Mar Vermelho

 Puta que pariu, onde já se viu

Uma mona assim?! Só fala merda.

 Você tá certa.

— Sim, esse machismo todo mundo já ouviu

Mas não com tanta cara de pau!

— Ela é alienada, afinal.

— Todo dia convivo com quem assedia

Não importa que roupa eu vista

Quando eu vejo a mona defendendo homem assim

Dá vontade de matar! Ah! Enfim

O recreio vai acabar e preciso estudar

Um beijo.

— Até. Te deixo.


— Ei, ei! Tem uma música que você precisa escutar

— Então você precisa me mostrar.

— É bem especial para mim...

— Hum! Dá para entender o porquê, sim.


— Ah, faça o favor!

— De novo não amor...

— Olha o que eles fazem com a gente!

Para crimes assim, pena de morte urgente

Você não entende!

— Isso é verdade. Sei que essa gente deve ser odiada

Mas discordo. O Estado matar não revolve nada.

— Pensei que você fosse diferente!


— Você parece com esse cachorro.

— Era para ser um elogio?

— Ué? Só te chamei de fofo.

— Aí fico sem jeito. Você seria... um dragão.

— Isso não é bem fofo.

— Mas você gosta deles. É esse o ponto, não?

— Hum! Dessa vez você se safou.


—Qual é o sentido disso tudo?

— Vamos descobrir isso juntos.

— Assim parece mais bonito o futuro:

Adormecendo lado a lado eu e você

Enquanto assistimos tevê

Você vai conhecer minhas cachorras

E vamos passear pela cidade.

Quem sabe viajar!

—Seria um sonho...

— Raimundo, você é um sonho.


— Ah, Helena, não chora.

Eu sei que eu vou sair da escola

Mas a gente ainda se fala pelo celular.

Te amo.


— Feliz aniversário!

— Obrigado.

É uma pena estar de viagem

Eu só fico com saudade.

— ...

Mas a gente se viu uns dias antes!

— E para você é o bastante?

— Nem se preocupe. Não vou te esquecer.


— Bom dia, flor da aurora!

...

...

...

— Oi.

— Acordou agora, foi?

— Faz um tempo já.

— Sonhou com alguma coisa?

— Sonhei.


— Amor, tô com saudade...

— Faz parte.


— Tem alguma coisa acontecendo entre a gente?

Você anda tão diferente ultimamente!

— É? Sei lá.

... Acho melhor a gente dar um tempo.

— Ah. Então prefiro que a gente termine...


— Eia.

— Bom dia.

— Você continua linda.

— Obrigada.


Um tímido trocar de olhares

Sem palavras e atitudes sagazes.


E então até olhar foi esquecido.

Assim viramos desconhecidos.


No meio do Mar Vermelho, surge o azul.

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