Cap. 29 - O Poder dos 4 Objetos
Ivy estava caminhando sobre um gramado verde e bonito no alto de uma colina que nunca havia visto antes. A brisa estava fresca e o tempo era agradável. Tão diferente da realidade, que era escura e gelada.
— Que bom que finalmente pegou no sono. – Lisandra apareceu logo ao lado dela, com uma expressão preocupada.
— Lisandra! Você conseguiu escapar? Como estão os outros? Jefferson está bem? – Ivy pulou nos braços dela e ficou surpresa ao conseguir abraçá-la.
— Não fugimos, mas estamos vivos. Antony mandou quase todo seu exército para Guênas, incluindo o Príncipe de Gelo.
— Mas então você não está aqui de verdade? É só uma ilusão?
— Estamos aqui de verdade, mas este é um plano espiritual chamado Anima. É aqui que a maioria dos mediadores vêm para descansar suas almas ou para fazer conexões importantes.
— Ah. Entendi. É realmente muito bonito e acolhedor, mas... o que veio me dizer?
— Não sou eu quem vai dizer desta vez. Tem uma pessoa que quer falar com você. – Lisandra assentiu na direção de alguém que estava atrás de Ivy e ela se virou para ver.
— Marilyn! – A feiticeira tentou correr até sua ama, mas quando chegou bem perto uma barreira de energia branca a jogou para trás com força. — Aah!
— Não, Senhorita Ivy. Não tente me tocar. – Marilyn negou com a cabeça e a analisou com olhar terno. — Você está tão linda. Estou tão orgulhosa de você!
— Ah, Marilyn... – Ivy se levantou e ficou o mais próximo que a barreira permitiu. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e seu coração doía. — Foi tudo culpa minha. Eu sinto tanto...
— Shiu... Não diga isso. Havia chegado minha hora. – Ela sorria com ternura. — Agora, preste atenção. Tenho algo importante para lhe dizer.
— Mas por que não posso te tocar? Isso não é justo! – As lágrimas escorreram pelo seu rosto e a música que Marilyn lhe ensinou soou em seus ouvidos como se estivesse mesmo a ouvindo.
— Senhorita, precisa prestar atenção. Não pode me tocar porque já não estou mais no mesmo plano que você. Eu morri. Estou prestes a ir para Alenia. É para lá que as criaturas vão quando morrem, mas antes preciso te passar uma última mensagem.
— Não quero que se vá. Quero que fique. Fique comigo, Marilyn! Por favor!
— Não. Você deve ser forte. Seu destino é salvar milhares de vidas. – Partia-lhe o coração ver a garotinha que cuidou como uma filha chorar daquele jeito. — A Senhorita não deve lutar por vingança, Lady Ivy. Precisa lutar por justiça. Você deve lutar pelo bem e não pelo mal. Só dessa maneira conseguirá derrotar Argus e o Rei Antony. E só através da compaixão conseguirá salvar o Príncipe de Gelo.
— Como pode querer que eu não me vingue? Eles mataram você! Mataram tantas outras pessoas inocentes e agora... – A imagem de Marilyn começou a tremular e desaparecer.
— Lembre-se do que eu te ensinei, Senhorita Ivy. Só o amor é capaz de vencer o mal causado pelas trevas da ganância.
— Mas Marilyn, eu não posso salvar o Príncipe de Gelo! Não sou a escolhida! Não sou a Terceira Criação!
— Quando chegar a hora certa você saberá toda a verdade. – Marilyn sussurrou, mas sua imagem sumiu de uma vez e sua voz se perdeu no vento.
— Não! Marilyn! Volte! – Ivy tentou segui-la, mas a barreira a repeliu outra vez. — Argh! Não....
— Já chega, querida. Está na hora de voltar. Scarlet e o reino de Guênas precisam de você. – Lisandra ajudou-a a levantar e com uma batida de palmas cortou a conexão médium.
...
Kadi estava começando a se sentir melhor, as alucinações tinham passado e era como se ele tivesse apenas dormido por um longo tempo. Não gostava de desperdiçar o seu tempo dormindo, mas tinha que admitir que era muito bom às vezes.
— Que lugar é esse?
Assim que notou as barras da cela, levantou num pulo e tentou derretê-las, mas seu fogo parecia ter diminuído muito. Talvez pelo tempo que passou desacordado.
— Aquela rainha filha da...!
— Não! Volte! Por favor! – Ivy começou a gritar e a se debater enquanto dormia.
— Ei, Ivy. Acorde. É só um pesadelo. – Ele ajoelhou ao lado dela e notou que estava com os lábios roxos de frio. — Merda! Ela está congelando.
Ele a pegou no colo e sentou no chão aconchegando-a junto de si, então fechou os olhos e tentou se concentrar em sua chama interior. Aos poucos o fogo foi despertando e seu calor se expandiu pela cela de gelo, aumentando a temperatura.
— Agora está melhor. – Ele depositou um beijo na cabeça dela e decidiu que seria melhor esperar ela acordar para poderem fugir. — Scarlet vai me pagar caro por ter feito isso.
Um longo tempo se passou até que Ivy finalmente acordasse e Kadi já estava pra lá de impaciente. Tinha até começado a pedir aos espíritos ancestrais para que ela não tivesse entrado em coma ou algo do gênero.
— Kadi...? Você está melhor! – Ela sorriu e o abraçou forte. — Já passou o efeito do vinho da Scarlet?
— Sim. E ela vai me pagar pelo que fez. – A expressão dele ficou sombria de repente, mas logo se suavizou com o beijo que Ivy lhe deu.
— Ei! Os dois pombinhos, aí! O castelo está sendo atacado e a rainha ordenou que libertasse vocês e que entregasse isto a você, Senhorita. – Um dos guardas vampiros apareceu com uma expressão alarmada, abriu a cela e jogou os quatro objetos mágicos lá dentro.
— E por que acha que vamos ajudar depois do que nos fizeram? – Kadi gritou irritado, se levantando num ímpeto e deixando Ivy em pé ao seu lado.
— Não, Kadi. Nós vamos ajudar. A vingança nunca é a solução. Devemos lutar por justiça e Antony os está atacando por ganância.
— E quem te disse tudo isso? A Fadinha da Paz? O Duende da Alegria?
— Não. Marilyn, minha ama. Eu sonhei com ela. Foi nossa última conexão antes dela seguir para Alenia, o mundo dos mortos. – A voz dela, seu olhar e sua postura não deixavam margem para mentiras.
Kadi assentiu em silêncio, esperou que Ivy pegasse os objetos e então pediu ao vampiro que os guiasse até a batalha.
...
Scarlet estava lutando com todas as suas forças, mas o Príncipe de Gelo era bem mais forte do que ela. Mesmo com a ajuda de todo o seu exército, que estava despreparado para esse ataque, ainda não conseguia derrubá-lo ou acertar um ataque sequer. Era extremamente difícil ver sua criação agir dessa forma.
Agora ela entendia o quanto o seu desejo foi egoísta e compreendia a atitude dos espíritos criadores. Gordon, Antony e ela haviam criado três criaturas magníficas, mas tinham pecado ao selar seus destinos como armas mortais. Tinha sido muita estupidez da parte deles.
— Pare, Adrian! Eu sou sua criadora! Não pode me atacar assim! Este reino era para ser seu! Adrian! – A Rainha estava presa contra a parede por uma camada de gelo que o príncipe havia lançado e agora tentava gritar desesperadamente para apelar aos sentimentos dele.
— Isso não vai adiantar, Scarlet! – Finalmente os reforços haviam chegado e o Príncipe de Fogo já chegou incendiando tudo. — Saia de perto dela, Adrian!
— Kadi, não! – Ivy gritou e, com o poder da Coroa de Energia, o envolveu numa cúpula de contenção. — Você não pode botar fogo em um castelo de gelo!
— E o que você sugere, então? Que eu o deixe me matar? – Ele retrucou ironicamente ao notar que o irmão investia contra ele.
— Leve a luta para o jardim de inverno! – Ivy gritou de volta e usou o poder da Chave de Todas as Portas para criar um portal que os levaria ao jardim. — Entre ali!
Enquanto Kadi tentava atrair Adrian para o portal, Ivy seguiu até a rainha derrubando alguns guardas no caminho. Ela conjurou o poder do Cetro do Sol e derreteu o gelo que a prendia. Scarlet caiu no chão de joelhos, estava em estado de choque.
— Scarlet! Escute, você precisa lutar! Scarlet! – Ivy não encontrou outra alternativa e com seus poderes de médium usou um feitiço para passar sua energia calma e estabilizada para a rainha. — Agora levante e...!
Mas não havia dado certo e os soldados de Antony começaram a cercá-las para uma emboscada. Não havia mais tempo para tentar usar feitiços, então Ivy foi obrigada a usar um método muito antigo.
— OU VOCÊ ACORDA OU VAI MORRER! – E bateu na cara dela com tanta força que a dor fez com que o Estado de choque passasse.
— Cuidado! – Scarlet empurrou Ivy e arrancou a cabeça do guarda que estava prestes a atacá-las.
— Obrigada, mas... Podemos ser menos sanguinárias? – Ivy perguntou sem graça ao ver a cabeça do homem caída e todo o sangue que escorria dali. Seu estômago começou a dar voltas.
— Cada um luta como pode. – Foi tudo que a rainha respondeu antes de rasgar a barra do vestido para deixá-lo mais curto e ter mais mobilidade.
Kadi finalmente tinha conseguido empurrar Adrian para o portal e agora os dois irmãos lutavam ferozmente no jardim. Embora o príncipe de fogo estivesse com raiva, não queria matar o irmão. No fundo ele sabia que Adrian estava sofrendo e que em breve seu coração seria congelado e ele morreria se não conseguisse superar seu maior defeito.
Lá dentro a batalha continuava fervorosamente e com a ajuda de Ivy os dois lados estavam bem equilibrados. Ainda assim ela sabia que seu lugar não era ali e que seu maior desafio naquele dia seria enfrentar o Príncipe de Gelo. Era esse o seu destino.
— Scarlet! Kadi está lá fora sozinho lutando contra o Adrian! – Ela gritou após livrar a rainha de outro ataque.
— Pode ir. Eu e meus guardas daremos conta! Agora estamos preparados! Vamos arrancar o coração de cada um deles!
— Não! Eles não têm culpa, Scarlet! São obrigados a lutar ou suas famílias serão destruídas. Antony os está ameaçando. – Então ela correu até o centro da batalha e ergueu a mão que usava o Anel da Lua. — Pelos poderes do Anel da Lua eu invoco o poder do gelo! Todas as almas inocentes serão transformadas em estátuas de gelo até que essa guerra acabe!
Ivy também utilizou a Coroa de Energia para dar mais força aos combatentes da rainha e com o Cetro do Sol aqueceu seus corações para que acatassem a ordem de não atacar quem havia se tornado gelo.
Dessa vez, muitas das criaturas do exército de Antony foram transformadas em estátuas e apenas alguns poucos ficaram intactos. Estes que ainda se moviam lutavam porque queriam mesmo ver a destruição e as mortes, mas Ivy sabia que pelas atuais perdas do Rei Porco ele estaria recrutando gente por meio de ameaças.
— Pode matar os que estão se mexendo, Scarlet! – Ivy anunciou, abriu novamente o portal para o jardim de inverno e pulou em direção à outra batalha.
...
Antony estava muito furioso. Não só seu exército havia sido derrotado pela garota como ainda por cima seu plano tinha dado errado. E para piorar a situação havia sido enganado por Argus, que agora havia tomado seu trono e controlava seu reino.
O rei porco viveu os últimos dias trancado em uma de suas masmorras e por mais que estivesse berrando com os guardas para soltarem-no, eles não mais o obedeciam.
Agora todos temiam a tirania de Argus, que havia se tornado extremamente poderoso ao fazer um pacto com as trevas e se tornar aliado da magia negra mais forte já existente.
Era Argus também quem estava controlando o Príncipe de Gelo e regendo suas ações para que exterminasse Lady Ivy, a única pessoa capaz de derrotá-lo.
Antony nunca pensou que desejaria isso, mas queria do fundo de seu coração que Ivy e Kadi triunfassem. Desejava ardentemente que os dois jovens conseguissem todos os objetos mágicos para assim terem uma chance de derrotar a magia negra do feiticeiro traidor.
Ele não sabia ainda se os dois jovens já haviam descoberto toda a verdade sobre suas vidas, mas sabia que uma hora ou outra descobririam. E queria que isso acontecesse, mesmo que acabasse morto pelas mãos daqueles que havia criado.
Ali nas masmorras, por todo aquele tempo que estava tendo sozinho para pensar sobre suas ações, notou o quanto as pessoas que condenou sofreram. E queria muito se sentir bem com isso para provar ser o tirano cruel que acreditou ser a vida toda, mas a verdade é que naquele momento se sentiu muito mal.
Naquele momento ele percebeu que a grande mente cruel por trás de tudo aquilo que fazia era e sempre foi o feiticeiro Argus. Aquele homem o esteve controlando por meio de magia fazia muito tempo....
...
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