Prólogo
Antes de prosseguir com a leitura. Gostaria de dizer que essa história deveria ser uma One Shot como presente de aniversário para a isadoorw, mas a minha mente extremamente perturbada, decidiu criar uma história de fantasia, que eu não sei até quantos capítulos podem nos levar. De qualquer forma, feliz aniversário extremamente atrasado, amiga. Confesso que eu tinha feito um rascunho de uma One Shot com o Bajugou, mas nos 45 minutos do segundo tempo, a minha mente decidiu que eu tinha de surtar, apagar tudo e criar um universo do zero, baseado vagamente no canônico de Jujutsu Kaisen.
Espero que goste do meu surto. Se não gostar, pode me avisar que eu apago e faço tudo de novo. Kkk
A história a seguir é uma fantasia, um universo criado por mim, em bases bem rasas do que conhecemos do mundo de Jujutsu. Os personagens dessa narrativa podem ter suas personalidades alteradas.
Existem gatilhos de: agressão, sexo explicito, palavras de baixo calão e menção a suicídio.
Caso não se sintam confortáveis, peço para que não deem continuidade a leitura.
"Para um coração amaldiçoado, basta apenas um coração que seja incapaz de ser tocado".
Alemanha - 2005
A porta dos fundos da boate foi aberta num rompante, revelando uma silhueta pequena com o rosto encoberto por um capuz, que passou a cambalear pelos corredores estreitos do local.
O som alto da música parecia reverberar pelas paredes, a cada batida, seguindo a sequência exata do coração daquele que parecia lutar para se manter em pé a cada passo vacilante que dava.
Um rastro de sangue seguia seu corpo, banhando todo o piso do local, enquanto o mesmo empurrava uma das portas ao fim do corredor, revelando a área privada, onde havia um conjunto de sofás vermelhos, ocupados por corpos seminus que se esfregavam um no outro, mas que "ele" não parou pra ver o que realmente estavam fazendo. Precisava apenas de um banheiro e água corrente.
Alguém gritou com a presença estranha no cômodo, que foi totalmente ignorada pela figura, que se esgueirou para dentro do banheiro e fechou a porta. Se apoiando contra a pia de mármore, sentindo a perda intensa de sangue começar a dar sinais.
Suas pernas estavam bambas, sua visão turva e mal sentia a solidez contra seus dedos que aos poucos pareciam perder a sensibilidade.
Abaixou o capuz que cobria seu rosto, deixando as mechas longas do cabelo vermelho caírem por seus ombros, tão vermelho quanto o sangue que escorria da lateral de seu corpo. Suas pupilas esmeraldinas estavam quase frias em meio ao brilho das lágrimas que ela lutava para segurar devido à dor.
Ergueu o moletom e observou o rasgo em sua regata, bem abaixo das costelas, um corte profundo que deixava exposto apenas um buraco profundo, enquanto o sangue parecia jorrar.
Ela iria morrer logo se continuasse sangrando daquela forma.
Pegou uma toalha de rosto que estava pendurada em um gancho ao lado do espelho, abriu a torneira da pai e a molhou, deixando encharcada, antes de pressionar com toda a força que ainda lhe restava, sobre o ferimento. Soltando um grunhido com a dor que irradiou por suas costelas e entranhas.
Sua visão escureceu por um breve segundo e ela quase cedeu ao chão, se não tivesse respirado bem fundo, erguendo a cabeça para se concentrar na lâmpada incandescente no teto, distraindo sua mente da dor absurda que seu corpo sentia. Pelo menos tinha conseguido matar aqueles filhos da puta, ou então, ela morreria bem ali, de desgosto por si mesma, por um trabalho tão imprestável.
Abaixou o olhar e encarou a toalha, que antes branca, agora estava da mesma cor que seu sangue, manchando seus dedos e a fazendo sentir tontura novamente. Não sabia dizer se era pela dificuldade que a mesma tinha em ver sangue, ou se era pela falta dele dentro de seu corpo mesmo.
Soltou uma risada nasalada, quase sentindo pena de si mesma.
Ela ia morrer, no banheiro de uma boate qualquer. Totalmente sozinha, assim como sua mãe sempre costumava falar.
Que lástima.
Ela realmente era decepcionante.
Suas pernas finalmente cederam ao peso de seu corpo e ela caiu de joelhos, no mesmo instante em que ouviu uma batida contra a porta.
— Ta ocupado. — Conseguiu grunhir em meio a dor e sensação de estar quase desfalecendo.
Mas quem quer que estivesse do outro lado, não estava com muita paciência. Já que os golpes se intensificaram, ao ponto de que ela percebeu que não era mais uma pessoa comum simplesmente querendo usar aquele banheiro.
Eles a tinham encontrado.
Mas ela não tinha matado todos eles?
Ainda tinha mais?
Encostou a testa na borda da pia, enquanto tentava não desmaiar, pensando se valia a pena ela continuar lutando naquela altura do campeonato. Ia morrer de qualquer forma, se não fosse pela hemorragia, seria pelo ser que estava do outro lado da porta, enfurecido e doido para matá-la.
Houve o som da madeira se partindo, ela sentiu o golpe de algumas farpas sobre ela, mas não quis erguer a cabeça para ver a criatura. Ouviu seus passos e observou as botas negras e grossas. Ela desejou que ele apenas desse o golpe final e acabasse com toda sua dor, mas aparentemente não era o que ele desejava.
Seus cabelos foram agarrados e ela sentiu o puxão com brutalidade, que a obrigou a se levantar. Já não tinha forças para gritar, mesmo que aquilo tivesse feito uma dor ainda mais aguda percorrer seu couro cabeludo e a nuca.
Observou os olhos opacos da criatura pelo reflexo do espelho, os cabelos negros tão longos quanto o dela e apele mais branca quanto o mármore daquela pia. As veias negras demarcavam os braços grossos dele, mas não foi como se ela ao menos tivesse tempo para analisar a criatura furiosa, que empurrou a cabeça dela na direção do espelho.
O vidro rachou com a pancada, seu sangue manchou a visão de seu próprio reflexo.
Por que eles não poderiam ser benevolentes e só a matarem?
Que drogas, ela ainda estava viva. Então, isso significava que ela ainda precisava lutar.
Não sabia de onde tirava toda aquela força, mas ergueu suas pernas, apoiando os pés contra a bancada da pia, usando de apoio para empurrar seu corpo pra trás. A criatura não parecia preparado pela reação dela, as costas dele acertaram a parede do outro lado do banheiro e a garota se livrou do aperto em seu cabelo. Se virou num giro rápido, deslizando a mão esquerda pela cintura dele, onde sabia que a maioria costumava guardar sua adaga. O objeto prateado estava lá, e ela o segurou pela base, o puxou do suporte e ergueu para enfiar contra o peito dele. Mas o maior a agarrou pelo pescoço e novamente ela estava sobre a pia, sentada, acertando sua nuca contra o espelho já quebrado.
Sentiu os farelos do vidro caindo por seu rosto, sendo obrigada a fechar os olhos para que nenhum machucasse seus globos oculares.
O aperto em seu pescoço era intenso ao ponto de que nenhuma brecha de ar entrasse por seus pulmões. Seu corpo se debateu e ela tentou chutá-lo de todas as formas possíveis, mas a criatura era o triplo do tamanho dela, fazendo parecer uma brincadeira de criança para ele, enquanto era sua sentença de morte.
Suas mãos apertaram o punho forte, mas ela já não tinha mais forças nem para manter os olhos abertos, tudo estava escuro, seu corpo começava a formigar e até mesmo suas pernas já não se moviam mais na mesma intensidade para tentar afastálo.
Aquele era seu fim.
Assim como sua mãe havia previsto alguns anos atrás.
Parou de lutar no instante em que seu corpo já não sentia mais nada, ela só queria poder descansar, parar de lutar e finalmente se ver livre daquele tormento que fora a sua vida.
Talvez a morte realmente não fosse tão ruim.
— Maldita criatura das sombras, o que pensa que está fazendo na minha boate?!
Ela ouviu uma voz ao longe, tão distante que não soube distinguir se era real ou não. Ela só lembra de ouvir um baque, antes de sentir se seu corpo havia desmoronado, mas ela não sentiu dor, na verdade, não sentiu nada, além de um calor reconfortante e um sono absurdo que a fez se render, mesmo sabendo que ela nunca mais abriria os olhos novamente.
Enfim, a morte não era fria como sua mãe costumava dizer. Ela era bem quentinha e acolhedora.
&&&
Estava muito claro quando conseguiu abrir os olhos novamente, sentindo suas pupilas tão pesadas, que precisou fechá-las por longos segundos, antes de tentar abrir novamente.
Havia uma claridade intensa que irritava seus olhos, ao ponto de fazer a garota se encolher debaixo da coberta quentinha e puxar o tecido sobre sua cabeça para fugir daquilo.
Sentiu vontade de xingar, mas ao abrir a boca, percebeu que sua garganta estava seca demais para que pudesse emitir algum som.
O que tinha acontecido?
Sua mente ainda estava um borrão de acontecimentos. Ela não conseguia se lembrar de muita coisa depois de entrar naquela boate, só se lembrava da dor absurda que sentia embaixo de suas costelas, muito sangue e uma daquelas criaturas.
Ela havia morrido.
A constatação desse pensamento, fez a ruiva abaixar o cobertor que estava sobre sua cabeça e olhar ao redor.
Seus olhos ainda irritados, observaram todo o cômodo, a cama onde estava deitada parecia ser muito quente e macia, logo a frente, em sua visão, ela pode ver uma mesa com diversos frascos de remédios, ao seu lado estava uma mesa de cabeceira com um jarro com flores, margaridas brancas, uma jarra com água, um copo vazio e mais alguns frascos de remédios.
Era um quarto enorme.
Se sentou sobre o colchão, ainda tendo um pouco de dificuldade, seu corpo já não doía mais com tanta intensidade, mas ela ainda sentia algumas pontadas incômodas.
As cortinas estavam balançando com o vento que adentrava o quarto, do outro lado parecia haver uma sacada, assim como próximo às portas de vidro, também havia uma outra mesa com uma pilha de livros e um abajur, portas duplas que pareciam dar acesso a um armário, uma outra porta lateral que ela suspeitava ser um possível banheiro. E as portas duplas do outro lado, que se abriram no segundo seguinte, revelando uma figura feminina.
— Bom dia! Fico feliz que finalmente tenha acordado.
A bela mulher alta, de cabelos longos e acastanhados que caia como cascata em suas costas, sorriu de forma radiante pra ela, enquanto se aproximava da cama.
Ela era tão bonita, que a garota se encolheu, acreditando que deveria estar um trapo se comparada aquela mulher tão bem vestida numa calça escura de couro e uma jaqueta no mesmo tom.
Seus olhos analisaram atentamente, vendo que ela não parecia soar uma ameaça.
Era humana, assim como ela.
— Quem... Quem é você? — Sua voz saiu num sussurro, e ela tossiu logo em seguida, porque o esforço de falar, fez sua garganta arranhar como se tivessem prego nela.
— Pode me chamar de Shoko. — Ela se virou na direção da mesa ao lado e encheu um copo com água, estendendo para a ruiva. — Beba um pouco, você precisa se hidratar.
A garota agarrou o copo com as duas mãos, tremendo que ainda não tinha forças o suficiente para segurar o objeto e o virou em sua boca. Só percebeu que estava com muita sede, quando o líquido tocou sua língua e ela passou a ingerir mais rápido do que conseguia, deixando a maior parte escorrer por seu queixo e molhar sua roupa.
Estendeu o copo de volta para Shoko, que o pegou prontamente e lhe deu um olhar que parecia carregado de ternura.
— Obrigada. — Forçou um sorriso para a outra, percebendo que sua voz já soava um pouco melhor. — Onde eu estou? Pensei que tinha morrido.
— E você morreu, por dois minutos. — Ela explicou pacientemente, enchendo outro copo com água e pegando um comprimido dos frascos. — Mas por sorte, eu estava lá naquela noite e pude fazer os primeiros procedimentos em você. Toma, beba isso.
Ela aceitou o comprimido e o copo novamente sem nem questionar. Em qualquer outra circunstância, ela não beberia algo tão facilmente, mas estava viva e por causa daquela mulher. Ela não iria matá-la naquele momento, ao menos.
— O que aconteceu com aquela criatura?
— Geto e Gojo deram um jeito nele, não se preocupe com isso.
— Gojo?
— Sim, Satoru Gojo. Já ouviu falar nele?
Claro que sim, todos no submundo conheciam o tão temido feiticeiro Satoru Gojo. O homem que era conhecido por ser invencível, que exterminava as criaturas em questão de minutos e que nunca havia sido ferido em batalha, em todos os seus séculos de vida.
Ela havia sido salva por ele?
— Não consigo acreditar que fui salva por um Gojo. — Ela balbuciou, encarando a metade da água que ainda havia em seu copo.
— É questão de hierarquia, demônios não são permitidos no território dele. Então, nenhuma regra foi infringida.
— Mas eu sou só uma humana.
— Uma humana muito especial aos olhos dele. — Shoko sorriu, pegando o copo da mão dela e lhe entregando um pequeno quadrado branco que estava pousado na palma de sua mão. — É um tablete de açúcar, coma, vai ajudar a aumentar um pouco da sua glicose.
A ruiva pegou e enfiou na boca, sentindo o açúcar derreter em contato com sua língua. Ela apreciava doces, mas aquilo estava sendo demais para o paladar tão sensível dela no momento, que quase vomitou, se não tivesse puxado o ar com força para seus pulmões.
— Doce demais. — Ela reclamou, estendendo as mãos para pegar o copo novamente, mas Shoko não deixou.
— Se beber mais água de estômago vazio, vai colocar tudo pra fora. Espera eu trazer algo pra você comer. — Ela explicou com a paciência de alguém que conversa com uma criança pequena. — A propósito, qual seu nome?
— Izobel. Mas pode me chamar de Izzy.
— Izzy... Gostei. — Shoko assentiu animadamente. — Vou ver algo leve pra você comer, Izzy. E avisar o Satoru que já acordou, ele estava muito ansiosa para falar com você.
Ansioso para falar com ela?
Izzy nem sequer pode perguntar mais nada para Shoko, porque a mulher saiu rapidamente do quarto, a deixando sozinha novamente.
Junto de seus milhares de pensamentos a respeito de tudo o que estava acontecendo.
Izzy afastou o cobertor pesado de cima de seu corpo e empurrou as pernas pra fora da cama, reparando enfim, na camisola que estava usando. Um longo tecido que pendia até seus pés, branca, com alças de babado. Ela era fofa e muito confortável, quase não sentia o toque suave do tecido em sua pele.
Nunca em toda a sua vida, ela imaginou que estaria em um quarto daquele tamanho, com tantas coisas bonitas, um cobertor quentinho, um colchão macio e uma camisola que mesmo não tendo muitos detalhes, só o tecido entregava sua alta qualidade.
Estava começando acreditar que realmente tinha morrido e alguém lá de cima tinha tido misericórdia dela, lhe fornecendo um ótimo lugar para morar.
Porque nem em seus melhores sonhos, ela poderia acreditar que teria sido salva por Satoru Gojo.
Aquele cara não existia, não passava de lendas para assustar os demônios. Nunca havia existido um ser que fosse capaz de extingui-los tão facilmente, ou então a humanidade não estaria sendo acometida por todos aqueles anos de desgraça.
Izzy se levantou da cama, sentindo suas costas doerem. Ela deveria ter passado tempo demais deitada e agora seus músculos estavam lhe cobrando o preço do descanso. Precisava se alongar e andar um pouco, sentir sua circulação sanguinea voltar ao normal.
Mas no primeiro passo que ela deu, suas pernas não pareciam muito firmes. Ela cedeu igual na noite em que quase foi morta, sentindo todo seu peso levá-la diretamente ao chão, onde apoiou suas duas mãos contra o tapete felpudo e vermelho que cobria o chão, mas que mesmo assim, não fora o bastante para amenizar a dor do impacto de seus joelhos.
— O que pensa que está fazendo fora da cama?
A voz grave e rouca que reverberou pelo quarto, não se parecia nem um pouco com Shoko.
Izzy sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo, tentou erguer a cabeça. Mas mãos firmes agarraram seus braços e a puxaram para cima com uma facilidade, que parecia que ela não pesava nada.
Ergueu a cabeça para observar quem estava diante dela, mas a única coisa que conseguiu captar, foi a intensidade das íris azuis que brilhavam como um conjunto de estrelas em meio a uma manhã de sol. Era como as imagens dos cosmos que ela via nas revistas que tinha encontrado durante sua vida, mas muito mais bonitas do que uma simples imagem. Porque eles brilhavam. E a estavam analisando com uma leve centelha de fúria, que fez a garota temer por sua vida mais uma vez.
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