Não que eu esperasse outra coisa de Jungkook, mas quando acordei no outro dia, com o sol da manhã de domingo entrando pelo quarto dele e o mesmo não estava lá e em nenhum lugar da casa, meu coração se partiu em vários pedaços. Várias mensagens de Hoseok no meu celular e eu não me preocupei em abrir nenhuma, sabia sobre o que se tratava e não estava pronto pra falar sobre isso quando tinha acabado de ser chutado. Mais uma vez. Por isso que, sem esperar que Jungkook voltasse de seja qual for o lugar em que estava, pego meu carro e dirijo até a residência nada modesta de Seokjin.

- Realizou o sonho dele e finalmente transou com ele, Namjoon?- É a primeira coisa que digo assim que entro e encontro Namjoon deitado no sofá grande demais pra alguém que morava sozinho. Namjoon de bochechas vermelhas apenas me ignora enquanto Seokjin parece prestes a fazer um espetáculo sobre aquilo. Até eu tirar os óculos do meu rosto.

- Park Jimin! Que cara é essa, meu Deus? A última vez que te vi sem maquiagem foi quando você teve uma decepção amorosa, por culpa sua, aliás.-

- Direto como uma flecha, Kim.-

- O que aconteceu?-

- Jungkook aconteceu.-

- O que foi dessa vez?- A voz de Namjoon surge pela primeira vez.

- Nos beijamos de novo.-

- Mentira!- Seokjin disse botando a mão no peito como se tivesse ouvido que Angelina Jolie e Brad Pitt reataram.

- Para de teatro Seokjn. Jimin, ele sabe. Todos nós sabemos, Hoseok fez questão de nos deixar a par de tudo e até foto no grupo tem.-

- O quê?!-

- Ai, Jimin, é verdade. Mas, vamos pular essa parte, me conta, o que aconteceu então pra você estar com essa cara?-

- Nós... Nós fizemos um pouco mais que nos beijar dessa vez. E eu acordei hoje e... E ele tinha saído. Em um domingo de manhã e ele não estava em casa. Ele vai fugir de mim e ignorar tudo, de novo.- Eles olharam pra mim como se escondessem alguma coisa de mim e isso me perturbou.

- O quê foi? Que cara são essas?- Namjoon é o primeiro a se pronunciar.

- Jimin, olha, essa situação com Jungkook é um pouco chata, e as atitudes dele também, mas, você não acha que é um pouco compreensível? - Há uma pausa enquanto tento entender seu ponto - Sério, tenta olhar pelo lado dele, ele nunca ficou com nenhum cara, durante 21 anos e de repente ele beija e faz um pouco mais com o melhor amigo dele da vida inteira. É um pouco de informação demais pra ele agora, pra você foi mais fácil de se auto aceitar quando se descobriu, mas pra mim, por exemplo, não, para Yoongi não foi, para Hoseok também não. Ele precisa do tempo dele. Mas também precisa de você, do melhor amigo dele acima de tudo, pra conversar com ele e dizer que está tudo bem gostar de homens, mas também dizer que isso não o permite ser idiota com você.- As vezes, quase sempre, eu invejo Namjoon por ser tão maduro e inteligente. Devo muito da pessoa que eu sou à ele, que sempre me coloca nos eixos e me ensina o que é o certo e sensato a se fazer desde a pré-adolescência quando eu era um pirralho mas ele, como sempre, um pirralho maduro.

          ***

Quando eu cheguei em casa no final da tarde, passando até pouco tempo na casa de Seokjin porque minha cabeça não conseguia parar de pensar em Jungkook e em toda a situação recente que nos envolvia e em como eu tinha que conversar com ele e resolver tudo.

O primeiro cômodo que se vê quando se entra em nosso apartamento é a sala; E é onde ele está. Sentado com o tronco nu e suas calças de moletom como de costume, sua cara não me parece muito boa o que me detém um pouco de me aproximar mas logo em um suspiro de coragem me sento ao seu lado.

- Ei...- Tento uma abordagem calma pra testar seu humor; Se eu deveria continuar tentando uma conversa ou apenas deixar para outro dia.

- Onde esteve?- Ok. Não me parece bom. Mas quem está na chuva é pra se molhar.

- Seokjin.-

- Bom...-

- Podemos conversar?- Digo olhando em seu rosto em um súbito de coragem, mesmo que ele continue olhando para a televisão. Que está desligada.

- Não. Haniye já está chegando.- Que diabos de nome é Haniye?

- Quem é Haniye?-

- A garota com quem mantenho sexo casual.- Oh.

- Vocês vão transar?-

- Sim.-

- Aqui?-

- Sim.-

- Uou. Parabéns Senhor Hétero. Boa sorte com a sua foda fantasticamente hétero.- Me levanto e estou prestes a chutar a televisão completamente desinteressante que ele tanto olha. Mas meu dinheiro também está ali.

- Você está bravo? Você entre todas as pessoas do mundo se acha no direito de ficar bravo?-

- Sim!- Quase grito enquanto puxo meus cabelos com tanta força que os poderia arrancar; Mas nem sinto.

- Vai se foder, Jimin, sinceramente, vai se foder.-

- Mas que porra? Qual o seu problema? Você está chapado, é isso?-

- Não, eu não estou! Me deixe em paz estou falando sério.-

- Seu ridículo, filho da...- Minha voz é cortada pela campainha alta que eu sempre odiei e agora eu a odeio mais, mas talvez nem tanto quanto eu odeio Jungkook no momento. Ele não se dá o trabalho de falar mais nada antes de passar como um furacão por mim e abrir a porta e uma garota de expressão simpática entrar sem ter a menor ideia do clima pesado que pairava no apartamento e em todo meu coração.

E naquela noite enquanto Jungkook descontava sexualmente toda sua raiva na garota de sorriso simpático eu descontava da mesma forma minha tristeza com Taehyung enquanto o mesmo beijava todo meu rosto me dizendo o quão incrível eu era.

          ***

- Onde você foi ontem?- Foi a primeira coisa que ouvi de Jungkook no outro dia assim que boto os pés dentro de casa. É a pergunta que mais ouço dele ultimamente.

- Não é da sua conta.-

- É claro que é, você mora comigo.-

- E isso faz de mim uma propriedade sua? Eu sou o quê, agora? Uma parte da mobília?- Ele bufa.

- Só... Só me fala onde você estava, por favor.- Seu tom de voz se abaixa e ele me olha receoso, o que me faz ceder. Claro que faz.

- Taehyung.- É a única coisa que digo. E é a única coisa que eu preciso dizer para que ele fechasse os olhos com uma expressão de dor mas como se já esperasse ouvir aquilo. - O que vocês fizeram?- Ele questiona ainda de olhos fechados.

- O mesmo que você e a garota fizeram aqui ontem.- Os olhos se abrem mas a expressão dolorosa ainda está lá, e se meu coração tivesse feições, teria as mesmas de Jungkook.

Por um momento, penso no que devo fazer, quero muito conversar com ele, quero perguntar o que está havendo entre a gente, quero perguntar o porque dele ter sido tão rude comigo ontem, mas não sei se consigo, não sei se consigo matar todo o meu orgulho já ferido que reside em meu coração machucado. A humilhação de ontem me detém de tentar qualquer aproximação com Jungkook. Mas não detém ele.

- Me desculpe por ter gritado com você ontem e ter dito aquelas coisas.- E é só. É tudo que ele diz. Sem demonstração nenhuma de querer prolongar o assunto e discutir comigo nossas últimas ações um com o outro. Mas a raiva se sobrepõe à tristeza em meu peito e no segundo seguinte já estou explodindo minhas perguntas e todas as frustrações sobre ele.

- É só isso que você tem a dizer? Sinceramente, eu quero explicações e se não estiver disposto a me dá-las eu quero que você e suas malditas desculpas vão pro inferno!-

- Explicações de que?-

- De ter agido como agiu ontem comigo!- Ele ri em descrença e percebo a irritação tomar lugar em seu rosto.

- Muito engraçado, como se você não soubesse.-

- O quê? Não sei, é claro que não!-

- Você foi embora!-

- Do que raios você está falando?-

- De você ter ido embora depois de termos passado a noite juntos fazendo você sabe o quê.- Nenhuma palavra sai de minha boca depois disso. Estou tão perplexo e estarrecido como se um raio tivesse me atingido, tentando entender. A realização de tudo está passando pela minha mente mas eu me recuso a aceitá-la, me recuso a acreditar que ela é a verdade.

- Não. Você está errado. Você foi embora.- Toda a gritaria acaba quando pronuncio as palavras por um fio de voz.

- Eu não fui. Do que você está falando agora?-

- Quando eu acordei, você tinha ido embora, não tinha um rastro de você aqui.-

- O único momento em que deixei esse apartamento foi depois de eu ter acordado, eu saí pra comprar alguma coisa pra comermos e tentar fazer com que tudo continuasse especial entre a gente. E quando eu voltei, não tinha nenhum rastro seu.- Não. Não. Não.

- Você... Jungkook... Foi tudo um mal entendido. Eu não acredito.- Digo e minha voz ameaça tremer mas eu me proíbo de chorar, eu sempre choro em todas as brigas e eu odeio isso como o inferno, mas não posso chorar nessa. - E-Eu acordei e não vi você e então eu saí porque... Porque eu pensei que você tinha ido embora e me deixado.- O silêncio se estabelece no local e posso ver como ele está lutando para não acreditar que foi isso que aconteceu.

- É isso que você pensa de mim?-

- E você pode me culpar? É isso o que você sempre faz. Foi isso que você fez quando nos beijamos pela primeira vez quando tínhamos 16 anos, sim Jungkook, aquilo aconteceu, mesmo que você tente tanto apagar da sua memória. E você fez novamente quando nos beijamos depois de todos esses anos e fingiu que nada tinha acontecido de novo mas me evitou, me evitou como o inferno, evitou qualquer toque que viesse de mim durante todos os dias, até aquela noite, e então eu acordo e você não está mais lá, o que esperou que eu pensasse?-

- Eu... Não era minha intenção. Você não entende.-

- Então, me explica, por favor, me explica, já são 10 anos Jungkook, eu acho que consigo te entender.-

- Eu... Eu quero muito te beijar.-

- O quê?-

- Por favor.-

- Se você está pensando que me beijar vai resolver isso, pode me esquecer.-

- Não é isso. Eu só quero muito te beijar agora, quero te beijar o tempo todo há um tempo, mas eu não sei lidar com isso... Não sei lidar Jimin, em tantas formas...- Amoleço quando estudo sua expressão. A mesma expressão de quando seu cachorro adoeceu quando tínhamos 12 anos. A mesma expressão de quando uns garotos mais velhos tiravam sarro dele por ser magro demais e pequeno. A mesma expressão de quando eu precisei passar as férias em outra cidade com minha avó.

Era o meu Jungkook. O Jungkook de sempre. O Jungkook que me defendeu de valentões na escola. O Jungkook que desenhou e coloriu todo o meu gesso quando quebrei meu braço aos 13 anos, só pra que eu não ficasse triste.
E é com esse pensamento que eu o abraço, tão forte quanto nos abraçávamos quando pré-adolescentes depois de apenas um final de semana sem nos vermos.

- Me ajude a te entender. Me deixe te ajudar. Não consigo mais ficar assim com você. Está acabando comigo.- E é com as testas encostadas e carinhos trocados no rosto que nos beijamos. Dessa vez um beijo planejado e com ambos sóbrios. Não pude pensar em qualquer outra coisa que eu gostaria de fazer mais do que beijá-lo e a forma como ele também me beijou me disse a mesma coisa sobre ele.

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• o próximo capítulo é meu favorito, até :)