Capítulo 19

Não achei difícil quando Luciano me ensinou a conjurar uma pequena parte do meu poder. Com muita calma e paciência, ele me ajudou a manipular uma luz estelar, a qual ele também tem domínio. E por um tris quase toquei fogo no quintal dele. Jujuba observava tudo de longe, enquanto eu repetia várias e várias vezes o que Luci tinha me ensinado; um pé de manga era o meu alvo. E de tantos golpes poderosos, ele acabou caindo.

Ouvi um assobio de admiração e olhei para trás. Sorri para Luciano, que carrega duas grandes espadas.

— O que achou disso? - perguntei, orgulhosa de mim mesma.

— Isso não deveria ter acontecido. Você acabou com a minha árvore.

Olhei para a mangueira e murchei. Eu acabei com a árvore, mas...

— Oras, foi você que pediu para que eu a usasse como alvo. 

— É, eu sei. - deu uma risadinha — Mas que bom que você é a dama das estações, não é mesmo?

— Que quer dizer que...? - voltei a olhar para ele.

— A primavera representa a vida. É a época onde tudo nasce, tudo floresce. 

— O que você quer que eu faça?

— Quero que dê vida à árvore que você matou.

Olhei para a árvore completamente destruída.

— Isso é possível?

— Isso é muito possível.

— Mas... Como?

— Deseje e concentre-se. Esvazie a sua mente e foque apenas no pensamento de dar vida aquela árvore. Sinta o poder fluir por você. Use o que você já sabe. Chame, busque, arranque de lá do fundo do seu interior. 

Eu fiz o que ele pediu; desejei e me concentrei, mentalizei a árvore voltando a vida, e senti poder crescer dentro de mim. Mas os meus braços foram erguendo-se lentamente, e o meu corpo saindo do chão, a medida em que um brilho dourado evaporava de mim. Então eu parei, porque todos aqueles movimentos estavam sendo involuntários.

Caí de joelhos no chão e abaixei a cabeça, triste.

— Está... Está me controlando, Luci.

— Não será fácil.

— Eu não sei se consigo.

— É claro que consegue.

— A profecia terá que se cumprir. Eu salvarei a todos, para logo depois condena-los. Eu serei a próxima vilã. Onde está o sentido nisso?

— Você tem que aprender a fazer interpretação de profecia. 

— O que?

— O seu poder é benção, Helena! 

— Também está escrito que ele é maldição.

— Você esqueceu da parte que diz que ele é salvação?

— Sim, Luci, eu sei! Mas também é perdição, é por isso que eu disse que eu serei a próxima vilã. 

— Lembre-se que… Bem aventurados os que contemplarem a tua luz.

— Infelizes aqueles que conhecerem a minha escuridão, olha que lindo - ironizei.

Ouvi um rosnado baixo, bravo.

— O seu poder é imensurável, capaz de levá-la a grandeza... - sua voz saiu sussurrada.

— ...ou a pior das loucuras - falei desgostosa.

— Por favor, Helena, pense um pouco. Apenas pense um pouco e perceba o quão abençoada és. Você nasceu para ser rainha, uma grande rainha.

— Ou para padecer. Eu posso até ser rainha, uma rainha má.

Derrota. Eu sinto o gosto da derrota. 

— Só consegue enxergar o lado ruim.

— E eu estou errada?

— Está! Isso só vai acontecer se você permitir! Não existe nada concreto, Helena. Essa parte da profecia não está determinada, é você quem decide. Reinar ou padecer.

— Eu não decido nada. O poder decide. E ele já mostrou o quanto tem domínio sobre mim, o quanto pode me controlar.

— É por isso que estamos treinando, Helena! Para você ter o domínio e o controle - Luciano está tão indignado.

— E eu já percebi que não vai dar certo. Eu sou fraca e o meu psicológico está fudido.

— Meu Deus, que horror. 

Por um momento, sorri. Ele odeia quando eu falo palavrão. 

— É isso - me dei por vencida.

— Você está desistindo na primeira tentativa? - deu uma risada sem humor . Começamos hoje! Você quer resultado hoje?! Pelos deuses, Helena! Eu espero muito mais de você, e não aceito que desista assim tão fácil! Não sendo a minha igual. Temos um mundo para salvar e vamos salvar. E depois disso, vai ficar tudo bem, você vai ficar bem!

— Como pode ter tanta certeza?

— Eu tenho fé e acredito em você. Sei que é capaz. Eu sei que você é forte o suficiente. Eu sei que você pode com esse poder. Porquê se ele foi dado a você, é porquê o universo também acredita - uma longa respirada — Levante desse chão, Helena. Levante desse chão, pegue essa espada e treine comigo. Eu não vou... Permitir... Que você... Desista - as últimas palavras saíram como um rosnado feroz.

Luciano nunca tinha falado comigo assim; com tanta garra, tanta ferocidade e... Raiva.

E eu senti tudo isso. Senti no meu coração, esse misto de sentimentos, constituindo uma força e coragem que não veio de poder algum. Veio dele. 

Veio do meu igual.

Então eu levantei. Encarei a árvore incendiada, com o seu tronco e galhos quebrados. Respirei fundo, esvaziei a minha mente e desejei. Desejei que aquela árvore voltasse a vida, desejei que a minha consciência permanecesse intacta e ordenei ao meu próprio poder que obedecesse ao meu comando.

Aquela energia que o meu corpo já tinha se acostumado, tomou conta de mim. Senti ela percorrer por todas as partes, como uma corrente elétrica distribuindo os elementos necessários que eu preciso para combater o que for. Nesse caso, a morte.

O brilho dourado surgiu, saindo de mim e flutuando em direção a árvore, fazendo ela voltar ao que era antes. O tronco que estava quebrado e caído, foi reconstituído, assim como os galhos e as folhas. As mangas que tinham sido torradas, também foram restauradas. E agora, a árvore está inteira novamente, como se nada tivesse acontecido com ela.

Sorri contente. Eu ainda continuo no controle.

— Isso! Eu sabia! Sabia que você conseguiria! - Luciano vibrou atrás de mim.

O meu sorriso se alargou e eu me virei e corri até ele. Joguei-me em seus braços e o abracei forte. Luci me ergueu e nos girou, compartilhando da minha felicidade.

— Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada!

Fui colocada no chão novamente, mas não o soltei do abraço. Apenas afastei um pouco a cabeça para olha-lo nos olhos. As mãos de Luciano repousaram em minha cintura, e o seu rosto está a poucos centímetros do meu.

— Nunca duvidei de você.

— Obrigada. Eu senti a sua força reverberar dentro de mim! Era a sua força, eu sei que era! - falei eufórica.

Ele sorriu.

— Iguais servem para essas coisas.

Então, o seu rosto se aproximou ainda mais do meu, causando-me um forte arrepio na espinha. Automaticamente fechei os olhos, esperando ter a sensação de seus lábios nos meus.

— Eu gosto disso - sussurrei, ansiando para senti-lo.

— Confesso que eu também - ao sussurrar, senti o seu hálito quente, cheirando a menta, bater no meu rosto. — Sou fascinado por essa conexão. Agora... Vamos treinar. O rei do submundo está chegando - e se afastou de mim, deixando um completo vazio.

Droga, Luci.

— Isso foi cruel. - falei baixinho.

O ruivo pegou as espadas e me entregou uma. Ele se posisionou ao meu lado e apresentou uma postura de combate.

— Repita os meus movimentos.

Dei um sorriso contido. Eu não acredito no que acabou de acontecer. Luciano me provocou descaradamente. Se ele acha que o que ele fez ficará por isso mesmo, está muito enganado. Adoro brincadeirinhas.

E com ironia, eu disse:

— Sim, senhor. 

[...]


26.05.22

[...]

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