[02] Give way




Tudo muda se fizermos a escolha errada. Um movimento diferente, uma briga, um deslize, e uma família inteira morre. Ou quase toda.

Uma milagre tinha acontecido, o bebê que havia sobrevivido estava prestes a nascer. Os pais haviam morrido num acidente de carro. Jeon Jungkook tinha nascido em meio ao sangrento ocorrido de seus pais, um bebê forte e por contraste, pequenos cabelos negros.

Porém, nascido sem nenhum responsável vivo ao seu lado, sua "família" não queria pegar a responsabilidade. Então, eles colocaram o menino num orfanato da cidade, onde cresceu, e lá era o garoto problema do lugar com mais Namjoon, Yoongi e Jaebum, todos com diferentes e doloridos motivos de serem rebeldes.

Quando Jungkook completou 15 anos de idade, ele se fartou de ficar num lugar que ninguém gostava de si, e decidiu fugir junto com os amigos para o casarão velho onde moravam.

Os garotos rebeldes, depois de fugirem do orfanato, começaram a morar na rua, às vezes causando problemas. "Mas causar não vai encher a barriga", pensaram na época, então decidiram arrumar um emprego e foi aí que conheceram o Kai, o filho do dono da lanchonete barata onde começaram a trabalhar. Com o desejo de formar um gangue, se planejaram ー na verdade foi Namjoon quem planejou tudo, porque o resto eram idiotas ー, prometendo que manteriam o emprego e revezariam nas horas extras para juntar dinheiro suficiente para comprar uma casa para a gangue, na qual o nome era Sangue Jovem.

Se passou um ano e conseguiram juntar, com muito esforço, dinheiro suficiente para comprar a esperada casa. Kai escolheu se mudar para a casa mediana e pouco velha do grupo, porque já não aguentava mais seu pai lhe ofendendo verbalmente todos os dias.

Então, foi assim que nasceu a gangue de motoqueiros Youngblood, homens que sofreram um passado doloroso e buscaram ajuda no grupo, agora, oficial.

 🚬

Acordei assustado, o que me fez sentar na cama de supetão. Sempre sonhava com fragmentos do meu passado e de como tinha conhecido os meninos, que me deram força para continuar vivendo nesse mundo infernal.

Eu e os outros havíamos chegado na casa que cada dia mais parecia mais velha, porém, era o que tínhamos para hoje e amanhã, também.

Então, resolvi levantar para vida, fazer minhas higienes e tomar um café da manhã que, pelo cheiro, parecia estar delicioso. Depois de escovar os dentes, coloquei uma roupa confortável e segui sem acordar meu parceiro de quarto, Yoongi.

No cômodo cheiroso, encontrei Kai, o único da casa que realmente sabia cozinhar fazendo ovos mexidos. Sentei na mesa que havia ali e cumprimentei preguiçosamente meu amigo.

ー Bom dia, cara.

Kai, que estava concentrado, tomou um susto e quase se queimou.

ー Jungkook? Você não sabe que eu me assusto fácil? Porra. ー praguejou baixo, tirando um sorriso meu.

ー Desculpa. O que está fazendo aí? ー perguntei com água na boca, sentindo meu estômago gritar por comida.

ー Estou fazendo ovos, seu idiota. E café... ー respondeu ríspido e, já conhecendo a figura, sabia que estava bravo por quase tê-lo feito se queimar.

Percebi que o rapaz não queria papo e fiquei calado, esperando para atacar o desjejum. Mas uma coisa — na verdade, uma pessoa — me fez começar a pensar: Park Jimin o enfermeiro mais lindo que eu já tinha visto. 

Nunca realmente me apaixonei por alguém apenas algumas fodas aqui e e ali, mas tenho que admitir que ele, em um só segundo, roubou meu coração. Não tenho vergonha em falar que gosto de qualquer gênero. Eu não me importo em nada. Hoje, torcia para vê lo de novo, e uma sensação no peito espalhou-se novamente, mas não saberia dizer o que era.

Fui acordado dos meus devaneios quando uma mão forte e uma voz firme me chamou. Era Namjoon.

ー Ei, Jeon? Você está bem? ー questionou preocupado, se sentando na cadeira ao meu lado.

ー Ele deve estar pensando no cara que ele conheceu, acertei? ー Kai zombou enquanto colocava a comida na mesa.

ー Cala boca, irmão. ー Soltei uma risada, chutando de brincadeira a perna dele.

Começamos a comer o café da manhã, e não demorou muito ー por causa da nossa conversa alta ー para que os outros acordassem, aparecendo na cozinha com a típica cara amassada, mas logo melhorando depois de comer. Eu poderia até dizer que qualquer um que nos visse, falaria que éramos uma grande família, que compartilhamos tudo, cuidamos um do outro e nunca deixamos um dos nossos irmãos para trás.

Então, sim. Sem sombra de dúvida, éramos uma família, uma grande família.

 🚬

Muitas horas haviam se passado, os meninos saíram para resolver coisas da gangue, porém, como eu estava incapacitado de dirigir a minha moto pelo braço engessado, fiquei no tédio que era a nossa casa sem eles.

Mas para minha felicidade, são 17h e sabe que significa? Significava que era hora de encontrar o anjo de olhos castanhos, tinha perguntado a ele quando ele saia, demorou mas Jimin me respondeu depois de encher seu saco. E sem nem perceber, fiquei entusiasmado somente de pensar nele; abri meu guarda roupa, pegando uma camisa branca, uma calça preta de sarja e uma jaqueta jeans. Mesmo com um pouco de dificuldade para me vestir, coloquei tudo em meu corpo com cuidado e fui para o espelho dar uma ajeitadinha em minhas madeixas. Passei perfume, porque ninguém merece flertar sem estar com cheirinho, não é?

Peguei minhas chaves, abri a ombreira e comecei a caminhar em direção ao hospital. O prédio não ficava muito longe de minha casa, o tempo de hoje está perfeito para um passeio, com a brisa leve batendo em meu corpo e, inevitavelmente, me deixando calmo. Enquanto eu andava pela calçada, observei o movimento de pico, onde todos estão saindo de seus trabalhos de escritório, cansados do emprego, querendo chegar em casa para sua famílias, descansar ou até mesmo beber, mas não podendo por causa dos filhos, pensando em que exemplo daria para eles. Ensinaria o filho a seguir seus sonhos e fazer o que seu coração quisesse ou ensinar que trabalhar para empresa e ter fixos eram o certo, certo para a sociedade.

Ah, como queria ter meu walkman aqui.

Depois de alguns minutos atravessando e caminhando pelas ruas, cheguei ao hospital e fui até a parte traseira dele, que provavelmente é por onde sai os funcionários do trabalho. Encostei meu corpo no lado da enorme porta, que saía algumas pessoas.

Não demorou muito para uma cabeleira lisa cor de chocolate sair, ele estava com uma calça jeans de lavagem clara, um all star branco e uma blusa de frio fina, ou seja, lindo.

Me aproximei dele em silêncio, ficando ao seu lado.

ー Ei, Jimin... ー falei calmamente, mas mesmo assim, assustei o rapaz que me olhou e colocou a mãozinha em seu coração.

ー Céus, que susto, Jungkook. ー Ele lembrava meu nome, sorri com isso.

ー Você lembra de mim? ー Vi suas bochechas ficarem rubras.

ー Claro que sim, b-bom... mas o que você está fazendo aqui? ー questionou, voltando a andar devagar, sendo acompanhando por mim.

ー Esqueceu que eu disse que voltaria? Você tem algum tempo agora? Quero te levar a um lugar. ー disse, sorrindo quando olhei para Jimin e ele parecia um pouco nervoso.

ー Hum, tudo bem. Mas primeiro, quero comprar uma coisa doce para comer, estou faminto.

Se eu estivesse sozinho com ele, iria beijar aquela bochecha cheinha, porém, como o destino não colabora com tudo, estávamos no meio da rua e não faria isso, não por vergonha de ser eu mesmo, mas por ele. Eu ainda não saiba muito dele, contudo, torço para isso acontecer logo.

Nós caminhamos conversando casualmente até chegar em um estabelecimento de doces e salgados e, assim que entramos, vi um brilho nos olhos de Park quando olhou para os diversos doces dali.

Hm, ele gosta de doces, anotado.

ー O que vai comprar? ー indaguei, de olho numa torta de limão que parecia suculenta.

ー Eu estava com vontade de comer mochi de chocolate, isso não é fácil de encontrar ー admitiu, ficando perto de mim com um saquinho cheio de mochis e, na outra mão, uma torta de cenoura.

ー Engraçado, mas você parece um mochi, é pequeno branquinho e fofo. ー Não aguentei, dando um sorriso bobo para Jimin, que fez um bico e saiu batendo os pés. Nem imaginava que, quando fez isso, sua bunda volumosa havia balançado, me fazendo pensar em coisas maliciosas.

ー Jungkook? Você vem ou não? ー Jimin estava em minha frente, puxando a manga da minha jaqueta, me fazendo acordar dos meus pensamentos um pouco sujos.

ー Sim, meu doce, eu vou. Só espera eu pagar essa torta de limão aqui, 'tá bom? ー Ele assentiu e ficou do meu lado, quieto, esperando eu pagar a comida.

Logo me vi indo para colina um tanto afastado da cidade. Queria conversar com ele sem ninguém nos olhando feio, queria um pouco de paz e a companhia do anjo que conheci.

Quando estava quase chegando, aproveitei que não havia nenhuma alma humana por perto e, finalmente, peguei a pequena mão, entrelaçando a minha na dele. O que me deixou aliviado foi que ele não brigou ou falou algo a respeito, aliás, ele apertou a minha mão. Eu fiquei tão feliz, que soltei um sorriso.

Subimos a colina que estava fria pelo vento. Nos sentamos na grama e pudemos ver a cidade anoitecida, totalmente iluminada, ouvi um pequeno "wow" de Jimin. Ele parecia com frio, então, coloquei minha jaqueta para ver se esquentava seu corpo.

Ele me olhou com aqueles olhos profundo e ingênuos, sorrindo com eles.

ー Jungkook? Estou curioso, o que realmente quer de mim? ー ele perguntou, me surpreendendo, mas não deixei de responder.

ー O que eu quero... ー Peguei sua mão macia e juntei com a minha calejada, me aproximando mais dele, fazendo um carinho na mãozinha. ー Eu quero um nós, Jimin. Desde que coloquei meus olhos em você, grudou na minha cabeça. Eu quero que você me deixe te conhecer e te tocar. ー Levei minha mão para seu rosto delicado, e ele aproveitou o toque para fechar os olhos em deleite. ー Hum? O que me diz?

Ele abriu os mirantes doces dele, para me fitar intensamente.

ー Tudo bem, Jun. Eu permito tudo que quiser, mas não me machuque, certo? ー Assenti com a condição e deixei um selar em sua bochecha saliente.

ー Eu não vou fazer isso, meu bem. Vou cuidar direitinho de você. ー Beijei a cabeleira sedosa.

ー Você tem tatuagens? ー Fez uma cara parecendo sentir dor e franziu o cenho.

ー Sim, pensei que soubesse. Por quê?

Ele balançou a cabeça, se afastando para pegar um bolinho de mochi.

ー Eu acho bonito, até, mas eu não faria por causa da dor.

Eu ri em sarcasmo.

ー Jimin? Deixa eu te falar uma coisa, por um acaso a vida é bela? ー Ele balançou a cabeça em negação. ー Pois é, ela dói, quando você menos espera, te dá um chute no saco. Mas mesmo assim, você continua vivendo, não é? ー Ele assentiu, me fitando com suas orbes brilhantes com a reflexão da lua. ー É a mesma coisa com a tatuagem, ela dói no começo, mas uma vez que você prova ela, quer fazer mais. Igual a vida, na primeira vez que a vida te derrubar, vai doer, mas isso não é motivo para desistir, porque pelo menos eu vou continuar lutando. Vivendo.

Depois que falei meus pensamentos, Jimin não falou mais nada. Chuto porque ele não sabia o que falar ou estava pensando sobre. Ele somente chegou mais perto e sentou entre minhas pernas esticadas, se encostando em meu peito. O cheiro dele estava me matando e o seu pescoço alvo estava me chamando para marcá-lo, mas me contive, não queria assustá-lo, então, eu lacei sua cintura com meu braço bom.

Ficamos observando a cidade daquela colina, onde se ouvia de longe o barulho da cidade o vento uivando, além de nossa sintonia nas respirações. Apenas vivendo.

Talvez, até se apaixonando.



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