eram pilares extremamente finos que os mantinham juntos, como se pudessem ruir a qualquer momento, mas ainda sim ela não imaginava o que seria quando acontecessem, ela temia até, agora Sirius estava morto e ela não conseguia parar de pensar nas semanas anteriores, quando foi até o quarto dele, para pressionar o filho.
── Sirius podemos conversar? ── Ela parou a porta afastando com os dedos a madeira. ── Vai ser rápido.
── Claro, o que precisa? ── Ele terminava de abotoar a camisa escura, iria sair.
── Que você pense com clareza no que te falei. ── Ela apertou as próprias mãos. ── Você viu como aquele homem se portou, não ache que a filha dele vai ser diferente.
── Nós já conversamos sobre isso. ── Ele assoprou o ar, olhando de relance para o banheiro. ── A minha esposa não tem relação com as ações do pai dela, como eu não tenho com muitas do meu pai.
── Ela está passando informações a ele e agora ele está de conluio com a concorrência. ── Walburga insistiu. ── Você tem que deixá-la o quanto antes, isso vai acabar prejudicando a empresa. Você só está com ela porque isso é cômodo e nós dois sabemos.
── Eu amo a Elouise, mãe. ── Ele se virou sério para ela. ── Me deixe terminar de me arrumar, eu tenho um compromisso daqui a pouco.
Walburga fica em completo choque olhando para Sirius, um pouco silenciosa até, os dentes quase podem ser ouvidos ao trincar depois, ela se afasta, caminhando em direção a porta e a puxando com certa força, ela sabia que havia algo em Sirius e na forma como a esposa o amarrava que nem ela conseguiria soltar. Após sair, no entanto, a porta entreaberta escondeu o corpo da mais velha, que escutava do lado de dentro a conversa dos dois, Elouise estava no banheiro, ela percebeu isso, viu o reflexo dela no espelho, enrolada na toalha após o banho, não se importava em deixar óbvio a nora que a odiava, já Elouise parecia chorar dramática ao seu filho.
── Talvez possa ter dito. ── Walburga se endireitou na cadeira. ── Ele era como um bonequinho dela, um soldadinho. Mas não era perfeito também, a verdade é que eu nem precisava intervir.
── O que acontecia entre eles? ── Frederick olhou de relance o gravador e depois para ela.
── Eles brigavam, muito. ── Walburga confessou, desviando o olhar dele. ── Pergunte a ela, mas talvez ela minta, ela é boa nisso.
── Certo ... ── Frederick então pausou o gravador e alinhou as costas, já era tarde, mas só faltava uma. ── Chame a Srta. Elouise por favor.
Elouise olhava para as fotos de família no seu quarto, algumas que só estavam ela, Sirius e Remus, outras com Regulus ou só eles, seus pais quase não apareciam, normalmente eram só os quatro, mas na maioria só os três, que estavam juntos, quando fora daquela casa parecia como ar puro. Ela olhou as fotos da faculdade, lembrou da primeira vez que Sirius a viu naquele café em que ela estudava, entrou pela porta da frente com Remus. Ela lembrava de todas as brigas, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, dos milhares de motivos pelos quais eles teriam dado muito certo, mas também pelos errados, encabeçado por estar perto daquela família, no fim seu garoto só quebrava seu brinquero favorito, parecia ser o que ela era.
As batidas na porta revelaram a sombra de Walburga, acenando com a cabeça para ela, Elouise já sabia que as pessoas estavam falando com o detetive, limpou as lágrimas, mas ainda sim, seu rosto pálido estava vermelho, o que contrastava com todo preto soturno que ela usava. Se sentou em silêncio na frente do investigador, olhou de relance o gravador e depois para ele, Frederick se esticou, ligando-o de novo e ela relaxou os ombros, parecia pequena demais ali.
── Estamos aqui com Elouise Doregan-Black, esposa do falecido. ── Ele anunciou marcando outra conversa. ── Diga senhorita, como era seu casamento com o Sr. Black?
── Na maioria do tempo era só cheio de burocracias como todo o casamento. ── Ela respondeu, nem ao menos olhava para Frederick.
── Me contaram que vocês tinham brigas recorrentes, o que pode dizer sobre isso?
── Que casal não briga? ── Ela riu, melancólica. ── E é difícil viver nessa casa, nós morávamos em Manchester, mas o Sirius quis voltar para casa a dois anos, essa foi nossa primeira briga, ficamos casados por cinco anos e levou três anos para ter uma discussão com ele e foi por causa dessa família.
── Pode detalhar? ── Fred se curvou, apoiando os cotovelos nos joelhos.
── O irmão é viciado em apostas, a mãe é uma narcisista e o pai estava afundando a empresa, meu pai tentou ajudar, mas a maluquice deles o afastou. ── Elouise ergueu e abaixou os ombros devagar. ── Acho que ele se cansou também.
── Também? ── O outro uniu as sobrancelhas. ── Você estava cansada Elouise?
── Um pouco, eu tentava alertar o Sirius sobre eles, mas ele os amava e por isso nós brigávamos as vezes, mas ele sempre falava que ia ficar tudo bem, que eu era a garota dele. ── Naquele momento ela levou as mãos ao rosto, começando a chorar. ── Mas as vezes eu parecia só a rainha dos castelos de areia que ele construía, tudo muito frágil, nós iríamos nos divorciar no verão, estávamos só esperando alguns negócios se ajeitarem na família dele, para o Sirius resolver uma coisa de cada vez.
── Você o amava? ── O silêncio se formou depois daquilo. ── E quanto isso vinha doendo?
── Eu amei o Sirius desde a primeira vez que o vi, quando o Remus nos apresentou. ── Ela respirou fundo, limpando o rosto com um lenço. ── Eu faria tudo para que ele fosse feliz, mesmo que custasse a minha felicidade. Eu sabia que se eu fosse embora ele iria sentir minha falta também, então eu fiquei.
── Certo ... ── Frederick pausou o gravador, olhando para ela e depois o guardou. ── Acho que terminamos por aqui, obrigada Elouise.
Frederick Vondervoort foi embora, deixou apenas algumas instruções para os membros da família Black, não deixar a cidade, que haveriam policiais no perímetro os protegendo, novos empregados foram contratados e que eles sempre deveriam sair com seguranças. Normalmente seria só mais um caso comum, mas era a família Black, uma das mais antigas e aristocratas de toda Inglaterra, eles não simplesmente caíam mortos no banheiro e ficava como um crime qualquer. No fim, o enterro de Sirius foi discreto e silencioso, só com alguns seguranças e os cinco membros, no mausoléu particular da família, não importava para onde Remus ou Elouise quisessem levá-lo, ele era um Black, dormiria com os outros.
Vários objetos da casa foram levados para análise, a primeira suspeita sob a morte de Sirius não estava só nos jornais de todo o país, mas também foram confirmada dias depois pelo resultado da autópsia, como pensavam era envenenamento, isso levou a polícia a busca de tudo que tinham levado aquela noite, quando falar de envenenamento era só uma possibilidade e não nada muito concreto. Investigando o que levaram, na tentativa de achar algo, eles localizaram uma garrafa de vinho, a mesma que foi tomada por todos naquela noite, havia algo suspeito nela no entanto, ela não era o veneno, era o antídoto.
Voltar a casa Black e falar com todos eles era estressante só de pensar, Frederick então solicitou que todos fossem testados para tirar a limpo algumas de suas dúvidas e de fato estava certo, todos tinham traços de veneno em seu sangue, o mesmo que matou Sirius, mas todos também tinham traço do antídoto, se o assassino estava entre eles, ele havia sido bem inteligente de fato, apenas Sirius não bebeu o vinho, pois não quis jantar com a família na noite de sua morte, era um veneno letal, apesar de permanecer no organismo, ele mata rápido sem o devido antídoto.
Não havia rastros na comida que todos consumiram, então as respostas voltavam a que eles tinham consumido enquanto estavam na companhia do falecido, era a pergunta que Frederick os fez, não haveria outro interrogatório e outro mar de perguntas, não naquele momento em que eles precisavam, mais do que nunca, serem assertivos, seria um fiasco em sua carreira não resolver o assunto, como seria um sucesso encontrar quem matou o empresário Sirius Black, um dos rostos mais queridos do país.
Frederick já suspeitava da família quando os chamou um a um, para contar sobre a última vez que viram Sirius antes do jantar em que todos beberam o vinho. Orion lembrava que ele e o filho tinham tomado um whisky que Sirius havia ganhado de seu sogro quando falavam das ações da empresa. Walburga comentou sobre como a empregada trouxe chá de camomila para ela e Sirius a mando da esposa quando os ouviu brigar. Regulus ria melancólico ao lembrar dos bombons de licor que comeu enquanto andava atrás do irmão, Sirius ficou irritado, havia sido presente de Remus a ele. O amigo de longa data apenas assinalou o café que ele e Sirius tomaram no meio da manhã, que o falecido mesmo tinha feito. Já Elouise, ainda embebida em sua dor, contou que a última coisa que ela e o marido consumiram juntos eram pílulas de vitamina, como toda manhã, que Remus trazia para eles da empresa que trabalhava. Não havia nada de muito grande no que disseram, nada ao ver do investigador.
A notícia tinha deixado todos tensos, mas ainda era importante que passagem a imagem de família distante dos homens e unidos como deuses, então eles estavam lá, como fantasmas que não eram, habitando a casa. Elouise tinha se dedicado a arrumar as coisas de Sirius, até que tudo estivesse resolvido ela permaneceria ali, depois poderia ir para outro lugar, longe de tudo e de todos, era comum que ela fosse encontrada chorando, compulsivamente, os empregados viam, mas naquela manhã, encostada próxima ao guarda roupa e enfiando coisas na mala, ela parecia preparada para outra coisa e alguém a observava.
── Vai viajar? ── Uma voz masculina a chamou.
── Só estou arrumando as minhas coisas. ── Ela se levantou, encontrando Remus com os olhos. ── Para ir embora dessa casa o quanto antes.
── Faz certo, também devo arrumar o que tem meu por aqui. ── Ele olha as roupas espalhadas, o quarto que Sirius morreu, era tudo tão melancólico. ── Eu estou preocupado, Elo.
── Com o que? ── Ela abria as gavetas, pegando alguns documentos. ── A gente ta livre agora não é?
── Ele estava aqui e não era a toa, ele sabia que teria uma morte falsa, rápida e tranquila. ── Remus deu alguns passos para frente. ── Ele confiou em nós, mas tudo deu errado.
── Você ficou louco? Falando isso em voz alta? Quer ser preso? ── As sobrancelhas dela se uniram o censurando. ── Esse era um plano nosso, dos três, iríamos embora juntos, mas não existem mais um nós, não sem o Sirius.
── Elouise ... ── Os olhos dele tremiam ao ver a face da mulher doce se desfazer a sua frente, a relação dentre eles estava acabada sem Sirius, o rosto de Remus muda de surpresa para raiva em segundos. ── Isso também é culpa sua.
── Se você não quer que seu destino seja pior que o dele. ── Ela ergueu o dedo apontando no peito de Lupin. ── Sugiro que se afaste.
A noite parecia mais silenciosa, a suspeita esgueirava pelas paredes, Elouise e Remus não se falaram mais, ninguém jantou junto naquela noite, cada um foi servido em seu quarto, imaginando de longe o que os outros faziam, Orion e Walburga tinham dormido separados, Remus passou a noite olhando a lareira de seu quarto, Elouise dormiu abraçada a um blazer de Sirius que ainda tinha seu cheiro, já Regulus tinha saído logo quanto escureceu, os empregados não sabiam dizer se ele estava em casa ou não, ninguém o viu voltar.
Nos primeiros raios da nova manhã, o frio vento parecia invadir cada salão da casa, não pedia permissão ou fazia concessões, só estava lá, mais devastador do que nunca, obrigando a todos a se agasalharem mais e mais, algo com longos casacos felpudos e luvas para um dezembro mais triste que o comum. Foi uma empregada que abriu a porta quando a campanhinha tocou, haviam pelo menos três outros policias na companhia de um homem com grandes olheiras, era Frederick Vondervoort de novo.
Primeiro ele encontrou Orion, depois viu Walburga descer as escadas, Elouise estava no telefone e apareceu, por último vindo da cozinha ele viu Remus com um chá em mãos, a empregada olhou para todos, meio assustada, depois saiu apressada, Frederick e os policiais entraram, todos pensavam que finalmente tinham achado algo sobre Sirius e sua morte chocante tempos antes, mas não, Elouise olhou para Remus e por segundos seus olhares não se encontraram, já que ele a encarou de volta pouco depois dela virar para o investigador. Havia estampado na cara de Frederick o peso da notícia, mas era mais do que sobre o assassino de Sirius, em poucas palavras ele soltou: Regulus estava morto.
Aquilo bastou para fazer Walburga colapsar de vez, seu grito alto e longo assustou perante ao silêncio, foi amparada por Remus, ao cair no chão, era como se tivessem desligado algo dentro de seu corpo, ela quase desmaiou, foi como se fosse puxada para o chão, Orion apreceu estático, já Elouise, assustada, se aproximou de Frederick, curiosa sobre o que tinha acontecido, Frederick informou que o corpo do filho mais novo dos Black havia sido encontrado espancado em um beco, todos se olharam, como se soubessem a resposta, o agiota que ele devia finalmente o encontrou sozinho o suficiente para quitar a dívida de uma forma cruel.
Walburga não parava de chorar, um só minuto, eles se trancaram nos quartos praticamente o dia todo, Elouise se sentia cercada, não tinha relação com a morte de Regulus, mas a culpa rebatia sobre Sirius, Remus só não conseguia quebrar aquele ciclo vicioso, ele achava que se Sirius não estivesse mais lá, ele conseguria deixar tudo e ir, mas ainda haviam correntes invisíveis e inquebráveis. No jantar daquela noite, no entanto, eles se mantiveram juntos, a mesa de seis lugares só tinha quatro ocupados, as cadeiras de Sirius e Regulus ainda estavam lá, comos e os esperasse. Walburga segurava o choro, dopada de remédios, mas era quase impossível devido a dor, ela que deveria ser inquebrável estava em pedacinhos.
── Você não pode calar a boca um minuto? ── A voz de Orion rompeu o silêncio. ── O dia todo assim, como uma vitrola.
── Nossos filhos Orion. ── A voz dela embargada deixava tudo pior. ── Eram nossos únicos filhos.
── E estão mortos, então pare de chorar. ── Ele foi incisivo.
Remus e Elouise se olham tensos, por mais que as coisas entre eles não estejam em melhores termos, ainda parecia menos do que o caos que se passava na cabeça de Orion e Walburga, não que fossem capazes de entender o patriarcas da família, eles nem tentavam, o olhar no entanto durou pouco. O celular de Elouise vibrou no bolso, ela o puxou, vendo a mensagem na tela, era do seu pai, então ela afastou a cadeira, assinalando que precisava sair, coisas de sua família pouco interessavam os Black, como sempre. Seus passos rápidos logo chegaram ao hall de entrada, ela só não contava com alguém em seu encalço.
── O que você está planejando? ── Remus aparece quando ela responde a mensagem. ── Foi você não é? Você deu uma dose letal a ele.
── Eu não administrava a dosagem dele. ── Ela ponderou com a cabeça. ── Era você. Eu amava o Sirius, estava disposta a tudo por ele.
── Você nunca o amou de verdade. ── Remus avançou para cima de Elouise, mas ela se afastou alguns passos. ── Não como eu amei.
── Você só me usou como fachada para o seu romance com ele, porque a família dele nunca aceitaria vocês. ── O celular dela treme novamente, mais uma mensagem do pai. ── Eu me deixei ser usada antes, mas não tem porque ser sua amiga agora, se me dá licença.
Elouise parecia distante, já Remus tinha conseguido furar o bloqueio moral que o mantinha li, voltando para a sua rotina costumeira, afundado em horas de trabalho no laboratório da empresa que trabalhava a anos, Walburga vivia dopada de remédios, parou de chorar, agora estava silenciosa demais, o que poderia incomodar alguns, mas para outros era quase acalentador não ter seus julgamentos vocais, nem mesmo olhares, já que ela parecia perdida.
Dias depois, com o natal já se esgueirando pelas frestas das janelas, a empregada chama a família após batidas ritmadas na porta em uma tarde fria e até mesmo escura, haviam três policiais, mas dessa vez nenhum deles era Frederick Vondervoort, o investigador que parecia um fantasma na vida de todos eles. Os homens tinham consigo um mandado de prisão, Elouise desceu as escadas preocupada, Walburga vinha da cozinha amparada quase por uma empregada, mas foi Orion, caminhando do escritório ao hall, que fez com que os investigadores revelassem finalmente o que tinha acontecido.
Elouise foi quem perguntou sobre o que se tratava, sentindo seus dedos pinicarem, mas foi Walburga que caiu ao chão, tremendo em em prantos ao ouvir a resposta, eles estavam lá por Orion Black. Orion estava sendo preso por sonegação de impostos, mas havia algo muito mais obscuro que isso, o contrato com os franceses era não sou sujo, era criminoso, os contêiners da empresa da família eram usados para tráfico internacional de pessoas, uma longa e silenciosa investigação que havia sido iniciada por Sirius, ao denunciar o próprio pai e que agora - após a sua morte - tinha chegado ao fim.
Aquilo bastou para levar Walburga a outro colapso nervoso, sem Sirius e Regulus mortos, com Orion preso e Remus finalmente escapando das paredes daquela casa para voltar a seu apartamento, sobrou a Elouise, ainda na residência, a tutela psicológica de Walburga e todos os bens da família Black, quando ela pensou que finalmente iria embora, que escaparia daquele mausoléu em forma de casa, ela estava, judicialmente, sendo responsável pela mulher que sempre a odiou, agora considerada praticamente mentalmente insana e instável.
A mente de Elouise funcionava a mil, ser responsável por Walburga não significava ficar ao lado dela o tempo todo, ela tinha o dinheiro, tinha os contatos, poderia garantir cuidadores e estar longe da mulher. A viúva de Sirius enfiava suas coisas dentro das malas, parecia que não acabava, nunca, ela olhava as fotos, segurando as lágrimas, lembrava ao vê-las de como ele a tratava no começo, como Sirius dizia que ela era sua garota, que não podia viver sem Elouise, pois sempre sentiria sua falta. Ao ver dela, tudo agora parecia com um monte de palavras ao vento.
A primeira vez que ela desconfiou de algo e de como as coisas não seria exatamente boas, foi quando ele a chamou de melhor amiga, ela sabia que ele e Remus eram próximos, até demais, pouco depois soube de uma briga deles e ali, vendo que nunca seria prioridade na vida de Sirius, não de verdade, ela entendeu tudo, mas já tinha se apaixonado por ele. Eventualmente eles voltavam para casa, brigavam, ele a destruía psicologicamente, só para colocar curativos bonitos em seus machucados tempos depois. Os cabelos caramelados são balançados, a livrando de um devaneio e buscando o celular com a destra, digitou rápido um número já memorizado.
── Já está tudo pronto. ── Ela falou e a voz do outro lado murmurou algo quase inaudível. ── Certo, obrigado.
Ela olha as malas uma última vez, não havia sobrado quase nada dela naquele quarto, como ela ela não existisse, só o Black sobrevive, ela ouviu Orion dizer certa vez, então de fato ele estava certo, só eles sobreviveriam, mas a que custo. Ela pegou a bolsa, tinha uma viagem marcada e era urgente, muit coisa ficou em aberta e com seu marido e cunhado mortos, seu sogro preso e sua sogra insana, ela tinha muito o que resolver por si, mesmo que de longe os problemas empresariais da Companhia Black de Transportes.
Enquanto Elouise se preocupava com outros assuntos, a polícia recebia não uma, mas várias pistas sobre o que tinha acontecido com Sirius, era a primeira semana do ano e aquilo só deu um estalo na cabeça de Frederick, assoprando aliviado e ao mesmo tempo tenso sobre o que tinha nas mãos, as pontas soltas pareciam estar finalmente ali, então ele dividiu sua equipe em duas, a primeira seguiu para um local sigiloso, a segunda - com ele outros quatro homens em duas viaturas - seguiu para uma prédio. Eles se amontoavam no corredor, olhando as portas, até que o investigador tenha achado o número certo, bateu duas vezes e um homem abriu.
── Sim? ── O homem dentro do apartamento ainda estava de pijama. ── No que posso ajudar, policiais?
── Remus John Lupin. ── Frederick deu um passo ao lado e um dos policias mostrou as algemas. ── Você está preso pelo assassinato de Sirius Black III, tudo que você disser poderá usado contra você, você tem direito a um advogado, se não puder pagar um a promotoria designará alguém para você.
── Espera, eu? Preso? ── Remus riu, incrédulo. ── Eu sou inocente, eu nunca machucaria o Sirius. Sob quais provas eu estou sendo preso?
── O senhor é acusado de envenenar o Sr. Black, mas não só isso, também toda a família Black. ── Frederick ainda estava sério. ── Não sabemos se isso era um jogo do senhor, mas parece ter falhado quando Sirius não tomou aquele vinho.
── Eu não envenenei o Sirius. ── Remus foi empurrado contra a porta e preso com as algemas. ── A Elouise fez isso, foi ideia dela usar o veneno.
── Senhor Lupin, eu sugiro que permaneça em silêncio se não que agravar as acusações. ── Frederick orientou vendo o outro policial puxar Remus pelo corredor.
Havia se passado tantos meses desde que aquilo tinha acontecido que as pessoas pararam de falar, os acionistas da empresa dos Black assumiram seus empreendimentos e guiaram depois de uma investigação de meses para garantir que o que Orion tinha feito havia de fato saído das entranhas do negócio familiar. Para Elouise eram tempos quentes agora, seis meses depois de perder o marido o lidar com toda a burocracia que isso tinha trago para ela, muito mais rica, muito mais influente, do que você possa pensar.
Naquela manhã de sol forte ela saiu do carro, na frente de um complexo penitenciário, estava cercada de dois seguranças e a sua advogada, passou pela revista e sentou-se em uma cadeira, esperou para que do outro lado do livro o guarda trouxesse um homem, Remus estava com o cabelo maior, já estava sério aos er empurrado a contra gosto para a primeira visita em meses, mas quando a viu seus olhos tremeram. Ela tinha mudado o cabelo, estava mais escuro, como os de Sirius, cortado pouco abaixo do queixo, seus óculos tampavam seus olhos e ela gentilmente retirou o telefone do gancho levando a orelha, o que ele também repetiu, queria saber qual era a dela.
── Oi Remy... ── Ela chamou ele do apelido que compartilhavam na faculdade. ── Como tem sido sua estadia nesse spa de alta classe?
── Sua vadia psicopata! ── Ela vociferou a fuzilando com os olhos. ── Você me mandou para cá.
── Sim, um presídio de alta qualidade, onde você come bem, dorme bem e numa cela só sua, melhor que muita gente, inclusive de rua, conforto para você pensar na atrocidade que fez. ── Ela suspirou, dessa vez tirando os óculos. ── Eu sou só uma mulher machucada e muito bondosa, cuidei para te mandaram para cá, porque no fundo eu gosto de você e meu falecido marido também gostava.
── Como você se livrou das provas? ── Ele falou baixo, curioso.
── Nunca houve nenhuma prova contra mim. ── Ela sorriu. ── Eu construí uma ótima persona de esposa devotada e preocupada, sempre perto do meu Sirius, sempre o vigiando e pegando brechas do que os outros faziam, você me ensinou isso.
── Eu disse que você deveria prestar a atenção neles. ── Ele a corrigiu.
── E eu prestei, muito bem. ── Ela falou baixo, dando de ombros. ── Só precisei pegar as provas contra o Orion nas coisas do Sirius, entregar a localização do irmãozinho dele para os agiotas amigos do meu pai e ah ...
── Elouise ... ── Ele falou baixo ao ouvir a parada dela.
── Entregar para a polícia as provas do seu caso extraconjugal com o meu marido, para ligarem você ao caso. ── Ela deu de ombros, convencida. ── Foi o suficiente para notarem que você era o verdadeiro perigo, obcecado por ele desde a infância, o colocando em um relacionamento de fachada comigo e quando viu que nunca poderia tê-lo de verdade tentou envenenar e matar toda a família dele, para provar que tinha controle sobre ele, mas matou o Sirius no lugar.
── ... ── Remus tremia, parado em um completo silêncio, a vendo na sua frente, livre, ele confiava nela, amava ela em certo nível, não como amava Sirius, mas amava. ── Você me traiu a troco de que?
── Nós não seríamos felizes juntos Remus, nunca seríamos, não sem o Sirius, então eu não podia confiar em você, sempre soube disso, mas eu pensava que vocês dois iam só me largar de lado, tive que improvisar um pouco nesse plano. ── Ela voltou a colocar os óculos na face. ── Ah! A Walburga morreu, descansou, a loucura que ela estava desde a morte do Regulus não fazia bem para ela, então é tudo meu agora, ainda mais com o Orion na cadeia, eu cuidei para ser uma bem ruim, porque dele eu não gosto, diferente de você.
── SUA MALUCA, DESGRAÇADA! ── Remus gritou se erguendo e batendo no vidro, teve que ser contido por um guarda.
── O Sirius roubou meu coração atormentado na juventude e deixou ele cheio de partes quebradas. ── Ela falou no telefone, se levantando devagar. ── Ele falava que era melhor assim, mas bom ... Ele está morto e eu sobrevivi. Boa sorte Remus, te vejo em 30 anos.
A última coisa que Remus viu foi ela dando as costas a si, seguida de um segurança, passando pela porta havia outro e uma advogada que sussurrou algo no ouvido dela, o guarda o puxava tão forte que ele mal conseguia resistir. Naquele dia, depois de meses, foi como se um peso finalmente saísse das costas de Elouise, o que dói mais do que um coração partido? A vingança de uma mulher atormentada.
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