XVIII. O ômega entendendo tudo

Capítulo 18 - O ômega entendendo tudo

➼ Pode aparecer uns gatilhos de relacionamento abusivo.

➼ Boa leitura!

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Eu não demoro a recuperar meus sentidos. Abro os olhos devagar, sentindo meu interior incomodado, agoniado, nauseado.

A primeira coisa que noto é quem está me embalando em seus braços: meu irmão. Ao lado dele está Yoongi, sendo aparado por Diana, abalado, porém não tanto quanto eu. 

Automaticamente procuro por Jimin, para constatar se ele está bem. Ele ainda está transformado em um enorme lobo de pelagem branca e olhos dourados. Parecia bem. Queria me sentir aliviado mas não consegui. Eu ainda sentia medo transbordando dos meus poros devido ao susto e estou acuado pelos rosnados. 

Hana está do outro lado, a pelagem da mesma cor que a dele e os mesmos olhos dourados de alfa, porém eles estavam bem mais animalescos.

No meio deles se encontra o lobo gigante que pulou sobre mim. Sua pelagem é avermelhada, vibrante, como seus olhos intimidantes e pose autoritária. Nenhum dos três parecia ceder para voltar às duas pernas.

Quando Jimin de fato tira o olhar de Hana, percebendo o lobo ali no meio que até então viu de relance, dá alguns passos para trás. Quem é que seja, tem autoridade sobre os irmãos e o deixa afetado. 

Percebendo isso, o avermelhado pisa duro em direção a alfa que grunhe, como se fosse obrigada a afastar mas não concordando. Então se volta ao outro que não parece querer proximidade. 

O lobo desconhecido para, aos poucos se destransformando e não tem brilhos, nem magia, é bizarro. Rápido, porém, muito estranho. Ainda mais pra mim que nunca vi ninguém fazendo isso. 

É um alfa de cabelo loiro natural, é a primeira coisa que noto pois ele mexe nele para poder ajeitar em uma espécie de topete agora bagunçado. Ele não é muito alto porque é um lúpus. Por isso é bem mais intimidante que os outros e tem certo poder sobre eles. É branquelo, tem porte não muito musculoso. Os olhos são azuis, o nariz proporcional, lábios de um desenho bonito. Ele sorri de forma que o deixa com um ar misterioso.

Se aproxima do lobo branco que se encolhe. Cada cantinho de mim pisca em alerta. Mesmo que eu não possa contra um lúpus, eu sinto vontade de me meter entre eles. Notando tal fato, Joshua me aperta para que eu fique quieto. Como estou com o olhar fixo neles, é de relance que vejo Yoongi junto de Diana dispersando os curiosos.

— Por que está na defensiva? — a voz máscula soa bem, é até melodiosa. — Eu acabo de te ajudar. 

Jimin bufa, se destransformando. 

— Eu não pedi sua ajuda. — é a primeira coisa que diz ao ficar cara a cara com o rapaz, quase rosnando.

— Mas parecia precisar. Se não fosse por mim, vocês teriam se ferido e ninguém queria isso, não é?

— Eu não preciso que você venha até mim bancar o macho líder, exibir essa sua pose de superioridade desprezível e fingir que se importa. — disse entredentes, provavelmente tentando se agarrar ao último fiapo de racionalidade para não voltar a descontrolar.

— Pelo o que lembro, você gostava que te salvassem. 

Como é que é?!

— Agora a única coisa que gosto é de ter distância de você. — rebate.

— Wou. Não precisa ser agressivo. Eu mudei, está bem? E é melhor acostumar com a minha presença porque ainda vai me ver muito. Eu entrei pra família. 

— O que? — sua expressão fica incrédula.

— Hana não contou? Estamos juntos. — os olhos de Jimin brilham em pura indignação. 

— Ela... Você… — perde a fala por um momento. — Parabéns! Afinal, vocês perturbados se merecem. 

— Eu realmente mud-

— Eu já ouvi isso um milhão de vezes. 

— Dessa vez é sério. Eu quero consertar as coisas entre nós. E ajudar você e Hana a se acertarem. Vou conversar com ela sobre hoje. Não foi legal o que houve. Até porque se ela está comigo, você pode muito bem estar com o ex dela. — então esse é um ex de Jimin? Pelo o que dá pra notar não foi um relacionamento bom.

— Faz o que você quiser. Só não ouse se meter na minha vida de novo. Nem na vida de quem eu amo. — passa por ele trombando seus ombros, vindo até nós. 

Joshua me solta, Yoongi oferece uma toalha que deve ter tirado de alguma mesa pois o terno maravilhoso de Jimin se despedaçou quando se transformou e ele aceita, cobrindo a cintura. 

— Eu trouxe uma roupa reserva. Vou pegar. — informa Diana, se retirando.

— Jungkook... — fala baixinho, aproximando sem jeito.

— Shhh. — peço, o abraçando, ele apoia a cabeça no meu ombro. 

A namorada do meu irmão não demora a trazer uma muda de roupa social. Jimin se veste, desculpa com Joshua por estragar a festa mas ele diz que ainda temos muitas horas pela frente para recuperar a diversão. No entanto, o loirinho prefere ir embora e eu vou junto após um toque de Yoongi que ele ia precisar de ser confortado.

Park deixa o carro para o ômega levar depois pois não se sente bem para dirigir e eu não sei. Pegamos um táxi. Lá dentro eu seguro sua mão. Nós não falamos nada durante o caminho. Ele pede para parar na sua árvore, no parque onde fizemos piquenique há um tempo.

Nos sentamos, olhando o céu estrelado de uma noite iluminada e estranha devido a desavença de alguns minutos. Eu espero ele estar pronto para dizer. E se preferir ficar em silêncio, por mim tudo bem. Só espero vê-lo bem de novo.

— Eu não disse tudo quando te contei das minhas paixões passadas. 

— Foi um bom resumo. — o que eu queria dizer era que não precisava me dizer agora se não estiver se sentindo pronto. 

— Aquele alfa... Eu me submeti a coisas das quais não orgulho e não queria lembrar, mas aqui está o passado sendo jogado na minha cara. — ri, sem humor. — O que aconteceu foi que eu estava em um dos momentos mais vulneráveis, tinha me decepcionado por perder a paixão que cultivei durante dois anos, estava em outro país, com costumes diferentes e pessoas desconhecidas. Eu me sentia sozinho e detestava essa sensação, mas era alguém um tanto tímido para iniciar amizades. Um dos alfas do meu curso, o Anthony, me via como antipático por andar sempre sério e começou a implicar comigo. Ele chegou a tentar uma briga. Henry, sobrinho da dançarina que treinava a gente e estava sempre por perto, interferiu, me defendeu, foi tão bonzinho... — mais uma risada. — Ele aproveitou que eu estava frágil para me envolver. No início, mil maravilhas. Eu estava no céu. Nunca tinha namorado antes e ele era bom demais pra ser verdade. Então começaram os avisos de que ele não era tudo o que eu dizia. Até o rapaz que tretou comigo tentou me alertar. Mas eu não ouvi ninguém porque estava caidinho pelo príncipe encantado que aparentemente estava sempre ao meu redor, me salvando. — balança a cabeça.

— Está confortável para contar? — preocupado toco sua mão, ele a segura e leva aos lábios, dando um beijinho.

— Nunca contei tudo para ninguém por vergonha de ter me submetido a tudo o que aconteceu, só Yoongi sabe e os pais dele porque presenciaram. Eu quero que você saiba.

Ele está confiando em mim. Por isso, lhe ofereci um pequeno sorriso.

— Fofo. — me dá um selar. — Enfim, Henry começou a ser grudento do tipo sufocante, a dizer que não achava legal que eu saísse com desconhecidos, que eu não devia ficar próximo dos colegas de curso porque estavam de complô com o rapaz que não ia com a minha cara. Ele sabia manipular bem e colocar minhocas na minha cabeça. A verdade é que não me queria perto de ninguém por medo de eu descobrir seus podres. Ele era um traidor do caralho. É claro que eu descobri. Mas ele sabia dar voltas no assunto até que eu saísse como o culpado. — Jimin estava segurando as lágrimas, isso era ruim. — Também queria que eu largasse tudo e fosse para os Estados Unidos morar na casa dele. Construir uma família é um sonho, só que eu não sentia que devia ser com ele. E, bem, Henry insistia que esse era o "nosso" sonho. Ele me fazia acatar suas vontades usando isso, de tudo ser "nosso" desejo. — nega. — Depois de cansar de ser otário, várias vezes eu paguei na mesma moeda, eu fui imaturo, eu fiz joguinhos, o traí. Por isso começamos a brigar, a se machucar fisicamente, porém, como lúpus ele fazia um grande estrago em mim. No dia que deixei de me apresentar em um evento por isso, eu vi que não dava para continuar assim. Estava a ponto de estragar meu futuro por conta de um babaca e isso eu não quis aceitar. Só que ele sempre chorava, prometia mudar e eu com dó dele, esquecendo de mim, caia em seu teatro. 

Eu me sinto tão mal por saber que ele passou por isso. Meu peito dói. Eu quero chorar. 

— Essa situação só acabou quando eu não estava suportando mais. Quis voltar para casa, simplesmente desistir... Henry me fez parar no hospital ao descobrir meus planos de deixar New York. Yoongi tinha me ligado, estava desabafando com ele por vídeo chamada e eu consegui esconder o celular... Ele filmou boa parte da agressão. Não disse nada aos meus pais para que não se desesperassem, mas foi com meus tios para lá. Eles interferiram, só na base da ameaça para o filho da puta me deixar em paz. Quando Yoongi me mostrou a filmagem, eu senti algo tão ruim... Não consegui acreditar que era eu, deixando aquele nojento me fazer de saco de pancada e me dizer coisas horríveis... Eu não consigo entender o porquê aceitei tudo aquilo. Claramente não era amor, era tudo sobre posse. — suspira. — Meu primo esteve comigo em todos os momentos, me ajudou a sair da fossa que eu me enfiei e acho que por isso somos ainda mais próximos. Considero Yoongi como um irmão.

— J-Jimin... — ele me olha.

— Você está chorando? Hey, Kook-ah, não fique assim. — me abraça, afagando meu cabelo. — Já passou. 

— M-mas foi tão ruim. Você sabe que não tem culpa, n-não sabe?

— Sim. Eu fui a vítima. Eu aceitei, apesar de ainda me sentir levemente magoado com o assunto e com as atitudes que tive, me igualando a ele. Acho que é isso que mais me incomoda. 

— Mas agora você tenta ser cada vez melhor. Isso c-compensa o passado. 

— Você acha? — assento. — Vou pensar sobre. Por que ainda chora? Vai acabar me fazendo chorar também.

— Ele está de volta i-isso me preocupa.

— Henry não vai fazer nada. Meus tios têm muitas provas que podem o colocar na cadeia. E eu não tenho mais medo dele, muito menos caio em sua lábia.

— Ele está junto com Hana... O que esperar disso? 

— Coisa boa que não, já que ela me odeia. Mas caso façam algo, vamos dar um jeito. Não se preocupe. — sela minha testa.

— Eu quem deveria estar te consolando. 

— Só de você estar aqui, significa muito pra mim. — ficamos abraçados, quietinhos, até que não resisto em perguntar.

— Por que ela te odeia? — o alfa suspira, antes de começar a me contar.

— Porque eu nasci. — dá de ombros. — Ela não queria um irmão de forma alguma. Meus pais acreditaram ser algo normal, ciúmes passageiro, então não a fizeram ter acompanhamento desde criança pra me aceitar. 

— Ela implica com a Jooeun também?

— Não. Costuma fingir que não é ninguém por ser ômega mas sei que tem ciúmes da cumplicidade que ela tem comigo. 

— Eu nunca pensei que Hana fosse assim.

— Lembro que quando estava com você por um instante meus pais falaram que ela estava amadurecendo e evoluindo. Até achei que minha distância estava fazendo algo de positivo... Ela deve me odiar ainda mais agora que estou com você. Tem essa de querer constantemente competir e tentar mostrar que eu sou o pior. Com o tempo foi se tornando mais implicante e tendo atitudes questionáveis, em parte para chamar a atenção para si e em outra por naturalmente ter algumas falhas na personalidade que ao invés de melhorar fica às refletindo em mim. Como se eu fosse invejoso, interesseiro e sei lá mais o que. Ela me culpa dos problemas que ela própria causa porque não aceita que eu sou um lupino consideravelmente melhor. 

— É questão de escolhas. Você optou por buscar ser bom, por tentar melhorar até quando erra, e ela consegue ser boa mas não está a fim. 

Ele assentiu.

— Quando ela começou a se render a esse lado "sou melhor que todos mesmo não sendo, vou fazer o que eu quiser com você e sempre terei razão", eu ficava quieto. Na adolescência, que foi quando ela começou a ir mais contra mim, eu vinha pra cá nos momentos de estresse e fazia tudo para não cair nas provocações, para manter a paz... Mas depois que passei por tudo aquilo com o Henry, eu parei de me calar, de aceitar desaforos, comecei a enfrentar. Só que ela sempre soube onde o calo dói e aperta sem dó, muita das vezes me deixando cego de raiva. Tudo pra mostrar que eu tenho um lado ruim... Sabe, eu já tentei resolver mas ela não me escuta. Tem uma mágoa profunda de mim e não parece disposta a deixá-la tão fácil.

— Assim complica, né? Hoje foi um dia de muita informação. E agora veio algo na minha mente que preciso te perguntar... Que história é essa de você me querer desde meus dezesseis anos?

— Eu estava esperando por essa pergunta.

Se remexe, virando e sentando de frente para mim, segurando ambas minhas mãos enquanto olha no fundo dos meus olhos com aquele brilho dourado encantador ao redor da pupila dilatada. 

— Você. 

— Eu? — franzo o cenho, confuso.

Você era o ômega belo e inalcançável por quem criei uma paixão platônica. — meu coração salta em meu peito, já meu estômago desanda todinho sentindo a "fome". — Eu não tinha coragem de me aproximar. Me sentia pouco demais para você, fora que era tímido. Eu fiquei dois anos te admirando de longe, fantasiando uma vida ao seu lado. O Hobi me ajudou a reunir coragem. Mas Hana descobriu e foi mais rápida. — seus olhos estavam brilhando, as lágrimas que acumulou desde o início vieram. — Ela partiu meu coração. Antes disso acontecer, eu ficava mal com o jeito que me tratava, mas pensava que ainda era minha irmã, maldita ciumenta, mas o que dizia podia ser da boca pra fora, muitas vezes agia sem pensar, lá no fundo ela me amava... Mas eu descobri que quem ama não faz o outro sofrer, não é?

Nesse ponto, eu estava chorando de novo. Dessa vez junto a ele.

— E como se não bastasse me causar essa dor, de ficar com o ômega... O ômega que o meu lobo havia escolhido e estava todo entregue... Ela te fez sofrer. Isso doeu ainda mais.

Me ajoelho, o abraçando enquanto choramos. 

Então era por isso que eu vi seus olhos brilharem no dia do jantar de véspera. Seu lobo me escolheu para ser seu companheiro a muito tempo. Não foi um engano. Eu realmente vi. Faz sentido ele estar tão sério e quieto naquela noite. Não era só por saber que traição e término machuca que ficou ao meu lado naquele momento doloroso. É porque ele já estava apaixonado e queria confortar seu ômega de alguma forma. 

— Eu não gostei de saber disso. De perceber com clareza ter sido tratado por ela como objeto que, no caso, roubou de você... Um objeto que no fim ela se cansou de usar e jogou fora. Mas... Mas tudo bem. — me afasto um pouco, podendo olhá-lo. Ver Jimin em lágrimas, todo sentido, me aperta o peito. Eu gosto de vê-lo todo bobo e sorridente, não assim. — Por que... — fungo. — Isso me levou a mudar minha perspectiva de vida. Me fez aproximar de você. Querer você como nunca desejei nenhum alfa... Fez nós termos momentos e desses momentos desenvolver sentimentos... Quer dizer, eu desenvolver, acho que você sempre teve eles. — ri fraco ao lembrar das cenas com seu primo e cito — O Yoongi hyung me incentivou a ficar com você, disse que você era bom e deixou eu entender que era bobinho por mim. Mas eu não pensei nisso, achei ser exagero dele.

— Ele tinha que fazer isso. — nega, rindo fraco.

— Agora eu entendo. Ele teve as melhores das intenções em nos juntar. E eu sei muito bem o que você sente porque... — seguro seu rosto em minhas mãos. — Porque eu amo você.

Meu coração quase saí pela boca quando pronuncio essas palavras que eu não planejava dizer tão cedo. Sua expressão de espanto me deixa sem saber o que fazer. 

Quando se dá conta do que eu disse, Jimin me puxa pela nuca e me beija. 

Nossas línguas se entrelaçam com calma, diferente dos nossos interiores que pulsam em paixão. 

Ele se ajoelha como eu e com nossos peitorais colados, sinto seu coração bater forte como o meu. Vamos nos entregando ao beijo, ao sentimento, relaxando, perdendo as lágrimas de tristeza... sorrisos bobos começam a aparecer dentre o ósculo tão doce e apaixonado.

Eu suspiro caidinho por ele, me afastando um pouco. Jimin está sorrindo largo, com os olhos dourados vibrando. Me desestabilizando completamente.

— Você não sabe a sensação que está me dominando agora. É tão... satisfatório e surreal que você me corresponda depois de tantos anos... Ah, Jungkookie. — sua voz soa manhosa como nunca ouvi, é adorável. — Eu te amo.

Eu perdi o controle das minhas emoções. Eu estou tão alegre que não cabe em mim. Se sentir correspondido, de verdade, saber que você ama alguém e esse alguém te ama, que vocês querem o bem um do outro e nada menos que isso, é surreal e trás uma felicidade, misturada com todos os sentimentos mais belos e emocionantes, aos quais no fim se torna algo inexplicável. 

Meu sorriso está tão largo quanto o dele e meus olhos devem estar brilhando na mesma intensidade.

— Os seus olhos estão lilás. — diz, soando encantado. 

— Eu também quero você como meu companheiro, alfa.

Ele me dá vários selares em meio a uma risada gostosa a qual eu acompanho.

Estamos em êxtase.

Is it cool that I said all that?
(Está tudo bem eu ter dito isso?)
Is it chill that you're in my head?
(É normal que você esteja na minha cabeça?)
'Cause I know that it's delicate
(Porque eu sei que é delicado)
Delicate
(Delicado)

A música soa insistentemente desde o refrão, um clique na minha mente me faz notar que é meu celular. Nos afastamos para que eu atenda.

— Alô?

Jeon Jungkook? — a voz estava apressada, portanto, foi dizendo — Eu sou Ali, sua vizinha. Seu número está nos contatos de emergência de Mari. Ela acaba de ter um surto e ser levada para o hospital. 

Meus olhos saltam, me senti ainda mais nauseado. Esse dia era para ser apenas alegria, desandou, ficou eufórico, e agora... vai desandar de novo? 

— Você pode me esclarecer o que aconteceu? 

Minha mãe encontrou ela caída no chão, desacordada, parece que andou se ferindo. — meu coração se aperta. 

Quando meu pai veio falar comigo e disse que ela não estava muito bem... Ela estava mal de verdade? 

— Em qual hospital ela está? — quando digo isso, o Park demonstra preocupação.

Acho que no Hospital Central

— Obrigado por avisar. — desligo, buscando manter a calma. — Aconteceu algo com minha mãe. Ela está no HC.

— Eu vou com você.

Pegamos outro táxi.

Eu não sei o que pensar, fico quieto o caminho todo e um tanto ansioso para saber o que aconteceu. Minha mãe nunca teve nenhum surto, não via machucados nela... Então por que isso, de repente?

Ao chegarmos, vi tio Taehyung do lado da porta, barrando meu pai para não entrar no hospital. 

— Eu esperava que ela tivesse um surto por não ser mentalmente saudável e em todos esses anos negar a se tornar mas nunca imaginei que estava sendo afundada cada vez mais, sem ser por atitudes próprias! Você é muito corajoso de aparecer aqui sendo o causador dessa merda! — grita, furioso.

Mas o que... Meu pai... O que ele fez? Eu não esperava ouvir tal coisa. 

— Você não faz ideia do que diz. — por mais que seu tom é calmo, o brilho de seus olhos demonstra puro ódio. — Como ela mesma diz, você é só um promíscuo desvirtuado!

— Tio Tae! — o chamo quando ele arma um soco. — Não faça isso. — na frente dele, seguro seu braço, ele olha para mim, creio que surpreso por eu estar aqui. — Deixa ele aí e vamos para outro lugar conversar. 

O beta assente, saindo dali. Meu pai me chama mas nem ligo pois eu preciso entender o que está acontecendo e é melhor vir de Taehyung visto que confio mais nele.

Nós nos sentamos em um banco no jardim que havia ao lado do hospital e ele explicou que a nova vizinha conseguiu fazer amizade com minha mãe, conversar com ela e descobrir coisas que ninguém fazia ideia. Essa vizinha se chama Lia e é psicóloga, mas não disse nada a Mari, nem sugeriu consulta, pois se dissesse, ela pararia de desabafar e a beta já tinha notado o quanto ela precisava disso. Mesmo não podendo sair por aí diagnosticando as pessoas, ela não resistiu a esse caso e o fez.

Mari tem Transtorno Obsessivo Compulsivo Religioso, variante do TOC, que é uma doença movida por pensamentos específicos que se distorcem, aparecem constantemente e repetitivamente, se tornando uma obsessão e/ou levando a compulsão (ações repetitivas). No caso dela, são rituais religiosos.

Coisas as quais quem da igreja visse poderia parecer exagerado mas comum, eram vindas de medo ou sentimento de insuficiência. 

O sentimento dessa doença é de angústia, medo, aflição e falta de controle, por não conseguir controlar os pensamentos e isso reflete nas atitudes. De modo geral, a compulsão é responsável por aliviar a tensão e a ansiedade por meio de ações as quais se repetem e quando não feitas trás a sensação que algo ruim virá. Isso é causado pelo sentimento de obsessão.

Em torno dos pensamentos obsessivos estão o pecado, culpa, sacrilégio e blasfêmia. Mari tinha na mente que tudo o que fizesse e eu fizesse de "mundano" era pecado. E sentir prazer com o próprio marido lhe trazia o mesmo sentimento e também a culpa por estar se deitando com ele. Ela viveu se reprimindo e tentando me levar junto, em todos os aspectos possíveis por causa desses problemas.

E Lia disse que ela reconhece que seus pensamentos e atitudes repetitivas como confessar todos os dias, comer só depois de rezar pois acha que a comida está envenenada, ficar fazendo jejum diariamente, ir a igreja sem parar, dentre outras coisas, são ilógicas, porém, não consegue parar. Sua devoção se tornou um transtorno.

De acordo com a psicóloga, os sintomas possuem intensidades distintas dependendo do estado e contexto do paciente, geralmente são intensificados em casos de estresses extremos e situações delicadas. Minha briga e distanciamento, logo depois Joshua, e meu pai... Meu pai sendo um filho da puta que nunca imaginamos ser, que induzia o lado obsessivo a continuar em dizer coisas como "nossos filhos não são perfeitos por sua causa, é sua obrigação fazê-los melhorar", que fez o TOC dela ser motivo para pintá-la como o pior ser do mundo e ser amparado pelos braços, bocas e corpos de outras ômegas. Agora Mari descobriu. E não bastando sofrer esse grande estresse, a vizinha ouviu ele jogar na cara dela o quão a mesma é problemática e colocou a culpa nela de não ter conquistado seus sonhos e de ser um marido, pai, fiel da igreja, que ela fugindo dele ou se contendo demais - devido a traumas que eu já imaginei existir desde a conversa com Yoongi - o obrigou a arrumar outras. 

Ele sempre ignorou o passado dela e o lado compulsivo, nunca procurou ajudar, e agora fez o favor de não respeitar seus problemas e piorar seu estado jogando coisas na cara. Segundo meu tio, Bon-hwa veio aqui arrependido, pagando de bom moço e marido preocupado para continuar com sua reputação, não por estar se sentindo culpado.

Essa é a nossa diferença. Eu me sinto culpado. Por nunca ter procurado ajudar. Eu fui egoísta, focando apenas em mim, a deixando embolar em seus problemas sendo que continua sendo minha mãe... Eu devia ter tentado. Eu sequer me esforcei para ao menos saber o que de fato acontecia.
 
— Eu te entendo, Jungkook. — tio Tae suspira, recostando no banco. — Ela é minha irmã, mesmo sendo cabeça dura, me xingando, eu deveria ter insistido. 

— Acho que vocês fizeram o que estava ao alcance no momento. — disse Jimin. — Vocês não faziam ideia, não tinham como saber, que era algo grave. E ela tratava vocês de uma forma que não estava fazendo bem para suas mentes.

— Sim, mas eu sei mais do que qualquer um. Não foi só eu que tive traumas. Eu deveria saber que ela tinha desenvolvido uma doença também e não ajudado só a mim a superar.

— Pelo o que disse, Lia comentou que ela no fundo sabe que sua visão é absurda. E você me contou que tentou, mas ela nunca aceitou. — argumento. — Vamos nos empenhar daqui em diante.

— Eu espero que ela fique bem.

— Eu também. — desejo.

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➼ Sobre como se desenvolve TOC: experiências pessoais traumáticas, como relações abusivas, acidentes, desastres naturais, mortes pessoas queridas, na fase do início da formação de alguém - infância e adolescência - podem ser responsáveis pelo desenvolvimento do transtorno. Porém, pode estar ligado às causas genéticas e hereditárias também. E é diagnosticado apenas por profissionais.

➼ Trouxe uma chuva de descobertas para vocês hihi. Espero que tenham gostado. Até mais 💜

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