VI

A princesa Karina sentiu borboletas em seu estômago, literalmente! Era a primeira vez que beijava um rapaz, e o seu primeiro beijo com seu futuro marido foi melhor do que ela poderia imaginar. Intenso, doce, caloroso, e delicioso. Não foi um beijo simples, foi um beijo apaixonado, de duas pessoas que estavam a um passo de se amarem, se é que já não se amavam e ainda não haviam percebido. Da paixão para o amor é um salto.

Quando o beijo terminou, os dois sorriram com as testas encostadas, um olhando nos olhos do outro, estavam tão apaixonados, e muito felizes com o primeiro beijo da relação.

- Você é linda... Muito linda. – ele disse, enquanto acariciava o rosto da princesa. Mas antes que a princesa pudesse responder ao lindo elogio de seu amado, foram interrompidos por Lisa, a mulher responsável por Karina ter sido criada pelos reis de Costa Lina, Lisa trabalha no castelo desde aquele dia, além de ser responsável pelas tarefas da arrumação, também era responsável pela princesa, e por isso, as duas desenvolveram uma relação amigável, Karina enxergava Lisa como sua segunda mãe. E Lisa sabia que era isso o que Maria (a mãe biológica), iria querer.

- Princesa Karina! Está ficando maluca?! Está beijando o príncipe em ar livre, não pode ser tão descuidada assim, se alguém da corte ver isso, vai surgir boatos sobre sua honra! – disse Lisa, correndo até a princesa, pegando na mão dele, afastando-a de Leon.

- Lisa... Eu não me importo que vejam! Estou apaixonada e ele é o meu noivo, o que há de errado? – respondeu a jovem, sorrindo enquanto olhava para Leon.

- Não seja tola, Karina! Eu também não vejo nada de errado nisso, mas você sabe como são as regras da realeza, e na sociedade em que vivemos, se te pegarem beijando o príncipe antes do casamento, sua reputação como princesa vai ficar mal falada e isso não é bom, seu pai não vai gostar nada. – disse Lisa, tentando por um pouco de juízo na cabeçinha da jovem e rebelde princesa.

- Eu realmente não entendo essas regras, e não dou à mínima. O Leon é o meu noivo, noivos se beijam, não deveríamos ter que nos esconder. A única coisa que incomoda o papai é que se eu ficar mal falada... Posso perder alianças de casamentos, mas eu já estou comprometida com o Leon desde que eu tinha seis anos, e eu não acho que o Leon vai reclamar por eu beijá-lo antes do casamento. – disse a princesa, olhando para ele, controlando a vontade de rir.

O príncipe também tentou controlar a risada, a única coisa que ele queria naquele momento era continuar beijando-a. – Não seja tão má com o seu pai, ele não se importa apenas com isso, ele te ama, Karina. O seu pai te ama muito, ele se importa com a sua reputação, com os seus sentimentos, você será a futura rainha desse país algum dia, o legado da sua família estará em suas mãos, você precisa ser uma boa rainha para o povo, e parar de ser tão desmiolada. – disse Lisa.

- Ai Lisa... Por favor, se o meu pai me amasse tanto assim, demonstraria, eu nem lembro qual foi a ultima vez que ele me chamou para conversar, uma conversa de pai e filha, ele sempre se importou mais com o país, com o fato de ser rei. Mas eu já estou acostumada, e até eu me tornar uma rainha, vai demorar muito. E eu sou nova, então, pra quê tanta pressa? – brincou.

Karina sempre foi muito brincalhona, sonhadora, era uma princesa totalmente fora dos padrões que eram estabelecidos para aquela época. – Karina... Tem que parar de ser tão teimosa, menina! Venha comigo! Sua mãe solicitou a sua presença no aposento real.

A princesa bufou. – Mas agora?

- É claro.

Ela olhou para Leon, ele sorriu e beijou a testa dela. – Está tudo bem, é melhor você ir ver o que sua mãe quer. Teremos tempo suficiente para namorarmos, vamos arrumar um jeito de nos beijarmos sem que ninguém nos veja. – ele disse baixinho.

- Tudo bem, até depois então. – ela disse e deu um sorriso bobo, os sorrisos de quando se está apaixonado.

E assim, a princesa, foi com Lisa para dentro do castelo. Ao chegar lá, Lisa foi para a cozinha, resolver um assunto do trabalho e Karina seguiu para o aposento real de sua mãe.

- O que está acontecendo? – perguntou a princesa, ao ver dois guardas de pé em frente à porta do quarto de sua mãe. Esse era o certo, guardas vigiando os quartos do castelo, mas sua mãe não gostava, então, os guardas não ficavam nunca na porta do quarto dela, e se eles estavam ali poderia estar acontecendo alguma coisa muito grave.

- Aguarde princesa Karina, vamos avisar a rainha Vitória de sua chegada. – um deles disse.

- Não precisa. Ela é a minha mãe, não preciso ser anunciada. – respondeu ela, sem entender.

De repente, a porta do quarto abriu, era a rainha Vitória. – Obrigada, sei que esse é o serviço de vocês, mas não precisam anunciar a minha filha, afinal, eu que chamei ela. Mas muito obrigada, entre, filha. – chamou Vitória.

Mesmo sem entender nada, a princesa Karina entrou e a rainha Vitória fechou a porta. Ela levou a filha até a cama, fazendo-a sentar.

- Mãe, porque tinha guardas na porta do seu quarto? Tem guardas em todo lugar nesse castelo, menos no meu quarto e no seu, porque não gostamos, lembra? Então, por que tinha guardas ali? Pode me explicar?

- Karina, presta atenção. Tentaram envenenar o seu pai, durante essa manhã. Não sabemos quem é, mas sabemos que ou essa pessoa está no castelo, entre nós, ou alguém nesse castelo está ajudando essa pessoa, e por isso o veneno chegou até aqui. De qualquer forma, tem alguém aqui contra nós, graças a Deus o seu pai não comeu a comida envenenada, mas o fato é o que o veneno estava naquela comida, e era para o seu pai. Para o rei Derek. E como o meu quarto, também é o dele, é por isso que os guardas estão ali fora, seu pai colocou muito mais guardas no castelo, estão todos em alerta, todos sabem da tentativa de assassinato contra o rei, e eu penso, que se o inimigo quis matar o rei, ele também é nosso inimigo, e pode ser que também queira nos fazer mal, filha. Por isso, tome cuidado, não confie em ninguém, e colocamos guardas na porta do seu quarto também, você é a princesa, pode ser um alvo do inimigo também, nada de ruim pode te acontecer, porque, além de princesa e futura rainha, é a nossa filha amada, não queremos ter perder, não suportaríamos. Então, os guardas na porta do seu quarto são extremamente necessários.

- Mãe... Meu Deus... Como o papai está? Bem? Quem iria tentar fazer isso contra ele? Por quê? – perguntou a princesa, cheia de dúvidas e medo também. Era a primeira vez em sua vida que passava por uma situação assim.

- Querida... O seu pai é o rei de Costa Lina, ele tem muitos inimigos, todos que estão no poder tem inimigos, esse é o preço que se paga por nascer e crescer com o sangue real. Infelizmente, somos odiados por muitos e ás vezes sem motivos.

- Mas o papai é um bom rei?

- É claro que ele é, filha. Mas um bom rei também comete erros, e muitas vezes, é tentando corrigir e mudar algo para o bem, que sem querer, ocorre o mal com outra pessoa. Ser rei, é tentar ser justo com o povo, é como decidir qual de dois homens é culpado por algo, por algum crime cometido, um desses dois homens vai vencer e o outro perder, o seu pai, como rei do nosso país, é escolhido para julgar esses dois homens, ele julga considerando os seus ideias, tentando ser o mais justo que conseguir, e quando ele escolhe um lado para ser o certo, o outro lado que perde... Esse lado acaba se espalhando, e o ódio pelo rei é instalado, vingança é o que muitos querem, e é a sede de vingança que faz um rei ter inimigos. Mas também pode ser que esse inimigo, seja alguém importante, que quer tirar o seu pai do trono, também pode ser pessoas a mando de reis de outros países, nunca se sabe quem é o inimigo, o seu pai pode não ser o melhor rei, mas ele sempre tenta fazer o melhor para o país e nossa família, e isso deve bastar para nós, então não o julgue, por mais generoso que um rei ou uma rainha pode ser, nunca vai ser o suficiente para todo o povo, sempre existirá pessoas que irão querer te prejudicar, te tirar do poder, você vai perceber isso quando se tornar a rainha algum dia. Mas eu realmente espero que você não precise passar por isso.

- Mãe... Coisas desse tipo já aconteceram antes?

A rainha Vitória suspirou e pegou com delicadeza nas mãos de sua filha amada. – Algumas vezes.

- Como o quê? Tentaram mais uma vez matar o papai? – a princesa insistiu em saber da verdade. Ela nunca ficou sabendo de coisas desse tipo, estava em choque em descobrir que o pai era odiado por certas pessoas, estava em choque ao descobrir que ter o sangue real significava ser odiada por algumas pessoas, por pessoas que queriam tirar sua vida.

- Também. Mas também já tentaram me envenenar, e... Quando você era pequena, quando tinha cinco anos de idade, você foi sequestrada, iriam te matar, mas a mulher que foi encarregada de te levar do castelo, se arrependeu, acho que não teve coragem de contribuir com o assassinato de uma criança inocente, e te trouxe de volta, ela te colocou dentro do castelo com um bilhete que estava na sua mão, onde contava que estava arrependida, mas nunca chegamos a ver essa mulher, pois você apareceu no jardim com aquele bilhete, e estava sozinha, e eu fiquei tão feliz por te ver, que nada mais me importava. – Vitória terminou de dizer, segurando suas lágrimas, que estavam prestes a escorrer por seu rosto angelical.

- E por que não me lembro de nada? Eu não me lembro de ter sido sequestrada, não me lembro de mulher nenhuma e muito menos de bilhete.

- Ah querida... Você era muito novinha, com certeza, aquilo foi um trauma, o que fez com que se esquecesse desse episódio. Mas acho que foi melhor assim, quer dizer, se você tivesse crescido com essa lembrança, poderia não ser mais a mesma que é hoje. Eu não quero que coisas desse tipo ou piores te aconteçam de novo. Eu não iria suportar.

- Se estar no poder, significa viver com medo, eu não sei se quero me tornar rainha algum dia, se só o fato de eu ser uma princesa já desperta o ódio de certas pessoas... Eu não quero viver assim, eu não quero essa vida. – disse a princesa, estava em choque com tudo o que tinha sido revelado por sua mãe, saber que já tinha sido sequestrada quando criança e que sua cabeça apagou todas as memórias daquele dia, estava deixando-a bastante assustada.

- Não tenha medo, minha princesa, você não pode permitir que o medo te domine. Tem que continuar com a sua vida, sendo quem você é, quem você sempre foi. Filha, você é uma princesa, e isso nunca vai mudar, mas não pode deixar que o medo te vença, que o medo te mude. Você é linda, e especial, assim como é, se deixar que o medo entre na sua vida, te dominando, você vai deixar de ser você mesma, e viver com medo não é viver, a onde está a minha princesinha rebelde e corajosa? Esse país precisa dela, e a nossa família também. – disse Vitória, dando um ultimo carinho no rosto da filha.

- Você está certa... Eu não posso deixar o medo me dominar, vocês deviam ter me contado antes que vivíamos sobre ameaça constante.

- Não queríamos te assustar, seu pai e eu, queríamos que você crescesse sem medo, que crescesse feliz como qualquer outra criança, por isso nunca te contamos e nunca permitimos que você soubesse de nada do tipo.

- Mas eu já tenho 15 anos, tenho um noivo, quando iriam me contar?

- Não queríamos tirar a felicidade da sua juventude, ainda é muito nova, ainda é uma criança, e é ingênua, não queríamos tirar a sua ingenuidade.

- Ah mãe... Está bem, o que passou, passou. Obrigada por sempre ter me protegido da verdade e dos perigos da corte, eu amo você. Mas eu quero ver o papai, me acompanha?

- Não. Acho que você deve conversar sozinha com o seu pai. Eu não preciso estar presente, esse momento é de vocês dois, eu sei que vocês dois tem seus problemas um com o outro e que muitas vezes, você não compreende o seu pai, e nem ele a você. Mas eu sei que ambos se amam, e quando existe amor, tudo é possível.

Karina suspirou fundo e sorriu. – Tudo bem, eu vou tentar. Obrigada, por ser minha mãe, eu amo você, muito. – disse ela, e as duas se abraçaram.

- Obrigada por ser minha filha, eu amo você, infinitamente. – disse a rainha, enquanto apertava a filha em seus braços.

Havia apenas uma coisa que a rainha Vitória nunca se arrependeu durante toda a sua vida, e essa coisa da qual nunca se arrependera, era ter acolhido Karina ainda recém nascida, mesmo que tudo tenha sido as pressas e por medo de que o rei Derek não aceitasse a morte da verdadeira filha, ela não se arrependia da decisão que havia tomado naquela noite, ela amava tanto Karina, que ás vezes, até se esquecia de que a menina não tinha o seu sangue, mas enquanto ela vivesse, iria proteger esse segredo. Karina era sua filha e, a princesa de Costa Lina, e nada e nem ninguém no mundo iria mudar isso.

A vida havia lhe tirado sua filha biológica ao nascer, mas em recompensa, lhe trouxe outra, e ela estava disposta a honrar essa segunda chance. E era o que estava fazendo, avisar Karina dos perigos, e aumentar sua segurança, era proteger o presente que a vida havia lhe dado, a segunda chance de ser mãe, de ser a mãe daquela linda menina.

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