III
Enquanto corria atrás de sua filha, após recuperar o fôlego, ela finalmente havia conseguido alcançar a jovem garota.
- Karina! Espera! – gritou a rainha Vitória, já com a mão direita no ombro da princesa.
- Não vai me obrigar a voltar até lá, não é?
Vitória suspirou, estava frustrada. – Não, meu bem. Mas a forma como você falou com ele, não foi uma das melhores. Não pode tratar o seu futuro marido como se não fosse ninguém na sua vida, e ele é um príncipe também, não se esqueça disso.
Karina revirou os olhos, estava cansada de escutar que Leon seria seu marido, e todas essas coisas da qual ela se recusava a acreditar. A única coisa que ela queria, era que sua vida voltasse ao normal, ela desejava que Leon não tivesse chegado ao castelo. Se casar parecia algo tão cedo para ela, a princesa sabia que era nova, mas isso não importava para a sociedade na qual vivia, para a década em que foi destinada a nascer, estavam no século XVIII (Século 18). Onde jovens podiam se casar dos 14 anos para cima, e ela que só tinha 16 anos, seria a próxima princesa a se casar tão nova, pelo bem de seu país.
- Eu não quero me casar mãe. Eu... Sou tão nova, mas ninguém vê isso. Eu não me sinto preparada para um casamento, eu nem conheço ele, não o amo, e nunca beijei um rapaz na minha vida. Eu queria poder ficar com quem eu quisesse, por que uma princesa tem que fazer sacrifícios pelo seu reino? Eu serei tão infeliz mãe. – disse a princesa, com o olhar inundado de lágrimas, estava a um ponto de chorar, a rainha Vitória, puxou a filha para si e a abraçou forte, consolando-a, enquanto acariciava o cabelo escuro de Karina.
- Eu queria poder dizer que está errada, mas não posso falar isso, pois eu não faço ideia de como vai ser o seu casamento com Leon, é difícil querida, pois a felicidade que tanto anseia, é algo incomum para rainhas e princesas, dificilmente, conseguimos ter essa felicidade que deseja, mas... Para que você possa ter pelo menos um pouco dessa felicidade, deveria procurar conhecer melhor o Leon, talvez você chegue a se apaixonar por ele, e aí o casamento será feliz, e isso vai ser um grande avanço na sua vida, filha. Ter um casamento feliz é um grande passo para a felicidade, viver em um mundo como o nosso, sozinha é muito difícil, assustador, e infeliz, mas viver nesse mundo cruel e injusto ao lado de uma pessoa que amamos, nos da à força necessária para continuar seguindo em frente, pois um dia, você se tornará uma rainha, e se já acha difícil a vida de uma princesa, quando se tornar rainha, será mil vezes pior, é mais responsabilidade com o país, mais problemas, e reinar ao lado de um homem que ama, te dará a força e a felicidade necessária para prosseguir com um reinado ao lado de uma pessoa que compartilha dos mesmos sonhos que você, dos mesmos ideais para com os dois países. Tente ver o lado bom dessa união meu bem, talvez não se arrependa disso. – disse a rainha Vitória, soltando lentamente sua filha amada.
A jovem princesa estava com o rosto borrado de lágrimas, a mãe tentava secar o rosto da filha. – Mãe... É que eu não tenho tanta certeza se eu vou conseguir gostar dele. Como foi a sua união com o papai? Eu sempre quis saber, mas nunca perguntei. Você se casou por amor?
Vitória sorriu de uma maneira que a filha não conseguiu compreender, era um sorriso de alegria ou tristeza? Era o que Karina se perguntava, mas a rainha sabia que era um pouco dos dois, sua história tinha dois lados, e a pergunta de Karina, fez com que ela viajasse no tempo e se lembrasse de seu passado, da sua história de amor com o cozinheiro da corte de sua família, Vitória era uma princesa por nascença, assim como o rei Derek era um príncipe, mas antes dos dois se casarem, Vitória morava em seu país com sua família, em Dalva. E em sua corte, havia muitos empregados, mas havia um cozinheiro em especial, que ela gostava muito.
Na época, ela tinha 17 anos, e ele 19. Os dois viviam conversando, e na maioria das conversas, um clima de flerte acabava aparecendo entre os dois. Ambos tentaram lutar contra isso, mas não conseguiram, eram jovens e estavam apaixonados. Tiveram um romance intenso e apaixonante, e Vitória sentia que ele era o grande amor de sua vida, os dois queriam se casar e faziam planos que eram impossíveis para uma princesa e um cozinheiro, mas os dois tinham esperanças de que pudessem de algum modo resolver essa situação para ficarem juntos para sempre. O romance durou por alguns meses, até que em um dia ensolarado como outro qualquer, seu pai controlador os flagrou em um ato de amor e um escândalo foi feito, como o rei, ele tinha poder suficiente e prendeu o jovem cozinheiro, até que ele fosse levado à forca.
Vitória implorou ao pai para não matá-lo, para deixá-lo ir embora para longe, mas seu pai disse que ele desonrou a virgindade da filha e que tinha que pagar por isso, e a morte era a única solução. Chorando muito, gritando muito, implorando muito, Vitória teve que assistir a execução de seu amado, antes de morrer enforcado, ele pediu para que ela tampasse os olhos e que se lembrasse apenas dos momentos bons que tiveram, mas ela não queria o deixar partir, e quando viu a dor de seu amado sendo enforcado, seu coração parecia que havia rasgado ao meio, e ela caiu no chão e a escuridão tomou conta de si. Ao acordar, sua mãe disse a ela que havia desmaiado e que seu amado já estava morto. Com muita dor no coração, chorando tanto, ela tirou forças para perguntar onde haviam o enterrado, e sofreu ao descobrir que foi enterrado como um indigente em algum lugar na floresta que havia ali perto.
Vitória sentia que fosse morrer junto com ele, estava tão deprimida e não parava de chorar, duas semanas depois o pai arrumou um candidato para se casar com a filha, o príncipe Derek. Ele fingiu que a filha ainda era virgem, mas quando Vitória conheceu Derek, ela fez questão de contar a ele que não era, e que havia perdido seu grande amor e que o casamento seria apenas um contrato, pois não tinha outra escolha. Derek aceitou tranquilamente o fato de que sua futura esposa não era mais virgem e disse que nunca a obrigaria a nada. Desde o dia em que Derek disse isso, Vitória passou a enxergá-lo como um homem bom, e os dois criaram uma relação de amizade, o primeiro mês de casamento ela não quis se entregar a ele, mas o tempo estava passando, e da amizade que tinha com ele, estava crescendo um sentimento diferente em seu coração, não era o mesmo amor que ela sentia pelo cozinheiro, nunca seria igual a aquele. Mas ela sabia que esse sentimento novo por Derek era amor também. E quando ela decidiu consumar o casamento pela primeira vez, as coisas entre os dois melhoraram, e o sentimento era recíproco. Os dois se gostavam, se amavam, mas demorou alguns anos para que Vitória conseguisse engravidar, e quando engravidou, sua filha nasceu morta, porém, Derek nunca soube disso.
Para ele, sua filha era Karina. Com o passar dos anos, os dois mudaram, mas ainda se amavam, mesmo que ás vezes ele parecesse um homem frio para Karina, Vitória sabia que esse era apenas o seu jeito de ser, e que amava a filha, tanto quanto ele a amava como esposa.
Por isso recordar o passado era doloroso para ela, porque ao mesmo tempo em que foi cruel em relação ao seu primeiro grande amor, foi feliz, quando ela permitiu amar Derek como seu marido.
A vida tirou o seu amor, mas colocou em sua vida Derek, que sempre foi muito bom para ela, que a ajudou a superar a morte de seu primeiro amor, e que mostrou a ela que a vida tinha que continuar, mesmo que ela não encontrasse motivos para isso.
E ao escutar todas essa história da boca de sua mãe pela primeira vez, Karina ficou em choque, ela não sabia de nada daquilo, e nunca pensou que o pai fosse tão compreensível, e pela primeira vez, ela enxergou o pai com outros olhos.
- Que história triste mãe... Eu não fazia ideia. E qual era o nome do cozinheiro? – a princesa quis saber.
- Jonathan. Esse era o nome dele.
- E ainda dói em você?
- Não como antes, mas eu sempre vou amá-lo. Foi alguém importante na minha vida e sempre será, mas isso não significa que eu não ame o seu pai. Pelo contrário, eu amo o Derek. Mas o Jonathan estava morto e eu não tinha que seguir em frente, era o meu dever de princesa, mas agradeço sempre por ter conseguido amar o seu pai.
- Se o papai foi tão compreensível com você na época, por que ele é tão rígido comigo? Ele está me obrigando a casar com um homem que não amo.
- Temos sangue real Karina, a tradição é essa há séculos. A única coisa que o seu pai fez foi procurar um príncipe adequado para você e para o nosso país, talvez ele não queira que você sofra como eu sofri... Estando apaixonada por um amor impossível. Um amor que está destinado a fracassar, ele quer que você se apaixone pelo Leon, que é um príncipe, assim a união poderá acontecer e você será feliz. Se apaixonar por um homem com uma posição inferior a sua te fará sofrer, talvez por isso, ele tenha escolhido o Leon a você. – disse Vitória, enquanto acariciava o rosto da filha.
- Eu nunca me apaixonei por ninguém. Nem sei se sou capaz de amar um homem.
- Todos nós somos capazes de amar, é algo que acontece naturalmente e quando percebe já está perdidamente apaixonada. – falou Vitória, sorrindo de lado.
- Eu preciso ir para meu quarto, estou cansada.
- Tudo bem querida, fique disposta, e quando sair do quarto, lembre-se da nossa conversa e tente se permitir sentir algo pelo Leon.
- Eu não sei... Talvez eu tente. – disse Karina, completamente confusa sobre tudo. Ela não sabia mais de nada, tudo em que acreditava parecia idiotice depois da história de sua mãe. Ao mesmo tempo em que ela queria tentar gostar de Leon, ela não queria nem pensar nisso. E ficou a dúvida sobre o que de fato ela sentia medo.
Após a princesa acordar de seu sono, ela caminhou até a janela de seu quarto, e lá de cima do castelo, avistou Leon no jardim imenso da corte, ele estava de pé, conversando com uma mulher magra e ruiva.
Ela não sabia quem era aquela garota, mas se sentiu estranhamente incomodada por ver Leon super à vontade, conversando com ela.
A princesa se trocou, colocando um lindo vestido e penteou seu cabelo, em seguida, saiu de seu quarto e encontrou seu pai sentado na cadeira do trono. Ela se aproximou dele e fez a pergunta que tanto queria saber.
- Quem é aquela mulher ruiva, que está no nosso jardim?
- Sua prima de segundo grau, a Chloé. Ela veio para ficar um tempo aqui na corte. – respondeu papai.
- Eu nem sabia da existência dessa prima. E por que ela veio? – Karina perguntou, achando estranho.
- Ela é da família, e se quer passar um tempo aqui na corte, é nossa obrigação recebê-la da melhor forma possível, Karina. Tem alguma coisa de errado com isso?
- Não. É só que eu não a conheço. – mentiu Karina. De certo fato, ela não a conhecia, mas o que incomodou a princesa foi outra coisa.
- Pois agora terá bastante tempo para conhecê-la.
- Claro papai. – respondeu a jovem e saiu, indo em direção ao jardim, especificamente, onde os dois estavam.
Ao se aproximar, Karina interrompeu no momento em que a prima Chloé, passava a mão direita no cabelo cacheado e escuro de Leon. Uma raiva apoderou-se da princesa e ela teve que se controlar para não demonstrar o que estava sentindo naquele momento.
- Atrapalho alguma coisa? – perguntou. Os dois se viraram, só então, dando conta da presença de Karina, a prima Chloé sorriu e curvou-se a Karina.
E Leon se segurou para não rir, ele notou que a princesa havia sentido pelo menos um pouquinho de ciúmes, e ele gostou disso, pois não há ciúmes quando não existe sentimento. – Atrapalho sim ou não? – Karina insistiu com a pergunta, olhando para os dois que não haviam respondido antes.
Chloé olhou para a prima de segundo grau, percebendo que havia causado ciúmes na princesa, ela sorriu, sentindo-se poderosa. – Eu só estava tirando uma sujeira que caiu no rosto dele, o príncipe é todo seu. Não se preocupe. – respondeu a ruiva, olhando desafiadoramente para Karina.
Karina não gostou do tom que Chloé usou para responder a sua pergunta, e nem de seu olhar para ela, soava quase como uma provocação. E a princesa estava se controlando para não ser grosseira com a prima, que até alguns segundos atrás, ela nem sabia da existência.
Karina estava sentindo algo que nunca havia sentido antes, ciúmes, estava com ciúmes de um rapaz que ela mal conhecia. Indo contra a sua própria razão.
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