Capítulo 17

Thalles me deixou em casa, e eu agradeci aos céus por ter chegado em segurança. Também agradeci a ele pela carona e o mesmo seguiu o seu caminho.

Abri a porta e entrei em casa. Frans foi o primeiro a perceber a minha presença, sentado no sofá.

— Finalmente, a bonita chegou.

— Agora não, Frans. - falei séria — Onde estão Nate e Priscilla?

— Estamos aqui.

Os dois surgiram na porta da cozinha. A diferença entre eles é gritante. Enquanto o meu irmão é alto, forte, loiro e com grandes olhos azuis, a minha irmã é baixa, magra, morena e com penetrantes olhos negros; apesar de ser adotada, ela se parece um pouco comigo, diferenciando apenas os meus olhos castanhos.

— Eu serei direta. - disse, colocando as mãos na cintura, e alternando o olhar entre cada um deles — Quero... Saber... Toda... A verdade. - falei pausadamente.

— Que verdade? - Frans perguntou.

— Sobre mim, sobre a profecia, sobre o rei do submundo, sobre o próprio submundo. Quero saber de tudo o que foi escondido de mim.

— Já te contamos tu...

— Mentira. - interrompi Priscilla, deixando todos chocados. 

— Eu não mentiria pra você...

Comecei a citar as últimas palavras que a mãe falou para mim, e a medida em que vou falando, com propriedade, fuzilando-os com os olhos, percebo o completo choque em seus aspectos. As máscaras vão caindo e eu fico satisfeita por ser a causa disso. O pânico começa a tomar conta de suas faces, e eu sei o porquê: os meus olhos e o meu corpo... Estão pegando fogo. Aos poucos, sinto os meus pés descolarem do chão e o meu corpo flutuar.

Os meus irmãos acompanham cada movimento meu, perplexos, assustados, incrédulos. E eu deixo, eu deixo o poder tomar conta. A sensação de carga elétrica correndo por todo o meu corpo, preenchendo todas as veias e todos os órgãos, deixando-me cada vez mais forte e corajosa. É bom, é muito bom.

...Breve virá!
Ela nascerá e reinará...
...ou padecerá.

As palavras chegaram ao fim, mas eu continuo com a mesma postura. Eu não quero parar, não quero que o poder vá embora. Eu quero... Mais.

— Ela está perdendo o controle! - ouvi Natanael gritar.

— Precisamos conte-la. - disse Priscilla correndo até mim.

— Afaste-se! - gritei, a minha voz saindo multiplicada, como se mais de uma pessoa estivesse dividindo o meu corpo.

Mas a minha irmã não me deu ouvidos, ela continuou vindo até mim, e eu ergui a mão, liberando uma força invisível, lançando-a para longe. A parede a parou. Natanael também tentou me conter, estendendo as mãos em minha direção, e eu senti algo prendendo os meus braços, senti o seu poder; do que ele é capaz. E isso me irritou.

Gritei o mais alto que pude, aumentando ainda mais as chamas que me envolvem, crescendo a sensação de energia dentro de mim e consegui me libertar, também jogando o meu irmão para longe. O que amorteceu a sua queda foi o sofá.

— Frans! Faça alguma coisa! - ele gritou.

Algo dentro de mim achou engraçado, e um sorriso debochado desenhou os meus lábios. Mas qual não foi a minha surpresa quando um ar quente me atingiu e me arremeçou contra a parede. Levantei com uma raiva crescente no peito e o fogo que ardia em mim foi substituído por puro gelo. 

Olhei para Frans como se ele tivesse um alvo no centro da testa. 

— Vai se arrepender. - falei, caminhando em sua direção.

— Controle-se, Helena. - ele ordenou.

— Você não me da ordens. Eu é quem deve da ordens aqui. Afinal, sou sua futura rainha. - a minha voz está carregada de egocentrismo.

— Essa não é você, Helena. Não deixe o seu poder te dominar!

Gargalhei.

— Está com medo, Frans? - desdenhei.

— Eu não tenho medo de você - falou com um sorriso tão debochado quanto o meu — Você continua sendo a minha irmã caçula chata e irresponsável.

— Sabe bem como me irritar.

Lancei um poder espiralado, constituído de ar e gelo em sua direção, que rapidamente foi combatido por uma chama azul, empurrando o meu corpo para trás. Se eu não estivesse com os pés firmes no chão, teria caído. E só de pensar nesse possível fracasso, chamei uma força que eu sabia que existia no meu interior.

Uma sensação térmica diferente invadiu o meu corpo. Todo o lado esquerdo queimou em chamas, e o direito ardeu, congelado, e ao invés de morrer por conta do choque, sinto-me ainda mais viva.

Olhei profundamente nos olhos de Frans e enxerguei o medo de sua alma. Então, decretei... Que ele morreria e levaria junto consigo suas palavras amargas contra mim. Cada maldita palavra. 

Eu vi o seu corpo levitar, sem que eu movesse um músculo. Apenas desejei que ele fosse jogado pela janela, e dessa forma aconteceria se Natanael não tivesse impedido, segurando-o pela gola da camisa.

— Não já chega de truques, Helena? Já sabemos o quanto é poderosa. Agora, por favor, pare.

— Ela acabou de declarar guerra! - Frans decretou.

Contemplei seus olhos ficarem ainda mais azuis, um azul vivo, um azul que fumega. Seu corpo inteiro agora reluz a chama azul que ele usou contra mim à poucos instantes. Consigo sentir o seu poder crescer e começar a tomar o resto de espaço que resta na casa.

— Esses dois vão nos matar. - disse Priscilla.

— Eu já sei o que vou fazer. - Natanael falou, correndo até a porta — Tente conte-los, Priscilla! Tente conte-los!

— Você só pode estar brincando! - Priscilla falou com uma voz exasperada, mas Natanael já tinha saído.

Frans me encara com uma raiva incandescente no olhar. O fogo que o envolve crepita e ameaça o tempo todo me atacar, e eu só estou esperando isso acontecer para revidar com 5 vezes mais força.

— Vamos, Frans. - incentivei — Faça o que sabe fazer de melhor. Lute comigo, me atinja, jogue-me no chão e pise em mim. - rosnei.

— Helena, por favor. - Priscilla praticamente clama o meu nome.

— Não precisa pedir duas vezes. - disse 

Frans, antes de me atacar.

Ele não me atingiu com poder, mas veio até mim e me acertou com um soco, que me desestabilizou, o que eu não estava esperando. E antes que eu pudesse me recuperar, recebi outro soco na barriga e rapidamente Frans disparou uma sequência contra mim.

— Para, Frans! Vai mata-la! - gritou a minha irmã.

— Ela deve morrer. - ele rosnou, destilando o seu veneno raivoso em cima de mim — Ou matará todos nós!

— Não. - Priscilla choramingou e veio até nós, mas chocou-se contra uma parede invisível. 

Frans fez isso. Ele nos prendeu dentro de um campo de força.

— Quer saber a verdade, Helena? - perguntou, sem parar de me golpear com socos certeiros, enquanto eu tento me manter de pé. — "O seu poder é benção, mas também é maldição!
Ele é salvação, mas também é perdição!" - pronunciou uma parte da profecia, aos berros.

Algo dentro de mim se debateu e eu senti dor.

— Pare. - sussurrei.

— Você... Nasceu... Condenada! - uma palavra, um soco — "O seu poder é imensurável, capaz de levá-la a grandeza, ou a pior das loucuras." - ele continua pronunciando.

— Pare.

— "Ela nascerá e reinará...
...ou padecerá" - eu sinto que a qualquer momento posso desmaiar — Você não merece esse poder! Você é fraca! Insuficiente! 

— Pare.

— Você...

"Ela é a única capaz.
Ela é a única com poder para detê-lo.
Ela é a única que pode salvar todos os mundos e universos.
Ela é a única digna da espada das quatro cores."

O meu coração saltou dentro do peito. Não consigo descrever o tamanho do alívio que senti ao ouvir essa voz. Por mais que eu estivesse apanhando, um manto de paz cobriu-me e eu senti uma calma reconfortante. Os socos cessaram, mas a minha postura é de derrotada. O meu corpo curvado e a cabeça baixa, juntamente com os braços rente ao corpo só mostra o quanto sou realmente fraca.

— Luci.

Foi a única palavra que consegui dizer, antes de olhar para cima, ver os teus olhos castanhos, teu sorriso fascinante e desmaiar, entrando na mais densa escuridão.

[...]

01.04.22

[...]


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top