Capítulo 4 - O ômega que decidiu mudar

Eu sempre tive alguém para segurar minhas mãos e guiar meus passos. Era bom pois era uma vida fácil. Porém, eu fui crescendo e nesse processo vendaram meus olhos para que nunca desejasse me soltar e andar por mim mesmo em outro caminho. Então eu me tornei dependente. Não me virava sozinho em nada. Necessitava de ajuda para tudo o que ia fazer, desde o que comer à qual roupa vestir, pois nada do que pensava sozinho parecia o suficiente. Precisava de opinião para tudo, principalmente de Jeon Mari. Tinha medo do que os outros podiam dizer caso vacilasse, portanto, constantemente buscava ser perfeito dentro dos ensinamentos e regras impostas para agradar.

Eu tinha que agradar em tudo, afinal, sou ômega.

Cansativo, mas eu nunca parava. Eu não fui criado para questionar, vivia abaixando a cabeça e atacando ordens. E, por mais que eu não concordasse cem por cento, estava tudo bem. Eu estava protegido dentro da minha redoma de cristal. Eu era adestrado o suficiente para me aceitar essa realidade de vida. A realidade de ser constantemente mandado e julgado por hipócritas.

Eu não tinha poder na voz. E nem precisava pois foi me ensinado ser submisso. Mas, depois de tanta merda, agora me pergunto... Essa é a melhor forma de se viver? Eu concordo com essa realidade? Eu quero continuar assim? 

Talvez, se fosse antes de cair, me machucar e acordar, saindo do cristal ao qual eu morava, a resposta seria: sim. Eu concordava com tudo, pois desde pequeno acreditava que vivia um verdadeiro sonho. Eu era o ômega perfeito, vivendo em sua família perfeita, ansiando pela alfa também perfeita para pegar nas minhas mãos e continuar me guiando, até termos a própria família igualmente perfeita e padronizada. Sem nem me dar conta que isso, lá no fundo, não me satisfazia. Sem notar que perfeição sequer existe. 

Somos um bando de imperfeitos, errados, vivendo, caindo, levantando, aprendendo e buscando ser melhor. Ou ao menos deveria ser. Eu mesmo não enxergava nada disso.

Hana quem começou a quebrar a bolha de cristal a qual eu sempre fui obrigado a estar. Eu sofri com a enorme rachadura que foi feita no teto onde os pedaços de vidro começaram a cair e me feriram. Porém, ao mesmo tempo, com aquele espaço vazio, eu consegui ver uma luz. Ela era atrativa e me chamava para conhecer um novo mundo. O receio não me permitia ficar completamente confiante mas desejei ultrapassar aquele buraco que foi feito ali então me pus a escalar, sem me dar conta que ainda estava preso ali - nos costumes, nos medos - e apenas sonhando em ser alguém lá fora. Em seguida, veio as consequências da minha cegueira de todo esse tempo e justo onde eu estava subindo, desmoronou. Eu caí no chão outra vez com a descoberta no médico e as paredes desabaram, mais uma vez me machucando. A esperança me fez levantar. Eu desejei sair daquele lugar pois a redoma de cristal não me pertencia mais. Todavia, mesmo começando a despertar daquele sonho para realmente começar a viver a vida real, eu percebi que estava preso bem ali no centro de tudo por fortes amarras vindas da insegurança, incerteza... Daí veio Mari. Por ironia, a pessoa que me colocou dentro daquele mundo frágil e extremamente idealizado, que me oprimia e segurava as amarras, foi justamente quem destruiu o restante. 

As cordas que ela me mantinha preso, as quais eu mesmo queria ficar enrolado por amor e dedicação a ela, também me feriram. Eu fiquei muito afetado porque a pior dor era confiar sua vida nas mãos de alguém, dar todo seu coração e o seu ser, buscando unicamente ter o orgulho dela e amor recíproco e a pessoa não ligar para você, para o seu bem, te tratar de forma tão hostil e... Ah. É muito frustrante amar quem só quer sua obediência e nada mais. Por isso doeu. Senti que também machucou quando fui me soltando e a deixando ir para longe, levando consigo suas paranóias e medos que na maior parte eram mesmo só dela apesar de ter me contaminado.

Eu chorei rios de decepção, por sua falta de confiança e de zelo, pela falta de amor. No entanto, foi bom. Muito bom para eu descobrir que tudo estava nas minhas mãos. 

Eu não quero ser atingido por mais pedaços de vidro se quebrando, nem mesmo arder minha pele por cordas afiadas que prendem. Busquei transformar toda a dor, indignação, decepção, raiva e pensamentos negativos, em confiança, em força. Eu fiquei totalmente decidido nunca mais deixar merdas assim me atingissem, seja por quem for. Eu me enchi de garra e me levantei outra vez. Eu saí daquele lugar que era para ser tão doce, belo, encantador e satisfatório mas que na verdade era um mundo frio, amargo e solitário. Cordei o laço.

E agora preciso me reconstruir. Isto de acordo com os meus pensamentos, minha voz, minha vontade, baseado em mim, nos meus desejos e na minha própria independência somente. 

Talvez seja difícil, até porque tudo nessa coisa chamada vida é, mas eu não vou desistir. Dizem que para viver um sonho é preciso primeiro acordar. A venda se foi, meus olhos estão abertos e eu não estou mais sonhando. De hoje em diante irei traçar meu caminho e sequer irei olhar para trás. Não importa se eu cair e ter que buscar levantar de novo, afinal, descobri que os tombos me fazem levantar mais forte. E eu não sei o que me espera no futuro, inclusive bate até um medinho do que posso ou não me tornar, porém, sei de algo de suma importância: ser alguém "pau mandando" eu nunca mais serei e não me aproximarei de nada que possa me reprimir.

Jinnie permaneceu me olhando preocupado porque eu estava quieto, ainda dentro do carro que já se encontrava na garagem a bons minutos, após tanto chorar e pensar. 

Devo estar um tanto inexpressivo mas é porque eu estou no mundo da minha mente.Depois de tudo, consegui chegar à conclusão de que estou realmente determinado, tipo, bastante, muito mais do que pensei ser possível, a mudar. Só que há um pequeno detalhe que faz a diferença... Por onde começar? 

Eu sempre tive alguém para pegar nas minhas mãos e me guiar, como eu posso me virar sozinho? 

Acho que preciso de uma forcinha, ao menos no início. Não é vergonha pedir por ajuda se estou precisando, certo? Ainda mais quando é para uma pessoa tão sábia e confiável como meu amigo.

— Hyung, estava refletindo aqui, vamos esquecer o Jungkook que eu era, ou ainda sou, e focar em novidades. — ele parece surpreso com a minha fala empolgada visto que a pouco tempo eu estava berrando num choro intenso. Não quero mais chorar, isso não resolve nada além de desabafar, eu quero agir. — Você disse que me ajudaria então acho que a hora é agora! Por onde vamos começar? 

— Whoa... Isso me pegou de surpresa. Por que essa decisão repentina? 

— Não é tão repentina, eu estava pensando em mudar desde o término. Agora só estou desejando isso com mais intensidade porque não quero mais me machucar. Vou te contar o que acabou de acontecer.

Conto a ele o que Mari fez e acrescento:

— Eu não quero mais voltar para debaixo das asas daquela ômega pois ela ultrapassou todos os limites e eu não quero nunca mais ser esse Jungkook ingênuo, submisso e bobo. Também tenho noção que errei entregado o controle da minha vida a ela, depois a Hana, mas agora não estou disposto a fazer novamente. Ninguém entrará no coração se for para feri-lo. Ninguém escolherá o tipo de vida que irei levar. Não mais. E tem mais! Não vou depender de ninguém. Vou amadurecer, criar uma rotina própria, me tornar independente, me descobrir e, melhor, descobrir o mundo! Quero aprender a ser um ômega normal e, sem dúvidas, poderoso. O resto que se foda! Quero viver de forma leve e intensa e curtir ao máximo as coisas boas da vida, afinal, ela é só uma e merece ser desfrutada de uma maneira bem mais gostosa, não é? 

— Exatamente. Eu estou tão orgulhoso de você, Kookie! Até mandou geral ir se fuder, que lindo. — esfrega o nariz na minha bochecha, me fazendo rir. 

— Mas orgulhoso por que? Eu não fiz nada... 

— Ainda. Ainda não fez, mas está no caminho certo, pensando de uma forma que me deixa orgulhoso. E antes de eu concluir o que tenho mente, preciso que você abra mais a sua, pois, caso contrário, você nunca chegará a novos destinos se andar sempre pelos mesmos caminhos.

— Oh, isso foi muito inteligente! Pode deixar que eu vou ficar receptivo!

— Ótimo! — sorri daquele jeito que vai aprontar e mais uma vez eu penso que estou meio receoso com o que poderá vir, só que neste instante, o que mais sobressai é a minha pura animação em agir por mim e para mim da maneira que nunca fiz.

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Quando o Kim disse para abrir a mente, não imaginei que eu ia me chocar tão rápido com um lupino de realidade inteiramente distinta da minha. E que este é justo quem nos ajudará com as reflexões e meu reconhecimento interior para que eu encontre alternativas melhores de começo. 

Quem passou pela porta após cumprimentar meu amigo foi Jeon Taehyung. Meu tio, irmão da minha mãe, ao qual eu não mantinha contato desde a pré-adolescência. Para a ômega, ele é uma tremenda influência que pode me prejudicar. Mas pelo o que me lembro, ele é legal.

Eu estou nervoso porque não sei o que conversaram, nem tenho noção do que pretendem fazer comigo. Entretanto, eu me esforço para continuar firme no meu propósito que é a autodescoberta e autoconfiança. Para isso, tudo vale, até aceitar as palavras do meu tio considerado "louco e problemático".

Devo dizer que o beta está muito diferente do que me recordava. O cabelo está castanho claro e ele tem barba! Uma aparada, bem desenhada, que o deixa com uma aparência de homem mais velho, charmoso, e feito na vida. Estou admirado. 

O Jeon está na casa dos trinta e seis anos, porém, a idade não julga nada pois ele é bonito, energético, e sempre chama atenção por onde passa. Creio que ainda mais após deixar a barba crescer já que é algo exótico e bonito que poucos homens conseguem de fato ter. E por mais que ele fosse "louco", como diz Mari, reconheço que Taehyung é muito bem realizado na vida e, novamente, lembro dele ser legal. Lá no fundo, eu o admiro por ser quem quer ser e por todas suas conquistas, ainda que tivesse problemas. Atualmente, ele é um CEO no ramo da moda, tem uma loja enorme com sua própria marca bastante requintada e tem uma vida esplêndida, rodeada de luxos. 

— Quanto tempo, Jungkook! — a voz calma, porém grossa e firme, adentra melhor meus ouvidos. Ele me abraça calorosamente. — Sendo sincero, você não está tão abatido como esperava.

— Eu não quero ficar me acabando. — coço a nuca constrangido mas também feliz por não estar com a aparência tão destruída como imaginei. 

Ok. Ainda que inspirado, preciso admitir que não consigo evitar meu pé atrás. A desconfiaçazinha estava bem ali cutucando meu subconsciente junto das palavras de Mari. Motivo? O beta é o oposto da mamãe, logo ela não o suporta e já tentou ou já fez minha cabeça contra o mesmo. 

Tio Taehyung tem satiríase ou hipersexualidade. Nas palavras da minha mãe "loucura". E o que realmente é? Uhm, em resumo, existe a tal ninfomania que deixa a femea com muita sede de sexo então temos a satiromania que é o macho com o mesmo inconveniente. Nunca aprofundei no assunto então não sei mais do que isso ou até se pode chegar a me afetar. 

Diz Mari que se eu ficar muito perto, ele pode me contaminar com sua vagabundice, com a falta de vergonha e com seus atos pecaminosos. Mas creio eu que é só mais um dos exageros aos quais notei que ela gosta de fazer. 

— Sendo sincero, não sei se confio em você. — falo. — Desculpa, tio Taehyung. Mas você conhece minha mãe e deve imaginar como fui criado. Não te conhecer, não saber suas intenções me deixa amedrontado pois você... Uhm... Eu nunca ouvi coisas boas sobre e o seu problema. — eu estou com vergonha de admitir essas questões mas preciso entendê-lo melhor, caso contrário, sei que mais uma vez ficarei preso nas amarras do medo e vou me travar, impedindo progresso, coisa que não quero de forma alguma. 

— Ah, isso. Imaginei que ficaria relutante por esse motivo. Não tem problema, não importo de esclarecer as coisas. — ele está sério, porém, seu tom é normal. Tomara que eu não tenha o ofendido porque, realmente, só anseio saber direito quem ele é e quais suas intenções. 

— Me esclareça, por favor.

— Eu não vou te fazer virar um prostituto, um depravado ou seja lá o que você estiver pensando. Só quero te ajudar, como um dia me ajudaram a perceber as coisas de outra maneira, para que você fique bem e feliz porque eu já tive que buscar me reinventar, sei como é ruim se sentir embaraçado nos próprios pensamentos e também ficar sem um rumo definido. 

Respira fundo antes de continuar:

— Não vou aprofundar em tudo o que aconteceu comigo porque você está aprendendo um novo lado do mundo agora e não quero te assustar. Mas saiba que eu desenvolvi esse distúrbio de hipersexualidade não por vontade própria. Eu admito que antes era extremamente compulsivo por sexo e creio que isso deixava sua mãe ainda mais pirada da cabeça já que ela é cem por cento reprimida. Porém, não é algo legal, sabe? Ter esse inconveniente ocasionou muitos problemas na minha vida pois ela não é só trepar vinte e quatro horas por dia. Vivemos numa sociedade, então precisamos estar dentro dela fazendo nossas obrigações como por exemplo estudar ou trabalhar, coisas que eu não conseguia por estar atarefado demais transando. Nada em excesso é bom e foi justo o excesso que me desgraçou. Eu perdi emprego, pessoas importantes, enfim... Muita coisa. Só depois de me ver na merda, sem direção, que eu resolvi procurar ajuda profissional e aprendi diversos pontos importantes para meu crescimento. Então é, pode me chamar de louco se quiser, mas eu venci essa obsessão, construí minha vida e me sinto um vencedor. Eu continuo safado? Sim, porque isso querendo ou não está no meu jeito, porém é da conta somente de quem eu me relaciono. Eu não saio dando em cima de todo mundo ou fazendo orgias... Ao menos não mais. — ri. — Mas fazer as pessoas se tornarem vadias eu te garanto que nunca aconteceu. O que tenho não é uma doença transmissível, é algo particular e não me afeta mais - quando sinto algum indício de volta sempre retomo o tratamento - então não se preocupe. 

Oh, sinto que minha mente deu uma clareada. Através do que mamãe dizia, eu pensava que Taehyung era assim porque queria ser, que tudo para ele era festa e era divertido ser insaciável, além de passar para os outros serem iguais. Como sempre, as coisas não são assim. Pelo visto eu tenho muitos pensamentos a desconstruir.

— Eu só tenho ensinamentos a oferecer que vão te ajudar a tomar um rumo na vida. Pretendo te deixar mais ousado, sim. Mas dentro dos seus limites. E creio que o maior foco aqui é te fazer encontrar sua essência, para depois você perder seus medos e aprender a aproveitar sua vida pessoal e futuramente a sexual. Tudo em equilíbrio, em função do seu bem estar. Concorda? 

— Com certeza. — ele sorri satisfeito por eu ter lhe entendido.

— Então se arrume porque nós vamos ao shopping!

Não estou mais receoso. Taehyung parece muito mais sábio e mais incrível do que imaginava. Outra vez vi minha mãe me privando. Me impedindo de conviver com meu tio só por ele ser diferente e ela não o entender. Ela recrimina o que não compreende. Que frustrante. Entretanto, sei de mim e eu não vou mais me privar de nada. 

Se existe mesmo um ômega normal e ousado dentro de mim eu preciso descobrir e libertá-lo logo, portanto, me torno a cobaia dos hyungs. Espero que a ida ao shopping e os conselhos que irei receber possam me tornar um novo Jungkook. Ficar bem interiormente é o que mais quero. Encontrar minha essência é a prioridade, para depois aprender a aproveitar a vida, os alfas... 

Talvez eu devesse marcar terapia para ajudar a melhorar meus medos e receios, principalmente sobre sexo. Imagino que será bom para mim pois é oficial. Eu estou completamente disposto a me jogar com tudo e essa viagem só terá passagem de ida!

Após vestido, além de levemente maquiado para cobrir os rastros de choro, adentramos o carro e fomos rumo ao nosso destino.

— Eu tenho uma curiosidade. Onde vocês se conheceram? — pergunto.

— Taehyung teve uma crise histérica com o ex-noivo e teve que ser medicado no pronto socorro. — conta meu amigo que até então estava mais quieto, deixando que acontecesse uma maior interação entre meu tio e eu. — Imagina a surpresa que foi eu me deparar com um beta desse tamanho, barbudo, tendo um ataque. 

— Oh, nem me lembra. — ele bufou. — Aquele maldito me dava nos nervos com seu ciúmes desenfreado. 

— Mas ciúmes não é bom? Mostra que a pessoa se importa e teme te perder, não? — pergunto confuso. Hana não era tanto, isso eu ouvi do meu pai ao qual disse que tal coisa é instinto do alfa por amar demais.

— Depende. Como disse, nada em excesso é bom. E alguém querer mandar em você e te proibir de ser você, é pior ainda. 

— Excesso de ciúmes leva a possessão, as regras de quem pensa ser seu dono e, em casos extremos, obsessão. Não é bonito e não é cuidado, é doentio. 

— Jin tem completa razão. Nós somos livres, Jungkook. Ninguém tem o direito de nos fazer submeter a nada usando a desculpa de amor. Você deve saber bem disso. — oh, como eu sei. — Mas cada caso, é seu caso. O meu foi um extremo. Era um ômega-

— Ômega? — questiono de imediato. — Não é coisa de alfa?

— Claro que não. Apesar de serem eles os mais desequilibrados a respeito, acontece com qualquer classe. — disse meu tio.

— Esquece isso de coisa de alfa, beta e ômega, Kookie. Os lupinos são lupinos independente da classificação. Podem ter muitos que são de uma maneira mas nunca podemos generalizar porque existem pessoas e pessoas, cada um pensa, age, de uma forma, fora que sempre há exceção. Como por exemplo: Hana não te traiu por ser alfa e isso ser algo que alfas fazem e tem direito de fazer já que não estão transando com os parceiros, isso é coisa de gentinha sem caráter e sem consideração. Poderia ter acontecido se você estivesse com um beta ou ômega tranquilamente caso tivessem desvios na personalidade.

— Oh... — então nada de julgar alguém do tipo "ah, fez porque é de tal classe", tudo depende de quem é a pessoa. Mais uma desconstrução vejo aqui.

— Como eu ia dizendo, o ômega me seguia no trabalho para ver se era verdade que eu estava lá e ainda não queria que eu falasse com ninguém sendo que faz parte da humanidade ter que dialogar com os outros. Quando saíamos ele julgava minhas roupas, se olhasse para o lado eu estava desejando outro mesmo não tendo ninguém ali. Ele revirava meu celular quando eu estava distraído e tinha ciúmes até da minha própria sombra! O cúmulo foi ter me seguido num jantar de negócios e me feito perder o contrato por xingar o dono da empresa que seria minha sócia por concluir que estávamos saindo informalmente sendo que eu havia avisado que seria um encontro de trabalho muitíssimo importante! Eu perdi a noção e dei um ataque mesmo. E sabe o que foi engraçado? No dia seguinte ele disse que não queria mais nada comigo porque eu era louco. Eu! No fim, quem estava com outra pessoa, era ele. E era por isso que em partes me vigiava, além de querer ser meu dono. Quem foi trocado fui eu. Amo hipocrisia. — ri irônico. 

Meus olhos se arregalam e não deixo de exclamar: 

— Que absurdo!

— Sim, é mesmo. Por isso você tem que saber escolher bem com quem sai. Não pode ir entregando o coração facilmente porque há pessoas que usam máscaras. Você tem que conhecer muito bem com quem está se metendo. Hoje em dia, depois do meu tratamento, eu sou exigente nessa questão de namoro e mesmo assim caí nisso. Imagina se ficasse com qualquer um? 

— Eu dei muita sorte. — comenta Jin. — O Nam e eu somos seres livres e completos que amam estar juntos, se entendem e inspiram o melhor um no outro. 

— Eu quero algo assim... Algum dia... — suspiro. — Só não sei como conseguirei ver que fiz a escolha certa. 

— Às vezes basta analisar os detalhes e correr em caso de desconfiança, pois ela vem do nosso instinto e raramente está errada. Não se preocupe ou pressione, uma hora ou outra a pessoa aparece e, acredite em mim, você saberá quando a hora chegar. — o rosado sorri doce, eu retribuo. 

— Estou acreditando em você tem dois anos e até hoje me sinto frustrado. — disse Tae bem humorado.

— Eu disse que, o que é para ser seu, você reconhecerá. Acontece que você insiste em ficar procurando por relacionamentos perfeitos e tendo um olhar raso sobre os outros antes de se envolver. Escolhe tanto para no fim não dar em nada. Quando decidir parar de buscar pela pessoa e pelo relacionamento que nos seus padrões, você encontrará quem irá te bagunçar então você terá que lidar com essa bagunça de um jeito ou de outro e entenderá que nada disso vem pronto, você constrói a relação é com a pessoa, de acordo com a personalidade e vontades de vocês. E no início é bom, depois começa a complicar, mas se for para ser, você notar e, se os dois se manterem firmes no propósito, no final tudo vale a pena. 

Suspiro, pensando se um dia poderei ter esse tipo de romance mútuo e satisfatório. Eu espero que sim. 

— Você manda bem nos conselhos, Jinnie.

— Olha quem fala. 

— Certo, eu sou o único que não sou sábio aqui. Ah, hyungs, me sinto perdido e sem rumo. — faço bico.

— Relaxe, todo mundo algum dia na vida se sente sem saber o que fazer e falamos assim por termos as experiências que você ainda não tem. Eu sei como é. Ficamos pensando que temos tantos problemas a resolver, queremos ter o poder de fugir de tudo, mas também queremos nos encontrar, queremos tantas coisas mas sequer sabemos o que, onde procurar. Uma hora fica claro que precisamos de alguma mudança e agarramos a coragem para conseguir agir de alguma forma. — ele parece nostálgico com sua fala. — Pode demorar ou não, podemos errar repetidas vezes, porém uma hora a solução vem. 

— Como eu não sei o que fazer, eu estou para errar.

— Mas você tem a nós, um apoio. — disse Jin.

— Você pode tentar e errar, mas o importante é sempre desejar melhorar. Ninguém nasce completamente desconstruído ou sabendo sobre tudo, a gente aprende. Assim como todo mundo erra e vez ou outra cai. E não tem problema tentar várias vezes pois é através dos tombos que nos fortalecemos e é através dos erros que pouco a pouco aprendemos. O que importa mesmo é continuar firme no seu propósito de evolução. Também, depois que descobrimos os melhores caminhos, as coisas se ajustam e tudo começa a dar certo. — sorri. — Confie em mim. 

— Eu confio. Sabe, eu quero muito me reinventar. Mas lá no fundo eu ando tão... Cheio de pensamentos e emoções inconstantes... — murmuro. — Tenho medo de não conseguir. Eu quero tanto ser diferente, ao mesmo tempo sou consumido por toda merda que houve...

— O que você viveu é recente mas passou, Jungkook. Não fique se martirizando pelo passado se você pode se focar no presente para construir um novo futuro. Daqui um tempo tudo ficará bem. Daí vem a satisfação pois você correu atrás e conquistou o seu melhor. Eu te garanto que é o sentimento mais gostoso do mundo.

— Imagino que seja. Tudo bem então. Nada de ficar remoendo, vou, oficialmente, deixar para lá e não olhar para trás. Vou focar só no agora.

— Eu amo como ele aprende rápido. — disse meu amigo, sorridente. — Jungkook ainda vai nos dar muito orgulho.

— Vai sim, ele é um bom garoto. Só precisa de um empurrão na direção certa.

— É... — concordo, envergonhado. 

Eu vou melhorar. Melhorar em tudo. É essa minha meta.

Não demoramos a chegar no shopping. Eles começaram a andar e eu acompanhei. 

— O que viemos fazer aqui? — questiono curioso ao que passávamos em frente das inúmeras galerias repletas de lojas.

— Te ensinar alguns princípios como autoconfiança, libertação interior e sexual para que futuramente você tenha a realização disso. — responde Taehyung.

— Isso e deixar sua beleza clara como a Lua. Você já é um ômega lindo mas está ofuscado nesse estilo sem graça. Não é problema vestir roupas de "ômega original" mas, como diz Joshua, não combina e você parece uma velha. — brinca o outro.

— Você gosta de usar esse tipo de roupa, Jungkook? 

— Ah, eu não sei, tio Taehyung. É que... — se estou entre amigos não será problema desabafar sobre qualquer coisa, não é? — Bom, eu acho que visto por falta de opção. Tenho medo de ser quem gosto de ser, isto sem saber quem eu realmente sou. Esse estilo de roupa é só para agradar minha mãe. Mas eu não curto muito roupas compridas e tão fechadas. — admito. 

— E o que você quer vestir? 

Paro para pensar. 

— Não faço ideia. Mas eu quero ser sofisticado. Tipo aqueles modelos de capa de revista que vestem "roupas de ômegas" e são charmosos. Algo como... Uhm... Elegante com um sexy disfarçado. Entende o que quero dizer? 

— Entendo e te pergunto, por que diabos não está usando? 

— Sempre me impedi de usar qualquer coisa diferente. Se minha mãe não aprovar, o mundo não irá. É o que eu pensava. Ela acabou me fazendo achar que é um absurdo se vestir dessa forma ou de qualquer outra que fuja do padrão, então fiquei muito receoso. Tenho muito medo do que o povo pode falar. 

— Que se dane o que o povo pode falar! Que se dane a sua mãe! — exclama Taehyung, me deixando um pouco assustado.

— Não se acanhe. Ele tem razão. Saiba que você é responsável pelo o que faz, não pelo o que pensam ou falam. A vida é sua e você faz dela o bem entender. Ninguém tem nada haver com isso. Não deve se importar em momento algum com opiniões alheias, somente com a sua. Você é o único que sabe de si e o único que pagará suas contas.

— Sim! Mente aberta e preste atenção: se for bom para você, se está dentro da lei, se é o que te deixa feliz, foda-se o resto. Não ligue para as pessoas, elas não sabem nem se olhar no espelho e enxergar os próprios defeitos antes de sair procurando nos outros e falando o que não deve!

— Vocês estão certos. — pego o celular, abrindo as notas e digitando "passo um: foda-se", em casa anoto outras coisas que aprendi anteriormente. Diante dos olhos curiosos, eu expliquei — Estou anotando porque de agora em diante tudo o que eu ouvir de ensinamento, quero me lembrar sempre. E, se um dia esquecer, estará gravado.

— É assim que se faz. — meu tio sorri orgulhoso junto de meu amigo. Posso afirmar que nós três estamos bem empolgados com o assunto da minha evolução pessoal. 

— Eu tenho um celular que não uso pois troquei o meu. — diz o ômega. — Vou te dar ele. Tem internet, app para conversar conosco de maneira mais prática como fazíamos no passado, será bom para você. E não vem dizer não! 

— Se ele não está tendo outra utilidade e você faz tanta questão, irei aceitar. 

— Agora vamos começar o passo a passo na sua mudança. Quero que pense bastante pois você irá expor tudo o que está bem guardado aí dentro. Queremos a resposta de seu 'eu' interno. Ele deve trazer seus desejos para fora e então poderemos te orientar e obter a sua mudança exterior também, sim? 

— Sim!

Eu deixarei meus pensamentos clarearem e as vontades enterradas no meu âmago aparecerem. Me tornarei alguém incrível e poderoso. Ou eu não me chamo Jeon Jungkook!

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➼ Sobre satiríase ou hipersexualidade... Não sou uma profissional da saúde, porém, dei uma pesquisada antes de colocar o assunto na fanfic. E me corrijam se eu tiver errada mas aqui vai um resuminho do que é esse distúrbio para quem não conhece:

• É um transtorno ao qual o nível do desejo e da atividade sexual são elevados ao ponto de causar prejuízos na vida da pessoa. Alguns sintomas que podem indicar um homem satiromaníaco (popularmente chamado de 'ninfomaníaco' o que vale somente para mulher que também é viciada em sexo) é a troca frequente de parceiros sexuais, masturbação constante, desejo constante para transar a qualquer hora - incluindo quando não se deve -, relações de uma noite só com vários desconhecidos durante o dia, dificuldade para sentir prazer ou satisfação completa após a transa. (É comum jovens adolescentes terem essas características e não significa que são viciados em sexo, dessa forma, o diagnóstico deve ser sempre feito por um psicólogo!)

• Em determinados casos podem acontecer práticas negativas na visão da sociedade como o voyeurismo sem consentimento ou em casos mais graves assédios ou até pedofilia. 

• Não existe uma causa específica para a satiríase, no entanto, acredita-se que esse distúrbio pode aparecer como resposta do organismo para diminuir os níveis de estresse (o que ocorre durante a atividade sexual). Então, por exemplo, é mais comum em pessoas com dificuldades para regular emoções ou têm problemas relacionados a abusos ou traumas.

• O psicólogo ao qual dá o diagnóstico quem decide o tratamento que vão desde sessões de terapia e/ou medicamentos. 

• No fim, cada caso é um caso e há níveis que vão dos mais brandos aos mais graves.

➼ Não precisam se preocupar tanto com o Tae pois ele já passou pelo tratamento necessário e agora tem a líbido alta, porém, dentro da normalidade, e por sorte ele não adquiriu nenhuma DST, tá bom? 

➼ Espero que tenham entendido e curtido o capítulo de hoje. Beijos açucarados e até mais :3