VI - Seis
Jimin
Antes de tudo que sei que vamos conversar, eu decidi fazer algo para comermos, principalmente levando em conta a última vez que tínhamos comido, e também, não sei quanto tempo essa conversa demoraria.
Mesmo que Jungkook não estivesse participando diretamente, está participando com sua presença. Ele está sentado em uma das cadeiras da mesa, me olhando enquanto eu cozinho. Sinceramente, isso me deixou um pouco nervosa, mas nada no qual eu não conseguisse esconder.
Depois de tudo pronto, nós comemos em silêncio. Jungkook estava tranquilo, aparentemente, ao contrário de mim, que estava morrendo de tanto nervosismo. Quando acabamos de comer, deixamos a louça na pia mesmo, e logo Jungkook me conduziu até seu quarto. Claro, eu estranhei, mas ele disse que é mais "apropriado" para a conversa que vamos ter. Então, depois de me fazer sentar na cama, ele puxou uma cadeira para perto de mim e se sentou ali, ficando de frente para mim.
— Certo, para começar, precisa saber que essa conversa é um pouco delicada, muitas pessoas acham isso errado ou discriminam, ou até mesmo se assustam com isso, e eu espero que você não seja uma dessas pessoas — eu fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse. — Já ouviu falar sobre BDSM?
BDSM, me é familiar, mas não me lembro.
— Não estou lembrado... Mas algo nesse nome é familiar. O que significa?
— Significa: Bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo. Conhece alguns? — ele parecia tranquilo enquanto falava, parecia "em casa".
— Já ouvi falar de sadismo e masoquismo... Dominação e submissão também, mas não sei como funciona.
— Obviamente, você não sabe muito sobre esse assunto, certo? — eu neguei, e claro, estou me sentindo um peixe fora d'água. — Vamos começar com a explicação de cada nome, então.
— Alguns eu sei, eu acho.
— Bondage, você sabe? — eu neguei mais uma vez. — Bondage é o ato de se ter partes do corpo, ou até ele todo, imobilizados. Com isso nós podemos usar diversas coisas, como: algemas, cordas, correntes, um cinto ou até mesmo algumas peças de roupa, se caso for preciso improvisar. Não importa o que for usado, a finalidade é a mesma. E claro, a regra é que precisa ser feito com cuidado para não causar lesões e, obviamente, precisa ser consensual, ou seja, a pessoa na qual será amarrada tem que estar de acordo.
— Certo, entendi. Então, poderia ser usado... Uma cueca ou uma calcinha, por exemplo...? — eu me atrevi a perguntar, morrendo de vergonha.
— Claro que sim, é até bem excitante, em alguns casos — eu corei com o seu comentário. — Continuando. Sobre disciplina, é exatamente isso, disciplina. Eu posso te ensinar a fazer algumas coisas que eu queira que você faça, por exemplo, se aceitar tudo o que eu te propor, vou querer que me chame de senhor em determinados momentos, como na hora das cenas, e claro, tudo dentro dos seus limites. E eu posso também te ensinar a não me tocar quando eu disser que não vai poder, e claro, se desobedecer eu posso te punir por isso, assim como posso te recompensar se agir da forma certa.
— Cenas?
— É como são chamados os momentos, por assim dizer, no qual são usados o BDSM. Aliás, esse universo é extremamente grande, não sei se vou lembrar de tudo para te explicar, mas farei o possível. E, claro, não vou explicar tudo de uma vez.
— Certo, e, como eu sei qual o meu limite?
— Você vai saber quando seu limite for atingido, e para isso temos uma safeword, que é uma palavra de segurança, e tem que ser algo que você não vai dizer sem querer. Quando sentir que seu limite foi atingido, que quer parar, você diz ela, e se disser, o dominador tem que parar o que estiver fazendo, mesmo que queira continuar. Independente se em alguma cena ou alguma punição, em alguma das vezes acontece nas próprias cenas. O intuito das práticas, fora a punição, é dar prazer para o submisso, você é o foco principal.
— Tenho duas perguntas sobre isso — ele esperou até que eu perguntasse. — Primeiro, qual é a minha safeword?
— Você que escolhe, todo submisso tem uma, e ela tem que ser conhecida pelo seu Dominador.
— Eu sou submisso? — eu perguntei, meio confuso.
— Nós já vamos chegar nessa parte. Qual a outra pergunta?
— Sobre a punição...?
— É uma boa pergunta. Eu posso te punir de duas maneiras: fisicamente e emocionalmente, dependendo do seu comportamento até das duas formas juntas. Da forma física, eu posso te dar alguns tapas, ou até mesmo chicotadas, vai depender do que você vai merecer — ele fez uma pausa, esperando perguntas, e como não teve nenhuma, ele continuou. — A forma emocional é mais complicada, dependendo de como for aplicada, ela pode se tornar uma punição para os dois, não apenas para o submisso. Com ela eu posso me afastar de você, te deixar sem fazer alguma coisa que gosta ou até mesmo sem comer alguma coisa que goste muito. Eu poderia não realizar seus desejos em algumas práticas, mas acredito que não seja recomendado fazer qualquer prática durante uma punição, e além disso, também não estaríamos no clima para isso. Posso te punir assim até eu decidir que fiz por tempo suficiente para você ter aprendido a lição, e saber que o erro não pode se repetir. Mas também, tenho que prestar sempre atenção em você, para perceber algo antes que precise dizer a safeword.
Por mais incrível que pareça, eu estava conseguindo entender tudo. E entendi também que, mesmo que eu não o conheça tão bem, a parte do "posso me afastar de você" e "não realizar seus desejos em algumas práticas" são as partes em que vai fazer a punição se tornar de ambas as partes. Não sei exatamente o porquê disso, mas eu vou acabar descobrindo, uma hora ou outra.
— Antes de continuarmos, eu quero saber qual meu papel nisso, o que é o "tudo" que você tem para me propor?
— Bom, não é algo tão extenso, eu só queria explicar tudo antes de te dizer. Mas, a única coisa que eu quero é que faça parte desse universo comigo, quero que seja meu submisso.
— Por que eu?
— Não sei dizer, eu sinto que tem que ser você, algo me atrai, tirando o fato de você, aparentemente, ter natureza submissa. Mas você não precisa responder agora, tem muitas coisas que ainda precisa saber. E depois, se descobrir que não gosta e que não quer tentar, você pode dizer e eu não vou insistir, porque isso não é uma coisa na qual você faz sem querer, você tem que estar cem por cento confiável do que quer, e tem que saber no mínimo o básico do assunto. Tem que ter uma boa iniciação.
— Então eu posso ter um tempo para pensar sobre a sua proposta?
— Claro. Mas, eu posso terminar a explicação? — eu assenti, animada para saber mais. — Okay. Dominação, uma pessoa dominadora, no meu caso. O dominador, ou Dom como alguns chamam, é uma pessoa que sente prazer em dominar, e claramente de dar ordens, no caso, se eu disser para você ficar de quatro, você vai ficar de quatro.
— Então, eu como submisso, teria que fazer tudo o que você mandar?
— Claro que não. Um dominador só pode fazer o que o submisso está disposto a fazer, por isso é essencial que um sub conheça os próprios limites. Uma relação D/S¹ não é só isso. O papel do Dominador não é só mandar, ele também cuida e protege seu submisso. O dominador não pode o obrigar a fazer algo que ele não queira, principalmente se souber que não é prazeroso para o Sub. Por isso, se você aceitar ser meu submisso, você tem que ser totalmente sincero comigo, não pode omitir nada, e principalmente, não exite em dizer sua safeword se sentir que é necessário. E por favor, não tenha vergonha em me dizer se gostar de algo que eu fizer, assim eu posso ir te conhecendo melhor, além de podermos repetir. E, ah, quero deixar claro minha posição no BDSM: eu sou eclético, o que significa que eu consigo me adaptar à personalidade do submisso que está comigo, e eu vou me adaptar à sua personalidade também.
— Então, a relação de dominação e submissão prioriza o prazer de ambas as partes, ele é satisfatório para os dois envolvidos?
— Isso, tanto os dois envolvidos como os demais, se houver mais gente. O foco de tudo é o submisso, mas todas as partes sentem prazer — ele me explicou mais esses detalhes, antes de continuar. — Sobre a submissão, como eu já disse, um Submisso se submete ao seu dominador, ele sente prazer em deixar o controle nas mãos de outra pessoa, no caso, o Dom. Por exemplo, se você me permitir te amarrar, estará se submetendo a mim e concordando em abrir mão do controle. Ao te amarrar, eu aceitei a responsabilidade de ter todo o controle em minhas mãos. Você confiaria em mim, confiaria que eu não iria passar de seus limites, e eu seria responsável por não ultrapassar a barreira.
— Então, pelo que eu entendi, submissão e dominação é uma troca consensual de poderes, fazendo com que todas as partes sintam prazer e fiquem satisfeitas com isso...
— Exatamente.
— Nossa, é complicado, mas eu estou entendendo.
— E está gostando? — ele pergunta, esperançoso, fazendo com que eu apenas assentisse com a cabeça, abrindo um sorriso leve. — Que bom.
— Eu acho que sei um pouco sobre o sadomasoquismo.
— Me diga, então.
— Ele se refere ao sadismo e ao masoquismo. Se não me engano, uma pessoa sádica é alguém que gosta de causar dor, independente de física ou emocional. Uma pessoa masoquista é alguém que gosta de sentir dor.
— Isso mesmo — ele faz um breve carinho em minha bochecha, como algum tipo de recompensa por eu ter acertado, e isso me fez sentir bem, de certa forma — Porém, é muito além disso, o sadomasoquismo consensual é o único que possui uma relação saudável. Nesse tipo de relação, o Dom sempre estará preocupado com o que o Sub estiver sentindo, tudo de uma forma segura. Já um sádico de verdade não vai ligar para o bem-estar de quem estiver com ele, não vai ligar se a pessoa está sentindo dor ou se está sentindo prazer, ou os dois juntos, ele vai ligar apenas para o que ele estiver sentindo — com isso, eu me senti um pouco apreensiva. — Eu aconselho que, futuramente, se for continuar nesse caminho, mesmo que eu não esteja em sua vida, busque pesquisar sobre a pessoa antes, porque independente do quanto você peça para parar, ele só vai realmente acatar a ordem quando estiver satisfeito. Mas devo dizer, nem todos são exatamente assim.
— E... Você é sadomasoquista?
— Sim, sou sadista, mas de uma forma consensual, não se preocupe. Algo me diz que você tem um quê de masoquismo, mas não posso tirar conclusões precipitadas.
— Por que diz isso?
— Não sei, é só uma intuição.
— O que mais eu preciso saber?
— Por enquanto é só, ao longo do relacionamento eu posso explicar o resto, isso se você quiser um relacionamento, claro.
— E nós teríamos só esse tipo de relacionamento? Só... Sexo?
— Na verdade, dentro do BDSM não cabem o sexo, ao menos não enquanto estivermos fazendo uma sessão — ele continuou explicando calmamente.
— Mas e se eu quiser?
— Nós estaríamos fazendo algo fetichista se fizéssemos, e BDSM não é um fetiche.
— E o que ele é?
— É um tipo de relacionamento, onde a base dele é a hierarquia. O foco não é o sexo, e sim as atividades que faríamos, que envolvem os elementos do BDSM. O fetiche é tudo aquilo que você vê e se excita, que te causa desejo sexual. O BDSM te dá prazer.
— Qual a diferença do prazer e a excitação? — eu estava confuso, confesso.
— Quando você se excita, seu corpo está se preparando para o ato do sexo em si. O prazer é uma sensação boa que você tem, como por exemplo, quando você come uma coisa muito gostosa e que você gosta. Você não fica excitado com isso, mas sente prazer. Claro, pode acontecer de você se excitar em uma prática, mas eu acredito que vá acontecer se a cena for bastante intensa.
— Tem uma coisa que eu ainda não entendi.
— E o que seria?
— Por que não se mistura com sexo?
— Em nenhuma das práticas você vê o sexo envolvido, menos ainda a relação dominação e submissão. A não ser o anal play — ele fez uma pausa antes de continuar. — Não é bom misturar as duas coisas porque com o sexo no meio, o Dom não conseguiria dar total atenção na prática que estiverem fazendo, como o spanking, por exemplo, assim como o Sub não conseguiria se concentrar apenas na cena. Não há foco. O correto seria fazer a cena sem sexo, para te deixar muito excitado, ao ponto de precisar do sexo depois.
— E o que é esse Spanking que você citou?
— Isso é uma conversa para outro dia, por hoje essas são as informações que vou te passar. Temo que fique com a cabeça muito sobrecarregada caso eu explique sobre mais coisas — ele disse, antes de complementar. — E para deixar claro, não podemos ter um relacionamento como o namoro, mas a relação D/S é quase a mesma coisa, tem a mesma confiança, a mesma fidelidade na maioria das vezes, basta que isso esteja estabelecido entre os envolvidos, e de preferência descrito no contrato, que vou te explicar sobre futuramente. Porém, uma das regras básicas é a de que nenhum dos envolvidos se apaixone, e eu não quero me apaixonar, e creio que você também não queira.
Claro, eu sabia que não era o certo nos envolvermos como namorados, mas de alguma forma isso me deixou meio triste. Claro que eu não iria me apaixonar, faria o possível para isso. Não gostaria de estar em um "relacionamento" de via única.
— Além disso, acredito que você já tenha percebido, mas para deixar claro, o que nós fizemos em meu escritório não teve nada a ver com a prática BDSM, além de um pouco de dominação — ele disse, com tom de explicação.
— Por que fez aquilo?
— Precisava saber se você realmente queria alguma coisa comigo. Se você negasse tudo e se afastasse, eu não iria continuar tentando. Mas claro, o episódio em minha sala só aconteceu por causa do dia no elevador.
Agora, depois de pensar tanto nesses dois dias, eu finalmente consigo ver que realmente faz sentido. Ele não sairia contando essas coisas para qualquer pessoa sem ter certeza de que seria a pessoa certa.
— Se aceitar minha proposta, todo o seu ser será meu. Sua mente e pensamentos serão meus, seria dominação psicológica também, além da física. Sua voz e respiração serão minhas — ele se levantou e começou a andar pelo quarto. — Suas fantasias e desejos serão meus, como em uma entrega total... O seu prazer é o meu. Você nasceu para isso, sabe disso, é o prazer inexplicável da submissão — parou de frente para mim, acariciando minha bochecha, ainda em pé. — Você será meu de corpo e alma — então se afastou e sentou novamente na cadeira em minha frente. Mas a questão agora é, eu aceito ou não? — Então, o que me diz?
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[1] D/S É a abreviação de Dominação e Submissão.
Não sei se minha explicação ficou bem entendível, então caso alguém tenha alguma dúvida, não exite em perguntar, por favor.
Obrigada por terem lido ♥️
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