Cap. 22 - O Desafio da Rainha

Ivy sentiu a transformação em seu corpo e logo as asas apareceram de novo. Seus cabelos ficaram outra vez repletos de flores e suas roupas foram substituídas. Agora era novamente uma fada. A rainha fez uma porta aparecer ao lado dela e mandou que entrasse.

Do outro lado da porta havia um enorme portão de ferro cercado por árvores altas de copas densas. Lá dentro parecia ser um labirinto daqueles feitos com arbustos. Sentiu seu estômago revirar e seu coração começou a bater forte. Estava com medo.

"Seu teste será mais como um desafio. Atrás desse portão está o labirinto das fadas e no centro dele, uma chave mágica especial. Essa chave te ajudará a sair do labirinto e também a passar pelo reino das fadas sempre que desejar."

— Tudo bem. – Ivy assentiu, aliviada. Parecia mais simples do que ela havia imaginado.

"Se você for digna, poderá pegar a chave, se não, será transformada em uma fadinha do tamanho de uma flor e ficará presa nos potes de vidro da minha coleção."

— Estou pronta! Vamos começar! – Ivy seguiu em frente e adentrou o labirinto. Os portões se fecharam assim que passou por eles.

As paredes do labirinto eram formadas por trepadeiras e flores que pareciam estar vivas. As plantas pareciam seguir cada movimento dela. Seu coração batia forte no peito, mas não queria mostrar que estava com medo. Queria provar ao Kadi que era forte e que ele precisava dela.

Conforme andava pelos corredores do labirinto, começou a notar que estava seguindo em círculos. Tentou mudar o caminho várias vezes, mas continuava passando pelos mesmos lugares. Ela sabia que não adiantaria continuar correndo e que também não podia se desesperar. Respirou fundo e tentou chegar a uma solução.

A rainha havia dito que ela teria que agir como uma fada e Lirian não correu com os pés quando estava guiando-os por Farilyn. Então essa era a resposta, ela teria que voar.

Mexeu as asas com cuidado, era como se estivesse aprendendo a andar. Suas asas não pareciam tão firmes quanto eram e tinha medo de acabar caindo. Tentou controlar sua respiração e lembrou-se dos livros que lia. Era preciso ter pensamentos felizes.

Fechou os olhos e deixou que sua mente a guiasse. Lembrou-se dos momentos de sua infância, quando Marilyn e Jefferson brincavam de esconde-esconde com ela pela mansão dos Delevigne.

Depois veio a lembrança de quando aprendeu a usar seus poderes para ajudar as pessoas pela primeira vez: havia curado o dedo machucado de uma das cozinheiras. Em seguida, recordou-se de todas as vezes que ajudou os camponeses pobres a conseguir alimentos.

Todas essas lembranças eram maravilhosas e conforme suas asas batiam, começou a sentir seus pés deixarem o chão. O último pensamento feliz que a fez conseguir de vez voar foi o da festa dos ladrões, para se despedir dela e de Kadi antes de sua jornada. Estava sorrindo. Estava confiante outra vez, pois havia se lembrado de todas as pessoas que precisava salvar.

Agora ela estava conseguindo voar, mas conseguiria controlar o voo também? Conseguiu ir para a frente e para trás, para baixo e para cima. O problema mesmo veio quando precisou virar à direita e à esquerda. Acabou indo rápido demais e se enroscou nos galhos das paredes do labirinto.

— Não! Me soltem, suas plantas idiotas! – E se debateu para tentar se soltar, mas isso só piorou sua situação.

...

Kadi estava observando tudo que acontecia com Ivy através das águas do lago, que serviam como uma tela para transmitir imagens. Ficou aliviado quando ela se lembrou de usar as asas, mas agora estava com vontade de ir até lá para tirá-la do meio dos arbustos.

— Eu sabia que ela precisava de mim. – Resmungou ainda sem poder se mexer por causa da ameaça dos espinhos.

A Rainha agitava seus galhos livres em direção à água do lago como se estivesse se divertindo muito. Agora Ivy havia parado de se mexer, estava de olhos fechados e respirava bem devagar.

— O que ela está fazendo? Precisa usar algum feitiço de ataque para destruir as plantas ou será engolida pela parede! – Disse trincado o maxilar ao sentir o fogo dentro si começar a queimá-lo novamente.

"Fique quieto, garoto. Sua amiga é mais esperta do que pensa e você tem sorte por não ser você lá. Não teria passado nem do portão."

Kadi queria retrucar a provocação da rainha, mas teve receio de que isso só fosse piorar sua situação e a de Ivy. Além do mais, o fogo ardendo dentro dele não dava trégua e o amuleto de Lisandra não parecia estar ajudando muito.

...

Ela precisava se conectar com o coração do labirinto, só dessa forma conseguiria se livrar das paredes verdes e chegar ao centro. Fechou os olhos e deixou que as plantas a segurassem. Foi fácil perceber que não estavam machucando-a. As plantas não ferem as fadas e ela estava com a forma de uma agora.

Conseguiu sentir as vibrações que a vegetação emanava e aos poucos sentiu seu corpo se soltar dos galhos que o prendiam. Bateu as asas para se erguer no ar e sorriu, estava orgulhosa de si mesma e tinha certeza de que se Kadi estivesse assistindo estaria chocado. Do jeito que ele era, provavelmente teria tentado destruir as plantas e isso só faria com que se enrolasse ainda mais.

Seguindo as vibrações que a levariam ao centro, dobrou duas vezes à esquerda, duas à direita e seguiu em frente até a última bifurcação. Concentrou-se na energia ao seu redor e escolheu o caminho da esquerda, mas infelizmente algo a esperava ali.

— Aaah! – A criatura foi tão rápida que Ivy não teve tempo de desviar e foi arremessada em direção à parede novamente.

Olhou bem para o que a havia atacado e sentiu seu coração saltar mais forte. Era um demônio da terra, uma criatura feita de barro seco que possuía duas esferas azuis escuras como olhos e dentes do tamanho de garras. O demônio urrou e investiu para cima dela de novo.

...

— Não! – Kadi gritou ao ver o demônio investir para cima de Ivy de novo. — Ela não vai ter tempo de escapar! Rainha, Majestade, precisa parar! Ela vai morrer!

"Uma vez iniciado o desafio do labirinto, não poderá mais ser cancelado. Só vai acabar quando finalmente ela for derrotada ou se conseguir vencer."

— Eu não sabia que as fadas eram tão sanguinárias! Isso é quase tão cruel quanto as ações do Rei Antony!

"Não nos compare com seu rei idiota. Nós éramos criaturas totalmente amáveis até que o povo de Eville começou a nos capturar para usar nosso pó mágico."

— E por isso vocês vão descontar numa garota que está só tentando salvar toda a dimensão de Mistic Herz? – Kadi não havia notado o próprio desespero. Até o fogo que queimava seu peito já não o incomodava mais.

"Tenha paciência e preste atenção na luta, mas acima de tudo, confie na sua amiga."

O príncipe de fogo queria gritar e insultar a rainha até que os espinhos o matassem, mas sabia que não morreria por isso. A única maneira de matá-lo era com seu próprio poder. Apenas o fogo que ele controlava era capaz de tirar sua vida. Voltou a olhar para o lago, Ivy havia se soltado da parede e agora estava voando acima do monstro.

...

— Eu sinto que você não é o que parece ser. – Ivy estava desviando de cada ataque por questão de milímetros. — Pare de me atacar e me deixe ajudar.

O monstro apenas urrou e jogou outro jato de lama na direção dela. Justamente por causa desses jatos de lama foi que Ivy percebeu que aquela criatura não era mesmo um demônio da terra. Ele possuía água em seu corpo, então provavelmente era alguma criatura amaldiçoada.

— Certo. Você não me escuta, então terei que fazer diferente. – Voou até perto da cerca e começou a provocar a criatura. — Você não parece tão forte sem esses jatos de lama. Duvido que consiga me alcançar aqui!

O monstro bateu no próprio peito com os punhos cerrados e avançou na direção de Ivy como um touro. A garota esperou o momento certo, quando não haveria como ele desviar, e saiu da frente, fazendo com que ele ficasse preso na parede de plantas.

— Ótimo. Agora posso cuidar de você. – Ela sorriu e se aproximou com cuidado, pois a criatura ainda se debatia e urrava irritada. — Não se preocupe. Meus poderes com a magia branca existiam antes mesmo de eu ser transformada em fada.

Ivy esticou os braços em frente ao corpo, fez com que os galhos da parede prendessem o bicho e segurou seu rosto com as duas mãos. Encarou-o até que fizessem contato visual e então começou a recitar o feitiço de recuperação da alma.

Anima Maleditus

Corporis Carcere

Audi la lux

Et Sanaretur

Ao ouvir o feitiço que ela pronunciava, a criatura parou de se debater e começou a brilhar tão forte que Ivy foi obrigada a se afastar. Quando o brilho cessou, o que ela viu a deixou em choque: era uma mulher bonita com longos cabelos ruivos e asas de fada cintilantes e delicadas.

— Obrigada, querida. Você me libertou da maldição que me transformava em parte da árvore da vida. A Rainha das fadas e todo o meu reino devem um grande favor a você. — A mulher voou até ela e segurou suas mãos com um sorriso.

— Ah... Nossa! Isso é realmente maravilhoso! – Ivy sorria tanto que seu maxilar até doía. Então a criatura amaldiçoada era a rainha das fadas.

— Isso não quer dizer que seu teste acabou. Ainda precisa conquistar a chave. – A rainha bateu palmas duas vezes e desapareceu no ar, mas sua voz ainda ecoou novamente. — Chegue ao centro e acerte os ingredientes para liberar a chave.

...

Kadi estava surpreso, embora não quisesse admitir isso. A Rainha tinha razão. Se fosse ele no lugar de Ivy, talvez não tivesse passado nem do portão. Sabia que seu temperamento não era dos melhores e talvez, só talvez, Ivy fosse mais indicada que ele para esse teste. Lisandra fez bem em mandar os dois.

A rainha das fadas surgiu do lago em sua forma verdadeira e o príncipe não pôde deixar de notar o quanto era bonita. Ela ficou em pé na beira do lago observando o desempenho de Ivy sem nem se importar que ele ainda estivesse preso entre os espinhos.

Nesse exato momento ela já havia chegado ao centro do labirinto sem mais problemas. Havia uma mesa de madeira rústica repleta de objetos, plantas e potes esquisitos. Mais à frente estava um caldeirão dourado e atrás dele uma barreira de luz protegia a chave que Ivy deveria pegar.

Que tipo de desafio era aquele? Ela tinha que fazer uma sopa para liberar a barreira mágica que envolvia a chave? Isso era muito estúpido! Não conseguia acreditar que as fadas tinham feito um desafio final tão idiota e sem sentido.

Achou melhor ficar em silêncio e prestar atenção no que Ivy iria fazer, afinal, ela estava se saindo muito bem até agora.

...

Ivy estava começando a compreender o teste da rainha. O fato não era se ela sabia agir como uma fada, mas se conseguia controlar os três tipos de magia: branca, negra e verde. Por sorte ela havia aprendido a usar magia branca desde pequena, a magia negra aprendeu por necessidade e a magia verde parecia florescer dela naturalmente.

O teste com a parede de plantas era fruto da magia verde, o teste da quebra da maldição era por magia branca e agora o teste do caldeirão seria o de magia negra. Ela precisava fazer uma poção que pudesse usar para quebrar a barreira de luz que protegia a chave mágica.

Ela se aproximou da mesa e analisou os objetos e ingredientes presentes. Um sorriso ganhou seu rosto. Sabia exatamente o que fazer. Pegou três pedras de turmalina, um pote com pó de fada, três galhos de árvores ônix, um pouco de água comum, sangue de demônio e jogou tudo no caldeirão.

A mistura começou a borbulhar pela efervescência do sangue de demônio e logo a poção ficou pronta. Ivy pegou um pouco com um dos potes vazios e jogou em direção à barreira pronunciando o seguinte feitiço:

Loquien Aperiu Domen!

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