Cante uma Canção

Uma ideia então vem à mente:

Algo que várias vezes ajuda é pôr música

Para dormir. Não importa se lo-fi,

Ou uma música ambiente rústica,

Só não quero sentir mais o peso que o dia faz.

E dito e feito. Opto pelo bom e velho som de chuva

Por uma hora, para deixar a mente escura,

O corpo inerte, os devaneios contidos.


Mas então, a lembrança dos ruídos externos fascinantes

Dentro do lo-fi e suas batidas relaxantes

Instiga dona mente a recordar suas músicas preferidas.

Primeiro, vêm riffs de guitarra, viradas de bateria

Notas de piano que lhe dão alegria

Pela sua beleza que parece ter vindo de eras mais coloridas.

Pouco a pouco, as vozes dos vocalistas e fragmentos

De letras se elevaram, suas críticas e seus lamentos.


Penso que minha consciência se cansaria

Ao focar em um tópico que a aliviaria.

Ora, amo música. Só não toco 

Por pura falta de talento.

Mas subestimei demais esse amor.

A adrenalina sobe o pescoço,

Quero me mexer, extravasar essa dor,

Mas NÃO! Preciso me acalmar, tolerar a inércia!


A minha vontade?

De verdade, ligar o celular, pôr o fone,

Me deixar enfeitiçar. Só que se me levantasse

E ficasse a imaginar shows, talvez o sono 

nunca mais viesse! Dito e feito:

Quando me empolgo com algo,

Sou incapaz de me controlar

E um fluxo de vários pensamentos

Me inundam até eu me afogar.


O que sai de mim vem do prazer

De querer sentir o que não posso ter.

Primeiro, surge o amor.

Me dilacero, não há para onde correr

Fico esperando por qualquer um que seja,

Na lanterna dos afogados.

Distribuo meus doces...

Ninguém me ouve.


Corra, coelho, corra,

Cave aquele buraco, esqueça do sol.

Talvez devesse me dedicar a trabalhar em prol

De mim mesmo. Fugir de toda essa zorra.

Talvez esse seja o ponto da vida moderna:

Entrar de cabeça no seu mundo até não poder mais

Erguendo muros contra aquilo que não te satisfaz.


Você ouve dos pássaros da noite o chamado

Mas você não pode tocar o céu agitado.

Estou tão preso em mim mesmo

Que afasto o que acho belo com desprezo.

Não tento mais entender o que os pássaros dizem,

Já tive essa esperança antes das crises.


Deveríamos gritar, deveríamos berrar?

O que aconteceu com o sonho pós-guerra?

Que sonho? A nós Periféricos nunca foi permitido nada!

Meros rapazes latino-americanos, sem as riquezas da terra.


Mãe, você acha que eles vão gostar da canção?

Sempre procuro um apoio, aceitação,

Porém por vezes me canso de tanta proteção.


É uma sensação estranha, a de que eu já vi de tudo

Sendo um jovem que mal chegou ao mundo.

Vejo que sofremos os amores como nossos pais;

Estudamos, sonhamos o futuro como nossos pais;

buscamos pela autonomia como nossos pais;

Nos agarramos a canções como nossos pais.

Nossas vidas parecem ser as mesmas

Mesmo com um claro hiato temporal nas testas

São idênticas as amizades, diversões, festas!


Mas não quero mais me deprimir esta noite.

Dormir. Dormir. Dormir. É disso que mais preciso.

Nem sei mais quanto tempo se passou,

O som de chuva ainda preenche o recinto.


Finalmente, uma canção sem tristezas, minha mente desperta.

Júpiter, Saturno, Oberon, Miranda e Titânia

Netuno, Titã, as estrelas assustam.

Sim! Amo as estrelas e venero os planetas e os corpos.

Preciso de espaço. Fantasiar é como voltar à velha infância...

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