Cap. 27 - Guenas

A festa estava cheia de sereias e de alguns poucos tritões, havia muita comida e a decoração improvisada com conchas e corais tinha ficado simples e bonita. Ariela havia mandado colocar o caixão de Kadi na frente do trono e o havia coberto com um pano branco. A nova rainha arrastou ela para todo o lado e apresentou todas as pessoas presentes na festa.

— Ivy, sei que está cansada e triste, mas tente sorrir para as pessoas um pouco. – Ariela nadou até ela, que estava num canto qualquer, emburrada.

— Eu avisei que não estava no clima. – Ela retrucou e desviou o olhar. — Mas você está tão linda e já está quase na hora da dança de encerramento!

— Vai me obrigar a dançar? Ariela, eu não acredito nisso. Como pôde fazer...

— Shiu! Tudo bem, farei a dança agora, então. – Ela então fez sinal para os músicos e eles começaram a tocar uma música suave, mas ao mesmo tempo animada. — Nós, sereias, gostamos de danças com movimentos suaves, como um balé.

— E vocês dançam sozinhas ou acompanhadas? – Ivy perguntou enquanto era arrastada até o centro do salão.

— Você verá em breve.

Um tritão muito bonito se aproximou de Ariela e eles começaram a dançar. Com isso, todos os outros arrumaram pares e os acompanharam.

Apenas Ivy ficou sozinha.

Já era ruim ter perdido Marylin e Kadi, e saber que Jefferson e os outros estavam nas masmorras, mas agora ela também estava sendo obrigada a ver que estava sozinha.

— A Senhorita gostaria de me conceder essa dança? – Uma mão foi estendida em sua direção e Ivy não precisou nem levantar o olhar para saber de quem era.

— Isso não pode ser verdade...! – Seu coração disparou no peito e seus olhos não acreditavam no que estavam vendo. — Você está morto! Como pode estar...

Ela estendeu a mão para tocar o rosto dele, com receio de que fosse desaparecer no ar. Suas mãos tremiam e lágrimas começaram a turvar sua visão outra vez. Quando seus dedos encostaram na pele quente dele, não conseguiu mais se conter e pulou em seus braços para um abraço forte.

— Eu não sei. Também achei que tinha morrido, mas acordei de repente num caixão de vidro e o fogo já não me feria mais. – Kadi a apertou em seus braços, era bom saber que estava vivo e que podia abraçar ela assim. — E eu tenho novos truques também. Aparentemente ganhei uma espécie de fogo azul. Ele se forma através de um calor gelado. É estranho.

— Você está vivo! Está vivo! Kadi, eu sinto muito. Sinto muito por ter vindo até o castelo sem você e por ter sido tão teimosa...

— Shiiu. – Ele a calou com um selinho. — A culpa não foi sua em nenhum momento... bom, talvez tenha sido sim, mas eu também não devia ter sido tão orgulhoso.

— Orgulho... – Ela sussurrou baixinho. — Orgulho é o seu maior defeito e você superou! Você conseguiu! Não vai mais morrer!

— Sim. Consegui. – Ele sorriu e ajeitou o cabelo dela atrás da orelha. — Você está linda. As sereias deram um trato em você?

— Ahn... Sim. – Ela se afastou um pouco dele quando Ariela se aproximou batendo palmas.

— Lindo! Que lindo! É tão bom ver um casal se formando! Acho que eu devia ter nascido cupido e não sereia. – Ariela riu e todos acompanharam seu riso.

— Espera! Você não parece surpresa. Ariela, você já sabia? – Ivy arregalou os olhos, em choque.

— Bem... Sim. – A sereia respondeu sem graça e tratou de mudar o clima fazendo uma nova música tocar para agitar o salão.

...

A festa estava longe de acabar, mas eles precisavam ir embora, por isso, se retiraram do salão para um lugar reservado e Ivy abriu um portal com a Chave de Todas as Portas.

— Tem certeza de que posso levar a coroa, Ariela? – Ela perguntou uma última vez antes de partirem.

— Tenho. Encare como um presente por ter salvo meu povo. – A sereia sorriu e a abraçou.

— Vamos logo. Estamos atrasados. – Kadi resmungou, já estava farto desse mimimi das garotas.

O portal para Guênas era o último que enfrentariam antes de seguir novamente para Eville. Kadi estava feliz por estar vivo, mas não conseguia se sentir totalmente bem sabendo que seus ladrões estavam presos novamente nas masmorras e que seu irmão, o Príncipe de Gelo, ainda estava sendo controlado.

Mesmo que Adrian não fosse de fato seu irmão, foram criados como se fossem e o sentimento que nutria por ele era forte. Por mais que brigassem muito e que se desentendessem o tempo todo ainda eram parecidos e estavam no mesmo barco.

O sentimento que mais o assustava no momento era o que o ligava à Ivy. Não havia percebido antes, mas se preocupava com ela, tinha medo por ela e a queria bem. Ele a queria perto, feliz e ao mesmo tempo segura, mas ela estaria de fato segura ao lado dele?

— Esse lugar é muito frio! – A cauda de Ivy havia desaparecido e as roupas que vestia não eram suficientes para aplacar o frio de Guênas, o reino gelado da Rainha da Beleza.

— Tudo bem. Fique perto de mim. – Kadi a puxou para perto e a abraçou de lado. O calor que ainda queimava dentro de si era suficiente para aquecer os dois. — Está melhor?

— Sim. Obrigada.

Ivy ainda usava a Coroa de Energia, a Chave de Todas as Portas permanecia em seu pescoço e o Cetro do Sol estava preso em seu vestido por uma bainha. Ela parecia uma verdadeira guerreira e pela primeira vez ele notou o quão orgulhoso estava.

Aquela garota que o acompanhava era a pessoa perfeita para essa missão e ele tinha absoluta certeza de que mesmo que viesse sozinha ela teria sido capaz de enfrentar todos os desafios.

— No que está pensando? – Ivy perguntou de repente, pegando-o de surpresa.

— Nada. Não é nada.

— Está com medo de que Scarlet não queira nos ouvir?

— Eu não tenho medo. – E deu de ombros como se estivesse mesmo falando a verdade.

O reino de Scarlet era totalmente frio e coberto de neve. O castelo dela era muitas vezes conhecido como o Castelo de Gelo. Os moradores dali não se incomodavam com o frio, pois o sangue que corria em suas veias não era quente.

— Até que os moradores não são tão hostis... – Kadi comentou em voz baixa ao passarem por um grupo de vampiros que estava sentado numa praça tomando alguma bebida em taças e jogando conversa fora.

— Ainda bem. Se até os moradores daqui nos atacassem seria uma luta muito complicada. Estamos em desvantagem.

Conforme foram se aproximando do castelo o frio foi aumentando cada vez mais e até Kadi começou a sentir um pouco de desconforto. A vila era composta completamente por casarões grandes e antigos. Eram muito bonitos, mas faziam Kadi se questionar se não existia gente pobre ali.

Nos portões que antecediam o castelo, duas gárgulas os fizeram parar e precisaram explicar seus motivos por estarem seguindo naquela direção. As gárgulas pareceram desconfiadas por um tempo, mas acabaram deixando que seguissem em frente.

Uma delas os levou até o salão de jantar, onde Scarlet estava tomando seu café da manhã. Ivy e Kadi estavam exaustos, mas falar com a rainha era mais importante. Assim que a gárgula abriu as portas, o estômago dele revirou e a bile subiu pela garganta.

Na frente deles estava cerca de seis pessoas, todas bem vestidas, em pé ao redor de uma enorme mesa de vidro. Sobre a mesa haviam corpos despidos e quase sem vida. O sangue que escorria deles era sorvido com avidez pelos convidados presentes.

— Vossa Majestade, trouxe-lhe mais convidados para o banquete. – A gárgula anunciou ao entrar no recinto.

Todos os presentes ignoraram completamente a presença deles ali, apenas uma pessoa veio em sua direção.

...

A mulher que se separou dos demais era extremamente pálida, com longos cabelos pretos e olhos castanhos profundos e perigosos. Suas presas estavam a mostra e eram anormalmente grandes.

— Eu já falei que não gosto de ser interrompida quando estou me alimentando, seu imbecil! – E com isso, ela deu um soco que fez a cabeça da gárgula sair voando até se arrebentar numa das paredes impecavelmente brancas.

— Perdão, Majestade? Rainha Scarlet?  – Kadi se recuperou primeiro do choque da cena que viram e se dirigiu à mulher educadamente, mesmo que odiasse agir assim tão pomposo.

— Sim. Sou eu. O que desejam? – Ela os observou desconfiada e ao mesmo tempo curiosa. — Ou melhor, o que são?

— Eu sou Kadi, o Príncipe de Fogo, e esta aqui é Ivy, minha companheira. Ela é uma feiticeira e também mediadora.

— É um prazer conhecê-la, Majestade. – Embora tivesse conseguido falar, Ivy sabia que ainda estava com uma expressão assustada.

— E o que desejam aqui? – O olhar dela passou por todo o corpo do príncipe com cobiça.

— Nós viemos alertá-la. O Rei Antony mandou seus exércitos atacarem Malibur e Guênas. Quer tomar o poder dos três reinos e assim governar a dimensão de Mistic Herz. – Kadi explicou rapidamente antes que aquela mulher pulasse em cima dele.

— Hum... E o que ganham vindo aqui me avisar? – Ela arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitas e cruzou os braços. O banquete nojento continuava sem ela.

— Queremos proteger aqueles que amamos. Antony os capturou. – Ivy falou primeiro dessa vez.

— E ele está usando seu filho, Adrian, o Príncipe de Gelo, para matar e destruir em seu nome. – Kadi completou.

Essa última informação pareceu chocar a rainha, que ficou por alguns segundos sem dizer nada. Quando voltou a si, passou por eles e fez sinal para que os convidados fossem embora. O banquete havia terminado.

— Sigam-me! – Ordenou e saiu andando pelos corredores, guiando-os até um lugar mais reservado.

Gente, quando o Kadi morreu eu estava ouvindo Love Me Like You Do (era um cover e eles fizeram um remix que ficou meio na vibe sad), e eu chorei tanto. Tive que parar umas três vezes para continuar a escrever. Fui terminar o capítulo era meia noite!!
Peço desculpas pelos possíveis Heart Attacks de vocês. Nosso príncipe favorito pregou uma pequena peça em nós.

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