04. O início de uma aventura

Ao chegar em casa naquela noite, Elowen abriu a porta suavemente, tentando não fazer barulho. Seu sorriso estava extasiado, carregado de excitação pelas novidades que tinha vivido. No entanto, o som da porta ao fechar acabou saindo mais alto do que ela esperava, ecoando pelo silêncio da casa. De repente, ela ouviu um gemido vindo da sala, um barulho baixo, mas suficiente para fazê-la se virar rapidamente.

A casa estava escura, iluminada apenas por uma única vela que lançava sombras tênues nas paredes. Elowen notou uma figura sentada na poltrona da sala ━ seu pai, Balinor, que aparentemente havia adormecido ali. Ele despertava lentamente, piscando os olhos enquanto tentava enxergar melhor na escuridão.

━ Elowen? ━ ele chamou com a voz rouca e um pouco grogue. ━ Elowen, é você, minha filha?

Elowen saiu das sombras do corredor e se aproximou, ficando sob a luz fraca da vela.

━ Sim, sou eu, pai ━ respondeu com um sorriso gentil, tentando aliviar a preocupação dele. ━ O que está fazendo acordado tão tarde? Pensei que estivesse no quarto descansando.

Balinor esfregou os olhos e suspirou, ajeitando-se na poltrona para ficar mais confortável.

━ Eu fiquei com sede ━ explicou ele. ━ Percebi que você ainda não tinha voltado para casa, então resolvi te esperar. Fiquei preocupado... Não sabia se ia dormir aqui ou na casa do seu primo.

Elowen sentiu um calor no peito diante da preocupação de seu pai. Ela sabia que, mesmo sendo adulta, ele ainda a via como sua menina.

━ Não, vim dormir em casa, como prometi. Queria estar aqui com você, principalmente com o senhor ainda se recuperando ━ respondeu, sentando-se ao lado dele. ━ Como está se sentindo hoje?

Balinor acenou de leve com a cabeça, mas não desviou o assunto.

━ Alguma novidade? ━ ele perguntou, com uma curiosidade crescente. ━ Como está seu primo? Alguma coisa diferente aconteceu por lá?

Elowen sorriu, seus olhos brilhando com a empolgação que sentia.

━ Ah, Bilbo está bem ━ começou ela, inclinando-se para a frente, como se estivesse prestes a compartilhar um segredo. ━ Mas o senhor não vai acreditar no que aconteceu esta noite...

Balinor ergueu uma sobrancelha, intrigado.

━ Não vou acreditar se você não me contar, minha filha. Então, conte tudo.

Elowen tomou um fôlego antes de continuar, sua voz um pouco mais rápida de tanta animação.

━ Quando estávamos jantando, um bando de anões apareceu de repente na casa de Bilbo! ━ disse, os olhos arregalados. ━ Ele não fazia ideia do porquê, estava completamente perdido. E você não vai acreditar quem estava com eles...

Balinor se inclinou levemente para frente, capturado pela narrativa da filha.

━ Quem? ━ perguntou ele, impaciente.

━ Gandalf! ━ revelou Elowen, quase pulando da cadeira. ━ O mago das histórias que o senhor sempre me contou. Ele estava lá, com os anões!

Balinor ficou em silêncio por um momento, processando a informação, até que um sorriso nostálgico começou a se formar em seus lábios.

━ Gandalf? ━ murmurou ele, mais para si mesmo. ━ Oh, meu velho amigo Gandalf... Faz anos que não o vejo. Mas o que ele estava fazendo lá?

━ Ele convidou Bilbo para uma aventura! ━ continuou Elowen, a excitação em sua voz era quase palpável. ━ Uma missão para ajudar os anões a reconquistar o lar deles, a Montanha Solitária.

Balinor franziu o cenho, intrigado.

━ E o que seu primo respondeu? ━ perguntou ele, já sabendo que Bilbo dificilmente aceitaria algo tão fora do comum.

Elowen suspirou, rindo levemente.

━ Ah, você sabe como o Bilbo é... Ele adora o conforto de sua poltrona e dos livros. Não é um hobbit de aventuras ━ disse ela, sacudindo a cabeça. ━ Ele rejeitou a proposta. Disse que preferia ficar em casa.

Balinor permaneceu pensativo, como se estivesse avaliando a situação. Após um breve silêncio, ele perguntou:

━ E você, minha filha? O que faria se estivesse no lugar dele? Você iria com eles nessa aventura?

Elowen hesitou. Ela não queria desapontá-lo, nem fazê-lo acreditar que abandonaria tudo, especialmente com ele doente. Seus olhos baixaram, e ela mordeu o lábio antes de responder.

━ Eu... ━ começou, sem saber ao certo como continuar. ━ Eles não me convidaram, pai. Não sei se iria...

Balinor observou o rosto da filha, reconhecendo a hesitação nos olhos dela. Ele sabia a verdade, mesmo que ela não quisesse admitir.

━ E se tivessem te convidado? ━ insistiu ele, sua voz firme, mas gentil. ━ O que você faria?

Elowen olhou para ele por um longo momento, sem saber o que responder. No fundo, ela sabia a resposta, mas estava com medo de dizê-la em voz alta.

━ Eu... ━ começou ela novamente, a voz trêmula. ━ Eu acho que iria...

Balinor sorriu tristemente, estendendo a mão para segurar a dela.

━ Eu sei que sim ━ disse ele, apertando de leve os dedos da filha. ━ E eu não te culpo por isso. Você tem o sangue Tûk nas veias, Elowen. Aventuras sempre te chamaram, e é natural que você queira vivê-las.

Os olhos de Elowen se encheram de lágrimas, mas ela sorriu.

━ Eu não queria deixar o senhor, pai ━ sussurrou ela, sua voz embargada. ━ Especialmente agora...

━ Eu vou ficar bem, minha filha ━ respondeu Balinor, a voz suave e tranquilizadora. ━ O importante é que você siga seu coração. Sempre soube que você era destinada a algo maior do que apenas ficar aqui no Condado.

Elowen observou o pai por um momento, a dúvida crescendo dentro de si, antes de perguntar suavemente:

━ O senhor acha que eu deveria ir e ajudá-los? Viver uma aventura como o senhor viveu?

Balinor, com um olhar mais atento e sereno, inclinou-se na poltrona e respondeu com uma pergunta que ele sabia que ela precisava ouvir.

━ O que você quer, Elowen? ━ disse ele calmamente. ━ É isso que realmente importa.

Elowen ficou em silêncio, seus pensamentos agitados. Olhou para o chão por alguns instantes, ponderando sobre tudo o que sentia. Então, com um olhar determinado, ergueu a cabeça e respondeu:

━ Eu quero ir com eles. Quero viver minha própria aventura, ter minhas próprias histórias para contar aos meus filhos um dia. Não quero ser uma simples hobbit, com uma vida pacata no Condado. Eu quero algo mais.

Um sorriso orgulhoso surgiu no rosto de Balinor. Ele se levantou com certa dificuldade, apoiando-se no braço da poltrona, mas com a mesma empolgação da juventude brilhando em seus olhos.

━ Então, o que estamos esperando? ━ disse ele, animado. ━ Vamos arrumar suas coisas! Provisões, bagagem… Vamos, vamos, vamos!

Elowen soltou uma risada e o seguiu, seu coração batendo mais rápido, cheio de expectativa. Eles começaram a preparar tudo com urgência e eficiência. Balinor foi até o cofre da família e retirou algumas moedas de ouro, colocando-as cuidadosamente dentro da mochila da filha.

━ Isso deve ser o suficiente para o caminho ━ disse ele, enquanto fechava o compartimento. ━ Nunca se sabe quando pode precisar de mais.

Elowen agradeceu com um sorriso e foi até seu armário, pegando algumas roupas e outros itens essenciais. Ela hesitou por um instante diante do baú de armas que guardavam em casa. Era raro que uma hobbit precisasse de uma arma, mas, de algum modo, aquela jornada parecia exigir mais preparação. Decidiu pegar uma adaga, apenas para o caso de ser necessário, mas, ao abrir outro baú no canto do quarto, algo chamou sua atenção.

Era sua espada, recém-forjada, que ela havia feito há algum tempo. Parecia absurda para alguém do Condado, mas ela sempre sentiu que, um dia, algo grande e perigoso poderia surgir em sua vida. Talvez agora fosse o momento.

━ Nunca se sabe ━ murmurou para si mesma, segurando a espada com firmeza.

Já estava clareando do lado de fora. O tempo passava rapidamente, e Elowen sabia que teria pouco tempo para descansar antes de partir. Enquanto guardava as últimas roupas e mantimentos na mochila, Balinor voltou com algo nas mãos: uma pequena pochete de couro bem usada.

━ Aqui ━ disse ele, entregando o item a Elowen. ━ Minha pochete da sorte. Usei-a durante a minha própria aventura, e foi bastante útil. Coloquei algumas moedas aqui dentro. Pode guardar o que quiser nela.

Elowen sorriu, emocionada com o gesto. Ela pegou a pochete com carinho e a abraçou, em seguida, envolveu o pai em um abraço apertado.

━ Obrigada, pai ━ sussurrou. ━ Eu já sei exatamente o que vou guardar aqui.

Ela foi até a pequena estante ao lado da janela, onde guardava seus suprimentos de ervas e gaze para curativos. Apesar de toda a empolgação de partir em uma aventura, Elowen sabia que era importante estar preparada para qualquer eventualidade. Pegou todas as ervas curativas que tinha, garantindo que pudesse tratar qualquer ferimento que encontrasse pelo caminho.

Mesmo enquanto se preparava para partir com os anões, ainda havia uma pequena esperança dentro de Elowen: a esperança de que, no último momento, Bilbo decidisse se juntar a eles. Talvez ele mudasse de ideia. Talvez a aventura o chamasse como estava chamando a ela.

Com tudo pronto, Elowen sentiu o peso da exaustão finalmente tomando conta de seu corpo. As primeiras luzes do amanhecer começavam a penetrar pelas janelas, e ela sabia que teria pouquíssimo tempo para descansar antes de se encontrar com os anões. Deitou-se por alguns minutos, ainda em suas roupas de viagem, esperando o momento certo de partir, o coração pulsando de expectativa.

As primeiras luzes do dia começaram a iluminar o horizonte, e Elowen se levantou, sentindo a expectativa pesar em seus ombros. Ela tomou um café da manhã reforçado, sabendo que precisaria de energia para a jornada à frente. Ao terminar, colocou sua bolsa de viagem nas costas, ajeitando as alças de couro e respirando fundo. Ao se dirigir para a porta, encontrou seu pai, Balinor, esperando com um sorriso sereno no rosto, enquanto a coruja Nuvem, de penas cinzentas, repousava tranquilamente em seu ombro.

Elowen parou por um momento, observando o pai com carinho, antes de abraçá-lo apertado, sentindo o calor do corpo dele a confortar.

━ Pai ━ disse ela, com a voz suave e cheia de emoção. ━ Se você precisar de qualquer coisa, me mande uma mensagem por Nuvem. Ela sempre vai me encontrar, onde quer que eu esteja.

Balinor sorriu, colocando uma mão gentilmente no ombro da filha.

━ Vou ficar bem, Elowen ━ respondeu ele, sua voz firme, mas cheia de ternura. ━ Eu te amo, minha filha, e tenho muito orgulho de você. Sei que você fará grandes feitos nessa jornada. Não importa onde você esteja, lembre-se de que estarei sempre ao seu lado, te apoiando.

Elowen piscou, contendo as lágrimas que ameaçavam surgir. Ela apertou o abraço, sentindo a profundidade do amor e da preocupação de seu pai.

━ Eu também te amo, pai ━ disse ela, a voz embargada. ━ Obrigada por tudo.

Ela se afastou um pouco, ainda tocada pelo momento, e virou-se para Nuvem, que a observava atentamente de cima do ombro de Balinor. Elowen estendeu a mão e acariciou as penas macias da coruja.

━ Cuide dele, Nuvem ━ sussurrou para a coruja, sorrindo ao vê-la inclinar a cabeça de leve, como se entendesse. ━ Sei que você vai manter um bom olho nele.

A coruja piou baixinho, como em concordância. Elowen olhou uma última vez para o pai, sentindo o peso da despedida, mas também a empolgação da nova aventura. Balinor a observava com um olhar orgulhoso, sem tentar esconder a emoção.

━ Vá, minha filha ━ disse ele, sorrindo. ━ E lembre-se, você é capaz de tudo. Vou estar esperando por suas histórias quando voltar.

Elowen assentiu, sentindo o coração cheio, e virou-se para partir. Antes de sair pela porta, olhou mais uma vez para Nuvem, que permanecia no ombro de Balinor.

━ Cuide bem dele ━ repetiu, acariciando a cabeça da coruja. Com um aceno final para o pai, ela deixou a casa, o vento suave da manhã tocando seu rosto enquanto caminhava em direção à casa de Bilbo, pronta para o que estava por vir.

Quando Elowen chegou à casa de seu primo, ela estendeu a mão para bater na porta, mas antes que pudesse tocar a madeira, a porta se abriu de repente. Do outro lado, Bilbo estava de pé, com um casaco vermelho, um pergaminho na mão e uma mochila nas costas, parecendo tão surpreso quanto ela.

━ Bilbo, olá, bom dia! ━ exclamou Elowen, eufórica, com um sorriso amplo no rosto.

Ela tentou espiar o interior da casa, procurando sinais dos anões.

━ Os anões já partiram? ━ perguntou, curiosa.

Bilbo assentiu lentamente.

━ Sim, eles partiram.

Elowen, no entanto, não pôde deixar de notar o pergaminho na mão dele e a mochila bem presa em suas costas. Um sorriso radiante brotou em seus lábios.

━ Pelo visto, você também vai partir com eles, não é?

Bilbo deu uma boa olhada em Elowen, notando que ela também carregava sua própria mochila e a excitação em seu rosto.

━ E, pelo visto, minha prima aventureira teve a mesma ideia. ━ Ele sorriu.

Os dois trocaram um olhar cúmplice, rindo da coincidência. Elowen então apontou para o pergaminho nas mãos de Bilbo.

━ Você assinou o contrato?

Bilbo acenou afirmativamente.

━ Assinei.

Sem pensar duas vezes, Elowen pegou o contrato da mão dele e entrou rapidamente na casa. Dirigiu-se à mesa onde estavam os papéis e pegou uma caneta tinteiro. Com um traço firme, assinou seu nome e função logo abaixo do de Bilbo.

Quando ele se aproximou e leu o que ela havia escrito, um sorriso se formou em seu rosto.

━ Eu ia passar na sua casa para te contar que aceitei ━ disse ele. ━ Afinal, eu nunca iria partir sem a minha prima favorita. Quem mais me protegeria?

Elowen riu e devolveu o contrato para ele.

━ Então vamos logo, primo, antes que percamos o rastro deles!

Sem hesitar, os dois primos saíram correndo, pulando sobre jardins e cercas para cortar caminho. A pressa era evidente, e seus corações batiam forte com a emoção de começarem algo tão inesperado. No caminho, vizinhos os observavam com curiosidade, perguntando para onde estavam indo.

━ Estamos indo para uma aventura! ━ gritavam eles em resposta, suas vozes cheias de entusiasmo.

Enquanto corriam lado a lado, o vento soprava em seus rostos, e a certeza de que uma nova jornada se iniciava os unia ainda mais.

Enquanto corriam, Elowen comentou com Bilbo, ainda ofegante:

━ Eles não parecem estar muito longe. Se não pararmos, podemos alcançá-los.

A sorte estava do lado deles, pois o clima era ameno, e a névoa suave pairava ao redor das árvores altas, não os desacelerando. Logo, o som de cavalos se fez ouvir, e eles avistaram o grupo à frente, cavalgando e conversando. Bilbo, tomado pela urgência, gritou:

━ Ei!

Ele balançou os braços freneticamente para chamar a atenção do grupo.

━ Esperem! Parem!

Os anões puxaram as rédeas de seus pôneis e se viraram para ver os dois hobbits correndo em sua direção. Ofegante, Bilbo entregou o contrato a Balin.

━ Eu assinei.

O anão mais velho pegou o documento, leu por um instante, e então sorriu.

━ Tudo parece estar em ordem. ━ Balin confirmou, com um brilho nos olhos. ━ Parece que agora temos nosso ladrão.

A companhia murmurou de aprovação, alguns sorrisos aparecendo entre os anões. Thorin acenou com a cabeça, parecendo satisfeito, até que Balin notou algo no contrato, erguendo uma sobrancelha em interesse.

━ Hum? ━ questionou Thorin, curioso.

━ Parece que adquirimos uma guardiã do ladrão. ━ Balin olhou diretamente para Elowen, piscando de maneira amistosa. ━ Está correto, minha querida?

Elowen assentiu firmemente.

━ Sim, senhor. Vou garantir a segurança do ladrão. Sempre protegi Bilbo na infância, e hoje não seria diferente. Além disso, sou ferreira. Posso garantir que todas as suas armas estejam em perfeitas condições de uso.

Antes que pudesse continuar, Thorin interrompeu, cruzando os braços.

━ Já temos membros suficientes para esta jornada ━ declarou com firmeza. ━ Volte para o Condado.

Elowen ergueu uma sobrancelha, encarando Thorin com confiança.

━ Desculpe, vossa alteza, mas e se suas armas quebrarem? Ou se precisarem de reparo? E o que vai acontecer se o meu primo se machucar a ponto de não conseguir roubar o que quer que ele roube? Além de ferreira, sou uma ótima curandeira. Eu só tenho a agregar ao grupo.

Thorin manteve sua postura rígida.

━ Já temos um ladrão ━ repetiu ele. ━ E não serei responsável por outra vida sem experiência em batalha.

Elowen, no entanto, não se deixou intimidar.

━ Embora eu não seja uma líder de guerra ou uma especialista em combate, sei me defender sozinha. Meu pai me ensinou a arte da esgrima. Eu tenho uma espada. Pode ser que eu nunca tenha enfrentado um inimigo de verdade, mas isso não vai me impedir. E muito menos você.

Thorin riu, incrédulo.

━ Difícil de acreditar.

Antes que Elowen pudesse responder, Bilbo interveio, sério.

━ Elowen é uma ferreira habilidosa e uma ótima curandeira. Ela me protege desde que eu era criança. Ela trabalha com o pai desde pequena, e até já forjou armas para viajantes que passaram pelo Condado. Agora ela assinou o contrato, e vem conosco. Caso contrário, eu não irei com vocês.

O silêncio se instaurou por um momento. Thorin encarou Bilbo, e em seguida Elowen, como se ponderasse o desafio.

Thorin respondeu a contragosto, com um suspiro de resignação:

━ Não fiquem para trás. Deem dois pôneis a eles ━ ordenou.

Antes que os anões pudessem agir, Bilbo se adiantou, falando rapidamente:

━ Ah, não, isso não será necessário.

Ele observou com surpresa sua prima, Elowen, se aproximar de um dos animais sem cavaleiro com confiança. Sem hesitação, ela colocou um pé no estribo e, com um movimento gracioso, montou na sela como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ela pegou as rédeas de Fili e se posicionou de forma firme. Bilbo, por outro lado, sentiu o constrangimento iminente. Ele sabia que não teria tanta destreza.

━ Estou bem ━ disse, tentando parecer seguro. ━ Eu posso acompanhar andando. Já fiz muito disso antes.

No entanto, antes que pudesse se esquivar de mais constrangimento, dois anões o ergueram do chão e o colocaram nas costas de um pônei. Bilbo tentou disfarçar o desconforto, mas ficou dolorosamente óbvio para a companhia que ele não estava acostumado com a situação. Segurava as rédeas com força, perto do peito, e se remexia toda vez que o pônei fazia o menor movimento.

Elowen, notando a aflição do primo, se aproximou e riu suavemente.

━ Relaxe, Bilbo. Você vai se acostumar.

Ele olhou para ela, ainda tentando entender como ela estava tão à vontade.

━ Como você lida tão bem com isso? ━ perguntou ele.

Elowen sorriu, lembrando-se.

━ Você se lembra daquela vez em que visitantes chegaram ao Condado com pôneis? Depois de consertar os equipamentos deles, eles me deixaram montar um. Foi assim que aprendi.

Bilbo resmungou baixinho, e logo o som de risos e conversas tomou conta do grupo. Gandalf observava a cena com um sorriso no rosto, claramente se divertindo com o desconforto de Bilbo.

━ Vamos, Nori! Pague! ━ gritou um dos anões, lançando uma bolsa de moedas para o ar, seguida por mais algumas, enquanto a companhia começava a negociar entre si.

Bilbo, ainda tentando se ajustar na sela, olhou confuso.

━ Do que se trata? ━ perguntou.

Gandalf, rindo, respondeu:

━ Ah, eles apostaram se você viria ou não.

━ E a maioria achou que eu não viria? ━ Bilbo perguntou, perplexo.

━ Exatamente ━ respondeu o mago, pegando uma das bolsas que voava pelo ar, um sorriso travesso no rosto.

━ E o que você achou? ━ Bilbo indagou, curioso.

Gandalf olhou para ele com um brilho no olhar.

━ Meu caro amigo, eu nunca duvidei de você, nem por um segundo. E nem da sua prima.

Os olhos de Bilbo seguiram a direção do olhar de Gandalf, que pousou em Elowen, agora cavalgando um pouco à frente, ao lado de Gloin. O anão ruivo falava animadamente sobre batalhas passadas, contando histórias de como usava seu machado para decapitar inimigos. Elowen, apesar de se sentir um pouco assustada com os detalhes, manteve a compostura, tentando não parecer sensível demais.

Bilbo franziu as sobrancelhas, confuso.

━ Você sabia que ela viria também?

━ Claro que sim ━ respondeu Gandalf, sorrindo. ━ O apego que vocês têm um pelo outro é forte. Conheço muitas famílias que não são tão próximas assim.

━ Então por que você não pediu para ela ser a ladra? Ela é definitivamente mais qualificada do que eu ━ Bilbo disse, ainda tentando entender.

Gandalf manteve o tom sereno e respondeu:

━ Eu te direi o mesmo que disse a Elowen: o caminho dela não é o de uma ladra.

Bilbo ficou em silêncio por um momento, ponderando. Ele olhou para Elowen, preocupado, sem saber se estava colocando sua prima em perigo ao levá-la nessa jornada.

━ Então de que é? ━ perguntou, incerto.

Os olhos de Gandalf brilharam com um misto de mistério e alegria.

━ Isso, meu amigo, o tempo dirá.

Apesar de suas dúvidas, as palavras do mago, junto com o brilho tranquilo em seus olhos, acalmaram Bilbo. Ele ainda não sabia o que o futuro reservava para ele ou Elowen, mas pelo menos, por enquanto, estava disposto a descobrir.

De repente, Bilbo começou a espirrar repetidamente, seguido por fungadas ruidosas. Ele gemeu, visivelmente desconfortável.

━ Desculpem... pelo de cavalo ━ murmurou, com o nariz coçando e os olhos lacrimejando. Bilbo, como poucos sabiam, tinha alergia a cavalos.

Enquanto procurava desesperadamente nos bolsos de seu casaco por algo que o ajudasse a aliviar a sensação irritante, o pânico tomou conta de seu rosto. Ele percebeu que algo estava faltando.

━ Esperem! Esperem, parem! ━ ele gritou.

A companhia parou abruptamente e todos se viraram, encarando o hobbit com olhares curiosos e preocupados.

━ Temos que voltar! ━ exclamou Bilbo.

Elowen, sua prima, suspirou e o olhou com uma mistura de preocupação e impaciência.

━ Você esqueceu alguma coisa, primo? ━ perguntou Elowen.

Gandalf arqueou as sobrancelhas, sem entender o alvoroço.

━ O que está acontecendo, Bilbo?

━ Esqueci meus lenços de bolso! ━ declarou o hobbit com desespero.

Um suspiro pesado ecoou pelo grupo. Elowen balançou a cabeça, incrédula.

━ Sério, Bilbo?

━ Aqui! ━ disse Bofur, abaixando-se e arrancando um pedaço de tecido que estava pendurado em um dos sacos. Ele jogou o pedaço de pano nas mãos de Bilbo. ━ Use isto.

No entanto, Bilbo fez uma careta ao perceber o cheiro estranho do tecido. Ele o afastou rapidamente do rosto, franzindo o nariz em desgosto.

━ Sigam em frente ━ ordenou Thorin com firmeza, claramente sem paciência para interrupções triviais. ━ Não podemos nos dar ao luxo de voltar por algo assim.

Bilbo olhou ao redor, claramente desconfortável com a ideia de continuar sem seus lenços, mas ele sabia que não havia outra escolha. A vida na estrada estava apenas começando, e ele logo aprenderia que não havia o mesmo conforto que tinha no Condado.

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