Capítulo Único
“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” - Albert Einstein.
Louis Tomlinson caiu com o corpo inteiramente esticado ao chão e sentiu o ar ser expulso de seus pulmões bruscamente. A raiva o fez rugir e socar a terra úmida que encharcava suas roupas ao mesmo tempo que buscava o ar – depois de tantas vezes caindo da mesma forma, já deveria estar preparado.
Assim que pôde respirar, balançou para se levantar e passou a correr para fora do parque. Era noite, mas lembrou de evitar a raiz alta em que já tropeçara algumas vezes. Chegou na rua principal ao lado do parque e parou alguns instantes, passando a mão pelo cabelo: o que ainda não tentara? O vento frio de dezembro o fez tremer.
Três minutos: era tudo que tinha até o ponto de impacto e, em seguida, o tempo virava de novo. Estava exausto depois que reviver aqueles três minutos por mais de uma dezena de vezes – não conseguia chegar no ponto de impacto a tempo, e então estava caindo novamente, a terra úmida do parque sob si em instantes. Poderia ficar preso naquilo para sempre, naquele looping infernal, mas não se arrependia de ter aceitado fazer parte da experiência de voltar no tempo: ganhara a chance de salvar o garoto que amava, Harry Styles.
Observou a rua. Naquele ponto, já tentara chamar um táxi, ligar para Harry, correr, roubar o carro estacionado na esquina – nada funcionara. O acidente que colocaria o garoto que amava em coma continuava a acontecer. Olhou o relógio e um minuto já havia se esgotado. Tentaria correr novamente, desta vez cortando pelos jardins privados, sem se importar com as possíveis consequências.
Acelerou, cruzando a rua e saltando sobre a baixa cerca da primeira casa. Atravessou o jardim e pulou sobre a próxima cerca – sendo perseguido por um cachorro até consegui passar pelo estreito portão e sair na rua. Passara um quarteirão dos seis que separavam o parque da casa de Niall Horan, onde o ponto de impacto acontecia.
Seus pulmões queimavam brutalmente, exaustos de tanto bombearem oxigênio pelo corpo de Louis. Em alguma das vezes que voltara no tempo, Louis havia gastado seus três minutos jogado ao chão, respirando profundamente para então cair novamente, no mesmo lugar, e recomeçar sua tentativa de salvar Harry. Não podia se dar ao luxo de parar naquele momento: passar pelos jardins alheios, mesmo com certa dificuldade, estava se mostrando proveitoso.
Lancaster era uma pequena e segura cidade universitária, então a maioria das casas tinham cercas baixas, quando não feitas apenas por arbustos e plantas trepadeiras. Quando passou o quarto quarteirão, Louis agradeceu silenciosamente por viverem em um lugar tranquilo – em nenhuma de suas tentativas chegara tão longe em tão pouco tempo. Faltando um quarteirão, começou a ouvir os barulhos vindos da casa de Niall e aquilo fez a adrenalina correr por seu corpo.
E então seu relógio apitou.
- Merda! – Grunhiu.
Estava em queda livre. Durava apenas dois segundos, porém a sensação de ter seu estômago revirado sempre acontecia quando via o chão se aproximando. Caiu com o corpo esticado no solo úmido do parque e seus pulmões se esvaziaram de ar – quando pôde respirar novamente, sorriu. Finalmente conseguira encontrar o meio de chegar até Harry antes que os três minutos se esgotassem.
Ergueu-se e correu para fora do parque, fazendo o mesmo trajeto que antes. O vento frio congelava seus ossos, mas gargalhou ao conseguir evitar o cachorro que o perseguira anteriormente – para, logo em seguida, saltar sobre uma cerca e seu tênis ficar preso. Grunhiu, tentando se soltar, e o relógio apitou.
A adrenalina corria por seu corpo e se obrigou a amortecer melhor sua queda no parque usando as pernas, recomeçando a correr de imediato. Evitou o barulhento cachorro e saltou mais alto sobre a cerca, porém não notara um maldito duende de jardim no escuro. Tropeçou nele e caiu em um arbusto. Preso entre as plantas, seu relógio apitou.
Na quarta vez, sentia que morreria se continuasse correndo. Seus músculos ardiam, o corpo estava encharcado de suor, mal sentia quando respirava. Porém, lembrou-se da imagem de Harry sobre a cama de hospital, preso no coma por meses, tão parado que era possível se questionar se ainda estava vivo, e isso motivou Louis a seguir em frente.
Chorava de dor, amor e alívio quando viu a casa de Niall Horan surgir diante de si. Dezenas de adolescentes estavam espalhados pelo jardim, bebendo e dançando enquanto aguardavam a contagem regressiva para o Ano Novo. Louis viu o Louis do passado tirando duas cervejas de um cooler e revirou os olhos: o Harry do passado esperava tranquilamente o outro Louis, sozinho e tirando fotos dos outros – daquele jeitinho mágico de ver o mundo que o tornava especial.
Louis rugiu, adentrando a multidão correndo e esbarrando nas pessoas. 15 segundos para o ponto de impacto.
- Vamos lá, pessoal! – Niall Horan gritou, erguendo sua cerveja no ar. – 10, 9, 8...
Louis chegou em Harry enquanto a multidão gritava “cinco”. Chocou-se violentamente com o garoto que amava e os dois foram ao chão em um movimento bruto, rolando agarrados sobre grama úmida.
- Mas que porra, Lou!
No entanto, Louis apenas chorava. Segurou o rosto de Harry entre suas mãos e beijou-o, pressionando seus lábios nos dele de maneira desleixada, a respiração ofegante impedindo que realmente o beijasse como queria.
Foi nesse momento que o mundo explodiu em gritos animados, aclamando a chegada de 2020. Os primeiros fogos de artifício bombearam o céu, banhando-os de luz colorida. 2 segundos para o ponto de impacto.
Louis e Harry ainda estavam jogados ao chão, abraçados e beijando-se, quando um dos foguetes – disparado por algum imbecil bêbado – passou voando baixo entre as pessoas e explodiu nos arbustos da casa da frente a de Niall. Aquele foguete que tantas vezes acertava o belo e distraído Harry Styles na cabeça, rachando o osso do crânio e colocando-o em coma, agora queimava apenas plantas.
As pessoas exclamavam em choque quando o relógio de Louis apitou e ele caiu. Desta vez, foi rodeado por luzes de milhares de cores e continuou caindo por muito mais que apenas dois segundos. O ar batia fortemente sobre seu rosto e sorriu, as lágrimas sendo levadas embora: conseguira. Depois de tantas idas e vindas, o choro de amor e alívio faziam Louis tremer enquanto caía.
O passado tinha mudado. E então, o que aconteceria? Voltaria para o futuro, um novo futuro? Ou isso cabia ao Louis do passado, sendo ele aquele que tomaria seu lugar no futuro? Iria para outro universo ou permaneceria no mesmo? Cairia ali para sempre? As perguntas reviraram mais seu estômago que o fato de estar em queda livre. Seu relógio não voltara a cronometrar os três minutos: o visor digital estava desligado, sem vida.
- Lou... – Ouviu um sussurro, mas poderia apostar que era apenas sua imaginação desejando ouvir a voz rouca de Harry.
E, quando desmaiou de exaustão, Louis ainda caia no túnel do tempo.
Fim
[1172 palavras]
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