Cap. 25 - Aquarium

Água. Água. E mais água. Onde estava a terra? A natureza? O céu azul? Tudo ao redor deles era frio e escuro. Esse era o reino de Aquarium? Onde estava toda a vida? As cores? As sereias?

Ivy tentou bater as pernas para subir até a superfície antes que acabasse se afogando, mas ficou extremamente chocada ao perceber que não tinha mais pernas, e sim uma cauda longa e escamosa. Ficou muito surpresa também ao notar que não morreria afogada, pois conseguia respirar debaixo da água.

Ivy como Sereia


Agora ela sentia como se seu coração estivesse em sincronia com o que estava ao seu redor. Seus olhos eram capazes de ver além das águas escuras e ela sabia perfeitamente para onde seguir. Olhou ao redor a procura de Kadi e percebeu que ele não havia se transformado assim como ela.

E o pior: não estava respirando.

— Kadi! – Ivy nadou até ele rapidamente, porque embora estivesse magoada ainda precisava dele para deter Argus, Antony e Adrian.

Ela puxou-o para si e concentrou-se na energia que corria agora em seu corpo. Provavelmente tinha poderes de sereia e se os livros estivessem certos, seria capaz de fazer um feitiço para que ele fosse capaz de respirar embaixo da água.

Acquam Debilitatio Restore. – As palavras vieram do fundo de sua alma, como se soubesse exatamente o que tinha que dizer.

A consciência dele foi voltando aos poucos, mas ainda não conseguia enxergar em águas escuras, então Ivy segurou sua mão e usou a cauda de sereia para nadar rapidamente em direção à cidade de Aquarium.

— Para onde estamos indo? Quem é você? Me solta!

— Fique quieto, Kadi. Sou eu. Vou te levar para onde tem luz. – Ela teve que se controlar muito para não dar um tapa na cara dele.

Ivy? Você virou uma sereia? – Os olhos deles só não estavam mais arregalados porque era fisicamente impossível.

— O que você acha? – Retrucou ironicamente.

Pelo menos a cauda de sereia era mais fácil de usar do que as asas de fada. A potência da cauda era tão forte que a água mal aparentava resistência e em poucos minutos chegaram na vila que antecedia o castelo.

— Ivy... Temos que tomar cuidado.

— Por quê? Qual o problema?

— Eu ouvi algumas histórias sobre esse lugar. Meu irmão já esteve aqui. É um dos sub-níveis da masmorra. – Ele explicou enquanto analisava a vila deserta. — Aparentemente, as sereias desapareceram daqui e apenas os tritões tomam conta do lugar.

— Tritões? Quer dizer as sereias homens? – Ivy queria rir, mas não achou adequado. Ela mesmo sentia algo estranho ao redor deles.

— Sim. Eles são tão bonitos e sedutores quanto as fêmeas.

— Está com medo de se apaixonar por um deles? – Dessa vez não conseguiu deixar de rir.

— Não. Estou com receio de que tentem seduzir você. Para eventuais causas, somos namorados, certo?

— Não. Pelo que eu sei das sereias, não gostam de se misturar com humanos, então dessa vez você vai ficar aqui e vai se esconder enquanto eu resolvo as coisas. – Assim, ela soltou a mão dele e saiu nadando em direção ao castelo.

...

Ele mal teve tempo de protestar. Sentiu uma movimentação nas águas e foi jogado em direção ao chão. Nadou até uma das casinhas abandonadas da vila e lá dentro notou uma coisa terrível: as sereias estavam petrificadas.

Não era muito bom em natação, mas nadou o mais rápido que pôde ao redor da vila, e em todo lugar era a mesma coisa: todas as sereias estavam petrificadas. O mais estranho é que não havia tritões nessa situação, apenas sereias.

Kadi ouviu uma movimentação do lado de fora da casa feita de coral e tentou se esconder, mas acabou esbarrando numa mesa e chamou a atenção de quem quer que fosse. Quase ao mesmo tempo em que os tritões quebraram as portas, uma mão o puxou e nadou, arrastando-o atrás de si.

A criatura que o arrastava nadava tão rápido que havia conseguido deixar os tritões para trás num piscar de olhos. Quando Kadi tentou usar seus poderes notou que não conseguia, o fogo não saía debaixo da água.

Foi levado até uma construção parecida com um templo no fundo do oceano e a criatura que o sequestrou começou a acender as luzes. Era incrível que houvesse luz ali embaixo.

Sua visão finalmente clareou e o que viu o deixou embasbacado. Era uma sereia. E uma sereia muito bonita, com cabelos loiros e cauda dourada. Ela tira um rosto delicado e usava uma coroa de ouro na cabeça.

— Aqui estará seguro, humano. O que o traz a Aquarium? Como se chama? – A sereia nadou até ele e o encarou por um longo tempo esperando sua resposta.

— Sou Kadi, o Príncipe de Fogo. Eu e minha parceira viemos para Aquarium em busca de um objeto mágico e também para chegar em Guênas. – Ele encontrou sua voz após um longo tempo, mas não conseguia parar de encarar a garota. — Estamos em uma missão para salvar a dimensão de Mistic Herz do poder de Antony, Argus e do Príncipe de Gelo.

— Tinha mais alguém com você? E onde ela está? – A sereia ficou ainda mais pálida e seus olhos cor de ouro se arregalaram.

— Ela foi até o castelo em busca do tal objeto. Acho que o nome é Coroa de Magia.

— Coroa de Energia. É um objeto passado de geração em geração às rainhas de Aquarium.

— E onde está?

— Sua amiga foi para o lugar certo, mas infelizmente não vai voltar. A coroa está nas mãos do meu irmão, assim como o castelo. Ele convenceu seus amigos e todos os homens daqui de que eram eles quem deveriam governar Aquarium. Com isso, tomaram o poder e petrificaram todos que eram contra sua ditadura.

— E eles vão fazer o mesmo com a Ivy, certo? Eu avisei para ela não ir sozinha! Ela precisa de mim! – Kadi deu um soco na parede mais próxima, mas isso só fez com que sentisse mais raiva.

— Tem certeza de que é ela quem precisa de você? Ou você também precisa dela? – A sereia sorriu de leve observando-o atentamente.

— É ela quem precisa de mim. Eu posso me virar sozinho. Ela sempre se mete em problemas e precisa ser resgatada.

— E quando isso acontece você a salva?

— Sim.

— Então precisa dela. Se não precisasse, não a salvaria.

— Ah! Eu...! – Kadi queria muito retrucar alguma coisa, mas não conseguiu pensar em nada. — Qual o seu nome? Como faço para entrar no castelo?

— Sou Ariela, princesa das sereias e descendente direta do trono de Aquarium. – Ela fez um cumprimento formal e sorriu de leve. — Há uma passagem secreta, mas você não vai durar nem dois segundos contra os tritões.

— Você vai me levar até lá?

— O que ganho com isso?

— O trono de Aquarium. O que acha?

— Feito. Você não duraria nada sem mim mesmo.

— Eu sou um metamorfo. Posso virar uma baleia se quiser. Ou um tubarão, uma enguia, um polvo. O que eu quiser. — Disse cheio de si, orgulhoso de suas transformações.

— Ótimo. Então é melhor virar algum bicho que resista ao ataque de um tridente. Meu irmão, Ariel, não vai gostar nada da nossa invasão.

— Não precisa entrar lá e lutar, eu posso fazer isso sozinho. Só me mostre como entrar sem ser visto. – A ardência em seu peito voltou com força total e ele era capaz de sentir seus braços se tornando carvão pelo calor do fogo que o consumia.

— Você está bem? Ficou pálido de repente. – Ariela nadou até ele e o analisou de perto.

— Eu estou bem. Posso me virar sozinho. – Disse segurando forte as mangas da camisa por causa da dor.

— Você é muito convencido. Precisa aceitar que uma pessoa não vive sozinha. As pessoas precisam umas das outras. Sejam sereias, fadas, feiticeiros ou... o que você é mesmo?

— Um metamorfo. – E foi obrigado a fechar os olhos para conter a dor. — Nós vamos logo ou não?

— Vamos.

...

Ivy havia conseguido chegar ao castelo com facilidade, entrou por uma janela aberta em uma das torres mais altas e começou a vasculhar os corredores. Era incrível que não houvesse ninguém ali.

Os corredores do castelo de Aquarium eram feitos e decorados com corais coloridos. Era um ambiente muito lindo. Ao contrário do castelo de Malibur, este possuía muitas mobílias pelos corredores e também nos aposentos. Só era estranho que não tivesse escutado nenhum movimento ainda...

— Ei! Você aí! – Ouviu alguém gritar e sentiu as ondas ao seu redor se agitarem. Amaldiçoou sua enorme boca mentalmente por acabar trazendo encrenca. — PARE!

É claro que ela ainda tentou lutar e fugir, mas aparentemente o Cetro do Sol não funcionava debaixo da água e não teve tempo de pronunciar o encantamento da Chave de Todas as Portas. Ivy foi cercada por tritões, que eram incrivelmente bonitos apesar das caudas de peixe. Aliás, as próprias caudas eram muito bonitas, cada uma delas seguia um padrão de cores diferente.

— Você não deveria estar aqui. Não deveria nem estar se mexendo. – Os tritões a seguraram pelos braços e começaram a arrastá-la pelos corredores. — Agora você terá que enfrentar a fúria do Rei de Aquarium.

— Fúria? Mas por quê? Eu sou uma sereia! Sou uma de vocês!

Ivy não estava entendendo muito bem o motivo que os levava a serem tão agressivos. Seguiu por tantos corredores que seu senso de direção começou a falhar e quando se deu conta, estava num enorme salão dourado com um trono de ouro ao fundo, em cima de um patamar.

— Nós trouxemos a invasora, Majestade. É uma sereia. Não sabemos como ela escapou, mas estava nadando por aí.

Os tritões a empurraram na direção do rei, que era metade um homem com cabelos prateados e feições juvenis, e metade uma cauda de peixe comprida e prateada como seus cabelos.

— Vossa Majestade, é uma honra conhecê-lo. Meu nome é Ivy e estou aqui numa missão de... – E foi obrigada a parar de falar quando ele nadou até ela e passou a rodeá-la com olhar analítico.

— Você não parece uma sereia comum. Não tem feições de sereia e sua cauda é mais curta que as das sereias normais. Sua voz também não é melodiosa e encantadora.

— Ah, nossa! Que gentil da sua parte... – Ivy não conseguiu disfarçar sua irritação. — Eu sou uma feiticeira. Fui transformada em sereia ao chegar aqui. Estou numa missão para salvar...

— Mas você é muito bonita e também tem um temperamento forte. É perfeita! – E com isso bateu palmas, fazendo um sinal com as mãos para seus guardas levarem-na e prepararem-na para a cerimônia de submissão.

— Espera! Ei, me soltem! Perfeita para que? Do que está falando?

Ivy se debateu como pôde, mas foi inútil. Os tritões eram muito mais fortes que ela e ainda estava fraca por toda a energia que havia usado recentemente.

— Nosso rei a escolheu para ser sua escrava de companhia e será subjugada na cerimônia de submissão. – Um dos tritões fez o favor de explicar a ela.

— Cerimônia de Submissão? Subjugada? Estão malucos se pensam que vou concordar com isso!

— Você vai, porque não terá escolha. Quando o Rei Ariel cantar para você, perderá sua vontade própria e obedecerá todas as ordens dele.

— O quê?!? De jeito nenhum! Me soltem agora! – Seus braços estavam imobilizados, então foi obrigada a usar a cauda para se defender. — Vocês são uns brutamontes!

— Peguem ela! A sereia está fugindo!

Ivy nadou o mais rápido que pôde para tentar ganhar tempo e assim usar a Chave para fugir, mas quando dobrou o corredor seguinte esbarrou com força no rei, que agarrou seus pulsos com raiva.

— Onde pensa que vai? Será um desafio e tanto subjugar você! – A risada maligna dele ganhou os ouvidos dela e por mais que tentasse se soltar, era inútil. — Talvez seja melhor ignorar os preparativos. Vamos fazer a canção do encantamento agora mesmo.

Com essa última fala, Ariel começou a cantar. Ivy sabia os efeitos do canto de uma sereia, mas não imaginou que os tritões tivessem o mesmo poder. Um dos guardas se aproximou dela e colocou em sua cabeça uma coroa pesada e extremamente bonita. Era decorada com pérolas, conchas e todo o tipo de joias brancas.

— Essa coroa simboliza sua submissão! – Um dos guardas anunciou triunfante, enquanto a música de Ariel continuava a embalar os sentidos de Ivy, fazendo com que se esquecesse de tudo e de todos.

Tudo o que importava era aquela linda melodia, aquela belíssima voz. Não queria mais saber de missão, de guerras, de lutas. Nada disso parecia importar agora que sentia uma força maior controlar seus pensamentos e ações. Era uma canção divina que trazia a paz e a tranquilidade.

...

Um agradecimento especial para AndyR_Lopes e seus comentários super motivadores. Por favor, cuide bem do coração. ❤

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