I. O ômega no jantar de vésperas
Capítulo 1 - O ômega no jantar de véspera
Submisso, educado, disciplinado, doce, e adorável. Eu sou o típico ômega que chamam de belo, recatado e do lar. Na aparência sou delicado como uma flor e encantador como uma bonequinha, ainda que seja macho. Mamãe me criou assim. Como um exemplo de ômega de verdade para aqueles fora do padrão aprenderem como se portar. Bem, é o que ela diz. É o que eu acatei como verdade.
Eu sempre segui todas as ordens de Jeon Mari, ansiando ser o ômega perfeito. Como fui criado unicamente para isso, eu o fazia com maestria, apesar dela nunca demonstrar satisfação.
A minha vida é constantemente buscar ser o melhor dos melhores, sempre desejando ser o motivo de orgulho de minha mãe e também do meu pai, especialmente dela que é mais complicada de agradar e passa o dia inteiro em casa me observando. Mari tende a ser muito rigorosa, além de ser cheia de paranóias e costumes. Admito que é uma fêmea difícil de lidar.
Em todos meus vinte e dois anos, o que mais lembro de ouvir da sua boca é o quão ômegas são puros e deviam manter essa pureza e serem delicados como um vaso de cristal. E, assim como tal, ninguém pode me tocar pois sou sensível, corro sérios riscos de quebrar e uma vez quebrado perderia todo meu encanto. Sendo sincero, eu morro de medo disso, então, desde pequeno, era privado e próprio me privava de muitas coisas, tentando evitar nem que seja uma rachadurazinha qualquer causada por pecados ou más intenções do lado de fora do meu mundinho.
Por essa razão, eu não tinha amigos. E os poucos que se aproximavam de mim, eu os julgava. Nunca foi minha intenção viver diminuindo ou menosprezando alguém, mas eu seguia todos os passos aos quais aprendi desde criança. Mari diz que não devemos nos misturar com quem tem uma vida distinta da nossa que é a certa, lupinos diferentes são rebaixados em seu patamar.
O diferente na minha realidade é algo ruim, então diante quem estava fora do padrão, eu sempre estava com aquele olhar arrogante como se fosse superior e, mesmo sem querer, repreendia a todos com esse olhar - assim como ela fazia - apenas por pensarem ou simplesmente serem distante do meu comum. Por isso, acabava por afastar as pessoas e as fazia me odiar.
Sendo um serzinho naturalmente ingênuo, não via que esse era o motivo da turma pegar no meu pé. Seokjin, meu melhor amigo, quem abriu meus olhos após entrar na minha nova escola. A questão é que, para os outros, eu quem era o estranho ali, o único que não era rebelde naquela escola que queria moldar os ômegas. Mas diferente de mim que só olhava de cara feia, eles me atacaram com piadas e gracinhas maldosas a fim de me humilhar.
A escola católica cristã para ômegas em si não foi ruim. Tinham muitas regras, eles não explicavam as coisas mundanas para nos afastar dos pecados e nós rezamos muito, mas não era nada do que eu não estivesse acostumado. Me dei bem em todos os anos com os professores e demais adultos, eles gostavam de mim por eu ser obediente e o exemplo perfeito de ômega. O problema mesmo foram os colegas. Eu não gostava quando me odiavam, me sentia mal com as palavras que tinham a intenção de me rebaixar e sempre abaixava meu alto-astral, porém, suportei. Mais ou menos. Eu sempre estava sozinho, eu nunca me encaixava e não sabia o porquê, isso me incomodava muito.
Em uma das minhas lamentações, Seokjin - aquele mesmo ômega que minha mãe julgava como má companhia, o único amigo que consegui manter desde a pré adolescência - decidiu entrar na escola e ficar comigo. Assim meu ensino médio melhorou muito. Foram anos felizes com ele ao meu lado, me mostrando onde eu deveria melhorar e quando eu deveria me impor para não incomodarem mais. No entanto, eu falo baixo, às vezes até travo, no início meus colegas não levaram minhas advertências a sério. Não consegui me livrar das perturbações sozinho... Foi aí que Jinnie ajudou. Na verdade, ele foi o ponto principal para eu ter paz. No dia que ameaçaram me bater só por odiar meu jeitinho de ser, ele apareceu, se pôs na minha frente, se impôs como uma leoa defendendo seu filhote e enquanto eu chorava de medo, baixinho, no meu canto, ele agredia o ômega principal da turminha que nunca saía do meu pé.
Meu amigo nunca foi a favor de violência mas bateu tanto no garoto que temi que o mesmo fosse para o hospital. Essa não é uma boa tática para resolver bullying, Jin mesmo admitiu que perdeu a cabeça, entretanto, depois disso, ninguém ousou continuar a me perturbar, até porque sequer tinham coragem de olhar no meu rosto. Segundo eles, eu agora era protegido por um ômega com porte de alfa que era de dar medo.
Segundo minha mãe, isso é ridículo, onde já se viu um ômega agir como alfa? Mas para mim, ainda que viesse a concordar com ela para evitar repreensões, eu não me importava. Não dá para importar com seu jeito de vestir e agir pois ele me acolheu desde o primeiro instante e é ótimo para mim, como nenhum outro lupino aprovado para se meu amigo era.
Sabe, Jin é de fases. Já foi um ômega ousado que usava roupas mais despojadas e curtas, já vestiu algumas peças de alfa, e hoje em dia prefere se vestir em uma mistura dos dois ou neutro como os betas costumam usar. Às vezes ele age, sim, como um alfa, falando alto, impondo coisas, rosnando para outros, sendo mais bruto... Mas eu o amo assim.
Quando olho para ele, o diferente não parece tão ruim. Ele é o único que me entende, protege, não me julga apesar de não concordar com certos pensamentos meus, então sinto que devo retribuir.
Para o Jinnie a escola foi mais complicada. Ele era pior que os outros metidos a rebeldinhos. Se estes faziam as coisas escondidas e depois fingem ser santos, meu amigo nem fazia questão de falsidade. Na cara dura ele ia contra tudo o que pregavam, desobedecia, fazia gracinhas provocadoras e indecentes dentro de sala e estava constantemente de advertência ou recebendo castigos por isso, incluindo por pular o muro para dar amassos em alfas.
Com o tempo nossos superiores passaram a deixar de lado, alegando que Seokjin não tinha jeito. Acostumaram com sua cara de pau, seu espírito livre, e ainda passaram a rir de algumas gracinhas leves e divertidas que eram feitas por ele. Também passaram a reclamar menos ao ver que meu amigo possuía junto do jeito levado, o espírito bondoso, altruísta, do tipo que ajuda a todos sem julgamentos.
Eu o admiro pois ele não mede esforços para espalhar empatia e amor. Mesmo naquele lugar autoritário, rude e por vezes sem carinho, mostrava que o ponto alto era ter mais desses dois bons sentimentos. Creio que nossos superiores aprenderam um pouquinho com ele nesse aspecto. No fim, até que não foi tão terrível para meu melhor amigo. Com certeza foi ótimo para mim ter sua companhia - ainda que minha mãe o detestasse e vivesse me dando sermão toda vez por ser visto junto do Kim.
Agradeço a Deus imensamente por tê-lo e também por ter permitido que ele ficasse comigo na escola, ultrapassando suas indignações sobre aquele sistema de ensino e ensinando coisas as quais julgava serem importantes para aquelas pessoas sérias e conservadoras. "Caretas" como ele gosta de falar.
Já a Sra. Kim agradece a mim pois com o filho dela frequentando aquele local, sua fama de garoto rebelde diminuiu - mesmo continuado a ser na visão de todos dentro da instituição - e os olhares de crítica de suas amigas diminuíram. Jin pediu para enfiar esse agradecimento no... Em certas partes.
Ele não se importa com opiniões alheias e não quer que lhe tratem como bom moço só por carregar nas costas o nome de uma escola conservadora de prestígio. Kim Seokjin não é conversador. Nem um pouco. Então não quer carregar o título como se fosse. Ele quer apenas continuar sendo verdadeiro. Livre. Agindo e sendo do jeito que bem entender.
Também o admiro por isso. Admito que já pensei como seria eu ser assim, não ligar para os demais e ter coragem de me impor, mas já aceitei que minha realidade é outra. Eu nunca vou ter coragem o suficiente para trazer um Jungkook diferente ao mundo.
Nós somos diferentes. E, mesmo que eu discordasse de suas ideologias, o respeitava. Jin me respeitava por igual, apesar de vez ou outra tentar mudar minha mente. Em partes ele conseguia, eu concordei em buscar ser mais altruísta, não julgar os outros pois aparência não mostra a essência, além de tentar acostumar com a ideia de que gostos, escolhas, personalidade e sexualidade dos outros não muda nada na minha vida então eu não devo opinar e vir a criticar como Mari o faz. Todavia, em outros assuntos eu continuo firme com a minha visão de mundo. Minha mãe havia feito um bom trabalho na criação que ela acreditou ser a melhor para mim.
Quando Seokjin começou a namorar seriamente com uma alfa do bairro e me contar como era, eu fiquei empolgado. Informei à minha mãe a vontade de conhecer pessoas novas, de me sentir desejado como sempre sonhei e de ser cortejado. Não queria mais esperar ela decidir quando deveria ser ou com quem.
Não foi novidade nenhuma que a mesma surtou, dizendo que eu não sabia o que estava falando e me mandou parar com esses pensamentos. Porém, meu pai a convenceu que eu já tinha idade para isso e até me apresentou algumas alfas da igreja. Havia apenas um pequeno probleminha... Eu desenvolvi certo medo de alfas. E meus pais não aceitariam que eu relacionasse com outras classes, isso fugia do tradicional, então eu tive que me obrigar a tentar já que queria tanto um amorzinho.
Até que meu receio deu uma diminuída, ao menos a respeito de conversar. Eu tive encontros para conhecê-las e encher o buchinho - em local público, nada de ficar sozinho com elas - porém, ninguém pareceu me encantar o suficiente. Ou, talvez, eu não tirasse da mente uma questão e ela estivesse me travando, me impedindo de continuar mais que uma amizade.
É o que Mari gosta de me lembrar a todo momento: apaixonar e querer um alfa é abrir as portas para o sofrimento. Eles nos iludem, tomam nossa pureza, para depois partirem nossos corações em pedacinhos, friamente e sem dó.
Mas, contrariando a ela e a mim mesmo, eu a vi... Era ano de dois mil e quinze, a alguns dias eu havia acabado de me formar, estava de férias ajudando mamãe a cuidar da casa. E, naquele dia, ao chegar da missa dominical, a encontrei. Alta, corpo bem trabalhado, cabelo castanho, curtinho, cheirosa e muito linda. Ajudava meu irmão a estudar para uma prova de engenharia civil. Eu fiquei louquinho por ela!
Papai percebeu minha timidez fora do comum, eu estava usando ele para me esconder e admirá-la de longe. Ah, minha primeira crush... Então mamãe passou por mim, mandando no seu tom baixo mas rude que eu parasse de agir como um idiota. De acordo com ela, meu pai e eu afirmamos que eu não era mais criança e se quisesse mesmo me envolver com essa impureza de alfas, que fizesse com uma fêmea e daquela elite: rica, linda, educada, bem formada e de família muito elogiada na cidade.
Eu sabia que esses eram os requisitos para um bom alfa aos quais sempre me foi instruído, eu senti algo por ela, logo, me aproximei.
De início, Hana me tratou como um irmãozinho. Creio que por conta do meu irmão ou pelo meu jeito doce, ingênuo e tímido. Foi frustrante. Mas eu estava empenhado em ter um encontro com ela então nos dias que se seguiram me mantive firme, persistente, até que um dia a alfa cedeu.
No nosso primeiro encontro fomos a uma sorveteria. Fiquei nervoso, tinha medo dela me fazer mal, todavia, Park Hana foi um amor!
Descobri que ela era dez anos mais velha do que eu, na época tinha vinte e oito anos, e temeu se aproximar por eu parecer puro demais, além de ser irmão do amigo dela. Só que eu, em sua visão, demonstrei ser encantador e determinado então chamei sua atenção. Sorte a minha. Outra coisa que descobri naquele dia foi que ela era formada em engenharia e trabalhava com isso. Uma grande alfa bem realizada... Eu me senti ainda mais atraído! E, para a alegria dos meus pais, Hana é católica cristã como nós!
Quando o fim do dia chegou, percebi que fiquei mais caído de paixão pois ela se mostrou totalmente diferente do que minha mãe dizia: animalesca, bruta, prepotente e autoritária. E, pasmem, ela não me fez mal em momento algum. Aos meus olhos aquela lupina era incrível, tão doce e tranquila, completamente amável!
Uma esperança surgiu. Talvez os alfas não fossem tão ruins.
Nos dias que se seguiram não a esqueci. Nem poderia pois a mesma não saia dos meus pensamentos e fantasias românticas. Passei a perturbar meu irmão para mandar bilhetinhos para ela. Nós acabamos saindo mais vezes.
Eu me apaixonei pela primeira vez. Isso porque ela era uma graça, gostava muito de me elogiar, me acarinhar, me fazer rir e me fazer sentir nas nuvens. Desde essa época até hoje me sinto o ômega mais sortudo do mundo por tê-la conhecido.
No dia em que ela roubou um beijo meu... Wou! Eu me senti no paraíso! Eu amei a textura de seus lábios contra os meus, por mais que fingisse que não, pois primeiro, como não era nada minha, era errado deixá-la me beijar tão afoita e, segundo, ela podia me corromper a qualquer instante e destruir o cristal que eu sou. Portanto, eu temia. Oh, como eu temia. Porém, não consegui evitar, ao menos não em nosso primeiro beijo. Mais tarde tive que rezar algumas Ave-Marias mas, talvez, eu não tenha me arrependido.
Apesar de que no instante em que nossas bocas se separaram, eu fiquei descontrolado, pela primeira vez alterei a voz e pedi para nunca mais fazer aquilo. É contraditório gostar e ter essa reação, eu sei. Mas não pude evitar. Era um misto de ser algo gostoso que estava errado. Eu não posso errar, nem me deixar corromper. A noite, após rezar, eu chorei pelo ataque nervoso junto com o medo de perdê-la, então peguei meu celular - mamãe me deu outro, mas sem internet - e telefonei aos prantos pedindo desculpas. Ela aceitou, me acalmou e me pediu em namoro para, assim, me beijar sempre que quiser. Eu gostei muito da ideia!
Todavia, os beijos mais quentes raramente aconteceram entre nós. Eram mais toques castos e selinhos inocentes porque estávamos namorando, não éramos casados para ter maiores intimidades. Temos que nos manter puros até a noite de núpcias, eu dizia e ela concordava comigo.
Eu gosto muito de estar ao lado de Hana, ela me respeita e é boa para mim. Só que a voz da minha mãe sempre ecoa na minha mente dizendo que alfas são safados imundos que só sabiam se aproveitar da ingenuidade de um ômega frágil, acabavam com sua pureza e os fazia sofrer para obter o próprio prazer. Talvez eu tentasse não acreditar nisso, mas ao mesmo tempo esperasse fielmente pelo momento que quebraria a cara. Enquanto isso, continuava a me encontrar constantemente com minha amada.
Ah, eu amo quando Hana me leva para passear. Sempre vamos a diversos lugares, fazemos diversos programas de casal e ela me rouba inúmeros beijos. Meu primeiro namoro se mostrou fantástico e eu estava ficando cada vez mais apaixonadinho!
Foi assim por um ano e meio até que meus pais conversarem com a alfa, exigindo alguma atitude. No fim, ela decidiu me honrar como eles pediram e me propôs casamento. Desde então nunca estive mais feliz!
Eu conheci a família Park. Eles foram um pouco diferentes do que eu esperava. Não são padrão, nem conservadores e tradicionais, mas são amorosos. Me lembravam Jin, então eu gostei deles.
A família é composta por uma mãe alfa e um pai beta muito doces e modernos; uma filha mais nova beta que é encantadora, nos aproximamos bastante; um filho do meio alfa que nunca estava lá; e a minha alfa que é a mais velha. Todos eles me acolheram bem.
Mamãe que não curtiu já que se preocupava com eles colocarem pensamentos errados de suas ideologias falhas na minha mente. Ela não queria que me influenciassem a pensar diferente, fora do padrão e eu afirmei que isso não tem como, vou continuar sendo seu filho perfeito, não ouso a desobedecer nunquinha. Papai conseguiu me ajudar a acalmá-la e fazê-la aceitar a família a qual eu estava entrando. Ele mostrou que ela é prestigiada então é o que importa. E desde então tudo tem sido tudo uma maravilha!
Despertei lentamente. Ao meu lado direito, sobre o mogno marrom, estava o relógio marcando sete horas da noite. Sentei, elevando os braços e espreguiçando. Assim que senti o colchão se mover devagar, lembrei que estava acompanhado. Ontem eu passei mal de sinusite e acabei ligando para minha noiva. Ela cuidou bem de mim. Mamãe não pode nem sonhar que isso aconteceu.
Sorri, levando minha atenção ao ser tão belo que ali dormia. Toco seu rosto, fazendo um carinho com meus dedos longos e aos poucos vi seus olhos se abrirem... Uma imensidão de cor de chocolate. Eu amo chocolate. Lhe dei um beijo tímido na bochecha.
— Oi, lindo. Está se sentindo melhor? — sorri para mim, exibindo seus dentes brancos e perfeitos, colocando uma mecha do meu cabelo comprido atrás da orelha. Assenti. — Ah, que bom. — permiti que ela se aproximasse, me roubando um beijinho na boca. Minhas bochechas tomaram um rubor conhecido por mim e para escondê-lo a abracei, deixando meu rosto na curvatura de seu pescoço que também cheira predominantemente a chocolate mas com um fundo afrodisíaco.
— Você é fofo. — disse, rindo. Esta é Park Hana, minha alfa, minha noiva, a mulher mais linda que já tive o prazer de conhecer. — Estamos juntos a quatro anos, me pergunto quando conseguirá se soltar comigo.
— Eu não sei m-mas juro melhorar por você-
— Depois do casamento. — completa, balancei a cabeça concordando. Ela riu. — Sempre depois do casamento. Tá bom. Acho que posso esperar mais um pouco. Você vai ficar mais confiante, certo? E eu vou poder te beijar e te tocar do meu jeito. — murmura doce, deslizando a mão pela minha cintura, beijando meu pescoço. A empurro suavemente.
— Não diz essas coisas. E-eu me sinto um pervertido, não gosto de me sentir assim. Você devia ser menos safada.
— Estamos juntos a muito tempo, iremos nos casar essa semana, não entendo porquê esperar tanto para ter intimidades.
— Porquê o Senhor nos ensinou assim.
— Na verdade, foi sua mãe. Já te falei que o Senhor quer nos ver felizes. Ter intimidades trás muita alegria, sabia?
— Ora, não comece a ofender minha mãe, nem a tentar me convencer. Você lembra que combinamos desde o início que seria assim. — faço bico.
É sempre desse jeito. Ela parece esquecer da nossa promessa. Esse é o motivo comum de nossas discussões. Hana quer algo a mais que eu não posso dar no momento. Nesses instantes me questiono porquê ela quer quebrar nosso combinado e porquê não respeita o meu tempo. Já lhe disse que não estou pronto para sofrer o sacrifício e, certamente, antes do casório seria pecado, mamãe diz que casados é abençoado e dói menos então tínhamos que esperar. Nós prometemos esperar.
— Desculpa, neném. — me dá outro beijinho. Percebi que olhou por cima do meu ombro, vendo o horário no aparelho. — Já vou indo, sim?
— É por que eu não quero fazer coisas a mais?
— Eu tenho compromisso e estou quase atrasada.
Finjo não notar sua esquiva sobre o assunto.
— Tá bom. Dirija com cuidado. — selo as costas de sua mão.
— Pode deixar, lindo. Nos vemos na sexta.
Ela saiu do apartamento ao qual me presenteou há dois meses no dia do meu aniversário. Vamos morar aqui depois do casório. Minha mãe pirou ao saber que optei por ficar aqui, sozinho, até esse dia. Tive que recorrer a ajuda do meu pai novamente. Então em certo momento Mari aceitou que eu estava a fim de já me acostumar com o ambiente.
Para ser sincero, não me arrependo de deixá-la, afinal, sem ela me sinto mais livre e, também, sem ela tive o prazer de ter mais momentos especiais - a sós - com minha noiva.
Esses dois meses foram maravilhosos para nós. Hana e eu estamos ainda mais próximos, felizes e apaixonados!
Bem, eu entendo a sede dela por algo a mais, é alfa, e alfas são naturalmente fogosos, não é? Eles sempre precisam de mais, sempre estão querendo aquilo, ainda mais ela que me tem a tanto tempo e aguardamos muito para ficarmos certos com Deus.
Nós concordamos desde o início do namoro que só íamos nos entregar na lua de mel, por isso eu tento a fazer ter calma no passo que me aconselho a acostumar com a ideia de me submeter a coisas que eu não entendo e temo muito. Se quando chegar a hora vou fazer só por ela, por que ela parece não pensar em mim agora e, esperar, cumprir o próprio combinado que fez?
Tirando esse lado que é o ponto de discussões frequentes, nossa relação é perfeita, não discutimos por demais coisas e temos muitos momentos alegres juntos. Eu a amo mais do que a mim mesmo!
Sorri largo. Eu mal posso acreditar que vou mesmo me casar com essa alfa após tanto fantasiar o momento em minha mente.
Capturei o travesseiro que contém seu cheiro. Ai se minha mãe soubesse que dormimos na mesma cama. Os sermões iam vir e os castigos também. Mas não aconteceu nada demais, sabe? Hana apenas me deu um remédio, pediu uma comida leve, vimos filmes agarradinhos no sofá e demos uns beijinhos antes de dormir. Todavia, Mari surtaria, não ia entender de forma alguma. Ela fica fora de si por qualquer coisa que me ameace, principalmente se for a minha pureza. Se continuar assim, acho que depois da noite de núpcias ela terá um infarto.
Quando Jin estava noivo de seu beta - é, ele descobriu que gosta mais de se relacionar com essa classe -, eles se curtiam horrores. Mas Mari não aceita algo assim. Por ela, Hana não deve pisar nem no hall do prédio. Mal sabe ela que minha alfa vem muito aqui e até visita minha cama. Se isso for pecado, que Deus me perdoe.
Eu sei que é perigoso cedermos aos instintos ao ficarmos tanto tempo a sós, para acrescentar, é vergonhoso para um ômega como eu ser visto num ambiente sozinho com um (a) alfa. Mas eu amo a companhia da minha mulher então não resisto em chamá-la sempre que possível. E a Sra. Jeon deveria saber que seu filho nunca permitiria que passem dos limites com ele.
Inclusive, como mencionado, isso deixa minha noiva chateada. Até porque nem o cio passamos juntos. Eu estou acostumado a me dopar e peço para que ela passe dopada também. Às vezes discutimos sobre essa questão, mas o casamento está chegando e acredito que tudo irá se resolver.
Na nossa lua de mel eu vou permitir que ela faça o que quiser, afinal, será minha esposa e eu também irei confiar melhor. Ao menos, é o que eu espero. Não importa. De todo medo, terei que suportar. Juro que farei esse sacrifício por ela. Mas só quando chegar a hora. Enquanto isso, a permito me abraçar e beijar quando quer, só controlo para não nos entregarmos a esse pecado e corto quando vejo que passamos do meu limite. E ainda que frustrada, ela para, logo me respeita, não é?
Eu sinto que Hana me ama muito. Eu estou imensamente feliz por isso e também porque vamos nos casar. Já estávamos na última semana de espera. Na sexta acontecerá o jantar com nossas famílias e no sábado o grande dia. Nem consigo acreditar que quanto mais dias se passam, mais apaixonado eu estou por essa alfa. Eu sequer chegava perto de alfas. Ainda bem que tive coragem de paquerá-la, mesmo que timidamente. Hana é tão boa para mim que é quase inacreditável. Estou tão cheio de emoção pelo o que virá!
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Hoje eu acordei cedo e tive um dia de príncipe, cuidei da pele, das unhas, do cabelo e a tarde me arrumei até ficar esplêndido! Isso tudo ansioso, pois quero que tudo seja perfeito no nosso jantar de véspera, a começar por mim, claro.
À noite, ao chegar na casa dos Park cumprimentei meus pais. Meu pai, Bon-Hwa, disse que eu estou lindo como sempre e Mari deixou claro sua aprovação, afinal, eu estou tão belo e recatado que certamente irei encantar a todos os presentes. Eu sorri, me sentindo satisfeito pois eram poucas as vezes que conseguia agradá-la de verdade.
Também cumprimentei meu irmão. Joshua é totalmente diferente da mamãe ou do papai. Ele tem o poder de fazer o que quiser, nossos pais não ligam desde que ele não envergonhe o nome da família. Tudo porque ele é um alfa. Simples assim. Alfas podem qualquer coisa.
— Você está totalmente brega.
— Ora, hyung. Eu estou vestido como ômega original. — um conjunto estampado de saia abaixo do joelho e casaquinho, uma blusa folgada com manguinhas abaixo do último, além de sapatilhas, pulseiras e maquiagem delicadas.
— Você parece chique. Um ou uma ômega velha chique. — disse sarcástico.
— Qual o seu problema com minhas roupas, uhm?
— Não dizem nada sobre sua personalidade verdadeira.
Nego. Pode não ser meus trajes preferidos mas sempre fui acostumado a reprimir meus desejos, por mim está tudo certo desde que eu seja o ômega conservador perfeito que supre todas as expectativas.
— Eu não sei do que está falando. Eu sou assim.
— Se quer mentir para si mesmo, vá em frente. Mas eu sou seu irmão, Jungkook. Dividi toda minha existência com você e, mesmo estando afastado, eu te conheço muito bem. Pelo visto mais do que você mesmo. — deu as costas. Dou de ombros e sigo em frente.
Cumprimentei Seokjin e consequentemente Namjoon já que agora eles estão casados e não se separam para nada. Sim, meu melhor amigo, depois de muito se amassar e namorar em vão, conseguiu seu par perfeito. Eles são um casal fora do padrão como meus sogros. Mas dá certo.
Cumprimentei os pais de Hana, senhor Jaebum e senhora Soojin. Eles são lupinos maravilhosos, sério. Mesmo que não os vejo muito, temos um grande afeto uns pelos outros.
Cumprimentei uns amigos de Hana com quem tinha conversado pouco durante todos esses anos. Ela também não é chegada aos meus então estamos quites.
Vi Jooeun junto do seu primo Yoongi e do irmão Jimin que ainda não conhecia porque, de acordo com minha noiva, ele estava em Seul aprimorando os estudos. Cumprimentei os primeiros, em seguida eles me apresentaram ao alfa e quando nossas mãos encostaram um arrepio estranho veio dos dedos dele invadindo os meus, me causando um choque incomum. Sem pensar que não podia o fazer - ômegas tinham que ficar de cabeça baixa para classes ou pessoas superiores - ergui o rosto, encarando seus olhos que descobri serem puxados, felinos e possuíam um brilho... Dourado? Eu vi seu lobo ou estou alucinando? Foi rápido demais, com certeza apenas uma impressão boba, portanto, ignoro, peço desculpas e volto a abaixar a cabeça.
Não demorei a encontrar Hana, ela estava saindo de seu quarto com um amigo que me disse um "oi" e saiu. Deviam estar conversando em particular. Tudo bem, eu não sou ciumento, e os assuntos da minha alfa não dizem respeito a mim, certo?
— Jungkook! — animada, ela veio até mim, me selando demorado. — Você está tão lindo!
— Obrigado. Você também está, amor. — dou uma risadinha ao tê-la encostando nossos narizes, me dando um beijinho de esquimó.
— Você é tão fofo e está tão arrumadinho que me dá vontade de te bagunçar todo. — sorri ladino, me fazendo corar.
— Noona — murmurei, tampando o rosto com as mãos.
— Não faz assim. Não se esconda da sua alfa. — me fez descobrir. — Eu posso te beijar?
— Pode. — não sei de onde tirei voz para responder.
No passo seguinte nós estávamos com os lábios colados, movimentando lento... Ao menos no início. As coisas foram tomando um ar mais quente e eu deixei só por estar frágil. Estou próximo do cio, afinal. Então quando ela me pressionou contra a parede e apertou minha bunda, eu gemi. Algo que havia feito raramente. Ela me encara com seus olhos brilhando desejosos, do mesmo jeito que vi a alguns anos atrás em outro lupino quando era um adolescente novinho. Eu gostei de vê-la assim, porém, me senti sujo. Eu não posso ceder a essa promiscuidade!
Antes que eu dissesse algo, o irmão dela apareceu no corredor, a obrigado se afastar. Ele não disse nada, apenas fingiu que não viu e entrou na porta ao lado, o banheiro. Me forço a recuperar meu fôlego.
— Vamos, você precisa dar os cumprimentos aos nossos familiares. — disse à ela que concordou, parecendo contrariada.
Os minutos passaram no ambiente tranquilo e alegre. Mais uma vez pude ver o quanto a família Park é atenciosa, carinhosa e gentil, não apenas comigo mas com todas as pessoas independentemente de qualquer coisa - aqui incluímos minha mãe, uma ômega bem complicada de conviver e dialogar.
Notei que Hana ficava me encarando o tempo todo, dando piscadinhas ou mandando sorrisos e beijos no ar, eu lhe dava sorrisos tímidos e abaixava a cabeça, mas ela parecia gostar de me ver afetado.
No meio tempo meu tio que não é tão próximo, pois mãe não permitia, me ligou desejando um bom jantar. Não deu para ele vir, porém, certamente irá ao casamento. Já faz anos e eu sequer lembro dele direito, será ótimo revê-lo.
Após termos os discursos, felicitações e brindes, quase na hora do jantar, Hana apareceu, rindo atoa.
— Vem comigo. — disse, me levando pelos corredores.
— Mas os convidados...
— Preciso te mostrar algo. — me levou para seu quarto, fechou a porta e a trancou.
— Por que trancou, amor?
— Para evitar que sejamos interrompidos.
— E o que você quer tanto me mostrar?
— Sabe, eu amei flertar com você hoje. E também como ficou tão entregue a mim. Agora você não me escapa, Jungkook. — nesse instante, ao passo que ela me seca e dá um sorriso malicioso ao qual nunca aparece em suas expressões costumeiras, eu senti meu corpo gelar. — De hoje não passa. — dito isso, me beija excessivamente molhado e pegajoso. Eu acredito ser um exagero a forma que estou sendo agarrado.
Ela parece estranha. E por que suas mãos estão em minha bunda, puxando a saia para cima até acima das minhas coxas e descendo os dedos para...
— Ei. — reclamo.
— Cala a boca! — tentou continuar o beijo mas a afasto bruscamente.
— Enlouqueceu? — foi o que consegui dizer enquanto meu rosto queimava pela vergonha ao notar suas intenções. Abaixo a saia novamente. Me sinto um idiota por não ter percebido logo. Ela tentou agarrar meu corpo e colar nossas bocas mais uma vez, impeço. — Para com isso, noona. — murmuro, incomodado. Eu não quero passar do limite. Eu não suporto isso.
— Você sempre estraga tudo! — gritou, soando áspera e mostrando estresse, além de embriaguez. Eu nunca a vi bêbada. Oh, não, isso poderá ser um problema. — Não aguento mais!
— Amor, o que custa esperar o casamento? Ele está praticamente aí. — falo suave como sempre.
— Custa muito. Não aguento mais nenhum segundo. Tentei pela última vez, mas já que não consegue melhorar, chega. Cansei! Quatro anos e sequer vi seu pênis. — ri com sarcasmo, balançando a cabeça em negativo. — Nem sei se ele fica duro ou se você libera lubrificação desse cu para ser comido.
— Não f-fale assim. — peço envergonhado. Não estou acreditando que iríamos brigar novamente por conta disso. É impressionante que sexo sempre é o motivo de desavenças entre nós. Por que essa coisa é tão importante? — O que deu em você? Tivemos uma conversa no início e escolhemos esperar juntos, p-por que parece esquecer toda santa vez?
— Me arrependo amargamente desse voto de castidade até porque nunca fui virgem! — exclama, me deixando incrédulo. Ela mentiu sobre algo importante para mim. Estou ficando mais e mais chateado. Eu pensei que Hana era sincera em tudo. — É incrível como sua mãe consegue te convencer a fazer tudo o que ela quer.
Massageio as pálpebras.
— Esquece ela. Esse papo é sobre você e sua loucura repentina.
— Tem tudo haver com ela! Ela quem mete essas porcarias na sua cabeça! Se você é tão ridículo assim, é por obedecer a ela! — eu não quero acreditar no que ela está falando. Minha mãe me guia no caminho de Deus, faz de mim o melhor e me ama! — E eu estou mesmo louca, a tempos. Até porque estou ao seu lado há quatro malditos anos! Quer saber? Isso acaba aqui e agora!
— Você está chapada. — claro que está. Minha alfa nunca se descontrolou, nunca gritou comigo assim. A vi destrancar a porta mas não permito que saía sem mais nem menos. — Volta aqui. Não acredito que está querendo me deixar por... Por sexo, noona.
— Não é só isso. Eu cansei dessa mentira, Jungkook. Cansei! — diz agoniada.
— Mentira? — repito, confuso.
— A porra do nosso relacionamento! Ele é só mentiras! — não, ele sempre foi real e sincero. Sempre. Como nós somos um com o outro. — Nem sei porque estive todo esse tempo com você. É só um ômega sem graça e medroso. Ah, é. Pensei que te amava, mas foi só um terrível engano. — sorri cínica.
— C-como? — gaguejei, me sentindo enjoado com suas palavras, com o coração sendo esmagado no peito. Respiro fundo buscando afastar a sensação ruim. — Noona... N-não pode falar assim. Está sendo cruel. Por que faz isso comigo? — choramingo, segurando a barra de sua camisa social. — Eu te amo.
— Pois eu não! — se afasta bruscamente. — Eu cansei de usar essa máscara! Eu não sou assim. Apenas fingi concordar com seus ideais estúpidos para te conquistar!
— O-o que? — minha voz quase não sai, estou... Surpreso da pior maneira existente.
— Pensei que estávamos no fogo da paixão e que, com o tempo, depois de tanto carinho, pela primeira vez iria fazer amor com você, não só sexo, mas... — ri irônica. — Só vamos ser sinceros, você não é ômega para mim.
— Mas eu faço tudo por você, alfa. — meus olhos já se encontram marejados.
— Não faz, não. Você cozinha e me dá carinho, mas eu tenho outras necessidades, sabia? Estas que você nunca saciou.
— Por que você tem que pensar só nisso? Nosso amor é mais do que sexo... — confiávamos um no outro, nos respeitávamos, divertimos juntos, somos apaixonados, ou ao menos eu pensei que fosse assim... Eu estou sozinho nessa? Fiquei iludido esse tempo todo achando que era correspondido da mesma maneira e não sou? Fantasiei demais ao ponto de distorcer a realidade?
— Porque diferente de você eu gosto de transar, né?! Por tantas vezes quis te tocar, te dar prazer, parar com a dor de nossos cios e você sempre caía fora! — ela está furiosa e eu... Estático. Não sei o que pensar, o que dizer. — Só aguentei ficar ao seu lado porque pensava que realmente te amava. Foi quase. Mas essa merda nunca foi amor! Agora sei que na verdade estava com você pelo apego e na esperança de ter um sexo maravilhoso com um ômega gostoso pelo resto da vida. Foi uma grande ilusão! Você não é maduro o suficiente para encarar um relacionamento bom e satisfatório para ambos os lados.
Eu não sou...? Mas eu me dediquei, eu fiz tudo por nós, estávamos felizes, concordávamos com tudo, ninguém demonstrou insatisfação. Ela também se dedicava... Ou esse tempo todo só me enganou? Minhas lágrimas começam a descer. Eu sinto que tem mais coisas. Estou com medo do que vou descobrir pois minhas expectativas já estão sendo massacradas.
— Como fui idiota — riu sem humor — Você mal sabe se valorizar, mal sabe o que quer da vida e é tão cheio de paranóias estúpidas que me cansa. Duvido que tenha curtido a vida antes de mim, até porque nem comigo se permitiu aproveitar. E olha que eu sou sua noiva! Porra, Jungkook! Você só é a merda de um garoto mimado, medroso, que sabe apenas fazer o que a mamãe manda. Estou exausta de insistir nessa porra. Estou cansada de te desejar tanto, por tanto tempo e ficar por isso mesmo. Eu tenho dois irmãos, não preciso de mais um!
— E-eu... — eu tenho que arrumar uma solução, não posso perdê-la, não posso acabar com a minha felicidade do dia-a-dia, não posso e nem mesmo quero ficar só. Nós somos um casal perfeito. Não podemos nos quebrar. — Se você quer isso, tudo bem. — a beijo, tentando amenizar a discussão, porém, sou empurrado. Isso parte ainda mais meu coração. Ela está me rejeitando e não é nenhum pesadelo, é real. O que nunca sequer imaginei, está acontecendo.
— Eu não te quero mais, Jeon! Se quer saber, nem sei porque caralhos chegamos a esse ponto!
— Porque nos amamos.
— Não, não. Estava com você esperando ter prazer em todos os sentidos e depois que minha paixonite se foi, continuei até hoje por carência e dó. A verdade é que agora conheci outros lupinos, nos divertimos de verdade e eles me deram tudo o que você sempre negou. Eles são ômegas de verdade, sem vergonha de mostrar que também tem desejos, simplesmente irresistíveis, que se entregam em um piscar de olhos. E quer mesmo saber? Eu fiquei com cada um deles! — grita.
Meu coração se quebra totalmente. Saber disso dói como o fogo do inferno deve arder. Como ela pôde? Depois de tanto tempo, sabendo que eu confiava e a amava, como teve a coragem de ser tão baixa? Me trair e ainda me desmerecer? Eu me entreguei, dei tudo por nós. E ela me enganou parecendo dar tudo pela nossa relação também. Agora eu sinto tudo estilhaçado. Eu estou estilhaçado e a culpa é dela.
— Cafajeste. — disse, segurando o choro que estava querendo aumentar. Nessa situação não pude controlar minha língua e pela primeira vez xinguei. — Você é uma cadela sem vergonha, Park Hana!
— Com certeza. E essa cadela aqui está bem melhor com um novo ômega maduro e de atitude. Ele é sem dúvidas bem mais solto, charmoso, gostoso, e ainda é capaz de parar o mundo. Um ômega que você nunca vai ser. — disse áspera.
Eu sinto o peso de suas palavras. Meu coração despedaçado teve cada centímetro pisoteado. Me sinto humilhado, destruído. Dói muito. Minhas lágrimas ardem nos olhos e a garganta, mas não quero chorar mais em sua frente e terminar de lhe dar esse gostinho de me jogar na lama.
— Tenho pena de quem te querer futuramente. Será mais um decepcionado na vida porque você não tem nada de bom a oferecer, nem sexo sabe fazer. — ri cínica. — O mundo nem enxerga alguém tão apagado e insignificante. Sinto muito, amor, mas você perdeu. Perdeu o que não tinha porque não foi capaz de me ganhar, nem nunca será. Eu sou incrível demais para você.
— Não. — engulo meu orgulho ferido e as lágrimas dolorosas ao máximo. — Foi você quem perdeu. Tomara que se dê conta disso quando for tarde demais, s-sua sem caráter.
— Só nos seus sonhos. — sorri cheia de prepotência.
Saio correndo dali antes que desabasse em sua frente. Ao passar pela sala, Mari chamou o meu nome, querendo falar sobre o casamento, este que nunca aprovou de verdade mas concordou pelos benefícios que eu teria na vida ao envolver com uma alfa considerada de alto nível.
— Não se preocupe em discutir nada. Não vai mais haver casamento. — a surpresa foi grande para todos que estavam no cômodo, menos para os amigos de Hana, principalmente um em especial que saiu de seu quarto mais cedo. Canalha!
— Mas por quê? — questionou o senhor Park, pesaroso.
— Pergunte à sua filha. — saio como um furacão ao sentir o choro, ao qual estava segurando, tomar conta de mim. Por sorte lembro do meu casaco térmico antes, sem dúvidas estava frio lá fora.
Pude ouvi-los gritar meu nome, porém corro como nunca.
A dor é mais que incomoda, as lágrimas embaçaram minha visão, mesmo assim, eu não paro de correr. Isso até tropeçar num monte de neve e cair. Acabo abraçando o chão, chorando intensamente.
— Ei, Jeon. Não fique nesse gelo. — mãos me ajudaram a levantar e quando olhei para a pessoa vi que se tratava de Jimin.
— P-por favor, me... Me leva pra casa. — peço, gaguejando, imerso naquele momento doloroso. Ele assente.
No caminho, acabo adormecendo de tanto chorar.
Sinto as mãos revirando meus bolsos e depois a sensação de estar flutuando por um momento até que meu corpo toca algo firme, porém, macio. Acordo algumas horas depois, me sentindo semelhante a um vidro quebrado em pequenos e muitíssimos pedaços. Não aguento, retomo o choro.
— Não chore. — me assusto procurando o dono da voz baixa e viril, encontrando o alfa parado no batente da porta.
— O-o que faz aqui?
— Estou aqui para cuidar de você. Tomei a liberdade de desligar os telefones e fiz um chocolate quente, espero que não se importe. — sua voz máscula é calma, aconchegante, tudo o que eu preciso no momento.
— Obrigado. — ele apenas concorda com um menear de cabeça.
— Você está bem? — questiona sem jeito.
— Sim, mas dói. Hana... E-ela... Ela é falsa e disse coisas horríveis. Ela me traiu, Jimin-ssi. Me desmereceu. Eu nunca vou perdoá-la. Ela conseguiu destruir tudo, tudo... — tampei o rosto com as mãos, ainda ouvindo as palavras daquela maldita alfa ecoarem na minha cabeça.
— Sinto muito. — ficamos em silêncio por uns minutos. — Quer desabafar? — nego. Não quero dizer nada no momento, muito menos a alguém que não conheço. — Quer xingar? — nego outra vez pois ômegas comportados não fazem isso, é deselegante e um tanto quanto chulo. — Quer que eu vá embora? — nego novamente. Eu não quero ficar sozinho, não nas próximas horas.
— Por favor, fique. — murmuro quase sem voz.
— Só se tomar a xícara toda. — ergue a mesma, vindo até mim.
— Estou sem apetite.
— Você ficou jogado na neve, vai por mim, é melhor tomar. — parece algo sensato, portanto, obedeço. Quando termino de beber, Park leva o objeto para a cozinha então retorna e ajeita os travesseiros pedindo para que eu me deite para descansar.
— P-por que está me ajudando? — pergunto, intrigado.
— Sinto muito pela minha irmã, Jeon. Mas minha família tem caráter e eu nunca deixaria de ajudar alguém nessa ou em qualquer outra situação.
— Ah... — eu estou fungando sem parar, tentando não chorar mais. Ele nota, dizendo:
— Não precisa tentar parar. Pode chorar o quanto quiser, alivia. Só não faça isso para sempre porque ela não merece suas lágrimas.
— Jimin-ssi... — por impulso o abraço, chorando compulsivamente. O alfa ficou calado apenas acariciando minhas costas, até eu cansar e me render ao sono outra vez.
Acordo novamente de manhã, o Park não está mais aqui. Havia deixado um bilhete dizendo que precisava ir embora. Vou ao banheiro, sentindo como se meu corpo tivesse sido esmagado, a cabeça está pesada, latejando, e meu coração completamente dolorido. Recordo da noite anterior e sinto como se estivesse em um pesadelo apavorante.
Havia me dedicado tanto àquela alfa, mais do que a mim mesmo. Me doei inteirinho. Fiz tudo pela nossa relação. E agora eu estou no fundo do poço.
A amo, adoro sua companhia e nós nos dávamos tão bem, não entendo o porquê dela ter feito isso comigo. Como ela teve coragem de usar uma máscara por tanto tempo? Que direito ela tinha de me olhar nos meus olhos e dizer aquelas coisas? Por que parece não entender meu lado? E por que precisa de algo tão devasso para se sentir satisfeita? Eu não sei. Só sei que a maldita acabou comigo. Ela foi minha primeira namorada. Eu estou arrasado!
Ao sair do banheiro e entrar no quarto, acabo me deparando com lembranças. Uma raiva estranha toma conta de mim e em um ataque de fúria quebro todos os quadros de nós dois, rasgo as fotos reveladas, destruo os presentes e limpo cada vestígio que me faz lembrar dela. Até o vestido de casamento eu deixo em pedaços. Ao terminar e ver o cômodo revirado, as memórias destruídas, sabendo que está tudo, de fato, acabado, não aguento, desabo no chão aos prantos. Odeio o sentimento de perda, de rejeição, de humilhação...
Nunca havia entregado meu coração antes e perante a dor que sentia só conseguia pensar que Mari tinha razão: apaixonar e querer alfas é abrir as portas para o sofrimento.
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