eight.



- Vocês não vão falar nada?- A copa de Seokjin parece sufocante quando se está tomando café da manhã e seus dois amigos altos demais estão sentados na sua frente te olhando com a expressão mais séria possível.

- Jimin, quando você ia nos falar que tem problemas com bebida? - Seokjin diz, assim, do nada. Paraliso e os encaro procurando saber se eles estavam mesmo falando sério. Se eles sabiam mesmo. E a falta de qualquer sombra de divertimento no rosto deles me diz tudo.

- Ele não deveria ter contado isso.- Mas ele continua.

- Porque nunca nos contou? Todos os finais de semana, Jimin, todos, você marca de beber e nós concordamos, sem ter a menor ideia da enrascada que estamos te colocando.-

- Essa era a intenção.-

- Pare de ser criança! Você não tem ideia de como todos nós estamos nos sentindo culpados agora, e o pior de tudo é que todas as vezes que saíamos, Jungkook nem sabia, o que é muito conveniente pra você, visto que ele era o único que sabia.- Seokjin nunca falou comigo daquela maneira, o que fez minha personalidade chorona entrar em ação e não demorou um segundo depois que ele terminasse de falar para que eu explodisse em lágrimas.

- Deixe que eu falo com ele, Seokjin.- Namjoon se pronuncia pela primeira vez e eu não estou os olhando mas o silêncio de Seokjin mostra sua relutância em aceitar. Mas ele suspira e deixa o cômodo, enquanto Namjoon se levanta e ao contrário do que penso, ele não vem até mim, ele caminha pra longe e eu olho seu trajeto até a sacada, onde ele se senta em uma das duas cadeiras de balanço que esta lá. Ele me olha e eu espero encontrar seriedade e fúria em seu olhar, mas ele está calmo e sereno, banhado pelo nascer do sol. A visão me reconforta.

- Vem pra cá.- Ele diz calmo e olha pra cadeira ao seu lado. Sem relutância alguma, levado pela confiança que sua postura me trás, eu faço o que ele pede.

- Você não vai brigar comigo?- Ele suspira e olha pra paisagem artificial a frente, com um leve sorriso calmo em seu rosto.

- Não é trabalho meu fazer isso, tampouco acho certo essa forma de abordagem, mas você sabe como Seokjin é explosivo.-

- Não queria deixar ele bravo comigo, juro. Toda essa situação não era nem pra chegar até vocês.- Não estou chorando mais. Estou estranhamente calmo e tranquilo que Namjoon e a paisagem me trás.

- Ele só está preocupado. Todos nós estamos, eu não quero te julgar, eu só quero entender, nós sempre vemos o Jimin alegre em qualquer situação, o único momento em que te vemos abalado é quando se trata de Jungkook. Mas aí, eu descubro que o Jimin que eu conheço desde os dezessete anos, tem problemas de alcoolismo e então inevitavelmente me sinto culpado de nunca ter reparado isso em você, de ter compactuado com isso, e acima de tudo me pergunto o que fiz de errado pra Jungkook merecer saber, e eu, nós todos, não.- Namjoon tem o dom de me fazer rir até que minha barriga doa mas também tem o dom de me fazer triste só pelo jeito acolhedor e decepcionado que ele fala. E o fato, de, em momento algum ele me culpar ou qualquer coisa do tipo, mas se culpar por meus problemas me destroça ainda mais.

- Não é isso, Namjoon, é só que, Jungkook está sempre comigo, desde sempre e ele... Eu não sei, ele...-

- Sim, eu sei, ele é O Jungkook, eu entendo como você se sente em relação à ele e tudo que ele significa em todos os sentidos pra você, não dá pra competir mesmo, está tudo bem.-

- Ele é minha família, Namjoon.- Ele sorri olhando pro céu e assente.

- Eu vejo.- Nós ficamos em silêncio por um breve momento que pra ele parece tranquilizador mas pra mim é longo e me consome. Mas ele retoma:

- Nós perdemos muita coisa?- Ele me olha e há dor em seu olhar. E eu me odiei por realizar que meus amigos estão todos provavelmente se sentindo assim pela minha falta de responsabilidade e maturidade. Eles me amam e eu nem me doou em troca.

- Só as partes ruins. A essência ainda é a mesma.- Ele suspira de novo e me olha, sério, mas ainda calmo.

- Amizade não é só amar a parte boa e feliz, Jimin, você tem todo direito de não querer contar algo ruim que te acontece, mas só se o motivo pra esconder isso de nós for plausível... Então, qual o seu motivo?-

- Não quero incomodar, é sempre assim que me sinto só de pensar em contar algo ruim da minha vida pra vocês. Meu problema sempre parece pequeno demais, não é nada que eu não tenha aprendido a lidar sozinho.-

- É falta de confiança em nós?-

- Não... É em mim mesmo, eu pareço confiante e tento me convencer de que sou, mas eu perdi minha confiança há muito tempo, eu nem me lembro de quando foi o exato momento em que a perdi. Eu me acho um pé no saco Namjoon, não há nada que eu possa oferecer a não ser umas boas risadas aos outros, e a razão de eu não ser assim com Jungkook é por que ele está comigo desde antes de eu perder minha auto confiança, ele acompanhou cada momento ruim que passei sem eu conseguir esconder dele. Ele sabe todos os meus problemas e por isso sabe exatamente como lidar comigo quando acontece, sabe as exatas palavras que ele precisa me dizer. Eu acho que é o tempo Namjoon, o tempo fez com que ele conseguisse me ler com perfeição e lidar comigo como ninguém. Eu nem preciso falar nada pra que ele saiba que algo está errado. É só... Fácil sabe? Não parece fácil com mais ninguém.-

- Bom, então eu acho que vocês precisam se acertar não é? - Eu respiro fundo me encostando na cadeira e olhando pra paisagem também. - Jimin...- Eu o olho de novo e seu rosto parece mais sério agora mas ainda me passa reconforto. - Dê uma chance a nós, por favor, você precisa saber que, estamos com você independente de tudo, não se sufoque guardando tudo pra você.- Quis abraçá-lo, chorar em seu ombro e dizer o quanto aquilo era importante pra mim, o quanto significava, o quanto, sim, eu me sentia sufocado com tudo que eu guardava pra mim mesmo, e agradecê-lo por tudo que já fez. Mas eu só segurei o choro, sorri e estiquei minha mão até ele, que, com a sua, a segurou.

- Ah, Namjoon, eu te odeio muito.- Uma voz se fez presente atrás de nós e Seokjin estava lá, escorado no batente da porta de vidro nos olhando, sem a expressão brava de antes, mas sorrindo, mesmo que tentasse não o fazer. - Agora eu acho que tem alguém muito desesperado e que não me deixou dormir a noite inteira com quem você precisa conversar.- Eu assinto e meu sorriso se abre, fazendo meus olhos se fecharem.

Porque agora, depois de toda a noite conturbada e toda a conversa com Namjoon, eu me sinto mais leve e calmo, a briga com Jungkook não me parece mais o fim do mundo, e eu estou disposto a ouvir, acreditar e perdoar qualquer que seja o que Jungkook tenha a me explicar. Porque eu o conheço bem demais pra saber que ele nunca quis me magoar e tem seu próprio sofrimento dentro de si, e estou pronto para entendê-lo como ele sempre fez comigo.

***

Quando eu saio da casa de Seokjin, depois de ouvir o mesmo dizer no mínimo dez vezes que ainda conversaríamos melhor sobre o meu "problema" e confirmando que sim, falaríamos disso, e agradecendo ele e Namjoon mil vezes, eu então caminho até o bar da noite passada pra pegar meu carro, pensando no que eu diria pra Jungkook quando chegasse em casa, desistindo depois de alguns minutos sabendo que a tentativa era inútil. No momento em que eu o visse eu não lembraria de mais nada.

Quando eu estou em frente a porta do nosso apartamento a sensação é apavorante. Estou há um passo de distância de encarar um ambiente cheio de Jungkook.

Pensando bem, eu poderia apenas dar meia volta e fingir que não tenho nada pra enfrentar, enchendo a cara em um bar barato. Sinceramente, era a minha maior vontade no momento, mas não posso decepcionar meus amigos dessa maneira. Não posso fugir e empurrar meus problemas, ignorar não vai os fazer sumir.

E então, com uma força que eu sei que veio do meu coração, eu destranco a porta.

A primeira coisa que vejo, é inevitavelmente a figura descalça e sentada no chão com as costas encostadas no sofá, as mesmas roupas de quando o deixei, os cotovelos apoiados nos joelhos e o cabelos bagunçados, sinal de que mexeu muito neles, mania sua de quando está nervoso. Meu coração se acelera com sua imagem, um pouco deplorável mas sempre tão linda.

Quando eu crio coragem pra botar todo meu corpo pra dentro, ele percebe a movimentação e sua cabeça se levanta rapidamente, os olhos se arregalando quando me vê. Ele tenta se levantar com rapidez, tropeçando um pouco na tentativa e corre até mim, me surpreendendo quando, antes de falar qualquer coisa, ele me abraça, tão forte quanto costuma fazer. Eu não correspondo, mas apenas por pura surpresa.

-Jimin... E-Eu fiquei com tanto medo de que algo te acontecesse.- Sua respiração quente toca em meus cabelos quando ele fala e demora até que ele se separe de mim e me olhe, mas só há preocupação em sua face, não há receio ou nenhum sentimento que remeta à nossa última briga.

- Jungkook...- Eu digo seu nome, incerto do que dizer. Ele segura meus ombros e me olha com sentimento transbordando de sua expressão.

- Não, deixe que eu fale, por favor, me desculpa, por tudo, eu não te mereço, eu preciso batalhar muito para ser merecedor de ser seu companheiro. Eu nunca deveria ter mentido sobre sua vida, muito menos em um assunto tão sério, eu reconheço meu erro, mas eu fiquei tão desesperado na época, eu sei que já era maior de idade mas eu não conseguia ir contra meus pais, a opinião deles me importava demais e ainda importa. Jimin, eles são tão conservadores, eles não iriam aceitar, então, eu fiquei tão desesperado só em pensar em não morar com você, porque caramba, não tinha nada que eu quisesse mais que isso, então eu menti, menti por uma aprovação e poder ficar com você. Eu sei que deveria ter feito diferente, mas eu fui afobado, não suportava a ideia de você morar com alguém que não fosse comigo e nos separarmos...- Ele suspira e acaricia minhas bochechas com suas mãos sem desviar seu olhar do meu.- Me dê mais uma chance, por favor, me deixe te merecer, por favor, Jimin...-

Um milhão e nenhum pensamento se passa em minha cabeça ao mesmo tempo. De fato, eu percebo que o julguei mal, eu nunca soube como sua família era preconceituosa, e assim como ele não foi capaz de entender o peso do que mentir sobre algo com o qual tenho tanto orgulho, eu também não entendia o quanto sua família e tudo isso pesa pra ele. Não posso falar que ele não errou, mas é tudo uma questão de ponto de vista e se colocar na situação do outro. E, por Deus, o outro era meu Jungkook. Eu não sei porque ainda tento ser imaturo e fugir de situações que acho alarmantes sem ter uma conversa sobre isso, quando claramente, é a melhor solução pra tudo.

- Ah, Jungkook, eu te entendo, meu Deus, me desculpe também, por favor, eu fui muito criança não te ouvindo e fazendo todo aquele escândalo, é só que é um assunto tão delicado pra mim e eu fiquei fora de mim, e você está se esforçando tanto, não é fácil pra você e eu não considerei isso.-

Eu finalmente pareço ter uma reação física e passo meus braços por sua cintura e vejo o quanto minhas palavras e atos o fazem relaxar e sua expressão suaviza por demais.

- Estamos, por mim estamos mais do que bem. Eu não aguentaria ficar mal com você.- Ele respira fundo e deixa um sorriso abrir em seu rosto e me abraça forte de novo, mas sendo correspondido dessa vez. Depois, ele segura firme em meu rosto e sela nossos lábios com a mesma firmeza várias vezes enquanto não conseguimos impedir um sorriso aberto em nossos rostos. Nós ficamos assim por um bom tempo, matando a saudade de apenas um dia que nos pareceu uma eternidade e arrasou nossos corações como uma verdadeira tragédia.

- Eu tenho uma coisa pra te mostrar.- Meu rosto se retorce em confusão e ele me puxa pro seu quarto, nosso quarto, tanto quanto o meu quarto também é nosso agora.

- Ontem, antes de tudo acontecer, eu não tinha atrasado por causa de trânsito nenhum. Eu fiquei até mais tarde com Taehyung no prédio do curso de fotografia e ele me ajudou com umas coisas.-

- Com o quê?- Ele se afasta com um sorriso no rosto e vai até sua mala-mochila que está em cima da cadeira do computador. Ele tira uma caixa preta bonita e do tamanho da mala de dentro e me entrega. É um pouco pesada.

- Abre.- Agora seu sorriso está mais pra envergonhado e eu me corrôo de curiosidade, não hesitando em abrir rápido a caixa.

Eu percebo que tem duas coisas dentro, ambas estão embaladas com um papel branco e frágil. Me sento na cama e pego com cuidado a primeira que parece igual a segunda. Quando eu desembalo, sinto meu coração na garganta, batendo forte como um tambor.

É uma foto. Uma foto em um quadro muito bonito. Uma foto nossa.

Uma recente que tiramos já em algum momento nesses três meses em que começamos a nos envolver, tirada pela câmera muito cara de Jungkook. Estamos abraçados na varanda do nosso apartamento. É simples e é linda.

Estou tendo um turbilhão de sentimentos que não me deixam conseguir esboçar reação nenhuma. A única prova que mostra o quão tocado estou são minhas mãos que não param de tremer. E talvez, Jungkook esteja escutando o quanto meu coração bate forte e rápido.

A segunda coisa, eu sei que também é uma fotografia por ser do mesmo jeito da que já está em minhas mãos. Deixo a outra com cuidado em cima da cama. Mas saber não me prepara.

É a nossa primeira foto tirada juntos.

Ampliada e com uma resolução magicamente melhor do que ela era e em um porta retrato muito bonito, igual ao outro.

Eu não sei nem o que dizer.

- Jungkook... Eu não sei nem o que dizer.- O olho em pura ternura e tenho a plena noção de que meus olhos estão marejados deformando a visão de Jungkook em minha frente. Argh, eu sou tão chorão.

- Você gostou?- Ele parece incerto pela minha falta de resposta. - Ontem a noite, depois que Seokjin me disse que estava com você e me proibiu de aparecer por lá eu até furei a parede pra pendurá-las, eu me recusei a aceitar te perder. Aqui, olha, mas se quiser em outro lugar tudo bem.- Ele aponta pra parede em cima da nossa cama onde tem dois pregos pra penduradem as fotos.

- Ou se você não quiser também. É só que você gosta tanto de fotos e tem tanto sentimento por elas e eu gosto tanto de tirá-las. Eu achei que você gostaria. E se você quiser, nós podemos mudar suas coisas pra cá e termos só um quarto, já que o meu é maior e mais arejado, se você quiser claro, se você achar que as coisas estão indo rápido demais, tudo bem também.- Ele é tão tagarela quando está nervoso.

Deixo as fotos em cima da cama e vou até ele, ele parece não saber o que esperar, mas eu o beijo, com todo o meu amor, com todo o amor que tenho por ele. E ele retribui, soltando até um suspiro aparentemente de alívio quando o faço.

- Eu amei, Jungkook, amei absolutamente tudo, amei as fotos, amei a ideia de mudar minhas coisas pra cá e eu amo você.- Digo sem me importar em qual interpretação ele irá dar ao que digo. Eu sei que disse que não deveria dizer essas três palavras mais, mas é impossível, não depois de toda essa demonstração de que ele também me ama, mas eu não quero pressioná-lo a dizer de volta também porque sei que as coisas com ele são mais devagar e estou ok com isso. Então não dou espaço pra deixá-lo nervoso e o beijo de novo enquanto também o abraço.

Me sinto culpado por, ele ter feito tudo aquilo ontem e eu ter surtado daquela maneira, me faz pensar que eu é quem não mereço, mas afasto esses pensamentos com a ideia de que não somos perfeitos, e ainda temos muito chão e melhoras pela frente pra fazermos, o mais importante agora é que nos amamos e nos respeitamos.

Jungkook é o único ser humano capaz de me dar autoconfiança e eu o amo por isso também.

- Eu sou muito brega, não sou?- Ele diz depois de nos beijarmos por alguns minutos, sua testa encostada na minha enquanto me abraça pela cintura, com uma careta e um sorrisinho de quem não está nada arrependido no rosto.

Eu rio e confirmo com a cabeça, esfregando nossos narizes.

- Você é, mas eu também sou, então está tudo perfeito pra mim.- Há um sorriso nos meus lábios quando junto nossas bocas pelo que parece ser a milésima vez em apenas meia hora. Nos beijamos no nosso apartamento, no nosso quarto. Onde está rodeado por nós, pra que todos que entrassem ali, pudessem ver que é o lugar de um casal muito brega.

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erros serão corrigidos depois.
até 💘

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