Liebe Blumenau - Parte II

Castelinho da antiga Loja Moellmann de Blumenau, na Rua XV de Novembro. (hoje é outra loja)


— Olha, filha. Paulinho fez escova, depilei o buço e as pernas, axilas, virilha e fiz a sobrancelha.

— E a unha, não fez? — Tem dia que tenho vontade de dar na cara da minha irmã. Coisa de irmãos. Ela é a mais nova e sempre tentou chamar a atenção com um ou outro problema de saúde, conseguindo assim tudo o que quer.

— Faça você, dei um trato na mãe e só ficou faltando unha. Você faz.

— Só? Nem pintou o cabelo dela?

— Vá tomar no seu cu.

— Vai tu que gosta de dar.

— Ei, olha que eu não criei vocês assim. Fico chateado quando meus filhos brigam. Pensa só... vocês são irmãos, tem coisa mais legal que ter um irmão? — Meu pai apela para o drama.

— O senhor e o tio Genésio só faltam se socar...

— Não Pietra, gosto do maninho. Sinto vontade de "bulachar" a cara dele, mas de tanto amor.

— Igual a mim e a Pietra. Amo essa desgraça com vontade de afogar ela na água da privada.

Família! Amo a minha família e até as brigas. Aliás, amigos é nossa segunda família, tipo a Brenda. Folgada e estranha que só ela. A culpa é toda dela que não quis o bofe, hoje é só meu.

Segunda-feira é um dia daqueles! Eu em particular gosto muito, porque tem pouco movimento na loja pela manhã e a fofoca do final de semana está fresca. É inacreditável a quantidade de detalhe e a qualidade que têm quando se juntam três ou quatro amigos no balcão da lojinha. Vem o Artur que trabalha a tarde na Prefeitura, Tesla (Deus me livre e guarde desse nome) que é filha do dono da padaria que fica na sala em anexo ao comércio onde trabalho, Brenda e eu. Eu não saí, final de mês não dá ânimo, não há grana e nem coragem, Artur fez e aconteceu, Tesla tá chata, arrumou uma namorada e Brenda reclamou que o grandão ficou secando ela a noite toda, tá perseguindo, foi bloqueado no face, está sendo ignorado no telefone e todas as possíveis dicas de que ela não tá afim.

Terça-feira... só pra constar, não vou contar o que acontece em cada dia, mas aconteceu que na terça, o boy da Brenda veio na loja outra vez.

— Ué... Você não ia visitar a família?

— Ia, mas atrasou o voo e eu remarquei para a próxima sexta. Você caiu na farra só porque achou que eu não ia estar por aí, né?

— Leopoldo... eu não namoro contigo. Não tenho interesse em compromisso. Mulher odeia que pegue no pé. Não tô afim de você. Por favor, não insista que tá me enchendo o saco.

Nossa! Isso que é um bafão! Coitado do bofe! Bem feito ao mesmo tempo, porque ninguém mandou ficar marcando território. Ela disse que não tava interessada e ele insistiu. Fico com pena porque ele fica todo sem graça. 

*

Passa um tempinho...

E eu só posso ficar bem caladinho e evitando o contato visual com ele, pois esse Fritz me deixa molhadinho e comido de inveja da Brenda. VACA. PUTA. Como pode ser tão burra? O homem só quer uma namorada. Espera. Porque ele perseguiu ela? Será que ele era um criminoso lá no estado dele? Espero ele ir embora e pergunto isso para minha amiga.

— Não, claro que não, Paulinho. Ele é até meio quadrado. Morava com pai, mãe, irmãos, vó, vô e uma penca de primos e sobrinhos.

— Nossa. Tudo junto?

— Pelo que ele comentou, sim. Mas nem morta que ia com ele. Nem conheço direito, ah que suma de uma vez. Se aparecer outra vez, vou ameaçar de registrar queixa e só quero ver se vai continuar insistindo. Só comigo que isso acontece.

— Só mesmo. Eu queria tanto que fosse comigo... — Essa praga não sabe o que é estar solteiro e carente de um macho alemão, fofo de sobrepeso, braço peludo, usa perfume gostoso e tá cheio de amor pra dar.

— Pega pra você.

— Hum? Fico louca? Agora eu tô pegando sobra? — Bem que eu queria aquela "sobra" de olhos claros, nunca que admito, mas confesso, cá entre nós, apaixonei-me toda. —Que perfume que ele usa?

— Faço nem ideia.

— Ah oi, desculpe. — Gente chegou aquele cliente do babado. Gato negrão lindo que só compra comigo. Ai, esse macho de black power. Gente, por quê? Porque um homem que tem essa cor de pele e esse penteado, tem que ser casado? Eu precisava tanto dessa pele de chocolate esfregando na minha. Mas não devo cobiçar, lembrando, o macho tem dona ou dono.

Moro há poucas quadras do trabalho, graças a Pati, minha mana que trabalha na Receita Federal e é lógico que vou a pé. Aí de repente, tomo um baita dum susto quando um alemão me ataca na rua.

— Oi colega da Brenda. Tá indo pra que lado?

— AHH! Que susto! Você é o Leo, né? Olha, não adianta me abordar pra perguntar da minha amiga, moro aqui ó, nesse predinho, não preciso de carona. 

— Tudo bem, não é pela carona e nem pela Brenda. Posso te pagar uma Coca? Uma coxinha?

— Tô sem fome, não bebo coca e nem como fritura, ai... mas uma coxinha eu amo.

— Um suco?

— Ali ó. — Aponto uma padaria que tem perto de onde moro e ele estaciona. Tomo outro susto quando ele se aproxima, parecendo que vai me fazer alguma coisa bem ali mesmo. Queria muito!!!! — Espera lá que vou subir e trocar de roupa, tô todinho suado, menino.

— Ah, espero onde?

— Lá. — EU que não ia convidar esse macho pra subir no apê da Patrícia, depois nem o conheço. Afinal, espelho meu, diga-me: porque eu aceitei o seu convite? Deve ser desespero. Tenho medo dele. Só um pouco. Se bem que amo o perigo. Não, não amo. Só gosto muito.

Mulheres de Deus. Eu fiquei excitado na presença do bofe e não era coisa daquele momento, era coisa daquela primeira vista quando ele chegou com flores pra Brenda. Como eu imaginei que tudo era só uma brincadeira de hétero e que ele talvez tivesse desaparecido quando eu descesse, tratei de demorar.

Subi de escada o prédio de sete andares, tomei um suco, tomei banho, passei creme, me vesti muiiiiito devagar, depois de escolher entre umas dez roupas aquela que ficasse mais perfeita e confortável, olhei pela janela, escovei o dente, liguei pra mãe, esperei a Pati chegar e contei pra ela tudo o que o cara disse, "esqueci" que tinha combinado com ele de comer uma coxinha com suco na padaria... Imaginei que ele já tinha ido embora, se casado e esperava a filha mais velha para caminhar com a moça até o altar e entrega-la ao genro.

— Pati, vou ali na padaria e trago os pães pro café. Já passaram quase duas horas e o boy já deve ter se "pirulitado".

Caminhando alegremente, atravesso a avenida às oito e meia da noite (a padoca fecha às nove). Peço meus pãezinhos, olho em volta e como não enxergo ninguém que tenha um e noventa de altura, loiro de barba, cara corada e antebraço peludo, então peço:

— Me dá uma coca, por favor.

— Achei que não bebia coca.

— AHHHHHH viado! — Gente, é só no susto com esse cara? Ele é um maníaco agora ficou claro o porquê da Brenda ter medo dele. Ficou me esperando por quase duas horas! — Tá, a coca não é pra mim (aham). Tá fazendo o que aqui?

— Esperando, oras. Esperei um cara que disse que já voltava.

— E porque ficou me esperando?

— Porque, eu quero falar com você.

— Olha querido, é o seguinte, não gosto de macho curioso que só chega quando quer esse corpinho aqui. Eu percebi seus olhares aqui em algumas partes do meu corpo, não e não.

— Não entendi nada do que você disse.

Eu dei um espetáculo na frente de um montão de pessoas que ficaram olhando como se eu fosse uma bicha louca, que fica discutindo com um cara na fila do pão.

— Quer o que comigo? Eu disse que se fosse falar da Brenda não era pra me parar, aí falou pra eu te encontrar aqui, eu não vim. Não vim por sua causa.

— Tá na minha frente.

— Eu sei, mas não é por sua causa. Eu vou embora e você, não me siga.

— É doido...

— Não mesmo, você que é.

Eu juro que se eu não fosse refinado, eu sentava a mão na cara daquele tarado. Se faz de bobo, olha se eu posso com isso. Ainda bem que a Brenda deu uma cortada. Pior que esse louco me chamou de doido.

Pago o pão no caixa e saio quase correndo da padaria, só pra não dar chance desse cara me seguir, mas ele corre também e faz: psssiuuu... O que ele quer? Eu não posso ficar na frente dele que minhas pernas não me obedecem. Ficam moles igual a uma gelatina, minha boca seca e eu fico "ensopada".

— Ei amigo da Brenda, espera, qual é o seu nome?

— Paulíssimo!

— Sério que teu nome é assim?

— Claro que não, menino. Posso ser bem direto? Olha, vou ser direto. A Brenda não tava lá, muito afim e não adianta me perseguir. Eu sinceramente não quero te prejudicar, mas sou capaz de chamar a polícia ou fazer um escândalo se você fizer alguma coisa comigo.

— Não precisa de nada disso. Sou um cara de respeito. — Ele tá debochando ou é impressão? — Eu não sou bobo, percebi que você me olha diferente.

— AHHH! Isso não se faz, não se joga na cara de uma pessoal algo assim, moço do sul. — Quem diz que não gritei e chamei a atenção do povão que tava passando, é porque não me conhece!

— Leo, Leopoldo. É Paulo né, seu nome?

— Olha, vou ser cá direto de novo: você é um cara desajeitado.

— Bastante. — Que olhos! Tô úmida, molhada mesmo. Ele quando ri, faz uma "ruguinha" no cantinho dos olhos azuis, mãe Benta! Ah mas olhando com atenção, Leo é gato, dá uma refeição completa e sobremesa! 

Naqueles segundos que fico olhando todos esses detalhes, me parecem aquelas cenas em câmera lenta, ali, eu capto uma reciprocidade. 

...

Continua... já já...

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