Cap. 30 - A Terceira Criação

— Kadi! – Ivy gritou a plenos pulmões quando viu Adrian sobre ele, pronto para congelar seu coração... ou tentar. — Adrian, pare! Você não é assim!

— Você não sabe nada sobre mim, sua traidora. Bastou que eu mostrasse minha verdadeira natureza para que fosse correndo se jogar nos braços do meu irmão! – Adrian se virou para ela e avançou rapidamente em sua direção.

— Não sou uma traidora. Adrian, nós não tínhamos absolutamente nada além de amizade. Você não tem o direito de agir assim comigo. – A raiva começou a borbulhar em seu peito. Kadi ainda estava caído, inconsciente. O Gelo de Guênas tornava Adrian ainda mais forte.

— Cale-se! Limpe sua língua antes de falar comigo! Você é uma...!

Chega! – Ela gritou irritada, deixando sua energia escapar, causando um verdadeiro vendaval. — Se quer mesmo lutar comigo não use palavras! Ataque!

— Como quiser... – O Príncipe sorriu e lançou seus raios de gelo em direção a ela. — Vai se arrepender!

Solis Ignis Protectum! – Ivy girou o Cetro do Sol e este repeliu os ataques do príncipe. — Minha vez! Petrifae Glaciem Lumnis!

Apesar do ataque poderoso lançado pelo Anel da Lua, Adrian conseguiu se proteger com facilidade usando uma barreira de gelo. Ele poderia lutar eternamente se quisesse e Ivy sabia disso, só precisava conseguir imobilizá-lo para que pudesse evocar os poderes maiores dos objetos.

— Adrian, eu só quero conversar com você! Por favor, escute! – Ela gritou em meio aos sons da luta entre o gelo que congelava cada vez mais seu coração, e o fogo do Cetro do Sol, que a protegia dos ataques.

— Eu não quero conversar com você! Você não tem nada para me dizer, apenas mentiras! – O Príncipe de Gelo usou um truque muito antigo, distrair a garota enquanto seus monstros de gelo a atacavam por trás.

— Aaah! – Ivy gritou com a dor do impacto de uma grande bola de gelo que veio pelas costas. — Adrian, deixe-me ajudar você! Posso quebrar o feitiço de Argus!

— Argus agora está mais poderoso, sua tola. E quando eu derrotar você e der a ele os objetos mágicos será completamente invencível! – Ele riu malignamente, um riso doentio, e chegou mais perto dela, ficando cara a cara.

Os monstros de gelo a seguraram pelos braços e a deixaram na altura dos olhos do Príncipe. Ele segurou o queixo dela e a obrigou a olhá-lo nos olhos. Adrian procurou a raiva dentro dela, mas não encontrou. No coração dela havia apenas tristeza, preocupação, mágoa e pena.

Ela estava triste por ele.

Estava preocupada com ele.

Magoada pelo que havia dito.

E tinha pena do que havia acontecido com ele.

— NÃO! – A voz de Argus gritou em sua mente e saiu pela sua boca de repente. O olhar de Ivy fez com que ele conseguisse voltar a si por alguns segundos. — Ivy! Argus... Ele está na minha cabeça. Está me... controlando. Ajude-me...!

Os monstros de gelo haviam diminuído a força com que a seguravam, então ela aproveitou a oportunidade e usou o Cetro para derretê-los. Kadi havia acordado e correu até eles usando o seu novo poder do Fogo azul para segurar Adrian enquanto Ivy usava o poder dos Objetos.

— Adrian o seu coração está sendo congelado e não só pelo que Argus está fazendo com você. Precisa me ouvir. Precisa superar isso que está sentindo. Esse ciúme descontrolado está te enfraquecendo!

— Aaargh! Não! Me solte!

Argus estava tentando tomar o controle novamente e Kadi precisou se esforçar mais quando o príncipe de gelo começou a se debater.

— Você precisa lutar contra isso. Ele descobriu sua fraqueza e a está usando! Adrian, seu irmão nunca vai conseguir me tirar de você. Nós somos amigos. Ele nunca vai tirar as coisas que você conquistou...!

— Você está mentindo...! Cale a boca! – Os monstros de gelo voltaram a renascer e Ivy foi obrigada a criar uma cúpula de calor ao redor deles.

Toda a neve e todo o gelo dentro da cúpula derreteram e quando os monstros tentavam atacar tinham o mesmo destino. Adrian estava se debatendo e se contorcendo, tentava se livrar do fogo azul que o envolvia.

— Ivy...! Você precisa se apressar! Não sei se vou aguentar muito mais. – Kadi chegava a suar de tanta força que fazia para deter o irmão.

— Pelo poder do Cetro do Sol eu aqueço eu o seu coração! Solaris Radictus! – E fincou o Cetro do Sol no chão, logo em seguida já preparou a Coroa de Energia para ajudar Kadi. — Com o poder da Coroa de Energia lhe darei forças para continuar! Energis Corporem!

— Aaaargh! Pare com isso, sua idiota! Vai me matar! – Adrian começou a gritar com raiva enquanto seu coração era aquecido pelo poder do sol.

— Ivy, o que fez comigo? Estou me sentindo mais forte. – Kadi perguntou confuso, ao que ela respondeu apenas com uma piscadela e um risinho.

— E agora pelo poder da Chave de Todas as Portas abrirei um caminho até sua mente e o libertarei do controle de Argus. Animo Domein! – Com isso, ela fechou os olhos e deixou que suas mentes se conectassem.

Um cenário se formou para o encontro dos dois e Ivy se preparou para o que estava prestes a vir. O ambiente era escuro, frio e esfumaçado. Não era o melhor lugar do mundo. De repente, uma luz forte começou a brilhar logo atrás dela e ao se aproximar viu Adrian preso em uma cela de energia feita com magia negra.

— Argus! Apareça! Sei que está aqui! – Ela gritou alto o bastante para que ele a ouvisse e se preparou para o combate.

— Você é mais idiota do que parece. – A voz do feiticeiro soou ao redor dela, mas ele não apareceu. — Acha mesmo que pode me vencer?

— Você não tem o direito de fazer das pessoas suas marionetes, Argus. – Ivy deixou o Anel pronto para atacar. — E eu vou acabar com isso agora mesmo.

— Você não pode comigo, garota. Eu sou muito mais forte do que você agora! – A risada maligna dele ribombou pelo espaço escuro.

— Isso é o que você pensa! – Ela apontou o Anel para cima e usou um antigo encantamento que faria com a escuridão ali se acabasse. — Eluminati Lunares!

— Argh! O que está fazendo?!? – Argus gritou de dor por causa da luz repentina e pulou na frente dela. — Vai se arrepender de ter trazido essa luz maldita!

— Pelo poder do Anel da Lua eu invoco toda a força das luzes das pedras lunares! – O Anel começou a brilhar mais do que nunca e Ivy sentiu o poder irradiar dele. — Lumen Totalis!

A luz emitida pelo Anel foi tão intensa que a projeção de Argus dentro da mente de Adrian ficou completamente desorientada. Ele deu alguns passos para trás e caiu sentado no chão, que agora irradiava um brilho azulado.

— Você vai libertar a mente de Adrian de uma vez por todas. Você não só traiu um amigo como também o reino todo e pagará caro por isso. Com o poder da Luz Lunar eu te expulsarei daqui para sempre! Expurgo Lumnis Domein!

— Não! – O feiticeiro gritou, deixando toda a sua ira escapar, mas não adiantou.

O poder de Ivy era muito superior ao dele, já que havia deixado o Grimório das Trevas com seu corpo físico. Argus deixou que a garota o expelisse, mas jurou para si mesmo que da próxima vez que se encontrassem não iria subestimá-la e ela cairia pelo poder das Trevas. A magia negra de Argus finalmente foi quebrada e Adrian estava livre novamente.

A cela que o prendia em sua própria mente se desfez e antes que Ivy saísse, pôde ver que a projeção mental dele sorria para ela. Agora que ela havia conseguido salvá-lo de Argus e Antony precisava salvá-lo de si mesmo ou o gelo congelaria seu coração para sempre. Ela cortou a conexão de suas mentes e voltou a si com um solavanco.

— Ivy! Você está bem? O que houve? – Kadi ainda segurava Adrian, que estava desacordado.

— Estou bem. Pode soltar seu irmão agora. – Ivy caiu de joelhos quando todo o poder dos objetos se dissipou e retornou para seus lugares de origem. Ela se firmou no Cetro, que estava fincado no chão, para conseguir levantar. — Eu lutei contra Argus e o expulsei da mente de Adrian para sempre. Ele está livre.

— Você conseguiu?!? Então era por isso que eu estava gritando, mas você não respondia? – Kadi estava com uma expressão de preocupação que não combinava com ele. Estava mais pálido ou era impressão dela? — Eu pensei que você tivesse sido enfeitiçada também ou algo assim! Não faça mais isso sem me avisar!

— Já disse que estou bem, mas obrigada por se preocupar. – Ela riu de leve enquanto ele veio se aproximando, após deixar Adrian deitado no chão.

— É claro que me preocupei, se você estivesse enfeitiçada como eu faria para lidar com tudo sozinho? Não me salvei da morte em Aquarium para morrer aqui em Guênas! – E com isso ele a abraçou forte e a beijou logo em seguida.

— Não era você que trabalhava melhor sozinho? – Ela retribuiu o beijo, mas não pôde deixar de provocá-lo.

— Trabalho melhor sozinho mesmo, mas eu e você somos uma dupla tão boa que é como se fôssemos um só. – Kadi tentou beijá-la novamente, mas ela o empurrou de repente.

— Ei! Adrian está acordando!

E correram os dois até o príncipe de gelo, que ainda repousava sobre o chão descampado que aos poucos voltava a ficar coberto de neve.

— Adrian? Está me ouvindo?

— Ivy...? – Ele abriu os olhos devagar e estendeu a mão para tocar o rosto dela. — Você está viva? É real?

— Sim. Estou viva. – Ela sorriu e deixou que tocasse seu rosto, mas no mesmo instante sentiu o braço de Kadi envolver seus ombros, pois havia ajoelhado ao lado dela. — E você está livre do controle de Argus e Antony.

— Devo agradecer a você, certo? – Ele riu de leve, mas seu sorriso sumiu quando percebeu Kadi ao lado dela. — Kadi.

— Adrian. – Kadi usou o mesmo tom sério do irmão e os dois ficaram se encarando por um longo tempo. — Sei que deve estar pensando um milhão de coisas, mas eu... Não consegui salvá-lo do ritual. Meu plano falhou e você foi quem mais sofreu com isso. Eu realmente sinto muito e espero que possa me perdoar.

— Quem é você e o que fez com meu irmão? – Os olhos cor de âmbar de Adrian se arregalaram em sinal de surpresa e ele se sentou devagar. — O Príncipe de Fogo assumindo a culpa e pedindo perdão?

— É. – Kadi deu um sorrisinho irônico. — Digamos que quando nós ficamos cara a cara com a morte percebemos que certas coisas valem mais do que outras.

— Adrian... – A voz de Ivy chamou a atenção dele de volta para ela. — Seu coração. Como está se sentindo? Ainda o sente gelado?

— Por que está perguntando isso? – O Príncipe de Gelo ficou confuso com a preocupação nos olhos dela.

— Ela está preocupada com você, idiota. Lembra da maldição de nossos poderes? Ela tem medo que você acabe com o coração congelado. – Kadi explicou por Ivy e ajudou o irmão a se levantar. — E antes que diga que ela te trocou por mim e que não se importa mais com você... bem, a primeira parte é verdade mesmo, mas...

— Kadi! Isso não...! – Ivy deu uma cotovelada nele, mas ele apenas lançou um olhar significativo para ela.

— Tudo bem. – E revirou os olhos sorrindo de leve. — Adrian, ela até pode não te amar como você gostaria que amasse, mas ela se preocupa com você. Teria sido muito mais fácil se ela usasse o poder dos objetos mágicos para te matar, mas ela preferiu usá-los para libertá-lo do controle da magia negra.

— Sinto muito se te fiz criar expectativas, Adrian. – Ivy segurou uma das mãos dele e o encarou com olhar triste. — Não foi minha intenção brincar com seu coração. Você é muito bonito, gentil e encantador e tenho certeza que vai encontrar alguém que possa corresponder aos seus sentimentos, mas essa pessoa não sou eu. Eu o vejo como um amigo, como um irmão, e mesmo que isso te aborreça agora, sei que vai entender.

— Lady Ivy, eu agradeço sua honestidade. Não vou dizer que estou feliz com isso, mas é bom saber que ainda se preocupa comigo. – Adrian se aproximou mais e a abraçou. — O ciúmes que tenho de você é natural, visto que tenho interesse em você, mas aquele ciúme doentio que me dominava era fruto da magia negra de Argus e agora não sinto mais vontade de tomá-la à força e de arrancar a cabeça do Kadi... bom, talvez ainda sinta um pouco de vontade de bater nele, em homenagem aos velhos tempos.

— Saiba que esse desejo é mútuo. – Kadi riu e deu soquinho no braço do irmão. — Sinto falta das nossas briguinhas, mas vamos ter que deixá-las de lado por um tempo até que tenhamos resolvido completamente essa história.

— Sim, sim. – Adrian assentiu e retribuiu o soquinho.

No mesmo instante sentiu o gelo em seu coração diminuir e logo em seguida se expandir, mas de uma maneira diferente. Não era mais como se estivesse devorando-o por dentro, agora parecia fundir-se a ele.

— Ivy, acho que aquilo que me perguntou sobre meu coração... bem, ele não está mais como era antes. Acho que o gelo não está mais me consumindo. – Adrian encarou as próprias mãos tentando entender a situação.

— Tem certeza? – Ivy perguntou surpresa e ao ver a confirmação dele, pulou de alegria. — Isso é maravilhoso! Vocês dois estão salvos!

— Então isso só pode significar uma coisa... – Kadi a encarou com seriedade e ela sentiu um arrepio correr sua coluna. — Ivy... Você salvou nós dois e só havia uma criatura capaz de fazer isso.

— Mas... não pode ser. Deve haver outra explicação, Kadi. – Ela deu alguns passos para trás e negou com a cabeça. — Eu conheci meus pais e mesmo que tenham me abandonado, sei que não fui adotada.

— Não há outra explicação, Ivy. – Ele sabia que seria difícil para ela tanto quanto foi para ele, mas quanto antes compreendesse melhor seria. — Você é a Terceira Criação.

...

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