– O governo deixou o Losgovik fugir e assim estamos numa merda – disse o oficial, Joel Sigma,  os punhos cerrados, enquanto a fúria lhe transbordava pelos poros. Ele olhou fixamente para o colega, como se esperasse uma reação tão furiosa quanto a sua.

– Temos que fazer algo o mais rápido possível – o outro respondeu, Zic Flova, cruzando os braços, com a expressão tranquila, quase indiferente.

– Diga-me, como consegues estar tão calmo numa merda como esta? – Joel Sigma deu um passo à frente, apertando a mandíbula, como se estivesse pronto para gritar.

Zic Flova deu de ombros e suspirou, lançando um olhar distante para o horizonte:

– Apenas anos de fracassos.

Joel estreitou os olhos, sem entender:

– Como assim anos de fracassos?

– Não é a primeira missão que o governo nos deixa falhar. – Zic falou em tom resignado, balançando a cabeça. – Isso já está uma normalidade e, como sempre, quem vai sofrer...

– O povo – completou Joel, com um suspiro pesado. Ele desviou o olhar, a raiva misturando-se com um amargo desespero.

– Exatamente – murmurou Zic, olhando para o chão com um olhar sombrio e cansado.

A plataforma gigante elevava-se imponente no meio da escuridão, uma estrutura colossal que mais parecia uma montanha saída de um pesadelo fantástico. De suas profundezas, surgiu uma brecha larga e reluzente, um corte na própria pedra, que se abriu com um estrondo abafado, liberando uma densa névoa metálica. Dela, emergiram soldados em formação precisa, como se a própria montanha estivesse dando vida a figuras sombrias e inabaláveis.

Seus uniformes, construídos com a mais avançada tecnologia de Moamba, reluziam sob as luzes vermelhas e sombrias que piscavam na plataforma.

Os capacetes eram mais que simples proteção, eram computadores que irradiavam uma luz fria sobre os rostos dos homens, com visores preenchidos por dados e mapas em tempo real, prontos para rastrear e enfrentar a criatura temida por todos o Losgovik.

Observando a formação se preparar, Joel Sigma e Zic Flova, veteranos de muitas batalhas e testemunhas de incontáveis falhas do governo, mantinham-se em silêncio. Ambos conheciam bem o peso da responsabilidade que carregavam, mas sabiam que desta vez, enfrentariam algo mais terrível do que qualquer coisa já vista.

O governo estava uma vez mais em crise, hesitante e paralisado, deixando os civis expostos à brutalidade de uma força que ninguém compreendia totalmente. A primeira invasão já havia sido um pesadelo - destruição, morte e caos que queimaram suas memórias como brasas na pele. Mas desta vez, havia algo mais sombrio e definitivo pairando no ar, uma sensação de que não estavam apenas lidando com o mesmo inimigo... mas com uma versão dele, evoluída, mais mortal.

A cada segundo de espera, a tensão aumentava. As pessoas, reduzidas a sombras sem nome na país devastada, eram brutalmente eliminadas, como folhas levadas pelo vento, numa sequência de mortes tão atrozes que nem os soldados mais endurecidos conseguiam suportar as lembranças.

Em sua lentidão fatal, o governo deixara a população à mercê do caos semanas de destruição em que corpos desfigurados surgiam nas ruas como símbolos de uma sanidade lentamente fragmentada. As histórias que circulavam entre os soldados falavam de cenas indescritíveis: rostos desfigurados, expressões congeladas de horror eterno, corpos que pareciam ter sido desintegrados de dentro para fora, numa violência tão incompreensível que apenas o Losgovik podia carregar.

Joel Sigma fechou os punhos, sentindo a fúria e o medo travarem uma batalha silenciosa dentro de si. "Seja lá o que essa coisa é agora... está além do nosso controle," ele pensou, lutando para manter o foco. Ao seu lado, Zic Flova inspirou fundo, cada respiração um esforço para suprimir o tremor involuntário que lhe percorria o corpo.

Eles haviam perdido a conta das vezes em que se colocaram na linha de frente para defender Moamba. Mas desta vez, o horror parecia ter se materializado em algo palpável, um monstro que não só desafiava a razão, mas que estava pronto para aniquilar tudo - sem piedade e sem hesitação.

A plataforma pulsava, como se fosse um ser vivo. O silêncio pesado foi interrompido pelo som de um alarme agudo, e uma voz fria ecoou nos capacetes dos soldados: "Preparem-se para o confronto. Losgovik foi detectado a 600 metros e se aproxima rapidamente."

Joel olhou para Zic, e ambos sentiram, sem precisar de palavras, que talvez aquela fosse sua última missão.