Cap. 21 - A Rainha das Fadas
Assim que saíram do portal, ambos tentaram dar alguns passos, mas estavam tontos e foram obrigados a se apoiar numa árvore próxima. Ivy sabia que precisava se recuperar logo para poder fazer o feitiço que os transformaria temporariamente em elfo e fada.
— Você está bem? – Ela se aproximou de Kadi, que estava um pouco pálido.
— Estou. Só não estou acostumado a viajar desta forma. – E colocou a mão na testa numa tentativa de se fazer a tontura parar.
— Vamos procurar um riacho ou algo do tipo. Beber um pouco de água fresca vai ajudar.
— Sim. Eu ia dizer isso agora mesmo. – E começou a caminhar mais rápido que ela para tomar a frente.
Ivy respirou fundo e contou até dez, pois não queria brigar com ele. Era só o começo da missão e não podiam ficar se desentendendo. Chegaram num pequeno riacho que corria por ali. A floresta ao redor deles estava quieta e fresquinha. As árvores eram em sua maioria do tipo que davam frutos comestíveis, o que era muita sorte.
— Essa água é segura. Podemos usar. – Kadi tirou a camisa e os sapatos que estava vestindo e entrou na água para se refrescar.
— Ótimo.
Ivy tentou ignorar a exibição de mergulho que ele estava fazendo e retirou algumas coisas que precisaria para fazer sua poção de transformação trabalhar junto com o feitiço. Assim durariam mais tempo.
Retirou um pouco da água do lago, acrescentou o pó de fada que Lisandra havia emprestado, adicionou alguns ingredientes mágicos que havia pego com a curandeira e misturou tudo. Estava sentada recitando algumas palavras mágicas quando levou um susto e quase derrubou tudo.
— Espero que a gente não tenha que beber isso. – Kadi disse logo acima dela, deixando seu cabelo molhado respingar sobre ela.
— Kadi!?! – Ivy agarrou o pequeno caldeirão antes que caísse e olhou feio para o príncipe. — Se fizer isso de novo, aí sim vou te fazer tomar até a última gota!
— Até parece. – Ele deu um risinho zombeteiro e sentou ao lado dela para esperar o corpo secar. — Vai precisar aquecer?
— Sim. Pode me... – Mas não conseguiu terminar de falar, Kadi já havia feito o fogo brotar em suas mãos e aquecia o caldeirão sem muito esforço. — Obrigada.
— Não precisa agradecer. Isso é para ajudar todo mundo, não só nós dois. – E deu de ombros.
— Já está bom.
Ivy deixou o caldeirão no chão e pediu para que ele se afastasse. Ela recitou o feitiço mexendo o caldeirão com magia. Quando a fumaça começou a subir, pediu a Kadi para que se aproximasse, fechasse os olhos e deixasse a fumaça ser absorvida por seu corpo. Assim que toda a fumaça se dissipou os dois já foram capazes de sentir a mudança.
Ivy como Fada
Kadi como Elfo
— Eu realmente não gosto do senso de moda das fadas. – Ivy resmungou, observando suas roupas.
Ela estava descalça, com um vestido extremamente curto e com o cabelo cheio de flores. Isso sem contar as asas super coloridas.
— Está reclamando de que? Meu cabelo foi cortado há pouco tempo e essa transformação fez ele crescer de novo! – Kadi resmungou enquanto mexia no próprio cabelo, mas isso durou pouco assim que ele notou a aparência de Ivy.
— Por que está me olhando assim? O que tem de errado comigo? – Ela sentiu o rosto corar e tudo que mais queria era encontrar um bom esconderijo para nunca mais sair de lá.
— Então... é assim que uma fada é? – E deu um sorrisinho malicioso. — Você está linda, Lady Ivy.
— É bom você se lembrar de ser educado! E não se esqueça também da história que Lisandra nos instruiu a contar! – Ela deu as costas para ele e começou a recolher as coisas que havia espalhado.
Então eles ouviram uma voz feminina cantarolando uma doce canção, uma brisa suave e perfumada ganhou suas narinas e ambos sentiram uma vontade inexplicável de ir atrás dessa criatura. Caminharam meio a esmo até encontrar algo como um grande espelho, cercado por uma vegetação densa e colorida.
Ivy foi a primeira a se aproximar do grande espelho e, ao tocá-lo, percebeu que era feito de água. Algo como uma força invisível a compelia a continuar, então seguiu em frente e adentrou o espelho de água. Kadi seguiu logo atrás. Quando finalmente entraram o portal desapareceu e ambos se livraram do transe.
— O que..?!? Que lugar é esse?
Ivy piscou algumas vezes e o cenário que viu era deslumbrante e surreal. Árvores coloridas, rios de águas brilhantes e casinhas parecidas com cogumelos, mas bem maiores.
— Esse lugar parece que saiu do sonho tosco de uma garotinha de cinco anos. – Kadi disse num tom monótono que fez com que recebesse uma cotovelada de Ivy.
— Cale a boca, Alteza. – Sussurrou ao perceber uma garota de cabelos cor de rosa se aproximar deles.
Ela tinha asas azuis e seu vestido era da mesma cor dos cabelos. Sua pele era perolada e não usava nada nos pés.
— Boa tarde, estranhos. Meu nome é Lirian. Apresentem-se!
— Ah! Eu... meu nome é Ivy, e este é meu elfo guardião, Kadi. Nós estamos em uma missão para salvar o reino onde vivemos.
— Qual o nome desse reino? – Lirian pareceu desconfiar da história dela.
— Eville. Precisamos chegar em Malibur e a única maneira é atravessando o sub-reino Farilyn. – Kadi falou por Ivy ao perceber que ela estava começando a se sentir nervosa.
— Silêncio, elfo! Você só pode falar se ela permitir! – Lirian lançou um olhar irritado a ele.
— Como assim...? – Kadi estava pronto para retrucar quando Ivy segurou seu braço com força e o obrigou a ficar quieto.
— Lirian, poderia nos deixar atravessar seu reino? – Ivy pediu num tom amigável, rezando mentalmente para que ela aceitasse.
— Primeiro vocês vão precisar falar com a rainha. Sigam-me! – E começou a voar rapidamente, sem esperar por eles.
— Ei! Espera! – Ivy testou suas asas de fada, mas voar era muito difícil, então preferiu correr ao lado de Kadi.
O reino das fadas era muito colorido e parecia tão pacífico, era exatamente como diziam nos livros que ela havia lido. Atravessaram uma ponte florida e foram levados até um castelo rodeado por trepadeiras, flores e plantas verdinhas. Era realmente magnífico e muito mais vivo que o castelo de Eville. O Rei Porco havia deixado a construção nojenta e sem graça, igual a ele.
Lirian guiou-os pelos corredores do castelo e em todo o percurso novas fadas apareciam para espioná-los. A maioria delas fixava o olhar em Kadi e davam risadinhas logo antes de saírem voando apressadamente. A fada que os guiava revirava os olhos cada vez que notava isso e voava ainda mais depressa na frente deles.
O interior do castelo era completamente decorado com as mais diversas flores, era construído, aparentemente, com mármore branco e as janelas não possuíam vidraçaria. Era muito bem iluminado e em alguns pontos era possível vislumbrar a formação de pequenos arco-íris.
— Ei! Ivy, não é? Por que não voa como eu? Você é ou não uma fada? – Lirian provocou.
— Estou com uma das asas machucadas, já tomei uma poção de cura e está melhorando, mas ainda não consigo voar.
— Isso é estranho. Suas asas parecem novinhas. – Lirian finalmente pousou, estavam de frente à uma enorme porta feita de galhos e plantas.
A fadinha esticou os braços e deixou sua magia fluir para que a porta se abrisse. Antes de entrar, ela deu uma última olhada nos dois estranhos e sorriu maldosa. Fadas odiavam mentiras... e esses dois estavam prestes a ser desmascarados.
O salão da rainha era todo coberto por vegetação, flores exóticas e um lago de águas brilhantes e cristalinas que completava bem o cenário. Bem no centro havia uma árvore grande e reluzente extremamente bonita. Assim que entraram no enorme, salão tiveram uma pequena surpresa: seus disfarces foram desfeitos. No mesmo instante ouviram uma voz feminina poderosa ecoar por todo o recinto.
"Vocês dois mentiram para nós. Fadas odeiam mentiras."
— Quem está falando?!? – A voz de Ivy saiu trêmula e lançou um olhar confuso a Lirian, mas esta havia sumido.
"Eu sou Flora, a Rainha das Fadas, e vocês não deveriam ter tentado nos enganar. Deveriam ter dito a verdade e apresentado suas verdadeiras formas."
— E vocês teriam nos deixado entrar? – Kadi perguntou num tom não muito educado.
"A garota poderia entrar sem problemas, mas você com certeza seria morto na entrada, homenzinho!"
— Majestade... nós sentimos muito por termos nos disfarçado, mas precisávamos passar pelo seu reino para chegar em Malibur. – Ivy explicou educadamente, tentando encobrir a falta de educação de Kadi.
— Onde você está, Majestade? Por que não aparece para podermos conversar cara a cara? – Kadi estava começando a ficar irritado, o que era muito ruim.
"Estou bem na frente de vocês."
— Na frente...? Espera! A Rainha é a árvore?
— Ela é muito bonita! – Ivy deu uma cotovelada em Kadi e tomou a frente para falar antes que ele estragasse tudo. — Majestade, nós estamos numa missão para salvar os três reinos e toda a dimensão mágica. O Rei Antony e Argus, seu feiticeiro, estão planejando tomar o controle de cada reino e sub-reino da dimensão.
"O Rei Antony já controla a maioria dos sub-reinos, por que se interessaria por mais? E eu o conheço, ele é ignorante e não tem poder suficiente para isso."
— Ele não tinha poder, agora tem. Argus arrumou um jeito de Antony controlar seu filho, o príncipe Aron, e ele é muito poderoso, pois domina os poderes do elemento gelo. – Ivy estava tentando falar com calma, mas estava com medo que a rainha não acreditasse.
"E o que vocês querem fazer em Malibur?"
— Nós vamos alertar o rei e pedir sua ajuda, depois iremos para Guênas para alertar a rainha sobre os planos de Antony. – Ela sabia que não podia deixar Kadi voltar a falar, então, a cada pergunta, se adiantava em responder.
"Deixarei vocês cruzaram meu reino... se passarem no teste."
— Teste? Que teste? Estamos com pressa! – Kadi empurrou Ivy de leve para o lado. Sua paciência havia acabado.
— Nós aceitamos! Vamos fazer o teste! – Ela se apressou em dizer e tapou a boca de Kadi com as mãos.
"Seu amiguinho é muito mal-educado e merece ser castigado. Você, menina, fará o teste sozinha, e se não passar quem vai sofrer é ele. Ele se tornará para sempre uma estátua de madeira no meu castelo e você será transformada numa fadinha minúscula e será presa em um dos nossos potes-prisão."
— Ela não pode ir sozinha! Ela precisa de mim! – Kadi se livrou das mãos de Ivy e protestou imediatamente.
— Kadi, eu posso me virar sozinha! Por favor, confie em mim. – Ivy sussurrou para que apenas ele ouvisse. — Eu já sobrevivi em Ariem, já lutei contra o exército do seu pai, já sobrevivi na prisão dos ladrões... ainda acha que sou fraca?
"Quem decidirá não é ele, feiticeira, é você. Aqui, os homens não têm voz ativa."
— Então existem fadas homens? – Ivy não conseguiu controlar sua curiosidade.
"Não, mas existem alguns elfos que deixamos viver aqui. Eles são úteis às vezes."
— Entendi. Eu aceito seu teste, Majestade. – E se afastou de Kadi para que pudesse enfrentar seja lá qual fosse o teste da rainha.
"Ótimo. Seu amiguinho ficará preso em uma jaula de espinhos, ou seja, se tentar sair irá se ferir."
As raízes da árvore começaram a brilhar e galhos cheios de espinhos cercaram o príncipe, impedindo que se movesse mais que dois passos. Ivy tentou chegar até ele, mas foi inútil.
— Você acha mesmo que isso vai me segurar? Eu controlo o fogo! – E assim fez com que labaredas aparecessem em cada centímetro dos galhos da cela.
— Kadi, não! Eu posso passar no teste! Confie em mim! – Ivy gritou alto o suficiente para que ele ouvisse. Seu coração doía por saber que ele não confiava nela.
"Você é um tolo se pensa que esse foguinho irá queimar meus galhos, garoto. Eu sou a árvore da vida, a rainha das fadas, não há fogo no mundo capaz de me queimar!"
Com isso, os espinhos cresceram ainda mais e se Kadi se movesse apenas mais um centímetro seria perfurado. Estava extremamente irritado e Ivy podia perceber isso por seu olhar, mas de alguma forma ele conseguiu se controlar e fez o fogo se apagar.
"Agora, vamos começar o teste da feiticeira. Você terá uma pequena surpresa, mocinha. Por ter nos enganado também será punida, então terá que passar pelo desafio em forma de fada e com poderes de fada."
— Ivy! – Kadi chamou ainda sem mexer. — Vê se não faz besteira e vence logo esse teste idiota!
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