IV

Chloé viu que a princesa não iria responder a sua provocação, e sorriu, era exatamente o que ela queria que acontecesse, deixar sua prima sem falas. Era bom se sentir poderosa, e experimentar o poder, usando contra a princesa real, era melhor ainda.

- Licença, mas irei me retirar. Desculpa o transtorno, eu não queria causar conflitos. - disse ela, curvando-se para a princesa, antes de sair, sorriu para Leon e segui o caminho para dentro do castelo.

A princesa Karina estava com muita raiva da prima abusada que tinha, estava virada de costas, pensando em um monte de coisas e tentando controlar seus sentimentos confusos. E o príncipe Leon se aproximou dela, tocando em seu ombro, provocando uma reação de susto na princesa.

- Só estávamos conversando um pouco, nada mais que isso. - disse o jovem. Karina sorriu, e fingiu que não estava nem aí para isso.

- Não precisa se explicar, isso não me incomodou. Você é livre para fazer o que quiser, inclusive conversar com uma mulher. - respondeu Karina.

Leon arqueou a sobrancelha, segundo atrás Karina estava demonstrando ciúmes, e agora, ela fingia que não havia ligado, ele realmente não conseguia entender a princesa, por mais que tentasse. A única coisa que queria é poder beijá-la pela primeira vez e saborear o gosto de seus lábios, mas quanto mais ele tentava se aproximar, mais a garota fugia, e seu coração não aguentava mais tanta rejeição, não que ele a amasse, ele não a amava, pelo menos ainda não, mas estava loucamente apaixonado por ela, louco de vontade de tê-la em seus braços, e da paixão para o amor é um pulo, e ele sabia bem disso.

Mas o príncipe resolveu seguir por um caminho diferente, testando até onde Karina iria. - Ótimo. Realmente eu sou um homem livre, posso conversar com qualquer mulher, não tenho que me explicar para uma pessoa que nem ao menos quer se casar comigo, aliás, eu ainda não sei se a princesa pretende mesmo se casar comigo, ou se só está enrolando os seus pais e a mim. - disse ele.

Karina arregalou os olhos, inconformada com a resposta de Leon. - Se é a minha prima que você quer, então, case-se com ela. - disse a princesa, e saiu furiosa, seguindo a direção da floresta.

Leon não iria atrás dela, mas ele não podia deixar que a princesa entrasse naquela floresta sozinha, tinha medo de que algo pudesse acontecer a ela. E correu atrás da jovem, chamando-a pelo seu nome, que o ignorava com sucesso.

- Karina, espera! - gritava.

- Não venha atrás de mim!

Ele conseguiu alcançá-la, e puxou sua mão, fazendo- a virar para ele. - Como consegue ser tão teimosa? Não é seguro entrar em uma floresta sozinha. - disse o jovem, olhando firme para ela.

A princesa ergueu a cabeça, conseguia ser muito orgulhosa. - Por favor... Eu entro nessa floresta sozinha desde que eu era uma criança! Não tenho medo de nada, conheço o caminho de cor. - falou.

- Não interessa. Algum dia, você pode se dar muito mal entrando aí. E eu definitivamente não quero isso.

- E por que se importa? - perguntou ela, estava com raiva e ao mesmo tempo com o coração acelerado. Não sabia o motivo de estar tão nervosa, mas sabia que era por causa de Leon.

- Estou apaixonado por você, e será minha futura esposa. É motivo suficiente para minha preocupação, não acha?

Aquilo pegou Karina de surpresa, uma felicidade imensa tomou conta de seu corpo e seu coração, ao mesmo tempo em que ela queria beijá-lo, também queria enchê-lo de socos, pois ele era o culpado por ela estar naquele estado, em um estado do qual ela jurou que não ficaria. Ela não queria se casar com um desconhecido, nunca quis, e, no entanto, estava se apaixonando por ele.

Leon se aproximou, para poder beijá-la. E Karina estava quase cedendo, estava prestes a encostar a boca na dele, quando algo em sua mente a alertou que não podia ceder, e abaixou a cabeça. Ele suspirou e se afastou um pouco. - Estou cansado. Quando é que vai finalmente se entregar a paixão que sente por mim? Está brincando com meus sentimentos dessa forma. - ele disse.

- Eu não estou apaixonada por você, me desculpe se passei a impressão errada.

Escutar essas palavras da mulher que ele queria mais que tudo o magoou fortemente, talvez ele tenha se enganado quanto aos sentimentos da princesa por ele, foi o que pensou.

- E quanto ao nosso casamento?

- Me casarei com você sem amor, como muitos reis e rainhas fazem, como muitas princesas e príncipes fazem. - respondeu ela.

A decepção tomou conta do rosto do rapaz, ele pensou que poderia amar e ser amado por ela, e o choque de descobrir que não seria daquela forma, o atormentou, ele não queria se casar sem amor, não aguentaria ver o ódio de Karina por ele. Mas ele tinha outra escolha? Para conseguir arrumar outra princesa para se casar com ele, levaria algum tempo. E seus pais não iriam gostar disso.

A união entre os dois estava selada desde que tinham seis anos de idade, mudar isso, a essa altura, poderia causar transtornos complicados.

- Se é assim que quer que aconteça, tudo bem. Não vou mais insistir. Desculpa se causo tanto repulsa em você. - ele disse e saiu da floresta, Karina sentiu o coração doer ao vê-lo daquela forma, triste. Ela não queria que ele pensasse que sentia ódio por ele, mas também não conseguiu ir atrás do príncipe e mudar a situação.

Ela ficou parada, observando-o se afastar, quando ele ficou longe o suficiente de sua visão, ela saiu da floresta, olhou para seu imenso jardim, e sentou-se no gramado, sem se importar que sujasse seu vestido.

- O que eu fiz? - perguntou-se, e bufou.

- Dia difícil? - perguntou alguém, uma voz de mulher que ela nunca havia escutado, levantou a cabeça para ver quem era. E viu a imagem de uma mulher quase do seu tamanho, magra, cabelos longos e escuros como o dela, exageradamente branca, e muito bonita. O vestido da moça era simples, e Karina perguntou-se quem era aquela garota.

- É... Alguns dias são tão desastrosos. - respondeu a princesa.

A moça sentou-se ao lado de Karina. - Eu não sabia que as princesas também tinham problemas.

Karina riu. - Só o fato de eu ser uma princesa, já é o meu maior problema. Mas, afinal, quem é você? Nunca te vi aqui na corte.

- Eu não moro na corte.

- Por que está aqui então?

- Eu moro a alguns poucos quilômetros de distancia daqui, de vez em quando eu venho aqui entregar as vestimentas limpas, sou paga para isso. Eu sou uma das muitas lavadeiras dessa corte. - respondeu ela.

- Acho que você já deve ter lavado muito dos meus vestidos... Você parece ser nova. - falou Karina, reparando na beleza da jovem com quem conversava.

- Já lavei sim. Eu tenho 16 anos, mas sou pobre, tenho que trabalhar para ajudar a minha família. - respondeu a moça, e a princesa percebeu que não sabia o nome da garota.

- Qual o seu nome?

- Camila. - respondeu a linda garota.

- O meu é...

- Karina. Eu sei. Você é a princesa de Costa Lina, acha mesmo que alguém desse país não sabe o nome da princesa?

Karina sorriu tristemente, pois se lembrou de suas responsabilidades como uma princesa e que as coisas se complicariam mais no dia em que ela se tornasse uma rainha. Que pelo seu próprio bem, ela esperava que demorasse bastante tempo.

- Ás vezes me esqueço que toda a população de Costa Lina sabe o meu nome, é estranho, porque de nada adianta eles saberem o meu nome e não me conhecerem de fato, tanto fisicamente como interiormente, é basicamente idealizar uma princesa que não existe.

- Muitas pessoas te conhecem fisicamente, eu acabo de te conhecer. E você parece ser uma garota legal, boa. Quando for a sua vez de assumir o trono, tenho certeza que será uma ótima rainha para o povo daqui.

- Pelo menos alguém confia em mim para isso. O meu pai teme pelo o dia que eu me tornar uma rainha, acha que eu vou destruir o legado dele. - disse a princesa.

Camila riu. - Não se preocupe, pais são assim mesmo, ainda mais ele sendo um rei. Mas isso ainda está longe, eu queria ser uma princesa, você tem sorte. Viver sem se preocupar com dinheiro deve ser ótimo. Ter tudo o que quiser, ser da realeza... É um sonho.

- Não é essa, mil maravilha que está pensando não. Ser princesa envolve muito mais que isso. Você tem a sua liberdade, pode fazer o que sentir vontade, casar com quem quiser, uma princesa tem que fazer o que é melhor para o país e o seu povo. Liberdade é algo que uma princesa nunca poderá ter, não por completo.

- Nem sempre podemos ter tudo, e em um mundo como esse no qual vivemos, onde mulheres são desvalorizadas, apenas por serem mulheres, você é uma garota de sorte, por ter nascido princesa, a sua posição te da um poder que impede que você sofra como as outras mulheres, moças pobres que muitas vezes não tem dinheiro nem para o que comer direito, elas passam por coisas difíceis todos os dias e ainda precisam aguentar comentários maldosos de homens nojentos que se acham no poder de dar ordens e fazer o que querem. Não estou dizendo que você está reclamando de barriga cheia, não é isso. Pois eu entendo, que todas as pessoas têm problemas na vida, mas, quando estiver triste com a vida, pensa que você poderia estar pior, caso não tivesse nascido na família real. - falou a bela jovem.

A princesa Karina pensou no que aquela jovem garota, que se chamava Camila, havia dito a ela. Sim, ela poderia estar pior, mas ainda assim, seus problemas continuariam. Ela chegou a conclusão de que os de fora querem estar dentro e os de dentro querem estar fora. Mas Karina, só queria poder ter os dois termos, a princesa só queria poder fazer tudo que tivesse vontade e poder ser dona da sua própria vida, ela sempre achou um absurdo ter que se casar com quem os pais escolhessem, apenas pelo bem do país, ela devia escolher seu noivo, ela devia escolher o que seria melhor para ela.

Mas infelizmente, ser uma princesa era se privar da felicidade. - Sabe, é bom poder conversar com uma garota da minha idade. Você parece ser legal, eu não tenho muitas amigas... Quase nunca saio dessa corte, e quando saio, o tempo é muito curto. Você vai voltar aqui amanhã? - perguntou a princesa, que mentalmente estava torcendo para que Camila dissesse que sim, que voltaria. A verdade era que Karina só teve uma amiga, e essa amiga havia sido mandada para um colégio interno, onde as freiras eram responsáveis pela educação das meninas. Foi quando Karina completou 14 anos e desde então, sua amiga, Valquíria nunca mais voltou, provavelmente só iria sair do internato quando tivesse 17 anos e concluísse seus estudos.

E quando Valquíria partiu, a princesa Karina sentiu a dor da falta de um amigo, e permaneceu solitária no quesito "amizade" até então, e mesmo Camila sendo uma desconhecida para ela, Karina estava maluca para que pudessem desenvolver uma amizade, seria ótimo ter alguém com quem compartilhar seus sentimentos, tantos os alegres como os tristes.

- Provavelmente sim, eu venho todos os dias.

- E como eu nunca te vi por aqui? - estranhou a princesa.

Camila riu. - Bom... É que você é uma princesa e eu sou apenas uma lavadeira de roupas, eu nunca ousei te incomodar, pois eu sou paga para trabalhar, na verdade, não era nem para eu estar aqui conversando com você. Mas é que... Eu te vi aí tão triste, que resolvi me aproximar. - respondeu Camila, de um jeito estranhamente fofo.

Karina sorriu. Estava feliz que a menina havia se aproximado. - Obrigada por se aproximar, eu estava precisando, se for vir amanhã, não se esqueça de passar algum tempinho conversando comigo.

- Seus pais podem não gostar.

- Eu nunca fui muito obediente mesmo. Mas tenho certeza que eles não vão ter nada contra, provavelmente não vão nem perceber que eu estou conversando com a lavadeira. - disse a princesa, de um jeito engraçado, fazendo caras e bocas, fazendo Camila rir um bocado.

- Tudo bem. Se é um pedido da princesa, eu não ousarei desobedecer. - brincou a jovem, dessa vez, fazendo Karina rir.

- É mais que um pedido, é uma ordem.

Camila se levantou, e Karina fez o mesmo. - Eu vou indo, foi um prazer te conhecer. - disse ela, curvando-se a princesa.

- Não precisa se curvar para mim. Eu não gosto muito disso... Se for possível, quero que me veja como uma amiga, uma pessoa normal com quem conversa.

- A regra da realeza é que todos se curvem a família real, inclusive nós, os súditos, mas se isso for uma ordem, pode ser que eu obedeça. -disse ela.

- Essa foi boa... Sim, é uma ordem. - disse Karina, parecia estranho dizer isso, até o momento ela nunca teve que ordenar nada para ninguém, não como seus pais faziam, ela sempre pedia, o que fazia o pai chamar sua atenção. O rei Derek dizia que se não desse ordens, os súditos jamais a levariam a sério e ninguém a obedeceria, pois uma princesa que pede ao invés de ordenar, não exerce o respeito do povo.

Karina discordava da opinião do pai, ela sabia que para algumas coisas, realmente precisava ordenar, mas de vez em quando não custava nada pedir com educação.

- Pois não me curvarei. Até amanhã. - disse Camila, acenando com um "tchau".

- Até. - respondeu a princesa, sorrindo e acenando de volta.

Após a partida de Camila, Karina resolveu entrar no castelo e ficar em seu aposento real. Depois de algum tempo deitada em sua cama, ela optou por se levantar e ir até o aposento do príncipe Leon. Ela queria se desculpar, pois estava se sentindo estranha desde que viu a decepção no rosto dele. Quando o magoou mesmo sem querer, na verdade, ela não só magoou o príncipe, mas como ela mesma, Karina também havia se magoado em negar o que o seu coração tanto ansiava.

Ao chegar lá, ela bateu na porta três vezes. Segundos depois, o príncipe Leon apareceu, ele se assustou ao vê-la ali, e não abriu a porta por completo.

- Princesa Karina? - perguntou.

- Apenas Karina. - pediu a garota.

- Claro, desculpa. Mas o que faz aqui?

- Eu vim para... - ela dizia, até escutar a voz de uma mulher o chamando lá de dentro.

- Você está com uma mulher aí dentro? - perguntou a princesa, completamente horrorizada por ele estar com outra em seu aposento.

- Não... Quer dizer, sim. Mas não estou fazendo nada de mais, apenas conversando. - o príncipe tentou se explicar.

De repente, sua prima ruiva de segundo grau aparece ao lado dele, fazendo Karina sentir mais raiva ainda. - Priminha... Como fui burra. - disse a princesa, e se afastou, andando o mais rápido possível para longe deles.

- Karina! Espera! Não é nada disso que está pensando! - gritou Leon, mas a princesa o ignorou e se trancou em seu quarto. Não queria mais ver Leon naquele dia e muito menos a sua prima, que mal havia chegado e já estava causando problemas.

( Chloé)

( Príncipe Leon, imaginem-o com roupas de um príncipe de época haha )

( OBS: Cada um é livre para imaginar os personagens como quiser, mas eu me inspirei neles para criar meus personagens fisicamente )

( Camila)

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