09. Comida!
A companhia seguiu Gandalf, mas a tensão pairava no ar como uma névoa pesada. Os olhos de Dwalin se moviam inquietos, espiando de um lado para o outro, como se esperasse que elfos saltassem das pedras ou surgissem das árvores. Alguns dos anões se agruparam instintivamente, buscando conforto na proximidade, crentes de que estariam mais seguros em números. Kili e Fili trocaram olhares cúmplices, enquanto Thorin, à frente, analisava tudo à sua volta com olhos desconfiados e sombrios.
Logo, os portões se ergueram diante deles, revelando uma longa escadaria esculpida na pedra. Quando desceram os primeiros degraus, um elfo esguio, de pele clara e cabelos escuros, apareceu, deslizando pelo caminho com uma leveza quase sobrenatural. Ele saudou Gandalf em sua língua nativa, sua voz soando como o canto suave de um riacho ao vento. Gandalf sorriu e devolveu o cumprimento com uma pequena reverência.
━ Lindir ━ murmurou o mago, antes de continuar a conversa em élfico fluente.
Os anões franziram os rostos em desagrado, murmurando entre si, incomodados por estarem sendo excluídos deliberadamente. Thorin resmungou baixinho:
━ Sempre cochichando entre eles.
Dwalin bufou em concordância, apertando o cabo de seu machado.
━ Não gosto disso. Nada bom pode vir de uma língua que não entendemos.
━ Paciência, Dwalin, ━ rosnou Thorin, ainda mais irritado, mas tentando manter a compostura.
Depois de uma breve troca de palavras, Gandalf virou-se para eles e anunciou:
━ Preciso falar com Lorde Elrond.
Lindir inclinou levemente a cabeça, sua expressão educada, mas vaga.
━ Meu senhor Elrond não está aqui, ━ respondeu o elfo.
Gandalf franziu as sobrancelhas em confusão.
━ Não está? Onde ele está, então?
Antes que Lindir pudesse responder, uma trombeta ecoou pelas montanhas, interrompendo a conversa. Todos na companhia se viraram de imediato, seus corações disparando ao verem um grupo de cavaleiros élficos galopando pela trilha de pedra. Os cavalos eram ágeis e seus cavaleiros, graciosos, cercados por mantos esvoaçantes em tons de verde e prata.
━ Formem um círculo! Fiquem juntos! ━ rugiu Thorin, puxando sua espada. ━ Bilbo, Elowen, para o meio!
Bilbo e sua prima, Elowen, foram apressadamente empurrados para o centro do grupo, cercados pelos corpos robustos dos anões. A tensão era palpável enquanto eles se preparavam para o pior, cada mão agarrando armas e cada coração batendo acelerado. Os cavalos élficos pararam em um movimento fluido, e um dos cavaleiros desmontou com a mesma elegância. Era Elrond.
━ Gandalf! ━ cumprimentou ele, inclinando a cabeça em saudação respeitosa.
━ Senhor Elrond, ━ respondeu o mago com um brilho de alívio nos olhos.
Elowen espiava da segurança do grupo, ainda encoberta pelos anões, mas a altura imponente dos cavalos à sua frente a fez engolir em seco. Seu olhar inquieto passou das lanças nas mãos dos cavaleiros para os corpos tencionados de seus companheiros. Será que eles realmente estavam seguros? Qualquer uma daquelas lanças poderia facilmente atravessar as fileiras e atingir qualquer um deles, pensou com apreensão.
Elrond virou-se para Gandalf, seu olhar sério.
━ É estranho que orcs tenham chegado tão perto de nossas fronteiras, ━ observou ele, o tom grave. ━ Algo ou alguém os atraiu para cá.
O mago deu um pequeno suspiro, ajeitando o chapéu.
━ Ah, pode ter sido nós, ━ admitiu ele com um encolher de ombros, como se fosse um inconveniente menor.
Thorin se aproximou com passos firmes, seu rosto esculpido por anos de desconfiança e ressentimento.
━ Bem-vindo, Thorin, filho de Thráin, ━ saudou Elrond, com um leve sorriso, seus olhos estudando o príncipe anão.
Thorin manteve a expressão dura, recusando-se a baixar a guarda.
━ Não acredito que já tenhamos nos encontrado, ━ respondeu ele secamente.
Elrond inclinou levemente a cabeça, a paciência de um elfo que já viveu muitos séculos evidente em seus gestos.
━ Você tem o porte do seu avô. Conheci Thrór quando ele ainda governava sob a montanha.
Thorin cruzou os braços, a raiva borbulhando em sua voz.
━ De fato. Ele nunca mencionou você.
Gandalf revirou os olhos e lançou a Thorin um olhar que claramente dizia Não agora. O mago sabia que aquele era o momento de diplomacia, não de insultos velados.
Elrond, no entanto, não pareceu se abalar. Ele respondeu em élfico, seus olhos cinzentos fixos nos de Thorin, a voz suave mas firme.
Elowen, embora tivesse apenas um conhecimento rudimentar da língua élfica, forçou-se a se concentrar. As palavras flutuavam em sua mente, algumas familiares, outras não. Seu pai, um hobbit curioso, havia tentado ensinar-lhe um pouco do idioma, embora ele mesmo nunca tivesse se tornado fluente.
Finalmente, ela pescou o significado de uma frase: Elrond falava de comida. Um brilho de esperança cresceu em seu peito.
━ Comida! ━ murmurou Elowen para Bilbo, com um leve sorriso. ━ Ele está falando sobre comida!
Bilbo piscou para ela, surpreso e aliviado.
━ Sério? Isso é uma boa notícia! Finalmente, algo positivo.
Enquanto isso, Elrond continuou em élfico, seu tom calmo, mas persuasivo. Elowen conseguia distinguir que ele estava oferecendo hospitalidade, e algo sobre descanso ━ palavras que fizeram seu estômago dar um nó de fome.
Gloin rosnou, apertando os punhos. ━ O que ele está dizendo? ━ perguntou, desconfiado. ━ Ele está nos insultando?
Os anões se agitaram atrás dele, já preparando retaliações. Dwalin segurou o cabo do machado, pronto para agir, enquanto Bofur murmurava algo em tom de desprezo. Kíli e Fíli se entreolharam com sobrancelhas erguidas, claramente se divertindo com a tensão crescente.
Mas Elrond não parecia nem um pouco perturbado. Na verdade, uma sombra de diversão passou por seus olhos claros, como se estivesse diante de crianças travessas. Ele os examinou, um a um, como se os desnudasse com seu olhar perspicaz. Seus olhos finalmente pousaram sobre Bilbo e Elowen, que permaneciam em silêncio, escondidos entre os anões. Era estranho ver dois pequeninos na companhia de anões… Ainda mais uma mulher.
━ Não, mestre Gloin, ━ interveio Gandalf com um tom paciente, antes que o mal-entendido se aprofundasse. ━ Ele está lhes oferecendo comida.
O silêncio caiu de repente sobre o grupo, e as reclamações dos anões cessaram. Eles trocaram olhares desconfiados entre si, murmurando em voz baixa.
━ Comida? ━ repetiu Gloin, mais para si do que para os outros.
━ Bem, nesse caso, continue!
Elowen, observando tudo isso com curiosidade, quase soltou uma risada ao perceber o alívio mal disfarçado que passou pelos rostos dos anões. Eles tentavam manter a desconfiança, mas era óbvio que a menção de comida havia vencido parte da batalha interna deles.
━ Então, vamos em frente, ━ murmurou Gloin, endireitando a postura com um certo orgulho, como se ele mesmo tivesse negociado uma trégua vantajosa.
Enquanto o grupo começava a seguir Elrond e seus cavaleiros para dentro de Valfenda, Fíli se inclinou na direção de Kíli e sussurrou com um sorriso malicioso: ━ Será que os elfos sabem preparar carne de javali?
━ Se souberem, espero que nos sirvam rápido, ━ respondeu Kíli com uma risada abafada.
━ Silêncio, seus tolos, ━ rosnou Thorin por entre os dentes. ━ Comportem-se, ou seremos expulsos antes mesmo de conseguirmos comer.
Bilbo soltou um suspiro aliviado, ajeitando seu casaco. ━ Ah, que bom. Por um momento achei que seríamos presos. E sem jantar, o que seria ainda pior.
Elowen abafou uma risada ao ouvir o comentário do hobbit. Embora as tensões ainda pairassem no ar, o momento de humor e a promessa de comida pareciam acalmar os ânimos. A tensão inicial entre anões e elfos dava lugar a um misto de curiosidade e alívio, ainda que com uma pitada de teimosia.
Gandalf, satisfeito, lançou um olhar significativo para Thorin, como se dissesse: Está vendo? Não foi tão difícil. Thorin respondeu apenas com um olhar severo, sem dizer uma palavra, mas o mago sabia que no fundo o príncipe anão entendia que haviam feito a escolha certa.
Os portões de Valfenda se abriram diante deles, revelando uma visão serena e convidativa: árvores altas iluminadas por luzes suaves, o som tranquilo de águas correndo e o aroma tentador de ervas frescas e pão recém-assado. Mesmo Thorin, rígido e desconfiado, pareceu relaxar por um breve momento.
Elowen trocou um olhar rápido com Elrond, que a observava com a mesma calma serena. Ele a saudou com um leve aceno de cabeça, um gesto simples, mas cheio de significado. Ela retribuiu o aceno, sentindo que, apesar das diferenças, talvez encontrassem ali algo mais do que apenas abrigo e comida.
Elowen foi conduzida por uma elfa de voz suave para um dos quartos elegantes de Valfenda, onde o aroma das ervas frescas preenchia o ar. A banheira estava preparada com pétalas e folhas que flutuavam na água quente. Ela mergulhou lentamente, sentindo a sujeira da jornada ser lavada e os ferimentos menores começarem a aliviar com o efeito das ervas curativas. O calor relaxante acalmava seu corpo e mente, como se, por um momento, todo o peso de suas incertezas e medos tivesse sido deixado para trás.
Após o banho, a mesma elfa trouxe um vestido de mangas longas em um tom de laranja outonal que combinava com a estação. ━ Vou lavar suas roupas de viagem e consertar o que estiver rasgado, ━ prometeu gentilmente. Elowen sorriu e agradeceu. Vestiu-se e permitiu ser guiada até o terraço, onde uma suave melodia élfica flutuava no ar como a brisa fresca do entardecer.
Ao chegar, a primeira coisa que notou foi o pôr do sol tingindo o céu de dourado e rosa, refletindo nas águas que corriam entre os pátios e jardins de Valfenda. Era uma visão encantadora que roubava seu fôlego por um instante. No terraço, havia duas mesas: uma menor, onde Elrond, Thorin e Gandalf estavam envolvidos em uma conversa séria; e outra maior, repleta de anões, onde Bilbo já estava acomodado e sorria ao vê-la.
Quando Elowen apareceu no terraço, os anões interromperam suas conversas imediatamente, como se um vento novo tivesse soprado no ambiente. Olhos arregalados, sorrisos surgindo em rostos acostumados à dureza da estrada, e logo a mesa estava em alvoroço.
━ Ora, veja só! Parece que nossa pequena aventureira virou uma dama de festa, ━ exclamou Dwalin.
━ Laranja nunca pareceu tão bom em ninguém, ━ acrescentou Fíli com um sorriso malicioso.
━ Pelos martelos dos meus antepassados, nunca pensei que um vestido pudesse fazer uma guerreira parecer uma rainha! ━ exclamou Gloin, piscando em aprovação.
━ Elowen, você parece uma joia lapidada, e não qualquer joia. Uma esmeralda rara que nem mesmo os anões conseguiriam encontrar nas profundezas da terra! ━ adicionou Dori, arrancando risos dos outros.
Bofur inclinou o chapéu para trás, sorrindo de orelha a orelha. ━ Se você aparecer assim nas Montanhas Azuis, teremos de formar uma fila para duelar por sua atenção.
Kíli, sempre com um brilho travesso nos olhos, deu um leve assobio. ━ Cuidado, irmãos, ela está tão radiante que vai ofuscar até mesmo o brilho do ouro!
Bilbo, sentado no meio deles, levantou-se com um sorriso orgulhoso. ━ Eu avisei que minha prima era extraordinária, mas vocês não acreditaram em mim. ━ Ele a observou por um momento, os olhos brilhando com afeto sincero. ━ Você está linda, Winnie. Tão bonita quanto o jardim mais florido do Condado.
Ela ruborizou diante de tanto carinho e atenção. ━ Obrigada... ━ murmurou, encabulada, enquanto passava as mãos pelo vestido como se tentasse se esconder nele.
━ O que você fez com a Elowen? ━ perguntou Dwalin, rindo. ━ Onde está aquela garota de botas enlameadas que viajava conosco?
━ Está aqui mesmo, ━ respondeu ela com um leve sorriso, tentando esconder o rubor em suas bochechas.
Enquanto se sentava à mesa maior e se servia dos legumes e vegetais dispostos com capricho, Bofur se inclinou para perto.
━ Cuidado para não roubar o fôlego do próprio Thorin, ele não parece conseguir tirar os olhos de você, ━ sussurrou Bofur, piscando maliciosamente.
Elowen desviou o olhar rapidamente para Thorin, que, do outro lado do terraço, ainda a observava em silêncio, com aquele olhar penetrante que a fazia se sentir mais vulnerável do que nunca. Ela desviou rapidamente o olhar, sentindo o rosto aquecer ainda mais. Seus olhos se fixaram no prato diante dela, e ela forçou-se a concentrar na comida, embora cada pedaço que colocasse na boca parecesse sem sabor diante da tensão inexplicável que aquele olhar havia despertado nela.
━ Ela é um encanto e ainda modesta! ━ comentou Balin, dando um tapinha no ombro de Bilbo. ━ Você tem sorte de tê-la como prima, pequeno hobbit.
Depois de um tempo, seu olhar vagou até a varanda próxima. O brilho do entardecer fazia Valfenda parecer ainda mais mágica, com suas cascatas cintilantes e arquitetura delicada em perfeita harmonia com a natureza ao redor. Elowen suspirou, absorvendo a beleza do lugar.
━ É tão lindo... ━ murmurou para si mesma. Por um breve momento, a ideia de ficar ali para sempre a atravessou como um sussurro tentador. Mas logo afastou o pensamento.
Para sempre era muito tempo, ela lembrou a si mesma. E ela era uma aventureira, com um espírito inquieto. Não poderia se prender a um único lugar, muito menos a um lar feito para elfos.
Enquanto refletia, um pensamento incômodo veio à sua mente. Como os elfos reagiriam se soubessem sua verdadeira origem? Metade elfa, metade hobbit. Uma anomalia. Algo que, até onde ela sabia, nunca existira antes. O que pensariam dela? A olhariam com desagrado? Com medo? Ela engoliu seco. Não seria surpresa se não encontrasse aceitação, nem ali, nem em lugar algum.
O Condado nunca havia sido seu lar verdadeiro. Embora amasse a terra verde e tranquila dos hobbits, sempre se sentira deslocada, como se não pertencesse completamente àquele mundo. Mas o mesmo poderia ser dito sobre o mundo dos elfos? Valfenda era linda, mas poderia ela encontrar seu lugar ali? Ou estaria condenada a vagar para sempre, sem pertencer a parte alguma?
━ Talvez... ━ sussurrou para si mesma, olhando novamente para a beleza ao redor. ━ Talvez eu só precise esperar e ver.
Não seria justo julgar os elfos sem conhecê-los, decidiu. Afinal, aquela era a primeira vez que estava em presença de um deles. Talvez, com o tempo, encontrasse uma resposta para suas dúvidas ━ e, quem sabe, um lar que finalmente fosse seu.
Depois do jantar, Thorin, Balin, Bilbo, Gandalf e Elrond saíram da sala para resolver o mistério das runas em língua anã antiga, onde o elfo tentaria decifrar os escritos. Enquanto isso, os outros anões, cansados da longa jornada, decidiram se banhar na fonte de águas claras próxima aos jardins e aproveitar o entardecer. Elowen, por sua vez, sentiu um impulso de explorar mais de Valfenda e, sem rumo certo, começou a vagar pelos corredores elegantes e pelos jardins suspensos.
Cada canto de Valfenda era uma obra de arte. As fontes murmuravam com suavidade, como se estivessem contando histórias antigas. As flores exalavam perfumes leves, e o brilho do sol poente dançava sobre a água e entre as folhas douradas das árvores. Ao atravessar uma ponte de pedra arqueada, Elowen se viu envolvida pela serenidade do lugar e não conseguiu conter um sorriso. Tudo ali parecia mágico e eterno.
Curiosa, ela seguiu por um longo corredor que levava a um grande salão conhecido como a Galeria dos Reis. As portas estavam entreabertas, e Elowen as empurrou com leveza, revelando um espaço imponente, cheio de tapeçarias, quadros e esculturas.
Ela caminhou lentamente, observando cada obra com fascinação. Retratos de antigos reis e rainhas élficos olhavam para ela das molduras douradas, suas expressões serenas e altivas refletindo eras passadas. Nobres senhores e senhoras, guerreiros e líderes, todos imortalizados em tinta e pedra. Cada rosto parecia contar uma história, e Elowen sentiu-se pequena diante de tanta grandeza.
Ela parou diante de uma tapeçaria especialmente grandiosa que retratava a queda de Sauron. A cena mostrava o Senhor do Escuro caído ao chão, sua mão estendida em derrota, enquanto Isildur, com uma expressão resoluta, empunhava a espada quebrada que cortaria o Anel de seu dedo. O Um Anel, pequeno e dourado, parecia brilhar na tapeçaria como se fosse real, chamando a atenção mesmo em meio à grandiosidade da batalha.
Ao lado da tapeçaria, uma estátua esculpida em mármore branco segurava os fragmentos da espada Narsil, a lâmina que Isildur havia usado para derrotar Sauron. Elowen se aproximou, observando os pedaços quebrados da espada com uma mistura de admiração e respeito. Ali, naquele silêncio, ela podia quase ouvir o eco das batalhas e sentir o peso das decisões que haviam moldado a história da Terra-média.
Depois de algum tempo na galeria, Elowen deixou o salão e seguiu por outro corredor que a levou até uma ampla varanda. Lá fora, a noite havia caído, e o céu estava limpo, revelando uma lua cheia prateada que brilhava intensamente sobre as montanhas e florestas ao redor. As águas do rio refletiam a luz lunar, transformando-se em uma faixa prateada que serpenteava pela terra escura.
Elowen apoiou-se na balaustrada e respirou fundo, apreciando a beleza tranquila de Valfenda à noite. A brisa fresca da noite acariciava seu rosto e seus cabelos, e, por um momento, ela se sentiu em paz. Olhou para o horizonte, encantada com a vastidão do mundo e a serenidade daquele lugar.
━ É tão lindo... ━ murmurou para si mesma, admirando a lua brilhante e as estrelas que cintilavam no céu como joias perdidas.
━ É mesmo muito lindo. ━ Uma voz calma e serena soou atrás dela.
Elowen virou-se e viu Lord Elrond se aproximando da varanda com passos elegantes e silenciosos, como se fosse parte da própria noite. Ele parou ao lado dela, os olhos observando a paisagem abaixo, mas logo voltou sua atenção para a pequena figura ao seu lado.
━ Não vai se juntar aos seus amigos? ━ perguntou ele, fazendo referência ao grupo de anões agora reunido ao redor de uma fogueira, suas risadas e vozes ecoando pelos jardins.
━ Logo, logo. ━ Elowen respondeu, sem pressa, ainda absorvendo o momento.
Elrond estudou-a com um olhar tranquilo e compreensivo.
━ Gandalf me contou sobre você ━ disse ele. ━ E sobre o que corre em seu sangue. Meio-elfa, meio-hobbit... mestiça.
Elowen virou-se completamente para ele, os olhos curiosos e cautelosos.
━ E o que o senhor acha disso? ━ perguntou, quase desafiadora, temendo algum julgamento.
━ Eu não acho nada. Nem repudio tal união. ━ Elrond sorriu com serenidade. ━ Sua mãe, Lúthien... eu a conheci. Ela viveu aqui, em Valfenda, por um tempo.
Elowen piscou, surpresa e com um toque de melancolia.
━ Bom... pelo menos alguém a conheceu. ━ Sua voz carregava uma tristeza sutil. ━ Ela partiu para as Terras Imortais logo após eu nascer. Não me lembro de nada dela... absolutamente nada.
Elrond ficou em silêncio por um momento, depois falou com ternura:
━ Tudo o que você precisa saber é que sua mãe era uma elfa bondosa e generosa. Corajosa também. Uma guerreira imbatível. Além disso, era minha amiga pessoal, apaixonada pela arte da cura e da medicina. ━ Ele fez uma pausa, como se recordasse algo distante, mas querido. ━ Diria que foi a minha melhor aluna.
Os olhos de Elowen brilharam com interesse ao ouvir isso.
━ Então... você ensinou minha mãe a ser uma curandeira?
Elrond sorriu com um misto de orgulho e saudade.
━ Sim. Sua mãe aprendeu comigo, mas também me ensinou. Era brilhante. Inventava novas formas e técnicas, sempre impressionando a todos. ━ Ele fez uma pausa, estudando-a com cuidado. ━ Vejo muito dela em você. Sempre soube que ela estava destinada a algo além. Assim que seu pai, Balinor, pisou em Valfenda, soube que seus destinos estavam entrelaçados.
Elowen sorriu, tocada pelas palavras.
━ Tudo o que eu quero é orgulhá-la ━ confessou, quase num sussurro.
Elrond assentiu, sorrindo gentilmente.
━ Pelo pouco que vi de você, Elowen Tûk, acho que está no caminho certo.
Eles ficaram em silêncio por um momento, deixando a brisa noturna envolver a conversa, carregando lembranças não ditas. Elowen sentiu-se inesperadamente próxima de sua mãe, como se um elo invisível tivesse sido restaurado entre elas.
━ Acho que deveria se reunir com seus amigos. ━ A voz de Elrond voltou suave, mas com uma pitada de diversão. ━ Eles devem estar sentindo sua falta.
Elowen riu baixinho e balançou a cabeça.
━ Ah, sim, claro... já vou.
Ela deu alguns passos à frente em direção à escada, mas algo a fez parar. Virando-se, olhou para Elrond, os olhos sinceros e gratos.
━ Lord Elrond... obrigada. Obrigada por me fazer sentir mais conectada com minha mãe.
Elrond inclinou a cabeça em um gesto elegante e sorriu, um sorriso leve, mas cheio de significado.
━ De nada, Elowen.
Com esse gesto, ele se virou e caminhou para longe, desaparecendo entre as sombras com o mesmo ar silencioso de antes. Elowen ficou ali por mais alguns instantes, sentindo-se mais em paz do que jamais imaginara, antes de finalmente seguir em direção à fogueira, onde seus amigos a esperavam.
Elowen e Bilbo
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